sábado, 28 de setembro de 2013

Notícias Geografia Hoje

Desmatamento da floresta amazônica sobe 35% em um ano

Aumento detectado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostra que política ambiental está falhando

Getty Images
Foto tirada no Pará, em junho de 2012, mostra antiga área de floresta devastada por plantação de soja

O acumulado da perda de floresta na Amazônia entre agosto do ano passado e julho deste ano subiu pela primeira vez em 5 anos e ficou 34,84% superior à taxa do mesmo período do ano passado. O número se baseia na análise amostral realizada pelo sistema Deter, do Inpe, a partir de alertas de corte raso e de degradação - não configurando, portanto, o consolidado do ano, que o governo só costuma divulgar em novembro. Mas é o sinal mais categórico de que a principal política ambiental do País não está sendo mais tão eficiente.

No período houve uma perda de 2.765,62 km² de floresta, contra 2.050,97 km² entre agosto de 2011 e julho de 2012. O mês mais grave foi maio, quando houve perda de 464,96 km². Após o pico, medidas de comando e controle se intensificaram e em junho o desmate ou a degradação ocorreram em 210,4 km². Em julho voltou a subir um pouco, chegando a 217,45 km². No total, o ano acumulou alta pela primeira vez desde 2008. 

O revés se dá um ano depois de o País registrar a taxa de desmatamento mais baixa da história do monitoramento , motivo, aliás, que fez representantes brasileiros serem aplaudidos nas negociações internacionais de mudanças climáticas. Isso porque a perda da Amazônia é o setor que mais contribuiu historicamente para as emissões de gases estufa do Brasil. Sua queda vem permitindo que o País chegue bem perto das metas voluntárias que estabeleceu para reduzir suas emissões até 2020. De agosto de 2011 a julho de 2012 a taxa de desmate caiu 29% em relação ao período anterior, chegando a 4.571 km².

Notícias Geografia Hoje

Ameaças à Amazônia vão muito além das queimadas
Agência Fapesp 
Extração inadequada de madeira e manejo inapropriado de recursos pesqueiros também colocam o bioma em risco
Getty Images

Uso inapropriado de recursos de pesca também contribuem para colocar a Amazônia em risco


Há outros tipos de ameaças à conservação da Amazônia, além do desmatamento, que ocorrem em pequena escala e em áreas de várzea da região – como a extração inadequada de madeira e o manejo inapropriado de recursos pesqueiros –, que podem gerar transformações tão importantes na floresta nas próximas décadas quanto as queimadas.

Esses fenômenos, contudo, são menos perceptíveis e não são facilmente detectáveis na paisagem por imagens aéreas, como são as próprias queimadas, por acontecerem no interior da floresta e fora do chamado “Arco do desmatamento amazônico” (região de borda do bioma que corresponde ao sul e ao leste da Amazônia Legal e abrange todos os estados da região Norte, mais Mato Grosso e uma parte do Maranhão). Por isso, podem passar despercebidos e não merecer a mesma atenção recebida pelos desmatamentos pelos órgãos fiscalizadores.

O alerta foi feito por Hélder Queiroz, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), durante o sétimo encontro do Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA-FAPESP Educação, realizado no dia 19 de setembro em São Paulo.

“A diminuição do desmatamento é, sem dúvida, muito importante para a conservação da Amazônia, mas ele não representa a única ameaça ao bioma”, afirmou Queiroz.

“Também há um grupo grande de ameaças, composto por transformações de habitat em pequena escala realizadas exatamente da mesma forma nos últimos 50 anos e de difícil detecção, mas que geram mudanças importantes na composição e na estrutura da floresta e cujos efeitos serão prolongados por muitas décadas”, estimou.

A extração inadequada de madeira da Floresta Amazônica, por exemplo, pode alterar o número de espécies de animais que vivem em uma determinada área da selva. Isso porque, de acordo com o pesquisador, algumas espécies de árvore cuja madeira tem grande valor comercial – e, por isso, são mais visadas – também podem ser importantes para alimentação da fauna.

A retirada dessas espécies de árvore de forma desordenada pode alterar a composição florística e, consequentemente, de espécies de animais de uma área da floresta, ressaltou Queiroz.

“A abertura de pequenas clareiras para remoção específica dessas espécies de madeira não é detectada pelas imagens de satélite porque, geralmente, elas têm poucos metros quadrados”, disse Queiroz.

“Ao final de três décadas, todas as espécies dessas árvores e, consequentemente, a fauna que dependia delas podem desaparecer da região”, alertou.

Pesca e caça inadequadas

Outra ameaça que está se tornando um problema na Amazônia, de acordo com o pesquisador, é a pesca desordenada da piracatinga (Calophysus macropterus) – espécie de peixe sem escama, apreciada para consumo, conhecida popularmente como “urubu d´água”, por ser carnívora e se alimentar de restos de peixe e outros animais.

Para a pesca do peixe na região amazônica está sendo utilizada como isca a carne de jacaré e de boto cor-de-rosa. Por causa disso, o número de botos cor-de-rosa – também conhecidos como botos-vermelhos (Inia geofrrensis) – diminuiu em diversas regiões da Amazônia, indicam dados de monitoramento da espécie na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

“A carcaça de um jacaré ou de boto cor-de-rosa vale, no máximo, R$ 100,00 na região amazônica e gera aproximadamente entre 200 e 300 quilos dessa espécie de peixe”, disse Queiroz.

“Além de uma crise pesqueira, esse problema representa um sistema de valoração da biodiversidade que está profundamente desequilibrado”, avaliou.

Já em terra, segundo o pesquisador, a caça desordenada de determinadas espécies de animais tem resultado no surgimento do que alguns autores denominaram no início da década de 1990 de “florestas vazias” – áreas de floresta em pé, mas nas quais as principais espécies de animais responsáveis pela reprodução, polinização e dispersão de sementes desaparecem em razão da caça desenfreada.

“A expressão cunhada para esse fenômeno – ‘florestas vazias’ – é romântica, mas o problema é preocupante e os efeitos dele são só percebidos ao longo de décadas”, avaliou Queiroz. “Os aviões ou satélites utilizados para monitoramento também não conseguem identificar essas regiões de floresta cujas árvores estão em pé, mas nas quais as espécies de animais estão sendo intensamente caçadas”, afirmou.

Florestas alagadas

Em geral, a maior parte dessas ameaças “imperceptíveis” ocorre nas chamadas florestas alagadas ou de várzea – que representam quase um quarto de toda a extensão da Amazônia, ressaltou o pesquisador.

Submetidas ao regime de alagamento diário, sazonal ou imprevisível – de acordo com o regime de chuvas –, essas regiões de baixas altitudes são alagadas por águas brancas, de origem andina, escoadas, principalmente, pelos rios Solimões e Madeira.

Como são muito produtivos – por suas águas receberem grandes cargas de nutrientes e sedimentos –, os recursos naturais das florestas de várzea da Amazônia são abundantes. Por isso, são densamente ocupadas desde o período pré-colombiano.

“Praticamente 75% da população amazônica [cerca de 8 milhões de pessoas] está diretamente inserida nesses ambientes de várzea ou em suas proximidades, vivendo, trabalhando e transformando essas regiões”, disse Queiroz.

“Isso significa que esses ambientes são mais ameaçados do que os localizados no ‘arco do desmatamento’, porque recebem maior impacto diário das populações, ainda que não sejam detectados na paisagem, como o desmatamento”, comparou.

Justamente por terem grande densidade populacional, é difícil criar Áreas Prioritárias para Conservação (Arpa) nessas regiões de floresta alagada, contou Queiroz. “Existem poucas áreas protegidas e muitas propostas de criação de Arpas em florestas alagadas da Amazônia”, afirmou.

Algumas delas são as RDS de Mamirauá e Amanã, que, juntas, somam quase 3,5 milhões de hectares da Amazônia.

Criada no início dos anos de 1980 com intuito de proteger o macaco uacari- branco (Cacajao calvus), a Reserva de Mamirauá começou a ser gerida no final dos anos 1990 pelo Instituto Mamirauá, que tem o objetivo de realizar pesquisa de conservação da biodiversidade.

Os pesquisadores da instituição fazem pesquisas voltadas principalmente para o manejo sustentável dos recursos naturais. E, mais recentemente, começaram a desenvolver tecnologias sociais voltadas ao tratamento de água e ao saneamento ambiental, entre outras finalidades.

