sábado, 24 de janeiro de 2009

Entenda o conflito em Gaza

18 de janeiro, 2009
Três semanas após iniciar a operação militar na Faixa de Gaza, Israel anunciou um cessar-fogo unilateral. Inicialmente o grupo palestino Hamas disse não aceitar os termos da trégua e continuou lançando novos ataques, provocando retaliação israelense.
O grupo, no entanto, voltou atrás e também anunciou o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, dando a Israel uma semana para retirar suas tropas do território palestino.

A ofensiva já deixou mais de 1.300 palestinos e 13 israelenses mortos.

A BBC elaborou uma série de perguntas e respostas sobre o conflito em Gaza.

Por que Israel declarou o cessar-fogo e quais são os seus termos?

O cessar-fogo unilateral foi declarado por Israel 22 dias depois do início da ofensiva na Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert disse à nação que o Hamas havia sido “seriamente atingido” e que os objetivos de Israel foram alcançados.

Israel vinha sofrendo grande pressão internacional para interromper as hostilidades em Gaza e um dia antes do cessar-fogo assinou um acordo com os Estados Unidos que prevê cooperação entre os dois países para impedir o contrabando de armas e explosivos para o território palestino.

Israel diz que permanecerá em Gaza por enquanto e se dá o direito de retaliar ataques com foguetes lançados pelo Hamas contra seu território.

Como o Hamas reagiu ao cessar-fogo?

Inicialmente o Hamas disse não aceitar os termos da trégua e voltou a insistir que suas principais exigências sejam atendidas.

O grupo exige a retirada total das tropas israelenses de Gaza, o fim do bloqueio ao território e a reabertura das passagens de fronteira.

Logo após o anúncio da trégua israelense, na noite de 17 de janeiro, o Hamas voltou a lançar foguetes contra Israel, que retaliou com ataques aéreos.

Porém, horas mais tarde o grupo também declarou cessar-fogo imediato e deu a Israel uma semana para retirar suas tropas de Gaza.

Por que Israel iniciou os ataques contra a Faixa de Gaza?

Os israelenses afirmam que lançaram os ataques para impedir que grupos militantes palestinos continuem lançando foguetes contra seu território.

Israel quer que o lançamento de foguetes seja interrompido e que sejam tomadas medidas para impedir o rearmamento do Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza.

Para atingir esse objetivo, Israel está tentando destruir ou reduzir a capacidade de combate do Hamas e tomar controle de seus estoques de armas.

Os ataques israelenses foram iniciados em 27 de dezembro, pouco depois de o Hamas anunciar que não iria renovar um acordo de cessar-fogo que estava em vigor desde junho de 2008.

Por que o Hamas não renovou o cessar-fogo com Israel?

O acordo de cessar-fogo, que havia sido mediado pelo Egito, foi quebrado diversas vezes na prática.

Havia um círculo vicioso. O Hamas reclamava do bloqueio econômico por terra, ar e mar imposto por Israel sobre Gaza. Israel reclamava que o Hamas estava contrabandeando armas para dentro do território por meio de túneis subterrâneos na fronteira com o Egito, além de lançar foguetes contra o território israelense.

O Hamas dizia que o lançamento de foguetes é uma forma justificada de resistência e de chamar a atenção para o sofrimento população de Gaza. Israel afirmava que seu bloqueio a Gaza se justifica como forma de tentar forçar o Hamas a observar o cessar-fogo.

A tensão aumentou depois que os israelenses realizaram uma incursão no sul de Gaza, no início de novembro, para destruir túneis que, segundo eles, eram usados para contrabando de armas. Esse episódio levou a uma nova onda de foguetes lançados contra Israel pelo Hamas e, em conseqüência, a um endurecimento do bloqueio israelense em Gaza.

Como condição para renovar o cessar-fogo, encerrado após seis meses de duração, o Hamas exigia a suspensão do bloqueio israelense em Gaza.

Por que o Hamas lança foguetes contra Israel?

Hamas é uma abreviatura de Movimento de Resistência Islâmica. O grupo considera toda a Palestina histórica terra islâmica e, portanto, vê o Estado de Israel como um ocupante, apesar de ter oferecido uma "trégua" de dez anos em troca da retirada de Israel para as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967.

