quarta-feira, 23 de novembro de 2016

As entranhas expostas da Terra - A origem inusitada do arquipélago de São Pedro e São Paulo


Mapeamento submarino ajuda a recontar a origem inusitada do arquipélago de São Pedro e São Paulo

IGOR ZOLNERKEVIC




© MARINHA DO BRASIL

Imagem aérea de São Pedro e São Paulo: ilhas formadas por rochas que se originaram a mais de 10 km de profundidade

Thomas Campos conhece o arquipélago de São Pedro e São Paulo como a palma de sua mão. O geólogo recifense, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), já visitou 17 vezes as cinco pequenas ilhas rochosas, cuja área total não cobre um campo de futebol. Suas viagens a esse arquipélago no meio do oceano Atlântico equatorial, distante cerca de mil quilômetros (km) de Natal, na costa brasileira, começaram em 1999, como parte do projeto Proarquipélago, da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). Desde 1998, o programa da CIRM mantém os inóspitos rochedos sempre habitados por duas a quatro pessoas – em geral geólogos, biólogos, oceanógrafos ou meteorologistas – que conduzem pesquisas em meio aos outros únicos habitantes das ilhas, as aves viuvinhas e atobás. A atividade científica serve a um objetivo estratégico: pelas leis internacionais, só a presença permanente de cidadãos brasileiros nessas ilhas garante ao país o direito de explorar uma área de 200 milhas náuticas em torno delas – é a chamada zona econômica exclusiva ou ZEE –, em uma região do Atlântico rica em cardumes de albacora, atum e outros peixes de alto valor comercial.

Durante a visita deste ano, Campos mostrou as rochas do arquipélago ao colega italiano Daniele Brunelli, da Universidade de Módena e Régio Emília, na Itália, especialista na geologia do fundo do Atlântico. “You kill me!”, exclamou Brunelli, diante de rochedos de peridotito, uma rocha típica da parte superior do manto, região do interior da Terra situada a 6 km abaixo do assoalho oceânico – as rochas do manto raramente afloram à superfície do planeta. Brunelli já vira esse tipo de rocha antes no Atlântico, mas da janela de submarinos, explorando fendas a mais de 4 km de profundidade no mar. De todas as ilhas oceânicas do mundo, só as de São Pedro e São Paulo são feitas de rochas que vieram do manto superior para a superfície – e continuam conectadas ao manto.

Entre janeiro e fevereiro de 2013, Campos e Brunelli participaram do Cruzeiro Colmeia, uma expedição a bordo do navio francês L’Atalante, integrando uma equipe de pesquisadores europeus e brasileiros coordenada por Márcia Maia, geofísica ligada ao Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França. A missão da viagem, concebida por Márcia e pela oceanógrafa Susanna Sichel, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, foi mapear centenas de quilômetros do relevo submarino em torno do arquipélago usando sonares de alta precisão e outros equipamentos geofísicos. A partir dos dados coletados na viagem, Márcia e sua equipe imaginam ter elucidado o mistério de como essas ilhas começaram a se erguer do fundo do mar há 11 milhões de anos.

As conclusões desse estudo, apresentadas em julho na revista Nature Geo-science, resolvem um enigma geológico de quase 200 anos. Em 1832, o naturalista inglês Charles Darwin foi um dos primeiros exploradores a notar que as rochas desse arquipélago não eram de origem vulcânica, como as de Fernando de Noronha. Assim como a maioria das ilhas oceânicas do planeta e a base rochosa dos oceanos (crosta oceânica), Fernando de Noronha é formada por camadas de rochas originadas da atividade vulcânica, como o basalto e o gabro. “Ao longo do século XX ficou claro que as rochas de São Pedro e São Paulo eram diferentes e vinham diretamente do manto terrestre”, explica Márcia. “Mas ninguém entendia como elas haviam se elevado quase 10 km e despontado acima do nível do mar”, conta a geofísica brasileira.

 
Após se graduar na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) em 1983, Márcia fez sua carreira científica na França, estudando ilhas e regiões submarinas do Pacífico, do Índico e do Atlântico. Ela explica que, enquanto trechos da litosfera dos continentes podem guardar histórias de até 4,5 bilhões de anos atrás, a litosfera dos oceanos é renovada continuamente e permite conhecer o que ocorreu apenas nos últimos 200 milhões de anos.

O Atlântico, por exemplo, começou a se formar 170 milhões de anos atrás. No interior da Terra, quando as rochas do manto superior atingem a temperatura de 1.300 ºC, por volta de 100 a 200 km abaixo da superfície, elas se comportam como um fluido viscoso que se movimenta lentamente ao longo de milhões de anos. Mudanças nas correntezas desse fluido ocorridas por volta de 170 milhões de anos atrás começaram a fraturar o interior do supercontinente Pangea, que se partiria nos pedaços que originaram os continentes atuais. Essa quebra abriu enormes vales no interior de Pangea. Ao subirem em direção à superfície, as rochas do manto sofrem descompressão e fundem parcialmente, originando o magma expelido por vulcões no centro desses vales. À medida que o movimento das placas tectônicas alargava os vales, o assoalho deles era preenchido pelas rochas resultantes da solidificação desse magma. Com o tempo, os vales aumentaram de tamanho e acabaram inundados, gerando um oceano.

Esse processo de abertura do Atlântico continua, com novos pedaços de crosta oceânica sendo formados até hoje. A atividade vulcânica se concentra na Dorsal Mesoatlântica, uma cordilheira de vulcões e falhas tectônicas que se estende de norte a sul do oceano e o divide mais ou menos ao meio. É a crosta oceânica formada ali que faz a costa brasileira se afastar da africana à taxa média de 3,4 centímetros por ano.

A produção de crosta oceânica não é uniforme, entretanto. De norte a sul, a Dorsal Mesoatlântica é recortada por falhas chamadas transformantes, que deslocam o eixo norte-sul da cordilheira ora mais para leste, ora mais para oeste. As maiores falhas transformantes estão no Atlântico Central, onde o eixo norte-sul da dorsal apresenta o seu maior deslocamento. O chamado Sistema São Paulo é um conjunto de quatro falhas que deslocam a Dorsal Mesoatlântica 630 quilômetros para oeste. As cinco ilhas de São Pedro e São Paulo são os picos de uma cadeia de montanhas submarinas com 3,5 km de altura, por 30 km de largura e 200 km de comprimento, localizada na falha mais a oeste do Sistema São Paulo. A serra foi batizada de elevação Atobá, em homenagem às aves locais.

Os sonares do Cruzeiro Colmeia definiram os contornos da elevação Atobá e da falha em que se encontra, complementando um trabalho iniciado em 1998 pela primeira expedição franco-brasileira. Naquela ocasião os pesquisadores usaram o submarino francês Nautile, o mesmo que identificou em 1987 os destroços do Titanic, para explorar o fundo do oceano naquela região. “Foram necessários treze mergulhos para produzir um pequeno perfil da elevação Atobá e coletar amostras das rochas”, lembra Susanna.