“Desde 2010 estamos expandindo nossas ações. Atualmente elas atingem 150 mil pessoas. Mas esperamos chegar, nos próximos anos, 1,5 milhão de pessoas”, contou Queiroz.

Redução do desmatamento

O evento na FAPESP também contou com a participação de Maria Lucia Absy, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Em sua palestra, Absy destacou a queda das taxas anuais de desflorestamento da Amazônia Legal, que, no total, caíram 84% no período de 2004 a 2012, segundo dados do Projeto Prodes, do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).

“As ações de fiscalização e redução dos índices de desmatamento da Amazônia contam com o suporte fundamental dessa ferramenta e do Deter [Sistema de Detecção do Desmatamento do Tempo Real, realizado pelo Inpe]”, ressaltou.

“Não é que seja errado desmatar uma área – desde que não seja grande – para fins produtivos. O errado é fazer isso aleatoriamente, sem metodologia e técnicas de manejo florestal”, avaliou Absy.

O próximo encontro do Ciclo de Conferências 2013 do Biota Educação será realizado no dia 24 de outubro, quando será abordado o tema “Ambientes marinhos e costeiros”.

Finalizando o ciclo, em 21 de novembro, o tema será “Biodiversidade em Ambientes Antrópicos – Urbanos e Rurais”.

Organizado pelo Programa de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP), o Ciclo de Conferências 2013 tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento do ensino de ciência.

Notícias Geografia Hoje


Megacidades: menos 1,3 bi de toneladas de gases de efeito estufa até 2030
O anúncio foi feito pelos prefeitos de Nova York, Michael Bloomberg, e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, durante o encontro anual dos mandatários das maiores cidades do mundo (C40), com 59 integrantes


As maiores cidades do mundo comprometeram-se  a reduzir em até 248 milhões de toneladas as emissões de gases de efeito estufa até 2020. O anúncio foi feito pelos prefeitos de Nova York, Michael Bloomberg, e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, durante o encontro anual dos mandatários das maiores cidades do mundo (C40), com 59 integrantes. Segundo os prefeitos, há potencial para reduzir as emissões em cerca de 1,3 bilhão de toneladas até 2030, mais do que o México e o Canadá poluíram juntos em 2008. 

Agência O Globo/Pablo Jacob
Eduardo Paes e o prefeito Michael R. Bloomberg, de NY, no C40

Paes afirmou que o compromisso do C40 não é apenas uma carta de intenções, mas sim um desafio assumido pelos municípios. “A cidade se sente obrigada a cumprir os desafios assumidos aqui. O Rio será guardião desse desafio.”

Bloomberg também anunciou o lançamento de uma parceria com o Banco Mundial que vai criar um site com as melhores práticas entre as cidades do C40, além de identificar similaridades entre políticas, estratégias de financiamento e parcerias sustentáveis.“As megacidades já estão implementando estratégias de redução de gases de efeito estufa. Todas as cidades do grupo C40 têm programas. Não esperamos os governos nacionais tomarem a dianteira e aprovarem recursos”, disse Bloomberg que também é o presidente do grupo C40. Ele citou Nova York como exemplo e disse que a cidade reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 13% nos últimos cinco anos.

Participantes

O prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, o governador do estado de Lagos, na Nigéria, Tunde Faschola, o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, e o de Seul, na Coréia do Sul, Won Soon Park, eram alguns dos representantes presentes no evento.

A imagem do ex-presidente americano Bill Clinton apareceu em um telão e ele, que comanda a Clinton Climate Initiative, falou sobre a parceria com a C40. “Trabalhamos junto com prefeitos de muitas cidades do mundo para auxiliar na redução da emissão de gases do efeito estufa. Este encontro mostra que com parcerias criativas podemos proteger o meio ambiente criando empregos para desenvolver a economia”, pontuou Clinton.

E completou: “Faremos tudo que pudermos para que essa redução aconteça o mais rápido possível mostrando um resultado positivo para o meio ambiente e para a economia”.

C40.

Em 2011 esse grupo de cidades respondeu por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) global ou US$ 13 trilhões de dólares. Essas cidades também são as que mais poluem no planeta e detém 14% das emissões globais de gases de efeito estufa. A previsão é de que, se nada for feito, em 2030 essas cidades produzirão 2,3 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa.

O C40 foi criado em 2005 e reúne as maiores cidades do mundo com o objetivo de criar ações locais sustentáveis por meio de troca de experiências, assistência técnica e parcerias.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Uma cronologia da mudança climática no mundo

Relembre marcos importantes, descobertas científicas, inovações técnicas e ações políticas ligadas ao tema


Science/AAAS
Aquecimento global desacelerou, mas continua alarmando cientistas


Um novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) subiu o tom de alerta sobre o aquecimento global.

Além de apresentar projeções sobre o futuro do planeta, o documento afirmou ser "extremamente provável" ("95% de certeza") que o aquecimento observado desde a metade do século 20 seja resultado da influência humana no clima.

O correspondente da BBC para meio ambiente, Richard Black, fez uma cronologia sobre o tema, com marcos importantes, descobertas científicas, inovações técnicas e ações políticas. Confira.

1712 - O britânico Thomas Newcomen inventa o primeiro motor movido a vapor para ser usado em larga escala, abrindo caminho para a Revolução Industrial, que levou à utilização do carvão a nível industrial.

1800 - População mundial atinge 1 bilhão de pessoas.

1824 - O físico francês Joseph Fourier descreve o "efeito estufa" natural do planeta Terra. À época, ele escreveu: "A temperatura (da Terra) pode subir pela interposição da atmosfera, porque o calor na forma de luz encontra menos resistência ao penetrar o ar do que quando passa o ar já convertido em calor não luminoso."

1861 - O físico irlandês John Tyndall prova que o vapor d'água e outros gases criam o efeito estufa. Ele conclui que "a camada formada por este vapor é mais necessária à vida vegetal da Inglaterra do que o tecido é para o homem". Mais de 100 anos depois, uma importante organização britânica de pesquisa climática é batizada de Tyndall Centre, em sua homenagem.

1886 - Karl Benz apresenta o Motorwagen, considerado por muitos como sendo o primeiro automóvel.

1896 - O químico sueco Svante Arrhenius conclui que a era industrial movida a carvão vai colaborar para o aumento do efeito estufa natural. Ele indica que o fenômeno pode vir a ser benéfico para as gerações futuras. Seu dimensionamento do "efeito estufa criado pela ação do homem" são semelhantes - incremento de alguns graus Celsius para o dobro de aumento de gás carbônico (CO2) - ao usado em modelos climáticos atuais.

1900 - Outro sueco, Knut Angstrom, descobriu que o CO2, mesmo em diminutas concentrações encontradas na atmosfera, absorve intensamente partes do espectro infravermelho. Sem entretanto perceber a importância de sua descoberta, Angstrom mostrou que o gás pode produzir aquecimento através do efeito estufa.

1927 - As emissões de carbono a partir da queima de combustível fóssil com a industrialização alcançam 1 bilhão de toneladas por ano.

1930 - A população mundial atinge 2 bilhões de pessoas.

1938 - Utilizando dados colhidos em 147 centros de estudos climáticos ao redor do mundo, o engenheiro britânico Guy Callendar mostra que houve um aumento da temperatura no século anterior. Ele também comprova que a concentração de CO2 aumentou no mesmo período, sugerindo que esta seja a causa do aquecimento. O "efeito calendário" é amplamente desconsiderado por meteorologistas.

1955 - Utilizando uma nova geração de equipamentos que incluem os primeiros computadores, o pesquisador americano Gilbert Plass analisa em detalhe a absorção de infravermelho de diferentes gases. Ele conclui que, ao dobrar a concentração de CO2, a temperatura será elevada entre 3ºC e 4ºC.

1957 - O oceanógrafo Roger Revelle e o químico Hans Suess, ambos americanos, comprovam que a água do mar não é capaz de absorver toda a quantidade adicional de CO2 lançada na atmosfera, como era assumido por muitos. Revelle escreveu: "Atualmente, os seres humanos estão realizando um experimento geofísico em larga escala..."

1958 - Utilizando equipamento criado por ele mesmo, Charles David (Dave) Keeling começa a medir sistematicamente o CO2 na atmosfera a partir de Mauna Loa, no Havaí, e na Antártica. Dentro de quatro anos, o projeto - que continua até hoje em dia - fornece a primeira prova inequívoca de que o nível de CO2 na atmosfera está aumentado.