O Hamas geralmente justifica suas ações contra Israel, que incluem ataques suicidas e lançamento de foguetes, como sendo uma forma legítima de resistência.

No caso particular de Gaza, o grupo argumenta que o bloqueio israelense justifica um contra-ataque com todos os meios possíveis.

Quantas vítimas os foguetes lançados pelo Hamas contra Israel já deixaram?

Desde 2001, quando os foguetes começaram a ser lançados, mais de 8,6 mil atingiram o sul de Israel, cerca de 6 mil deles disparados a partir da retirada de Israel de Gaza, em agosto de 2005.

Os foguetes já mataram 28 pessoas e feriram centenas de outras. Na cidade israelense de Sderot, perto de Gaza, 90% dos moradores dizem que já houve explosão de foguetes na rua em que vivem ou nas cercanias.

O alcance dos foguetes lançados pelo Hamas vem aumentando. O Qassam (batizado assim em homenagem a um líder palestino dos anos 1930) tem alcance de cerca de 10 Km.

No entanto, recentemente a cidade israelense de Beersheba, a 40 Km de Gaza, foi atingida por artefatos mais avançados, incluindo versões do antigo sistema soviético Grad, também conhecido como Katyusha, provavelmente contrabandeadas para Gaza e que colocam cerca de 800 mil israelenses em risco.

Fontes médicas palestinas dizem que mais de 700 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza na atual operação militar israelense.

Quais os efeitos do bloqueio israelense na Faixa de Gaza?

Os efeitos foram severos. A atividade econômica já era baixa quando os ataques israelenses começaram. A agência das Nações Unidas para refugiados palestinos (UNWRA, na sigla em inglês) presta assistência alimentar para cerca de 750 mil pessoas em Gaza. Em novembro, quando o bloqueio foi reforçado, o diretor da agência, John Ging, disse que a UNWRA estava ficando sem comida para distribuir aos palestinos.

Desde que a atual operação militar começou, Israel tem afirmado que vai permitir a passagem de ajuda humanitária, mas o volume tem sido menor do que costumava. O território também enfrenta falta de medicamentos e de combustível.

Qual é a história da Faixa de Gaza?

Gaza era parte da Palestina quando o território estava sob administração britânica, em um mandato garantido pela Liga das Nações, após a Primeira Guerra Mundial.

Em combates depois que Israel declarou sua independência, em 1948, o Egito capturou a Faixa de Gaza.

Refugiados palestinos das cidades costeiras do norte se abrigaram lá. Esses refugiados, ou seus descendentes, ainda vivem em campos da Organização das Nações Unidas (ONU) em Gaza.

Israel conquistou o território na guerra de 1967 e posteriormente deslocou cerca de 8 mil colonos israelenses para lá. No entanto, todos os colonos e soldados israelenses deixaram a Faixa de Gaza em 2005.

A Faixa de Gaza tem uma população de 1,5 milhão de pessoas, das quais 33% (cerca de 490 mil) são classificadas como refugiados. O território tem 40 Km de comprimento e cerca de 6 Km a 12 Km de largura.

Como o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza?

Depois da retirada israelense em 2005, a Autoridade Palestina assumiu o controle de Gaza.

A Autoridade Palestina é formada principalmente por nacionalistas palestinos seculares do partido Fatah que, ao contrário do Hamas, acredita ser possível um acordo definitivo com Israel sobre uma solução que inclua dois Estados - Israel e Palestina.

Em janeiro de 2006, o Hamas venceu eleições parlamentares nos territórios palestinos e formou um governo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Um governo de união nacional entre o Hamas e o Fatah foi formado em março de 2007.

No entanto, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que é um líder do Fatah eleito diretamente em um pleito anterior, dissolveu o governo.

Em junho de 2007, alegando que forças do Fatah estavam planejando um golpe, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza à força. A Cisjordânia, porém, permaneceu sob o controle do Fatah.

O Hamas foi boicotado pela comunidade internacional, que exige que o grupo renuncie à violência e reconheça Israel.
Texto BBC Brasil

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