Expedições submarinas realizadas nos anos 1980 já haviam observado uma quantidade anormalmente elevada de peridotito no assoalho do Atlântico Central, no lugar das rochas vulcânicas que se esperava encontrar. De modo geral, o fundo dos oceanos é formado por rochas originárias de regiões quentes do manto, que, por causa das altas temperaturas e da redução de pressão, como a que ocorre ao longo da Dorsal Mesoatlântica, liquefazem-se, sofrem transformações e são expelidas pelas fendas e vulcões submersos. A pequena quantidade de rochas vulcânicas encontrada nessa região do Atlântico levou os pesquisadores a supor que, ali, o manto deveria ser mais frio do que em outros pontos do planeta. Parcialmente mantidas em estado sólido por causa das temperaturas mais amenas, essas rochas do manto teriam sido expostas diretamente, quando as forças tectônicas abriram falhas na crosta oceânica da região.

Mais denso que as rochas vulcânicas, o peridotito do manto diminui de densidade ao entrar em contato com a água do mar e reagir quimicamente com ela. A diminuição de densidade, porém, jamais teria força para erguer a elevação Atobá, contam os pesquisadores.


© THOMAS CAMPOS / UFRN

Trincas visíveis a olho nu em peridotito coletado no arquipélago: sinais da compressão a que a rocha foi submetida

Perfis das profundezas
Outros dados obtidos na expedição mais recente, os chamados perfis sísmicos, ajudaram a desfazer o mistério. Esses perfis são medidas que indicam como ondas vibratórias atravessam as rochas do interior do planeta e permitem ter uma ideia de como são constituídas. Perfis sísmicos realizados na região do arquipélago revelaram que a elevação Atobá é constituída por peridotitos deformados. Ali, as rochas do manto estão comprimidas entre dois blocos de crosta oceânica – um ao sul e outro ao norte – que estão colidindo frontalmente ao mesmo tempo que um desliza em relação ao outro. Variações no campo magnético terrestre registradas na região indicam também que o coração da elevação Atobá é formado por rochas do manto pouco alteradas pela água do mar – esse núcleo permanece conectado a rochas mais profundas.

Juntos, os perfis sísmicos e a análise da morfologia das falhas permitiram reconstituir a história da elevação Atobá. Márcia e seus colaboradores defendem que a falha mais a oeste do Sistema São Paulo já existia há 38 milhões de anos e que, por volta de 11 milhões de anos atrás, mudanças nas forças tectônicas a teriam expandido, expondo o peridotito do manto. Quase 1 milhão de anos depois, essas forças tectônicas mudaram de direção e passaram a comprimir o peridotito exposto, como manteiga espremida entre duas fatias de pão. “As falhas que vemos nos perfis sísmicos mostram que a rocha está sendo empurrada para cima”, conta Márcia. “A origem da elevação é tectônica.”

Ela defende que o motor da compressão que formou a elevação Atobá é a influência de um ponto quente do manto, situado a 300 quilômetros ao norte do Sistema São Paulo, entre a dorsal e a costa leste da África. Esse ponto quente está associado a uma região de alta temperatura do manto, que teria aumentado a produção de crosta oceânica ao norte da elevação Atobá e garantido a compressão contínua sobre o maciço de peridotito nos últimos 10 milhões de anos. “A ironia da situação é que a elevação do manto que forma o arquipélago de São Pedro e São Paulo não é causada pela temperatura fria do manto na região, mas pela proximidade de uma zona quente.”

Essa explicação é consistente com as fraturas e a estrutura dos grãos de rochas que Thomas Campos observa a olho nu e ao microscópico nos peridotitos do arquipélago. Também combina com as datações que Campos e colaboradores fizeram de fósseis marinhos encontrados por lá. Segundo essas datações, publicadas em 2010 na Marine Geology, os rochedos do arquipélago vêm se elevando 1,5 milímetro por ano nos últimos milhares de anos.
Revista FAPESP

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O que nos espera no futuro do trabalho?

A pesquisa Future of Work feita pela ADP traz 5 tendências mostradas pela força de trabalho no Brasil e no mundo
Redação



M udanças tecnológicas e culturais sempre nortearam o desenvolvimento dos espaços de trabalho, o que está acontecendo cada vez mais rápido e englobando cada vez mais pessoas. O efeito dominó desses avanços e as mudanças em massa apresentam impactos signi ficativos na forma como as pessoas vivem e trabalham em todo o mundo. A tecnologia, em particular, tem permitido aos funcionários uma maior sensação de liberdade, e ciência e conectividade, sem as limitações tradicionais de tempo e lugar.

A ADP, empresa líder global em soluções de Gestão do Capital Humano, levantou informações para descobrir quais são as maiores mudanças do mundo do trabalho e quais as tendências esperadas para os próximos anos. Nesse estudo, intitulado Future of Work, foram entrevistadas mais de 2 mil pessoas que trabalham em empresas com 250 ou mais empregados, no Brasil e em países como Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Austrália, China, Índia e Cingapura.

A seguir, estão 5 principais pontos que guiarão o futuro do trabalho, de acordo com o estudo:

1. LIBERDADE
As pessoas querem liberdade para desfrutar de suas vidas. Um índice de 77% dos brasileiros quer ter controle e exibilidade para fazer o seu trabalho quando, onde e como quiser. Essa liberdade de escolha tem sido amplamente concedida, em razão do aumento da capacidade e da facilidade para trabalhar a partir de dispositivos móveis.

2. CONHECIMENTO
Acesso às pessoas, ferramentas e informações necessárias para fazer seu trabalho, além de tempo para aprender novas habilidades enquanto realizam seus deveres. Essa necessidade nasce da demanda dos empregadores em ter funcionários que produzam mais, em menos tempo, e que façam parte de uma força de trabalho multiquali ficada. Um total de 75% dos brasileiros entrevistados acha provável a adoção de tecnologia como o principal instrumento de aprendizado e registro de novos conhecimentos no meio corporativo.

3. AUTOGESTÃO
A tecnologia permitirá ainda mais independência para que as pessoas administrem sua produtividade e seu desempenho e que também recebam feedback e reconhecimento em tempo real. Isto, provavelmente, irá remover as barreiras à colaboração e redefinirá a relação entre funcionários e seus gerentes. No caso do Brasil, a implementação dessas tecnologias é vista como improvável por parte dos funcionários. Apesar de desejarem, apenas 39% dos entrevistados acreditam que as empresas do País irão investir em sistemas de autogestão nos próximos anos.

4. ESTABILIDADE
A possibilidade de buscar talentos ao redor do mundo por meio de recursos tecnológicos e contratar trabalhadores por demanda, ao invés de funcionários de longo prazo, vai se tornar mais atraente para as organizações. Isso pode trazer um nível de incerteza que prejudica a estabilidade da força de trabalho, pois, certamente, a competitividade crescerá e poderá ser mais difícil encontrar um trabalho. Apesar disso, os brasileiros parecem não temer essa tendência: 61% dos entrevistados acreditam que as empresas do País não adotarão essa tendência.