1960 - A população mundial atinge 3 bilhões de pessoas.

1965 - Uma Comissão de Aconselhamento à Presidência dos Estados Unidos alerta que o efeito estufa é uma "preocupação real".

1972 - A primeira conferência da ONU sobre o meio ambiente é realizada em Estocolmo. O item sobre mudança climática mal consta na agenda, que ficou concentrada em temas como poluição química, testes nucleares e caça à baleia. Como resultado, é criada a Unep, a agência da ONU para o meio ambiente.

1975 - A população mundial atinge 4 bilhões de pessoas.

1975 - O cientista americano Wallace Broecker põe o termo "aquecimento global" no domínio público ao usá-lo no título de um de seus papéis científicos.

1987 - A população mundial atinge 5 bilhões de pessoas.

1987 - Nações fecham acordo criando o Protocolo de Montreal, restringindo o uso de materiais químicos que destroem a camada de ozônio. Sem entretanto ter sido criado com as mudanças climáticas em mente, o protocolo teve um impacto maior sobre a emissão de gases do efeito estufa do que o Protocolo de Kyoto.

1988 - Criado o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU para avaliar as evidências em torno das alterações no clima.

1989 - Em um discurso na ONU, a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher - que era formada em química - , alerta que "estamos presenciando um enorme aumento na quantidade de dióxido de carbono lançada na atmosfera... O resultado é que no futuro esse nível de alteração será provavelmente mais amplo e fundamental do que tudo que já vimos até aqui." Ela convoca as nações para que se unam em torno de um tratado global sobre mudanças climáticas.

1989 - As emissões de carbono a partir da queima de combustível fóssil e da atividade industrial atingem 6 bilhões de toneladas por ano.

1990 - O IPCC divulga seu primeiro Relatório de Avaliação. O documento conclui que, no último século, houve um aumento da temperatura global entre 0,3ºC e 0,6ºC ; que as emissões feitas a partir da atividade humana estão sendo adicionadas às emissões naturais de gases formadores do efeito estufa e que este adicional deve resultar na elevação ainda maior da temperatura do planeta.

1992 - Na ECO-92, no Rio de Janeiro, representantes das nações participantes fazem acordam os termos da "Conferência Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas", documento que cria a matriz única sobre mudanças climáticas. Entre seus principais objetivos, está "a estabilização do nível de concentração de gases do efeito estufa na atmosfera de forma a evitar uma interferência antropogênica perigosa no sistema climático". Os países industrializados concordam em reverter as emissões aos níveis de 1990.

1995 - O segundo relatório de avaliação do IPCC conclui que um balanço das evidências sugere "uma discernível influência humana" no clima do planeta. O documento é considerado a primeira declaração definitiva a atribuir responsabilidade ao homem pelas mudanças climáticas.

1997 - É acordado o Protocolo de Kyoto. Os países ricos prometem reduzir as emissões em média de 5% no período de 2008 a 2012, com metas que variam enormemente de um país para outro. O Senado americano declara imediatamente que não irá ratificar o acordo.

1998 - Condições extremas do fenômeno El Niño combinadas com aquecimento global produzem o ano mais quente desde os primeiros registros meteorológicos. A temperatura média global supera em 0,52ºC a média registrada no período 1961-1990 (um padrão comumente utilizado).

1998 - Publicação do polêmico gráfico "hockey stick" ("taco de hóquei", em tradução livre) que indica um extraordinário aumento da temperatura do hemisfério norte nos tempos modernos comparada à dos últimos 1 mil anos. Posteriormente, o trabalho é usado por duas investigações feitas pelo Congresso dos EUA.

1999 - A população mundial atinge 6 bilhões de pessoas.

2001 - O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, retira o país do Protocolo de Kyoto.

2001 - O terceiro relatório de avaliação do IPCC indica "nova e mais forte prova" de que as emissões de gases causadores de efeito estufa a partir da atividade humana são a causa principal do aquecimento verificado na segunda metade do século 20.

2005 - O Protocolo de Kyoto é transformado em lei internacional para os países que permanecem nele.

2005 - O então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, transforma o tema da mudança climática em prioridade do seu mandato na presidência do G8 (o grupo de países mais ricos do mundo) e da União Europeia.

2006 - O Relatório Stern conclui que as mudanças climáticas podem prejudicar o PIB global reduzindo-o em até 20% caso não sejam combatidas - mas combatê-las representaria um custo de cerca de 1% do PIB global.

2006 - As emissões de carbono a partir da queima de combustível fóssil e da atividade industrial atinge 8 bilhões de toneladas por ano.

2007 - O quarto relatório de avaliação do IPCC conclui que há mais de 90% de chance de que as emissões de gases causadores do efeito estufa a partir da atividade do homem serem responsáveis pelas mudanças climáticas da era moderna.

2007 - O IPCC e o ex-vice-presidente americano Al Gore ganham o prêmio Nobel da Paz "pelos seus esforços em conscientizar e disseminar o conceito da interferência do homem na mudança do clima, e por lançar a base das medidas necessárias para reverter essas alterações".

2007 - Na conferência da ONU para mudança climática em Bali, na Indonésia, os governos concordam em firmar o "Bali roadmap", um acordo que previa a elaboração de um novo tratado global no final de 2009.

2008 - Meio século depois das primeiras observações no observatório de Mauna Loa, no Havaí, o projeto Keeling indica que as concentrações de CO2 aumentaram de 315 partes por milhão (ppm) em 1958 para 380 ppm em 2008.

2008 - Dois meses antes de tomar posse, o futuro presidente dos EUA, Barack Obama promete "se engajar vigorosamente" com o resto do mundo na questão das mudanças climáticas.

2009 – A China ultrapassa os EUA como maior emissor mundial de gás de efeito estufa - embora os EUA permaneçam bem à frente em uma base per capita.

2009 - Hackers baixam uma enorme parcela de e-mails de um servidor da unidade de pesquisa climática da Universidade East Anglia, no Reino Unido, e liberam parte do conteúdo na internet, episódio conhecido como "ClimateGate".

2009 - Governos de 192 países do mundo se reúnem na cúpula do clima da ONU em Copenhague, com grandes expectativas de um novo acordo global, mas o resultado da conferência é apenas uma declaração política controversa, o Acordo de Copenhague.

2010 - Os países desenvolvidos começam a contribuir para um fundo de US$ 30 bilhões (R$ 67 bilhões) durante três anos. O objetivo é usar o dinheiro para ajudá-los a se adaptar aos impactos climáticos e tornar suas economias mais verdes.

2010 - Uma série de análises sobre o "ClimateGate" e o IPCC pede por mais abertura, mas isenta os cientistas de negligência.

2010 - A cúpula da ONU no México, não desmorona, como se temia, mas termina com acordos em questões pouco relevantes.

2011 - Uma nova análise de registros de temperatura da Terra por cientistas preocupados com as acusações do "ClimateGate" prova que a superfície terrestre do planeta de fato se aqueceu durante o século passado.

2011 - A população humana chega a 7 bilhões de pessoas.

2011 - Dados mostram que as concentrações de gases de efeito estufa estão aumentando em um ritmo mais rápido do que em anos anteriores.

2012 - O gelo no Ártico atinge uma extensão de 3.410.000 km², a menor área desde que as medições por satélite começaram, em 1979.

2013 – Dados do Observatório de Mauna Loa, no Havaí, informam que a concentração média diária de CO2 na atmosfera já ultrapassou 400 partes por milhão (ppm), pela primeira vez desde que as medições começaram, em 1958.

sábado, 21 de setembro de 2013

Norte geográfico e norte magnético

O que é, o que é?

Norte geográfico e norte magnético



Por muito tempo se pensou que o norte geográfico e o norte magnético eram um só. Em 1831, o explorador inglês James Ross verificou que não eram iguais ao chegar ao Ártico e ver que a bússola apontava para o chão, o norte magnético (as linhas de força eram verticais e a única posição em que a agulha aquietava era na vertical).

O norte geográfico resulta do movimento de rotação da Terra, enquanto o norte magnético é o resultado do campo magnético gerado pelo movimento do metal fundido do núcleo externo em torno do núcleo metálico sólido da Terra. Os dois nortes, portanto, expressam fenômenos geofísicos diferentes. Usando esse princípio os chineses inventaram a bússola e os europeus se lançaram às grandes navegações.