5. SIGNIFICADO

O salário já não é um motivo suficiente para as pessoas irem ao trabalho; elas precisam de algo maior – projetos que tenham um signi ficado importante, que causem impacto na sociedade e que bene ficiem o bem-estar das pessoas. Trabalhar para organizações que tenham metas alinhadas às aspirações pessoais traz mais signi ficado e propósito em sua vida e também demonstra, por parte da empresa, um comprometimento com as pessoas que lhe prestam serviços. Outra tendência mundial que difere na opinião dos brasileiros: somente 36% dos entrevistados consideram fundamental trabalhar em projetos alinhados às suas aspirações pessoais.
Revista Geografia

Novos rumos da África e os interesses do Brasil


NELSON BACIC OLIC*



O s países da África entraram no século 21 sem resolver muitos de seus imensos problemas sociais - entre os quais, a pobreza endêmica, o rápido processo de urbanização, a integração nacional, a desigualdade de gêneros, a desnutrição, os conflitos internos e a violência política. Essa situação é o resultado de uma combinação de fatores externos e internos. A pesada herança colonial deixou marcas profundas nas sociedades africanas, que, até hoje, se manifestam. Governos ditatoriais e elites corruptas retardam o desenvolvimento econômico. As consequências abrangem a supressão das liberdades, a violação dos direitos humanos e a pilhagem dos recursos humanos naturais e intelectuais do continente.

Se, atualmente, a África tem 54 Estados soberanos, antes de 1960, esse número não chegava a 10. A maioria dos países africanos tem pouco mais de 50 anos de vida independente.

Todavia, a África do início da década de 2010 exibe uma paisagem diferente daquela do início dos anos 1960, quando se libertava do jugo colonial. Os desafios de hoje não são os mesmos, ou, em diversos casos, apresentam dimensões diferentes no contexto atual. Foram feitos grandes progressos em matéria de educação e saúde, e alguns países conseguiram construir, com algum sucesso, sistemas democráticos de governança. A dissolução do Apartheid na África do Sul, em 1994, a queda de vários regimes autoritários na última década e, mais recentemente, as profundas mudanças geradas pela "primavera árabe" no norte do continente abriram novas perspectivas de democratização e de desenvolvimento.

Nos últimos dez anos, bem diferente do que vinha ocorrendo na década de 1990, os países africanos têm apresentado, de modo geral, expressivo crescimento econômico. A expansão média anual do PIB girou em torno de 5% ao ano, com exceção de 2009, por conta dos efeitos da crise econômica mundial. Contudo, o crescimento recente teve como ponto de partida uma base muito baixa. Ainda hoje, o PIB conjunto dos 54 países africanos é inferior ao do Brasil.

A expansão econômica dos países africanos não foi uniforme. Nos últimos anos, as economias da África do Norte cresceram abaixo da média, principalmente em decorrência das turbulências provocadas pela "Primavera Árabe". Na África Subsaariana, em contraste, o crescimento, tendeu a superar a média do continente. Os destaques foram os exportadores de petróleo.

DISPUTA
Desde o início do século 21, os preços internacionais das matérias-primas minerais, energéticas e agrícolas, abundantes na África, experimentaram forte crescimento. A demanda chinesa provocou uma disputa acirrada pelas commodities, beneficiando todos os exportadores. A dimensão da presença chinesa no continente pode ser mais bem avaliada quando se sabe que, nos últimos dez anos, a potência asiática saltou da nona para a segunda posição no quadro dos parceiros comerciais dos países africanos. Hoje, nesse quadro, a China figura à frente das antigas potências coloniais europeias, superada apenas pelos Estados Unidos.

O Brasil quadruplicou seus fluxos de comércio com a África na última década. Apesar disso, esse valor representa apenas cerca 5% do fluxo total do comércio exterior brasileiro. Dos 50 maiores parceiros comerciais do Brasil, apenas seis - Nigéria, Argélia, Egito, África do Sul, Angola e Marrocos - são africanos. Eles representam cerca de 80% do total do comércio do Brasil com a África, e com todos, à exceção do Egito, a balança comercial é negativa. O déficit deriva das importações brasileiras de petróleo e gás. O saldo negativo com a Nigéria está entre os maiores dentre todos os intercâmbios bilaterais do Brasil. Quase a totalidade dos produtos importados da Nigéria correspondem a combustíveis, algo que se repete nos casos da Argélia e de Angola. Os destaques das exportações brasileiras para a África ficam para o açúcar, as aves e as carnes. O mercado africano consumidor de manufaturados é dominado pela China, pelos Estados Unidos e pela União Europeia. O avanço das relações comerciais entre o Brasil e os países africanos é explicado por uma combinação de fatores, com ênfase na diminuição dos números de conflitos internos na África e numa ação diplomática mais agressiva do Brasil. A paz faz uma enorme diferença. Apesar da persistência de cenários caóticos em países como a Somália e a República Democrática do Congo, e de tensões internas significativas na região do Golfo da Guiné (Nigéria e Costa do Marfim, por exemplo) e na faixa do Sahel (Mali, Níger e Chade), a situação geral é mais estável do que aquela que se verificava na década de 1990.

"A maioria dos países africanos tem pouco mais de 50 anos de vida independente."

A diplomacia também tem seu peso. Atualmente, o Brasil conta com 38 embaixadas na África, e Brasília é a capital latino-americana com o maior número dessas representações diplomáticas de países africanos. Para além da diplomacia clássica, o Brasil investe especialmente na troca de conhecimentos nas áreas de agricultura, saúde e formação profissional. O governo brasileiro perdoou ou reestruturou as dívidas de 12 países africanos, numa iniciativa que causou polêmica. A "estratégia africana" do Brasil tem a meta de obter apoio dos países do continente à pretensão de Brasília a uma cadeira de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ao mesmo tempo, empresas brasileiras estão cada vez mais presentes na África. A ação política do governo está atrás do fenômeno: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou diversas medidas destinadas a facilitar o acesso a empréstimos e a créditos especiais a empresas brasileiras em países africanos. A Petrobras, estatal, a mineradora Vale do Rio Doce e as grandes construtoras Queiroz Galvão, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correia estão presentes ou têm projetos em mais de 20 países da África.

O "capitalismo de Estado", no entanto, privilegia as grandes corporações: a presença de médias e pequenas empresas brasileiras na África é insignificante.

*NELSON BACIC OLIC é bacharel e licenciado em Geografia pela USP, um dos editores do jornal Mundo - Geografia e Política Internacional (Editora Pangea), professor e autor de livros didáticos e paradidáticos, além de professor convidado junto à Universidade da Maturidade (PUC-SP).
Revista Geografia

sábado, 19 de novembro de 2016

Epidemia da Idade Média faz vítimas em Madagáscar


Peste negra
REDAÇÃO



Doença que matou 50 milhões de pessoas no século 14 volta a preocupar as autoridades de saúde em todo o mundo: a peste negra, também conhecida como peste bubônica, infectou 263 pessoas na Ilha de Madagáscar, levando ao óbito 71 delas, desde novembro passado, segundo nota da Organização Mundial da Saúde divulgada no início de fevereiro de 2015. Causada pela bactéria Yersinia pestis (bacilo gram-negativo), presente em pulgas de ratos pretos e outros roedores, "a peste bubônica" foi responsável por uma das mais violentas epidemias da História.

Com mortalidade variando entre 30% e 60% se não tratada, a doença é considerada erradicada na maior parte do planeta. Em 2013, 783 casos e 126 mortes foram registrados em todo o mundo. Na atualidade, um dos países mais atingidos é o arquipélago africano de Madagáscar. De acordo com a infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, coordenadora do Comitê de Medicina de Viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), isso vem ocorrendo em decorrência das más condições de saneamento básico já existentes, agravadas pela ocorrência de enchentes tropicais do Oceano Índico, além de um ciclone que atingiu o país em janeiro deste ano, piorando o cenário na região.

"O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, uma vez que pode levar o indivíduo à morte em pouco tempo após a contaminação."


SINTOMAS
A nomenclatura "negra" tem origem pelas lesões na pele dos doentes: grandes manchas escuras em diversas partes do corpo, seguidas por inchaços em locais e de gânglios do sistema linfático, como virilha e axilas, que podem chegar ao tamanho de uma maçã, sendo denominados "bubões", que originou o nome da doença como peste bubônica.

Sylvia explica que o período de incubação varia de dois a seis dias. "Entre um e quatro dias após a contaminação, o paciente apresenta febre alta, mialgia, dor de cabeça e fraqueza. Rapidamente, observa-se aumento e dor em um ou mais bubões, em geral onde houve a picada de pulgas, frequentemente nas pernas. Além disso, podem ocorrer sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, entre outros".

O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, uma vez que pode levar o indivíduo à morte em pouco tempo após a contaminação. Existem duas formas da peste: pneumônica e septicêmica. Na primeira, há transmissão diretamente de pessoa para pessoa por meio do ar que leva o microorganismo ao pulmão, acarretando uma pneumonia em geral fatal - o que ocorre em 8% dos casos. Na outra forma de manifestação, a bactéria multiplica-se dentro da corrente sanguínea e provoca hemorragia em vários órgãos.

FRONTEIRAS
Com a globalização e os movimentos de pessoas entre países, qualquer doença pode percorrer continentes rapidamente, desde que exista um ambiente propício para permanecer, como é o caso específico da peste negra, em que são necessárias condições próprias para o seu desenvolvimento, relacionadas, sobretudo, à presença de doentes não diagnosticados/tratados e condições precárias de higiene, moradias, assim como ausência de saneamento básico, o que promove alta incidência de ratos e pulgas que ficam sem controle.

Em Madagáscar, a capital, Antananarivo, é a região mais afetada - principalmente pela existência de favelas populosas, sem condições adequadas de moradia. A peste bubônica tem sido observada nessa região de forma endêmica, em alguns locais, tendo emergido, nos últimos tempos, após um período de seca, seguido por temporada chuvosa, principalmente quando a temperatura estava abaixo dos 26°C; por isso o pico observado nos últimos tempos aconteceu entre os meses de novembro e dezembro, com possibilidade de prosseguir até abril. "O que garantirá a diferença entre os tempos de hoje e os tempos medievais é a adoção sistemática de medidas de barreiras locais nas quais há registros da doença, como o diagnóstico precoce de doentes e ou casos suspeitos por meio de testes laboratoriais rápidos, assim como os seus isolamentos e o tratamento imediato com antibióticos", afirma Hinrichsen. MADAGÁSCAR
Com cerca de 20 milhões de habitantes, Madagáscar é um país insular localizado no Oceano Índico. Ocupando a maior ilha do continente africano, situada ao largo da costa sudeste da África, malgaxe e francês são as línguas oficiais do país.
 Revista Geografia

A economia de água e o marketing social

Marcus Nakagawa*



Em fevereiro de 2003, a maior empresa de alimentos da época, mundialmente famosa, deu início a uma grande campanha de marketing que se chamava Junta Brasil. Nessa campanha, ela reuniu dois famosos apresentadores de televisão, rivais de audiência na ocasião, Gugu Liberato e Fausto Silva, para chamar os consumidores para um concurso no qual as pessoas tinham que juntar oito rótulos de embalagens de qualquer produto da marca e concorrer a uma casa por dia até o fim do ano.

AEsse concurso também era veiculado durante a principal novela na época, que tinha até um casal de idosos que sofria bullying (na época, não era este o nome, era agressão mesmo) de sua neta, casal este que juntava embalagens para concorrer a uma casa e sair da residência desta neta agressora. As casas eram sorteadas durante os programas de auditório de domingo.

No fim, o concurso recebeu um total de 51 milhões de cartas, significando o envio de 408 milhões de comprovantes de compra de produtos, e 248 casas foram entregues aos consumidores. Além de render a manutenção da posição de 1º, ou 2º lugar, no ranking de valor de marca em 96% das categorias nas quais a empresa atuava, sendo que ela continuou líder em 52% delas.

VISÕES

As campanhas de marketing e comunicação, se bem pensadas e planejadas, podem mobilizar muitas pessoas para comprar produtos, serviços e fazer com que as empresas lucrem com este investimento. No entanto, e se usarmos essas ferramentas para as questões sociais, ambientais e buscarmos mudanças de comportamento sustentável? Isso também é possível?

Segundo o “papa” do marketing, Philips Kotler, isso é possível, sim, por meio do marketing social, que é o “uso de princípios e técnicas de marketing para influenciar um público-alvo a voluntariamente aceitar, rejeitar, modificar ou abandonar um comportamento em benefício de indivíduos, grupos, ou da sociedade como um todo”.

Uma ação realizada há algum tempo numa novela, também da principal emissora do País, fez com que aumentasse a doação de medula óssea em 4.400% de novembro de 2000 a janeiro de 2001, fazendo a média de cadastrados pular de 20 para 900 por mês. Uma personagem da novela apareceu com leucemia e somente a doação de medula poderia salvá-la. E numa cena comovente que parou o País, essa belíssima atriz raspou as suas lindas madeixas “ao vivo”, para realizar o tratamento da doença. Alguns capítulos depois, encontrou finalmente um doador e viveu “feliz para sempre”.

Contudo, como podemos viver “feliz para sempre”, sabendo que amanhã poderá faltar água para o nosso banho matinal, ou para escovar nossos dentes? Ou ainda para dar descarga no banheiro? Sabendo que as reservas aquíferas que abastecem muitas cidades não foram gerenciadas de forma planejada, ou que a conta de água aumentará significativamente?

Sim, caso não chova o necessário, passaremos por mais uma crise relacionada a algumas necessidades básicas que temos na nossa sociedade moderna, assim como foi a crise energética alguns anos atrás. Podemos fazer algumas “danças da chuva”, ou qualquer outra mandinga popular. Ou teremos que fazer uma grande economia e mudar o nosso comportamento (alguns já estão tendo que fazer isso forçadamente no interior paulista e em algumas regiões metropolitanas de São Paulo).

Temos que diminuir os banhos, dar menos descargas, escovar os dentes de torneira fechada, lavar louça de uma só vez e, de preferência, com um balde, entre outras ações que estamos escutando, ou sempre escutamos e às quais nunca prestamos atenção.

E é aí que está o problema: como comunicar, mobilizar e fazer com que essa população mude o comportamento? Na dor, ou no amor? Na dor, será efetivamente com a falta de água, ou com o aumento exacerbado da conta de consumo. No amor, poderá ser com campanhas de marketing social, incentivando e ensinando a população a diminuir o seu consumo, ou ter o seu consumo conscientemente.