Uma agulha imantada aponta sempre para o polo norte magnético e, de modo aproximado, para o norte geográfico. O ângulo entre o norte magnético e o geográfico reflete a declinação magnética do lugar e varia geralmente de 20 a 30 graus. Como o campo magnético varia com o tempo, atualmente em São Paulo a diferença entre os dois nortes é de 23 graus.

Uma confusão frequente é quanto à nomenclatura dos polos. Pela convenção física, o polo magnético norte estaria situado no sul da Terra e vice-versa. Para evitar essa confusão, convencionou-se chamar de polo norte magnético o polo que está próximo ao polo norte geográfico, o mesmo ocorrendo com o polo sul.

Eder Molina, da Universidade de São Paulo (USP)
Revista FAPESP

Relevo Tabular



Relevo Tabular - Tabuliforme (Tabular Landform)Relevo Tabular corresponde a áreas de relevo com feições semelhantes a mesas, que correspondem ao tipo mais simples de influência estrutural sobre as feições do relevo. Nestas formas, as camadas dispõem-se horizontal e suborizontalmente, apresentando-se de maneira alternada, no que se refere à resistência da litologia ao desgaste dos processos erosivos.

Cuesta


Cuesta é um relevo assimétrico que ocorre em bacias sedimentares quando a inclinação das camadas é monoclinal, ou seja, com mergulho em um único sentido. Desenvolve-se em rochas estratificadas de diferentes resistências e caracteriza-se pela associação de duas vertentes denominadas reverso e front.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Sem saída - Modelo de desenvolvimento brasileiro


O modelo de desenvolvimento brasileiro não apresenta refúgios para a classe trabalhadora
Ruy Braga*

As recentes greves dos bancários e dos trabalhadores dos correios tornaram-se objeto de inúmeras controvérsias. Nos longos dias da paralisação, a mídia destacou um debate a ser retomado aqui: se o governo federal controla a CUT, como explicar um embate tão longo entre os trabalhadores e o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a ECT? Se a CUT controla a maioria das federações e sindicatos engajados nesses movimentos, como interpretar as derrotas que as assembleias sindicais impuseram aos acordos negociados com as empresas por seus representantes? Para além da concorrência de elementos específicos, como o desconto de alguns dias não trabalhados, a iminente privatização dos correios ou o endurecimento dos bancos estatais nas negociações, um processo salta aos olhos de quem acompanhou a radicalização dos trabalhadores no país: estávamos diante de uma verdadeira rebelião das bases em relação ao controle governamental exercido sobre os trabalhadores pelos sindicatos.

No começo do ano, foram as greves nos canteiros de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que deram o alerta. A greve dos professores do ensino fundamental e médio em diferentes estados e o sucesso da atual campanha nacional pelo investimento de 10% do PIB na educação lograram organizar a indignação das bases.

Ao analisar todos esses movimentos, arriscaria duas hipóteses: objetivamente, os ganhos salariais não acompanham a elevação da produtividade do trabalho. Em outras palavras, os trabalhadores estão se matando em condições cada dia mais deterioradas de trabalho sem uma contrapartida salarial que minimize o aumento do estresse, do adoecimento e da fadiga física. Subjetivamente, os trabalhadores começam a perceber que o atual modelo de desenvolvimento econômico pilotado pelo governo federal simplesmente não os favorece. Ao contrário, o casamento da "comodificação" da economia com a financeirização do capital limitou de tal maneira a ação do próprio governo que já não há mais espaço para concessões.

A Sociologia pública do trabalho presente no livro Saídas de emergência (Boitempo Editorial ), organizado por Robert Cabanes, Isabel Georges, Cibele Rizek e Vera da Silva Telles, exige uma reflexão crítica acerca do atual modelo de desenvolvimento social pilotado pela burocracia lulista. Por meio de minuciosos relatos etnográficos, somos lançados à infernal realidade da classe trabalhadora paulistana vivendo na periferia da grande metrópole e inseridos nas entranhas do áspero e degradado universo limítrofe entre o legal e o ilegal, cuja principal marca é a experiência da precariedade social em suas mais diferentes formas: mercado de trabalho, violência policial, ambiente familiar, vida comunitária, participação religiosa e resistência política. Depois de ler os registros contidos no livro fica fácil compreender por que a paciência dos trabalhadores está se esgotando.

Apesar de toda a propaganda governista em torno da desconcentração de renda entre aqueles que vivem do trabalho, uma conclusão nada óbvia começa a se impor à consciência dos subalternos: o atual modelo não tem nada a oferecer a eles. Em um mundo tomado pela indignação contra a maneira como os governos estão destruindo o futuro a fim de salvaguardar lucros de bancos e de grandes grupos privados, tal conclusão pode se tornar politicamente explosiva.

Texto publicado originalmente no blog da Boitempo Editorial
* Ruy Braga, professor do Departamento de Sociologia da USP e ex-diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) da USP, autor de diversos livros.
Revista Sociologia

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Notícias Geografia Hoje

Degelo de solo no hemisfério Norte pode liberar dobro de carbono na atmosfera
Estudo do Pnuma aponta que liberação de carbono contido na matéria orgânica congelada no permafrost pode amplificar aquecimento global


Michael Fritz
Cientista observa alteração no permafrost na ilha Herschel, no oceano Ártico

O permafrost, solo permanentemente congelado que cobre quase um quarto do Hemisfério Norte, está derretendo por causa do aquecimento global e seu desaparecimento pode piorar ainda mais a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. É o que mostra um relatório divulgado  pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). 

De acordo com o trabalho, todo o permafrost, que se estende por países como Rússia, Canadá, China e Estados Unidos, contém, na forma de matéria orgânica congelada, 1.700 gigatoneladas de carbono, duas vezes mais do que existe atualmente na atmosfera. Sua liberação pode amplificar significativamente o aquecimento global já esperado. 

De acordo com Kevin Schaefer, da Universidade do Colorado, e coordenador do estudo, o que pode ocorrer é um movimento que ele chamou de "permafrost carbon feedback". "E uma vez que ele seja iniciado, será irreversível. É impossível colocar a matéria orgânica de volta ao permafrost." 

Atualmente, a camada de gelo, que chega a ter mais de dois metros de espessura, já vem apresentando uma diminuição de tamanho. O derretimento, além do impacto à atmosfera, pode afetar os ecossistemas assim como a infraestrutura construída sobre o gelo permanente. 

O anúncio foi feito em meio à realização da 18ª Conferência do Clima da ONU, no Catar (Doha), onde mais de 190 países discutem como vão lidar com as mudanças climáticas. Schaefer lembrou que as previsões de aumento da concentração de gases e de temperatura até o final do século apresentadas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007, e levadas em conta nas negociações da ONU, ainda não consideram as estimativas do carbono que pode ser liberado pelo permafrost. 

"Pedimos aqui para que isso seja considerado porque qualquer meta de redução de emissões pode ser muito baixa", afirmou o pesquisador. Segundo ele, até 2100, 39% das emissões podem vir do derretimento do permafrost. Presente ao evento, Jean-Pascal Van Ypersele, do IPCC, disse que essas emissões já estarão contabilizadas nos cenários futuros no relatório que começa a ser divulgado em setembro do ano que vem. 
A repórter viaja a convite da Convenção do Clima (UNFCCC)

Israel - As contradições do Estado "judeu democrático

Lei prevê pena de três anos de prisão, sem direito a julgamento, a todos os imigrantes que entrarem ilegalmente em Israel, sem fazer distinção entre imigrantes ilegais e refugiados. Está cada vez mais claro que o modelo sionista prevê um Estado excludente e colonizador
Luciana Garcia de Oliveira *




"Vivendo sob as trevas do holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós."
José Saramago

Pogroms » Ataque maciço e violento a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar atos em massa de violência espontânea ou premeditada contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa, porém é aplicável a casos que envolvem países e povos do mundo inteiro.


Sob o prisma do "problema judeu" emergido desde os pogroms e o antijudaísmo na Europa, há que se notar a terrível semelhança no tratamento aos palestinos nos territórios ocupados e, mais atualmente, aos imigrantes africanos em Israel, Estado criado em 1948, oficialmente como refúgio para os judeus, vítimas das perseguições na Europa e na União Soviética e para os sobreviventes do holocausto nazista.