"Sim, caso não chova o necessário, passaremos por mais uma crise relacionada a algumas necessidades básicas que temos na nossa sociedade moderna, assim como foi a crise energética alguns anos atrás."

IDEIAS

Estou clamando, aqui, por uma campanha criativa, incentivadora, legal, enfim, que as pessoas realmente participem, que os consumidores de água realmente tenham consciência, sejam eles da classe AAA, sejam eles da classe C e D.

Algumas campanhas que viraram “memes” nas redes sociais, como o balde gelado na cabeça, a menina menor de idade que ia casar forçadamente, ou o faça xixi no banho, da SOS Mata Atlântica, podem ser muito bem explorados. No caso da campanha de fazer xixi no banho, esta não teve nenhum investimento em mídia, porém gerou um retorno espontâneo de mais de US$ 20 milhões em mídia, contando aparições do tema em grandes programas de auditório, reportagens de jornais, internet, mídias sociais, isso tudo no Brasil e internacionalmente. A campanha era exatamente sobre a economia de água, incentivando as pessoas a fazer xixi no banho, para economizar pelo menos uma descarga por dia.

PENSAMENTO POSITIVO

Esperamos que o Poder Público, os marqueteiros e os publicitários de plantão possam se lembrar dessa poderosa ferramenta, que ativará outras mídias e ações. E que, principalmente, não seja mais uma crise ambiental e de consumo, mas que os aprendizados deste momento prossigam durante muito tempo em nosso país e que continuemos sempre economizando água. Como aprendemos e zemos com a energia, depois dos apagões de anos atrás.

*MARCUS NAKAGAWA é sócio-diretor da iSetor; professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Pro ssionais de Sustentabilidade (Abraps); e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida.
Revista Geografia

Estudo esmiúça por que cresce a violência no Brasil

Pesquisadores argumentam que opor prevenção à repressão é um obstáculo à eficácia de políticas públicas de controle da criminalidade
Redação




O Brasil está entre os países mais violentos do mundo. A ocorrência cotidiana de homicídios e assaltos atinge patamares inadmissíveis. E essa violência cresceu nas últimas décadas, sem dar sinais de trégua. O mais intrigante é que a deterioração da segurança pública na sociedade brasileira está acontecendo paralelamente a signi ficativos avanços nos indicadores socioeconômicos, especialmente a partir dos anos 2000. Diminuímos a pobreza absoluta, o acesso à educação básica se universalizou, o acesso dos jovens mais pobres à universidade foi ampliado, a taxa de analfabetismo diminuiu, a esperança de vida ao nascer foi incrementada e até a desigualdade na distribuição da renda nacional diminuiu. Alçamo-nos à posição de sexta economia do planeta, a in flação permaneceu relativamente controlada, o desemprego e a informalidade no mercado de trabalho caíram.

Estamos vivenciando uma situação inusitada: há menos pobres e mais crimes. Como explicar esse aparente paradoxo? Como é possível uma sociedade que reduz a exclusão social sofrer com o recrudescimento da violência? A proposta do livro Por que cresce a violência no Brasil?, dos sociólogos Luís Flávio Sapori e Gláucio Ary Dillon Soares, lançamento da Autêntica Editora, em parceria com a Editora PUC Minas, é oferecer respostas a essas indagações. Na verdade, não se trata de um paradoxo. O argumento defendido pelos autores, dois dos maiores especialistas da área no Brasil, é que a dinâmica da violência na sociedade brasileira não é mera derivação da dinâmica da estrutura socioeconômica. "A violência crescente nas cidades brasileiras está relacionada mais a fatores internos do que a fatores externos ao País. São nossas próprias mazelas sociais que estão interferindo na dinâmica do fenômeno. Esqueçamos a ação imperialista, o 'demônio neoliberal' e a globalização. Debruçar-nos sobre as contradições de nossa sociedade é um bom começo para explicar, entender e reverter o crime e a violência", explicam os autores.

ANTAGONISMO
Para eles, o pretenso antagonismo entre prevenção e repressão constitui um sério obstáculo à eficácia e à e ciência das políticas de controle da criminalidade. "O debate está contaminado de conotação ideológica, atrelando as políticas repressivas ao ideário da direita, ao passo que as políticas preventivas seriam a expressão das posições políticas da esquerda. E, quando é percebido nesses termos, o diálogo torna-se ainda mais difícil, separando ainda mais o que poderia ser articulado. À medida que prevenção e repressão são concebidas como polos opostos e excludentes, reduz-se a capacidade do Estado em prover segurança com efetividade", afirmam. Podemos reduzir a violência e nos tornar uma sociedade mais civilizada e pacífica, se formos capazes de formular e implementar políticas públicas de controle da criminalidade consistentes. E, para começar, é primordial um diagnóstico mais preciso do fenômeno. Essa é a principal contribuição desse livro.


SOBRE OS AUTORES
Luís Flávio Sapori é doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), foi secretário-adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais de 2003 a 2007, coordenou o Instituto Minas Pela Paz no biênio 2010-2011 e, atualmente, é professor do curso de Ciências Sociais da PUC Minas e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública (Cepesp/PUC Minas). Além disso, é autor de diversos artigos cientí ficos e de livros, destacando-se Segurança pública no Brasil: desa os e perspectivas, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, e Crack: um desa fio social, publicado pela Editora PUC Minas.

Gláucio Ary Dillon Soares é graduado em Sociologia e Ciência Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, graduado em Direito pela Universidade Cândido Mendes, mestre em Direito pela Tulane University e doutor em Sociologia pela Washington University em St. Louis Mo. Atualmente, é pesquisador sênior nacional do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj), um dos principais especialistas brasileiros na temática da segurança pública, com publicações referenciais: Não matarás, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, e As vítimas ocultas da violência na cidade do Rio de Janeiro, publicado pela Editora Civilização Brasileira.

TÍTULO: Por que cresce a violência no Brasil?
AUTORES: Luís Flávio Sapori e Gláucio Ary Dillon Soares
NÚMERO DE PÁGINAS: 144
Revista Geografia

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Colômbia mostra nova cara ao mundo

Indicadores econômicos e sociais tornam o país um dos melhores para investimento e turismo na América Latina
Redação



Há quase duas décadas, a Colômbia passa por uma profunda transformação, que se re ete em seus indicadores sociais e econômicos. Por isso, a Marca País Colômbia está lançando uma iniciativa chamada “Lo Bueno de Colômbia”, que tem por objetivo mostrar ao resto do mundo como o país evoluiu nos últimos tempos e, assim, promover o seu turismo, as oportunidades de investimento e os seus aspectos culturais.

Em 1998, o ensino secundário atingia 85% da população. Atualmente, chega a 93%. A taxa de matrículas escolares em todos os níveis de educação era de 73,4% em 1998. Hoje, está acima de 82%. Em atenção à primeira infância, o orçamento total foi ampliado de 2,4% para 6%, e as matrículas pré-escolares ultrapassam 80%, favorecendo a cobertura de 93% no país.

Na saúde, também houve signi cativa evolução. O Sistema Geral de Previdência Social já atende 93% da população, cerca de 43,2 milhões de pessoas. Em 1998, esse índice era de apenas 59%.

REFLEXOS NA ECONOMIA
O“A economia da Colômbia cresce mais rápido do que a dos demais países da região. O ritmo vem se mantendo em 4% nos últimos cinco anos, acima da média latino-americana de 3%. Em 2013, o PIB cresceu mais de 5%, e cerca de 1 milhão de novos empregos foram criados”, diz a embaixadora da Colômbia no Brasil, Patrícia Cárdenas Santamaria. “A expectativa é de que a Colômbia cresça 4,5% ao ano nos próximos 20 anos”, completa.

Por tudo isso, o país está se tornando um dos mais atraentes para os investidores internacionais. Em 2013, registrou a entrada de US$ 15,8 bilhões, um valor recorde, que re ete aumento de 88% em relação ao ano anterior. No relatório do Banco Mundial “Doing Business Report”, a Colômbia é destacada como o terceiro país “mais amigável para fazer negócios” e o quinto do mundo em proteção ao capital estrangeiro. De acordo com pesquisa do JPMorgan, o país gura ainda como o segundo mais atrativo da América Latina para investimento.

Além disso, três das mais importantes classi cadoras de risco do mundo – Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Ratings – concederam à Colômbia o “Grau de Investimento”. Por sua vez, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) projeta que a Colômbia – integrante do bloco de países emergentes conhecido como Civets, ao lado de Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul – será a trigésima economia mundial em 2025.

"Cabe destacar ainda que o New Economics Foundation coloca a Colômbia em sexto lugar no ranking mundial de felicidade, que relaciona expectativa de vida com sustentabilidade do país."

DESTAQUE
Cabe destacar ainda que o New Economics Foundation coloca a Colômbia em sexto lugar no ranking mundial de felicidade, que relaciona expectativa de vida com sustentabilidade do país. “A atenção a itens básicos, como segurança, educação e saúde, aliada à localização geográ ca estratégica, à disponibilidade de recursos naturais e ao pujante mercado interno, são importantes propulsores dessa reformulação. Entretanto, a coragem e o carisma do povo também tornaram possível o reposicionamento econômico e social do país”, explica a embaixadora.

A melhora nesses indicadores econômicos e sociais também contribuiu para aumentar o turismo na Colômbia. De acordo com o Ministério do Comércio, Indústria e Turismo, o país recebeu mais de 2,6 milhões de visitantes em 2013, um crescimento de 119% em relação a 2007. O público é atraído, principalmente, pelas belezas naturais e festividades regionais, já que o país consta oito vezes na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco.

Detentora de 10% da biodiversidade do mundo, a Colômbia também reforçou as áreas de proteção ambiental. Em 1998, o Sistema Nacional de Parques Naturais respondia por 4,5% de áreas protegidas no território nacional. Em 2014, esse número aumentou para 6,9%.

MÃO DE OBRA QUALIFICADA E INOVAÇÃO
Talvez um dos símbolos mais emblemáticos dessa transformação no país seja Medellín. A cidade foi reconhecida, em 2013, como a mais inovadora do planeta, pelo e City Group e o e Wall Street Journal. “Temos uma lei pela qual 10% dos royalties coletados pela exploração dos recursos naturais não renováveis são investidos em ciência, tecnologia e inovação”, lembra a embaixadora da Colômbia.


TRANSPORTE E CIDADANIA
Vários projetos de infraestrutura do país são considerados exemplares no mundo. É o caso do teleférico em Medellín e Manizales; os mais de 300 quilômetros de ciclovias em Bogotá e sistemas de transporte como o Transmilenio são replicados em países como Brasil e Chile.


INDICADORES SOCIAIS E ECONÔMICOS

A Colômbia é o país com a segunda maior disponibilidade de mão de obra quali cada na América Latina, tem uma das legislações trabalhistas menos complicadas e o melhor índice de exibilidade laboral na região, segundo o World Competitiveness Yearbook 2011, do International Institute for Management Development (IMD), da Suíça.

Lixões e seus dilemas



O que aprendemos com o Congresso no Equador para mudar essa realidade
Francisco Oliveira












Gerir e administrar adequadamente os aterros sanitários é tarefa que pode ser executada perfeitamente quando há uma integração entre governos. Sempre que um projeto é bem elaborado e executado, resulta em custos acessíveis, além de inúmeros benefícios quanto à redução de impactos ambientais.

O problema do lixo ganhou, no começo do mês de setembro, na cidade de Sangolquí, no Equador, o Congresso Internacional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e Responsabilidade Empresarial. Participei do evento, com o intuito de trazer ideias novas, debatidas ao lado de profissionais, sobre a utilização de tecnologias relacionadas à gestão, ao tratamento e à destinação de resíduos sólidos. O principal foco de todo o evento foi pensar em proporcionar mudanças para os cenários atuais.

Minha palestra foi sobre construção e separação de aterros sanitários. Falei sobre cases de sucesso e troca de experiências, evitando erros passados e copiando acertos entre todos os que estavam lá, como profissionais da área civil.

A partir dessas experiências, trouxe para casa algumas novas expertises, principalmente envolvendo os temas mais recorrentes e tidos como melhores soluções para os problemas atuais. Uma delas é da implantação de recicladores, iniciando o tratamento do resíduo em diversos níveis sociais, partindo da separação em sua origem, das melhores condições para os profissionais que fazem sua coleta, da reciclagem da parte possível do resíduo e do descarte correto do restante.

"O uso da internet e da constante presença do público nas redes sociais pode ser o início de uma oportunidade para levar informação a todos..."

DEBATES E AÇÕES
A sustentabilidade também foi amplamente debatida nos dias do congresso, como uma parte fundamental do manuseio diário com os resíduos. Afinal, o tratamento do lixo lida com o cenário que já existe, mas a sustentabilidade prevê meios de não permitir que esses cenários se repitam, implementando melhorias para o futuro.

A informação à população e o ensino da educação ambiental de forma contínua e em diversos níveis sociais, assim como a integração social dos profissionais de limpeza pública, e práticas de sustentabilidade econômica foram os pilares dessa discussão. Investimento em salários e melhores condições de trabalho e vida para os profissionais da área foram os temas mais abordados. É preciso dar-se conta de que esses profissionais lidam com algo extremamente impactante para a sociedade. Se práticas como a reciclagem, o descarte adequado e o uso dos resíduos para fins energéticos são um cenário ideal, então, primeiro, temos que pensar no profissional qualificado para fazer isso acontecer.

As empresas que trabalham com projetos de engenharia focados em aterros e tratamento de resíduos também entram nessa lista. É preciso estabelecer uma parceria maior entre os governos e essas empresas. O investimento tem de vir das camadas públicas, afinal, o cidadão que paga seus impostos tem o direito a uma destinação correta para seus descartes.

Para conscientizar o cidadão comum, uma das conclusões do congresso foi que se fazem necessárias campanhas de conscientização, e que o melhor meio de chegar a esse público é por meio das redes sociais. O uso da internet e da constante presença do público nas redes sociais pode ser o início de uma oportunidade para levar informação a todos, melhorando a gestão de resíduos dentro das casas e na consciência política de cada um.