Isso porque, no início de 2012, em mais uma decisão arbitrária do Parlamento israelense, foi aprovada uma lei, denominada Lei contra infiltração, que prevê pena de três anos de prisão, sem direito a julgamento, a todos os imigrantes que entrarem ilegalmente no país, sem fazer distinção entre imigrantes ilegais e refugiados. Cabe ressaltar, no entanto, que o Estado de Israel é membro signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, e por isso teria o dever de conceder asilo político a esses imigrantes, uma vez que o status de refugiado é conferido a todo indivíduo que corre risco de vida ao regressar ao seu país de origem, como é justamente o caso dos imigrantes advindos de países como a Eritreia e o Sudão, com grande incidência de guerras civis, massacres e crimes de genocídio.

Esse dispositivo legal visa especialmente os imigrantes africanos, sobretudo os 157 africanos já reconhecidos pelo Ministério do Interior como refugiados, que entraram no país por terra através da fronteira Israel-Egito, pelo deserto do Sinai. Assim, para conter esse tipo de "infiltração", as autoridades israelenses começaram a construir, desde janeiro, uma cerca ao longo da fronteira com o Egito. Além dessa medida, está prevista a construção de um grande campo de detenção, localizado no sul do país, denominado Saharonim, com capacidade para 10 mil prisioneiros e que deverá abrigar inclusive crianças que entrarem de maneira irregular no país.

Israel é membro signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, e por isso tem o dever de conceder asilo político a imigrantes
A vasta obra de Hannah Arendt reserva um espaço para o retrato fiel da perseguição que os judeus sofreram na Segunda Guerra Mundial, com destaque para a questão dos refugiados, que, segundo ela, são todos aqueles impedidos de voltar às suas casas não pelo que fizeram, mas pelo que são


É estimado, no entanto, que esses imigrantes representem cerca de 10% da população local de Tel Aviv, cujo total populacional gira em torno de 400 mil habitantes. O desagrado da sociedade israelense com relação aos imigrantes do Sudão e da Eritreia tem sido demonstrado muito além das medidas judiciais. Em meados de abril foi registrada a ocorrência de que quatro casas e uma creche de refugiados africanos em Tel Aviv haviam sido alvos de bombas incendiárias, em um ataque atribuído a um grupo de extrema direita, "Comitê contra infiltrados", cuja bandeira é a defesa da qualidade de vida dos moradores e contra a desvalorização dos imóveis quando há incidência da presença de refugiados nos espaços públicos como ruas, parques e praças de determinados bairros da capital de Israel.

Depois, em maio, centenas de manifestantes israelenses atacaram covardemente alguns imigrantes africanos e depredaram muitas lojas e veículos, após um comício organizado por moradores de Tel Aviv contrários à presença dos africanos no país. O evento político contou inclusive com a presença de alguns deputados do partido Likud, de direita, e de outros partidos de coalizão do governo. Segundo a jornalista Guila Flint, foi durante esse evento que a deputada Miri Regev chamou os imigrantes africanos de "câncer em nosso corpo".

Ações violentas
Todas as ações violentas contra esses indivíduos foram atribuídas ao governo de Israel, de acordo com as palavras de Sigal Rozen, diretora da ONG Moked, instituição de defesa dos direitos humanos dos imigrantes africanos. Segundo a ativista, citada no artigo "Imigrantes africanos são perseguidos por multidão e agredidos após comício em Tel Aviv", "os líderes do governo, que chamam os refugiados de 'infiltradores de trabalho' e incitam os moradores contra eles, são os responsáveis pela violência". De acordo com as palavras de Rozen, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu teria alegado publicamente que a "inundação" de imigrantes africanos em Israel representa uma "ameaça à segurança e ao caráter judaico e democrático de Israel".

Essas ações violentas geralmente correspondem à opinião de grande parcela dos moradores da cidade, como a de Benny Shlomo, que, na matéria intitulada "Presença crescente de imigrantes africanos gera polêmica em Israel", afirmou que todos os imigrantes em situação irregular, sem exceção, deveriam ser "imediatamente expulsos", em consequência do suposto aumento do índice de criminalidade nos bairros onde há predomínio da presença desses imigrantes. Nesse sentido, segundo o departamento de pesquisa do Parlamento israelense, foi apontado que o índice médio de criminalidade entre o total de imigrantes em situação irregular é de 2,04%, enquanto o índice na população geral é de 4,99%, segundo a mesma matéria.

É demonstrado, por sua vez, que o aumento da violência em Israel está diretamente relacionado ao aumento do número de refugiados no país nos últimos anos. Sobre isso, o comandante de polícia, Yohanan Danino, defende que para conter o aumento da criminalidade entre os imigrantes africanos (ou pelo menos evitar que a situação piore) é necessário que o Estado permita que eles trabalhem para que possam se sustentar. Porém, o governo não lhes concede empregos formais.
O genocídio aos judeus na Europa comoveu a opinião pública internacional. No entanto, a tragédia, o exílio e o totalitarismo do passado continuam bastante presentes na história atual de Israel, quando se analisa o tratamento dispensado aos não judeus daquele País

Irmãos africanos e palestinos
A situação vivida pelos imigrantes africanos é muito semelhante à de milhares de palestinos: em ambos os casos não é concedido status legal dentro de Israel. O que torna tanto os palestinos como os africanos seres invisíveis e à mercê de quem quer explorá-los. A única diferença, apontada no artigo "Today Israel moved one step closer to nazi Germany circa 1938", é que os africanos, particularmente, encontram-se dentro do corpo político de Israel, enquanto os palestinos já foram afastados e excluídos da política sionista.

Entre as muitas causas alegadas para a discriminação dos palestinos e dos demais estrangeiros (não judeus) em Israel atribui-se a "ameaça demográfica", um destaque especial, uma vez que a defesa do caráter judaico-sionista de Israel é consenso entre todos os sionistas. Diante desse modelo de "Estado judeu democrático", é sumariamente defendido que algumas medidas drásticas devem ser tomadas contra os imigrantes, sobretudo os da África, e os palestinos, nativos da região. Do contrário, haverá uma redução considerável da população judaica nas próximas décadas. Esse tipo de ameaça pôde ser comprovada, muito recentemente, em um programa de rádio em Israel, no qual o ministro do Interior, de maneira bastante alarmista, afirmou: "Eu quero que todos sejam capazes de andar pelas ruas sem medo ou receio... Os imigrantes estão prestes a dar à luz a centenas de milhares, e o sonho sionista está morrendo".

O desagrado da sociedade israelense com relação aos imigrantes do Sudão e da Eritreia tem sido demonstrado muito além das medidas judiciais

Durante a onda de violência física e verbal contra os refugiados africanos em Israel, muitos judeus etíopes sofreram com o racismo contra os negros. As manifestações racistas vêm desde o ano passado, quando houve uma grande incidência de atos de rua por parte da comunidade etíope, após algumas escolas se recusarem a matricular alunos etíopes e alguns condomínios proibirem o aluguel de apartamentos aos membros dessa comunidade.

Foi durante as perseguições aos africanos, naquele ano, que um advogado etíope teve a iniciativa de confeccionar algumas camisetas com os seguintes dizeres: "Cuidado, não sou infiltrado africano", com a estrela de Davi estampada em fundo amarelo. O que, por outro lado, desagradou muitos ativistas etíopes, sobretudo os integrantes do grupo Young Ethiopian Students (YES), os quais discordaram veementemente desse gesto, sob a alegação de que o slogan da camiseta passa a mensagem de que os judeus etíopes querem se diferenciar dos demais imigrantes africanos. O que, de certa forma, poderia legitimar todas as agressões cometidas.