*FRANCISCO JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA é engenheiro civil e mestre em Mecânica dos Solos, Fundações e Geotecnia.
Revista Geografia

O que a Coreia fez e o Brasil não


José Pio Martins




Um dos mais extraordinários exemplos de crescimento econômico e superação da pobreza no Pós-Guerra é a Coreia do Sul. Há 70 anos, o país era pobre. Em 1945, foi dividido em dois: a Coreia do Norte, que permanece uma ditadura comunista miserável e atrasada até hoje; e a Coreia do Sul, que assombrou o mundo com seu desenvolvimento e continua a dar lições de como crescer e progredir.

Com 50 milhões de habitantes, a Coreia tem renda per capita de US$ 30 mil, contra US$ 11 mil do Brasil. É um dos países mais desenvolvidos do mundo, que se destaca por sua moderna indústria nacional, altas tecnologias e elevado nível de bem-estar social. Com população quatro vezes maior, o Brasil não tem uma única marca de veículos genuinamente nacional; somos compradores dos produtos das coreanas Hyundai e Kia, além de outras gigantes, como Samsung e LG.

CAPITALISMO
Para começar, após o fim da guerra contra a vizinha do norte, a Coreia do Sul abraçou o capitalismo sem pruridos ideológicos, enquanto o Brasil nunca foi verdadeiramente capitalista e sempre viu a economia de mercado com certa desconfiança. O governo coreano definiu que seu escopo seria a fixação da estratégia de crescimento econômico e a criação de condições para a modernização capitalista. As reformas que vieram a seguir tiveram essas duas diretrizes como base, e o país teve um surpreendente surto de desenvolvimento a partir dos anos 1970.

O êxito coreano deve-se, entre outros, a cinco fatores: a reforma agrária implantada no Pós-Guerra, que diminuiu sensivelmente a pobreza rural; o programa educacional, com maciços investimentos na educação de base, sem a cultura bacharelesca latino-americana; a adoção do planejamento familiar; a abertura para o exterior e a priorização de indústrias voltadas à exportação; investimentos pesados em infraestrutura de transportes, comunicações e tecnologias de ponta.

A Coreia entendeu que o motor do crescimento econômico é a empresa, não o Estado, e que a figura central da criação de riqueza é o empreendedor, e não o burocrata estatal. Curiosamente, a Coreia demorou para estabilizar seu sistema de governo, após titubear sob governantes autoritários e tumultos políticos. No ranking internacional, o país é considerado o mais inovador do mundo, o que somente é possível pelo respeito reverencial ao pesquisador, ao inventor, ao empreendedor e ao educador.

Já o Brasil não se libertou da cultura bacharelesca (que valoriza mais as letras do que a tecnologia), do apego subserviente ao Estado (que desconhece a expressão “satisfação do cliente”, mesmo vivendo à custa deste) e da aceitação envergonhada da economia de mercado. Nosso país tem uma relação esquizofrênica com o capitalismo. Adotamos o sistema, mas tratamos mal o seu principal ator – o empresário –, não conseguimos entender a lei da oferta e da procura e seguimos acreditando, ingenuamente, que, para cada problema individual, há sempre uma solução estatal.

EDUCAÇÃO
Contudo, a grande revolução coreana foi na educação. Ao dar ênfase à educação das mulheres, uma legião de trabalhadoras qualificadas foi formada, e a explosão populacional foi contida. Ao priorizar a educação de base, o analfabetismo foi vencido, e a competência técnica foi adquirida. Ao concentrar os recursos (sempre escassos) no ensino tecnológico e no domínio das matemáticas, uma multidão de trabalhadores tecnicamente preparados lançou o país ao sucesso econômico.

*JOSÉ PIO MARTINS é economista e reitor da Universidade Positivo.

domingo, 13 de novembro de 2016

Poluição eletromagnética


Perigos e efeitos que a energia invisível do Wi-fi, as linhas de alta tensão, os telefones celulares e as antenas podem causar à saúde
Edgar Melo



Elas estão espalhadas na atmosfera e ninguém as vê, isso não quer dizer, no entanto, que as ondas eletromagnéticas sejam inofensivas. Emitida por equipamentos elétricos e eletrônicos, esse tipo de energia ocupa o espaço, atravessa qualquer tipo de matéria viva ou inorgânica e produz uma poluição imperceptível, capaz de influenciar o comportamento celular do organismo humano.

O uso da energia elétrica e eletromagnética tornou-se tão arraigado no cotidiano das grandes cidades, que já não é possível se privar do contato com elas. Além dos telefones celulares, os aparelhos eletrodomésticos e as linhas de alta tensão estão por toda parte. “Vivemos em um micro-ondas gigante”, diz o cientista, pesquisador do Sistema Integrado da Terra, ­ filósofo noosférico e engenheiro de sistemas de teleautomação Boris Petrovic, ao alertar sobre o impacto da presença dos campos e das radiações eletromagnéticas.

Petrovic explica que o corpo humano não foi preparado para lidar com as interferências das radiações e dos campos eletromagnéticos. O engenheiro esclarece que tanto os celulares quanto qualquer outro tipo de comunicação sem ­ o – como Wi-­fi e bluetooth – utilizam ondas de radiofrequência para transmitir dados ou voz. Essas ondas são de comprimento muito baixo e são chamadas de micro-ondas. Essa tecnologia é a mesma dos fornos de micro-ondas, usados para aquecer alimentos por atrito das moléculas de água.

O enfraquecimento do sistema imunológico, segundo o engenheiro, é a consequência mais grave da poluição eletromagnética. O efeito nocivo ocorre quando o campo elétrico dessas tecnologias interfere na bioeletricidade natural do corpo humano. Boris explica que os sintomas variam de dores de cabeça e irritabilidade a diversos tipos de câncer. “As consequências são mais evidentes em pessoas que apresentam eletrossensibilidade, mas, por ser de natureza cumulativa, esse tipo de poluição afeta a todos”, explica o pesquisador.

AS ANTENAS E AS MORTES POR CÂNCER
Um estudo referência no mundo foi realizado em Belo Horizonte, pela professora da faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Adilza Dode. A tese de doutorado de Adilza evidencia mortes por câncer ao redor de antenas de telefonia celular na capital mineira. Analisando dados entre 1996 e 2006, a pesquisadora estudou 5 mil casos de morte por câncer e constatou que mais de 80% das vítimas moravam a uma distância de até 500 metros das antenas.

Segundo Adilza, os padrões permitidos no Brasil são os mesmos adotados pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiações Não Ionizantes (Icnirp), normatizados em legislação Federal de maio de 2009. “Até hoje, ninguém sabe quais são os limites de uso inócuos à saúde. Os padrões adotados pelo Brasil são inadequados. Eles foram redigidos com o olhar da tecnologia, da e­ ciência e da redução de custos, e não com base em estudos epidemiológicos”, assegura.

"Há mais de dez anos, surgem apelos da comunidade científi­ca para conscientização dos riscos da poluição eletromagnética"

OMS RECOMENDA A REDUÇÃO DE USO
Em 2010, a Food and Drug Administration (FDA), órgão de saúde dos Estados Unidos, divulgou um comunicado a­firmando que, apesar do aumento drástico no uso de telefone celular, as ocorrências de câncer no cérebro não aumentaram entre 1987 e 2005.