"Os líderes do governo, que chamam os refugiados de 'infiltradores de trabalho' e incitam os moradores contra eles, são os responsáveis pela violência"

Passado pra que te quero: os terrores do holocausto

O genocídio cometido contra os judeus na Europa, representado por fotos e imagens das valas comuns nos campos de concentração e dos sobreviventes vagando em muitos países, após a Segunda Guerra Mundial, comoveu a opinião pública internacional. A emergência do "problema judeu" foi analisada por muitos jornalistas, escritores e acadêmicos no mundo todo, mas o retrato mais fiel da perseguição está presente na vasta obra de Hannah Arendt, sobretudo no artigo "We refugees". É nesse trabalho que Arendt destaca a definição de refugiado como sendo a daqueles que, como ela, foram impedidos de voltar a suas casas, não pelo que fizeram, mas justamente pelo que eram. Nesse relato, Arendt revela o sofrimento dos refugiados sob um ponto de vista bastante pessoal, quando publicamente clamou ao mundo:

"Nós perdemos nossas casas, o que significa a familiaridade da vida diária. Perdemos nossos empregos, o que significa a nossa confiança e utilidade no mundo. Nós perdemos a nossa língua, o que significa a espontaneidade, a simplicidade dos gestos, as expressões de sentimentos não afetados. Deixamos nossos familiares nos ghettos poloneses e os nossos melhores amigos foram mortos nos campos de concentração, o que significa a ruptura da nossa vida privada." A extensão do problema gerado pela grande quantidade de refugiados e a vontade de retornar a seus lares levou muitos a acreditar que, assim que Hitler fosse finalmente rendido e a guerra terminasse, todos poderiam voltar a suas casas e a sua rotina. À medida em que percebiam que a solução não seria tão simples, muitos refugiados tornaram-se "lutadores constantes", nas palavras de Arendt, que, no auge do desespero, costumavam "desejar a morte dos nossos amigos e parentes, pois, quando algum refugiado morre, ele está salvo de todos os seus problemas". Muito embora para a religião judaica o suicídio seja bastante condenável, o índice de suicídios entre os judeus em Berlim, Viena, Bucareste, Paris, Nova York, Los Angeles, Buenos Aires e Montevidéu era muito alto.

Quando os refugiados eram, enfim, salvos, sentiam-se humilhados e, quando eram ajudados, sentiam-se degradados. Assim, quando tinham forças, geralmente lutavam pelo retorno às suas próprias existências e pela incessante busca da definição de seus próprios destinos, de maneira individual, na esperança de serem independentes, comprar seus próprios alimentos, andar de metrô, sem nunca ouvirem que são pessoas indesejáveis.

Havia uma grande dificuldade na manutenção e na conservação de sua integridade, pois refugiados judeus tinham seus status social, político e jurídico muito confusos. Justamente por isso, muitos optaram pela mudança radical de identidade e foram obrigados, pelas circunstâncias, a aprender a conviver com toda essa confusão. Tudo isso na busca incansável de deixar o estigma de refugiados. Antes, havia a preocupação de deixar de ser judeu. Para isso, muitos aprenderam a língua inglesa, uma vez que falar em alemão era ameaçador, pois revelava sua identidade. Todo esforço para a assimilação era necessário, para que os judeus se vissem livres da condição de apátridas. Por isso, durante muito tempo, foi extremamente difícil os judeus convencerem os cidadãos acerca da sinceridade de suas transformações.

Hannah Arendt » Filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. Seu primeiro livro, As Origens do Totalitarismo(1951), consolida seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt identifica de modo polêmico o nazismo e o socialismo como ideologias totalitárias, que dependem da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo diante do poder.


Para conter o aumento da criminalidade entre os imigrantes africanos (ou pelo menos evitar que a situação piore) é necessário que o Estado permita que eles trabalhem para que possam se sustentar

De fato, todas as ações e todos os discursos discriminatórios e racistas são ainda mais assustadores quando advindos por parte daqueles que, como Hannah Arendt, já foram perseguidos no passado. E justamente essa passagem trágica do passado judaico fomentou muitas manifestações em Israel sob o slogans "We are all refugees" ("Somos todos refugiados"), numa clara alusão ao passado e ao reconhecimento sincero do sofrimento dos imigrantes africanos.

A contradição
Ao reafirmar-se como "Estado judeu democrático", Israel torna-se uma contradição. Por um lado, serviu desde antes de sua proclamação como "lar nacional para o povo judeu" (descrito na declaração Balfour); por outro lado, um grupo extremista endossado por muitos cidadãos israelenses exercem contra os palestinos, e mais recentemente contra os refugiados africanos, tudo a que seus familiares foram submetidos no passado. A brutalidade cometida contra os não judeus revela que Israel não pode ser considerado um Estado democrático. Ao contrário, é cada vez mais claro que o modelo sionista prevê um Estado excludente e colonizador, que não respeita os seus vizinhos, muito menos sua própria população - que, cada vez mais, é confundida com a imagem truculenta e negativa de seus governantes e de seu exército.
Para grande parte dos moradores de Tel Aviv, os imigrantes em situação irregular, sem exceção, deveriam ser "imediatamente expulsos". Para eles, a sua presença contribuiria para o aumento da criminalidade


Assim, de acordo com o adágio "Deus nos concedeu a memória, mas também o esquecimento", é possível concluir que, para esquecer, é preciso lembrar. O que torna a tragédia, o exílio e o totalitarismo do passado bastante presente na história de Israel.
* Luciana Garcia de Oliveira é acadêmica, integrante do Grupo de Trabalho sobre o Oriente Médio e Mundo Muçulmano, do Laboratório de Estudos sobre a Ásia da Universidade de São Paulo (LEA-USP).E-mail: luciana.garcia83@gmail.com

Referências 
ABUNIMAH, Ali. Israel will collapse unless africans and palestinians are expelled, fenced, says legal advocate. Disponível em:http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/israel-will-collapse-unless-africans-and-palestinians-are-expelled- fenced-says;
ARENDT, Hannah. We refugees. The Menorah Journal, 1943.
CANNING, Paul. "Pogrom" on africans refugees in Tel Aviv. Disponível em: http://www.care2.com/causes/pogrom-on-african- refugees-in-tel-aviv.html.
FLINT, Guila. Imigrantes africanos são perseguidos por multidão e agredidos após comício em Tel Aviv. Disponível em:http://www.bbc.co.uk/portuguese/ultimas_noticias/2012/05/120524_telavivimigrantes_gf.shtml.
______________. Presença crescente de imigrantes africanos gera polêmica em Israel. Disponível em:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120522_refugiados_gf.shtml.
______________. Casas de refugiados africanos são alvos de bombas incendiárias em Israel. Disponível em:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120427_israel_ataques_refugiados_gf.shtml.
_______________. Lei aprovada em Israel prevê prisão sem julgamento para imigrantes ilegais. Disponível em:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120110_africanos_israel_gf.shtml;
Today, Israel moved one step closer to nazi germany circa 1938. Disponível em: http://networkedblogs.com/y1gL8
Revista Sociologia 

Notícias Geografia Hoje

Degelo na Antártida e Groenlândia esta ocorrendo cada vez mais rápido
Especialistas afirmam que aquecimento global está fazendo com os polos derretam três vezes mais rápido do que há 22 anos

Ian Joughin, Univ. of Washington
Imagem mostra degelo do Fiorde Ilulissat, na Groenlândia

Um novo estudo descobriu que o derretimento do gelo na Antártida e Groenlândia está acontecendo três vezes mais rápido do que em 1990. No entanto, o degelo dos polos contribuiu menos do que se imaginava para a elevação do nível do mar, com apenas para a elevação de 1,1 centímetros. Mesmo assim, a redução do gelo, especialmente na Groenlândia, tem preocupado especialistas.

O derretimento das camadas de gelo nos polos é considerado como uma das consequências mais importantes do aquecimento global, porém até agora pesquisadores não haviam entrado em um consenso sobre a velocidade do degelo, nem se a Antártida estava também perdendo território com o derretimento.

Os dados são resultado de um estudo feito por uma equipe de especialistas da Nasa e da Agência Especial Europeia, que combinou dados de vários satélites para produzir a avaliação mais abrangente e precisa sobre a perda de gelo nos polos e a contribuição para a elevação do nível do mar. 

O novo estudo concluiu que a Antártida também está derretendo, embora um pouco menos que o gelo da Groenlândia. Outra constatação foi que a taxa de degelo cresceu de cerca de 55 bilhões de toneladas por ano nos anos 1990, para os atuais quase 290 bilhões de toneladas anuais, de acordo com o estudo.

“A Groenlândia está indo embora”, disse Ted Scambos, diretor do Centro Nacional sobre Gelo e Neve e co-autor do estudo publicado nesta terça (29) no periódico científico Science.

Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, disse que os resultados servem de recado para os negociadores da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que está acontecendo em Doha . “Agora está muito claro que há um problema na Groenlândia”, disse.

Cientistas culpam o aquecimento global pelo derretimento. A queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, emitem dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa na atmosfera que “prendem o calor”, aquecendo a atmosfera. Pouco a pouco, o aumento da temperatura faz com que as placas de gelo tornem-se líquidas. A neve que cai reabastece as placas de gelo, mas mesmo assim não é o suficiente para superar a taxa de derretimento.

Como os oceanos ocupam a maior parte do planeta, é necessário que muito gelo derretido – cerca de 10 trilhões de toneladas – faça com que o nível do mar suba 2,5 centímetros. De acordo com o estudo, desde 1992, o gelo dos polos perdeu cerca de 5 trilhões de toneladas de gelo.

Parece pouco, mas esta pequena camada de água pode ser ainda mais devastadora que a super tempestade Sandy, que atingiu a América Central e os Estados Unidos no mês passado. O cientista da Nasa Erik Ivins, também autor do estudo, afirma que o perigo está no fato de que este peso extra nos oceanos dá as ondas do mar um pouco mais de energia. “Quanto mais energia houver nas ondas, mais longe a água pode avançar na Terra”, disse.

Globalmente, os oceanos se elevaram cerca de 15 centímetros ao longo do século 20. O derretimento das massas de gelo correspondem a cerca de um quinto do aumento do nível do mar. A água mais quente se expande, contribuindo para a elevação dos oceanos em outras áreas fora das regiões polares.

“Entender como e porque a massa de gelo está mudando nos ampara para compreender e prever quanto e de que maneira elas vão mudar o nosso futuro”, disse Waleed Abdalati, cientista chefe da Nasa e um dos mais importantes glaciológos, que não trabalhou neste estudo. 

(Com informações da Associated Press)

Notícias Geografia Hoje


Estudo diz que aquecimento global gera mais bancos de gelo na Antártida
Alteração de padrão é resultado do efeito da água que derrete do gelo durante o verão e que volta a se congelar rapidamente quando a temperatura cai novamente



Getty Images
Bancos de gelo em volta da Antártica aumentam apesar do clima global esquentar

O aquecimento global está aumentando a área de bancos de gelo em volta da Antártida durante o inverno. A mudança é resultado do efeito da água que derrete do gelo durante o verão e que volta a se congelar rapidamente quando a temperatura cai. A conclusão é de um estudo divulgado neste domingo (31).

Um derretimento de gelo crescente nos limites da Antártida durante o verão, associado com menos nevascas do que o esperado no continente, está aumentando levemente o nível do mar, diz o estudo.

Cientistas têm se esforçado para explicar porque, por exemplo, os bancos de gelo em volta da Antártica alcançaram uma extensão recorde no inverno de 2010, quando o gelo no Oceano Ártico, no outro limite do planeta, diminuiu e chegou a uma baixa recorde em 2012.

"Os bancos de gelo em volta da Antártica aumentam apesar do clima global esquentar", disse Richard Bintanja, do holandês Instituto Real Meteorológico, líder do estudo. "Isso é causado pelo derretimento das camadas de gelo, afirmou sobre os resultados da pesquisa, publicados no jornal Nature Geoscience .

Quando o gelo da costa da Antártida derrete no verão por causa do aumento da temperatura do mar, a água produzida flutua sobre a mais densa e quente água salgada. No inverno, a água do derretimento do gelo sobre o mar volta a se congelar.

No pico do inverno, o gelo sobre o mar em volta da Antártida cobre uma área de cerca de 19 milhões de quilômetros quadrados, maior do que a extensão terrestre do continente. À medida que o verão se aproxima, ele derrete no oceano.

Ventos 
Paul Holland, da organização britânica British Antarctic Survey, defende as conclusões da sua pesquisa feita no ano passado.

Segundo o estudo, uma mudança nos ventos, relacionada às transformações no clima, está levando para mais distante a camada de água derretida sobre mar e aumentando o volume de gelo no inverno.

"A possibilidade é que o aumento real se deve ao vento e aos efeitos da água derretida. Essa seria a minha hipótese, com o efeito da água derretida sendo o menor entre os dois", afirmou ele.

O estudo de Bintanja também afirma que a camada mais fria de água sobre o mar pode limitar a quantidade de água que sai do oceano e volta como neve sobre a Antártida, já que o ar mais frio é menos úmido.

Terceiro setor: solução para o desemprego ou efeito curativo?

Embora impreciso e problemático, o uso do conceito de terceiro setor tem crescido como consequência das perversas políticas neoliberais que ocasionam desemprego, precariedade do trabalho, pobreza e indigência
FELIPE LUIZ GOMES E SILVA







FELIPE LUIZ GOMES E SILVA é professor aposentado de Gestão, Políticas Públicas e Terceiro Setor para os cursos de Ciências Sociais, Economia e Administração Pública da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, campus de Araraquara. Autor do livro A fábrica como agência educativa (Editora Cultura Acadêmica, Unesp - Araraquara, 2001). E-mail: felipeluizgomes@terra.com.br

O que é "terceiro setor" afinal? Para Fernandes (1997), é uma expressão de linguagem que foi traduzida da língua inglesa, sendo "portadora de uma ambiciosa mensagem: além do Estado e do mercado há um terceiro personagem". Ao lado dos sindicatos e de várias associações profissionais há outros recortes associativos que não se estruturam segundo a clássica divisão capital versus trabalho. Segundo Coelho (2000), esta expressão foi usada pela primeira vez na década de 1970 por pesquisadores estadunidenses. No entanto, há indicações de que o termo tenha surgido, inicialmente, como uma referência feita pelo magnata John Rockfeller à vitalidade da comunidade estadunidense (LANDIM, 1999).

Sabemos que qualquer conceito é apenas uma aproximação da realidade, a qual pode se manifestar de variadas formas. Dependendo do contexto histórico, social e político, do tempo e do lugar; a palavra é um instrumento ideológico por excelência (BAKHTIN, 1997). Veja quadro Definição de setores.

Como exemplos de instituições que pertencem ao "terceiro setor" podemos citar a Fundação Abrinq (São Paulo), o Projeto Axé de Educação Infantil e Adolescente (Salvador), o Orfanato Renascer (Araraquara), o Instituto Ethos (São Paulo) e também todo um conjunto de entidades assistenciais e caritativas que compete entre si na busca de recursos financeiros e de parcerias no mercado solidário.

Em razão da diversidade de instituições e de objetivos, a noção de "terceiro setor" é imprecisa e problemática. Para nós, a questão não se resume a uma mera dificuldade formal de classificação, como já apontamos anteriormente, resulta de seu "caráter eminentemente ideológico"; no sentido de ocultar a realidade concreta, ou seja, a não superação do mundo da aparência.

As organizações abrangidas por essa noção são diversas e diferenciadas, heterogêneas e até contraditórias. Apresentam diferenças em suas origens históricas, em suas finalidades, em suas maneiras de se relacionar com o Estado, com a sociedade e com o mercado. De modo geral, têm seu campo de trabalho limitado e condicionado pelas fontes de financiamento e pelo nível de pobreza presente nas diversas nações e regiões (SILVA, 2004).

Os donos do capital deverão reduzir a jornada de trabalho e investir em ações comunitárias solidárias

DE ACORDO COM Oliveira (1995), as Organizações Não Governamentais, por exemplo, "são importantes elementos de ativação da sociedade em geral, quando fazem o trabalho de passagem das carências para os direitos".

Indagamos: quantas organizações, de fato, superam o assistencialismo, realizam os direitos sociais e ultrapassam a filantropia e/ou mero gerenciamento da pobreza? Ressaltemos que, para Fernandes (1994), o "terceiro setor" não pretende substituir a ação do Estado, a sua dinâmica deve ser complementar; é fruto das insuficiências e dos limites da atuação do mercado.

Mas independentemente da vontade e das boas ações humanas, o denominado "terceiro setor" tem, na realidade, crescido em consequência das perversas políticas neoliberais. Com a "crise" do Estado de Bem- Estar Social (nos países centrais) e do Estado Desenvolvimentista (nos países periféricos), a ideologia do "terceiro setor" passa a ser funcional/ operacional às políticas do capitalismo neoliberal, ocultando as raízes estruturais do desemprego, da precariedade do trabalho, da pobreza e da indigência (MONTÃNO, 2002; SILVA, 2004, 2006).Os voluntários que atuam no denominado "terceiro setor" contra a fome e a miséria, só na aparência são livres cidadãos.

A questão fundamental é: sem romper com o modo de produção capitalista, será possível combater a indigência e construir uma nova sociabilidade humana por meio das ações do primeiro, segundo e terceiro setores?

Para Claus Off e a resposta é positiva. Uma nova sociabilidade será construída mediante uma sintonia fina entre o primeiro, segundo e terceiro setores. Atores coletivos da sociedade civil demarcarão as fronteiras e a relação entre o Estado, o mercado e o "terceiro setor". Todos comporão, de forma harmônica, um arranjo social novo e superior. Grande parte dos desempregados será cuidada pela solidariedade religiosa (1999, apud SILVA, 2006).

O estadunidense J. Rifkin também defende a tese da possibilidade de humanizar o capitalismo por meio da articulação dos três setores. Os donos do capital, as corporações, deverão reduzir a jornada do trabalho e investir em ações comunitárias solidárias. Para ele, com o crescimento do desemprego estrutural e da miséria, estamos diante de dois riscos: o crescimento da população carcerária e a emergência de ideologias políticas extremistas.

Só as ações do "terceiro setor" salvarão o capitalismo e a democracia (RIFKIN,1997). Como é evidente, o acelerado crescimento do chamado "terceiro setor" é fruto da lógica da acumulação ampliada do capital, do aumento da população que vive no inferno da indigência e que constitui o peso morto do exército de reserva - que, segundo R. Castel (1998), são os supranumerários, os não empregáveis considerados inúteis para o mundo.

Em 1988, na França, somente um estagiário em quatro, e um trabalhador precário em três encontraram um emprego estável ao final de um ano. Sendo assim, a expressão "interino permanente" não é um jogo de palavras.

Os Estados Unidos apresentam a vigésima taxa de mortalidade infantil do mundo e 5 milhões de sem-teto

No Brasil, por exemplo, são gastos R$ 7 bilhões com 11,1 milhões de famílias integradas no Programa Bolsa Família, enquanto R$ 110 bilhões remuneram os poderosos detentores dos títulos da dívida pública. Entre janeiro de 2003 e outubro de 2006, as empresas transnacionais, sediadas no País, repatriaram nada menos do que US$ 18,9 bilhões, 112% a mais do que a era Fernando Henrique Cardoso (1998-2002).

O pauperismo e a indigência (superpopulação supérflua) da América Latina e do "terceiro-mundo" somente serão superados com a construção de uma nova sociabilidade humana livre da lógica da acumulação, do desenvolvimento das forças destrutivas e da dependência do capital mundial.

O assistencialismo, a mera caridade legal e a filantropia,práticas inerentes ao chamado "terceiro setor" e às políticas "pseudoliberais" (SARTRE, 1987) talvez possam, por algum tempo, "animar" parte da sociedade e amenizar o sofrimento humano como simples efeito curativo (KURZ, 1997).
Definição dos setores



O pesquisador Rubem C. Fernandes (1994) assim demarca as fronteiras entre o "Primeiro, Segundo e Terceiro Setores":

Como podemos observar, definido pelos seus fins, o denominado "terceiro setor" é composto por agentes privados que buscam a realização de objetivos coletivos e/ou públicos. Desta forma, há, segundo esse autor, clara coincidência com os objetivos do Estado.

O segundo setor é organicamente composto por agentes que buscam objetivos privados, ou seja, orienta-se, primariamente, pelos interesses do mercado, pauta-se pela competição e pelos lucros. Quando os agentes estatais buscam fins privados encontram-se no espaço da corrupção. Dito de outra forma, as condutas pautam-se pelas "políticas de favores", pelo clientelismo, nepotismo e personalismo.

Afirma Fernandes (1994) que o "terceiro setor" denota um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam à produção de bens e serviços públicos. Este é o sentido positivo da expressão. Bens e serviços públicos, neste caso, implicam uma dupla qualifi- cação: não geram lucros e respondem a necessidades coletivas. "O conceito é certamente amplo e passível de qualificações sob diversos aspectos. As variações ocorrem, e os casos fronteiriços suscitam disputas polêmicas, como acontece com qualquer classificação".


As pesquisas do Observatório Urbano das Nações Unidas (ONU) alertam que, em 2020, a pobreza no mundo atingirá 45% do total de habitantes das cidades


MAS NEM COMO efeito curativo tem cumprido sua promessa de incluir no mercado formal os desempregados. A produção em escala de trabalhadores precários no terceiro-mundo e na América Latina tem sido acelerada pela aplicação dos Planos de Ajustes Estruturais (superávit fiscal, redução do déficit da balança comercial, desmontagem da previdência, liberalização financeira e comercial, [des] regulamentação dos mercados e a privatização das empresas estatais) "recomendados" pelo Banco Mundial. As pesquisas do Observatório Urbano das Nações Unidas (ONU) alertam que, em 2020, a pobreza no mundo atingirá cerca de 45% do total de habitantes das cidades.

Em Lagos, Nigéria, a classe média desapareceu, o lixo produzido pelos poucos e cada vez mais ricos compõe a cesta de alimentos que frequenta a mesa dos trabalhadores pobres. No Brasil, o denominado mercado informal já atinge mais de 51% da população, na América Latina, 57% e na África, 95% (DAVIS, 2004).

Dificilmente os agentes e os pesquisadores universitários que apoiam as ações do "terceiro setor" perguntam quais são as origens históricas e estruturais da pobreza e da miséria dos países dependentes. É preciso não abandonar a visão de totalidade social e considerar que o local não pode ser entendido como divorciado do mundial e, principalmente, da livre presença das transnacionais e das transações financeiras globais que, junto com os Programas de Ajuste Estrutural (PAEs), recomendados pelo Banco Mundial, provocam devastadores ciclones sociais (DAVIS, 2004; MÉSZÁ- ROS, 2006).

Muitas empresas praticam o denominado "marketing do bem" e a "solidariedade que aparece"

Atualmente, cerca de 180 milhões de pessoas estão em evidente situação de desemprego aberto. Mesmo nos Estados Unidos da América, lócus privilegiado das ações ditas solidárias, o "terceiro setor" não superou os problemas sociais: hoje, eles possuem a 20ª taxa de mortalidade infantil do mundo, 1/3 das crianças em idade escolar está sem vacinas básicas, 31 milhões de seres humanos não têm cobertura de saúde, há 5 milhões de sem-tetos, etc. (PETRAS,1996).

As ações locais, com ou sem apoio das corporações e do Banco Mundial, são limitadas e não questionam as raízes estruturais do desemprego, da pobreza e da precariedade do trabalho. Muitas empresas, na realidade, enquanto praticam o denominado"marketing do bem" e a "solidariedade que aparece" (BUCCI, 2004), exploram ao máximo os seres humanos e os recursos naturais da América Latina e do terceiro-mundo.

Muitas destas ações corporativas têm por objetivos claros "educar" lideranças rebeldes e prevenir a emergência de lutas sociais radicais. "São proponentes de novos contratos que restabelecem vínculos de solidariedade transclassistas e comunidades pensadas com inteira abstração dos "novos" dispositivos de exploração do trabalho (NETTO, 2005), a "flexploração" e a terceirização dos operários (SILVA, 2004). Será possível realizar, no século XXI, a utopia da cidadania plena - igualdade, fraternidade e liberdade - no interior da ordem social capitalista contemporânea?
Revista Sociologia

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Monte McKinley, no Alasca, 'perdeu' 25 metros em nova medição oficial; última medição havia sido feita em 1952



A montanha mais alta da América do Norte "encolheu", segundo novos dados divulgados por uma agência do governo americano.

Uma nova medição do Monte McKinley, localizado no Estado do Alasca, chegou a uma altura 25,29 metros menor que a medida anterior.

Reuters

O Monte McKinley, no Alasca, havia sido medido oficialmente pela última vez em 1952

A nova altura oficial da montanha é de 6.168 metros.

O Monte McKinley havia sido medido oficialmente pela última vez em 1952.

Segundo o US Geological Survey (agência geológica dos Estados Unidos), a redução na altura oficial do monte pode ser o resultado de tecnologias de medição mais precisas ou de "diferenças climáticas".

O US Geological Survey divulgou os novos dados como parte de um esforço para atualizar todos os mapas topográficos do Alasca.

A nova medição foi feita no ano passado, usando um radar de abertura sintética interferométrico, tecnologia desenvolvida para identificar digitalmente pequenas formas geográficas.

O Monte McKinley, também conhecido localmente como Denali, é um destino turístico popular, localizado no Parque Nacional Denali, no Alasca.

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