Diante da insegurança acerca dos impactos, em 2011, a Organização Mundial da Saúde divulgou um documento no qual classi­fica a radiação eletromagnética como “potencialmente cancerígena” e recomenda a redução das emissões “tanto quanto possível”. ‑

Quatro anos antes, o grupo de trabalho criado pela OMS para discutir o assunto publicou um documento no qual lista recomendações sobre exposições de curto até longo prazo. Para longo prazo, as indicações são de que o governo e a indústria devem monitorar a ciência e promover programas de pesquisa para desenvolver mais evidências sobre o tema. Segundo a OMS, há lacunas no conhecimento do assunto. A publicação ainda recomenda que, quando construídas novas instalações e projetados novos equipamentos, formas de baixo custo para a redução de campos devem ser exploradas.

Em relação a exposições de curto prazo, recomendações internacionais de exposição foram desenvolvidas para proteger os trabalhadores e o público contra estes efeitos e devem ser adotadas pelos responsáveis pelo desenvolvimento de políticas. Programas de proteção contra a poluição eletromagnética devem incluir medicação de exposição a fontes que excedam os valores-limite recomendados.



CIENTISTAS QUESTIONAM PARÂMETROS

Há mais de dez anos, surgem apelos da comunidade científica para conscientização dos riscos da poluição eletromagnética. O Painel Cientí­fico de Seletun (2011), organizado em Oslo, na Noruega, contou com a participação de cientistas de cinco países e teve como resultado uma série de recomendações para os governos. Entre outras conclusões, o Painel descon­fia dos parâmetros de exposição tidos como seguros pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiações Não Ionizantes (Icnirp) e usados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Painel estabelece em 0,1 μT (MicroTesla – unidade usada para medir campos magnéticos) como limite de exposição no período de 24 horas. Dessa forma, o recomendado passa a ser 1 mil a 10 mil vezes menor do que o atual. De acordo com os cientistas, os números da Icnirp foram de­finidos pelo olhar da tecnologia e redução de custos, sem ter como base estudos do impacto na saúde humana e no ambiente.

Após tomar conhecimento dos malefícios da exposição contínua a campos eletromagnéticos, um grupo de moradores do Alto de Pinheiros, localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, moveu uma ação judicial contra a empresa AES Eletropaulo.

No processo, os moradores questionavam o aumento da radiação eletromagnética causado por novas torres instaladas pela Eletropaulo. À época, foi levantada a tese de que a exposição interage com o DNA humano, podendo provocar, entre outros males, a leucemia.

Em tramitação na justiça desde 2001, o caso já passou por duas instâncias, nas quais o ganho de causa foi dado aos moradores. Atualmente, o processo está no Supremo Tribunal Federal (STF), aguardando a decisão ­final do ministro Dias Toffoli. Nas outras instâncias, as deliberações foram embasadas no princípio da precaução, que se caracteriza pela incerteza científica sobre o dano ambiental.

"O magnetismo está por toda parte: no avião, num teatro lotado, enquanto você dorme com a televisão ligada na tomada ou quando é acionado o despertador do celular."

RADIAÇÃO: VILÃ OU MOCINHA?
CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE SEUS EFEITOS E ENTENDA COMO É IMPORTANTE A MEDIÇÃO DESSE FENÔMENO
Nosso planeta recebe, há mais de 4 bilhões de anos, uma energia que atravessa o espaço na velocidade da luz: a energia solar. A radiação solar é o verdadeiro pivô da vida na Terra. Ela é responsável tanto pelo crescimento de um pequeno broto de feijão quanto pela dinâmica que governa os movimentos da atmosfera, além das próprias características climáticas do planeta. Atualmente, também se considera a radiação solar como uma das alternativas energéticas mais promissoras entre as ditas “energias limpas”.

Leituras dessa energia são usadas em diversos setores de atividades humanas, e alguns deles são explicados pelos meteorologistas da Squitter Soluções em Monitoramento Ambiental, Juliana Hermsdor­ Vellozo de Freitas e William Cossich Marcial de Farias.

Segundo eles, um exemplo prático disso é o planejamento diário de risco à exposição solar. Cada pessoa deveria considerá-lo, determinando o vestuário e as medidas de prevenção à tal exposição para reduzir os riscos de problemas de pele e de visão.

“Tais informações também influenciam o custo do nosso pão de cada dia, assim como o material a ser utilizado em uma construção civil. Além disso, a informação da quantidade de radiação que chega ao solo fornece suporte científico ao estudo dessa energia renovável”, explicam os profissionais.

ESTUDOS
Assim, medir e analisar essa quantidade de radiação que chega à superfície da Terra tanto pode aumentar a quantidade de sacas numa colheita como também pode subsidiar estudos determinantes sobre energia limpa.

Na agricultura, a radiação solar influencia significativamente as taxas de fotossíntese das plantas. O aproveitamento da radiação solar pela planta depende da sua capacidade de interceptar e utilizar a luz. O total de radiação solar interceptado e absorvido por uma camada de folhas está diretamente relacionado à radiação e à estruturação das folhas e do dossel.

“Considerando a eficiência de cada planta em fazer a fotossíntese, o rendimento de uma plantação pode variar. Quando exposta à baixa quantidade de radiação solar, uma cultura pode apresentar diminuição da área da folha, em que a ‘captação’ de energia é menor. Por outro lado, em condições de alta radiação solar, os índices dos tamanhos das folhas são maiores, e essa ‘captação’ de energia pode aumentar. Logo, pode-se medir essa quantidade de energia que a planta recebe com instrumentos meteorológicos, como o pirômetro”, completam os meteorologistas.

A escolha de um material a ser utilizado na construção civil, por exemplo, deve considerar as características meteorológicas próprias do local. Esses fatores agem diretamente na eficiência e no conforto das construções, nas quais o conhecimento da incidência de radiação solar permite determinar melhor as propriedades termofísicas de cada material a ser utilizado. “Janelas, asfaltos, além de diversos outros materiais, podem ser mais bem determinados quando se tem conhecimento sobre a radiação que chega ao local. Assim, é necessário que as medidas de radiação sejam feitas no local de interesse, diretamente por um sensor adequado, para que se tenha uma informação precisa e adequada ao melhor planejamento”, finalizam Juliana e William.





PROTEÇÃO AO ORGANISMO
O magnetismo está por toda parte: no avião, num teatro lotado, enquanto você dorme com a televisão ligada na tomada ou quando é acionado o despertador do celular. Embora a vida moderna tenha evoluído a tal ponto que não haja um caminho de volta para abdicar desses recursos de comunicação, existem formas de minimizar seus impactos na saúde. Uma das formas, segundo Fábio Cardoso, especialista em clínica médica, é ter uma boa nutrição, capaz de fornecer as vitaminas e os minerais necessários para manter o corpo equilibrado. Isso passa também por reduzir o máximo possível o consumo de alimentos industrializados e com agrotóxicos.

Segundo Cardoso, os impulsos naturais da energia corporal são de variação inconstante, pulsando de forma biológica. Já os impulsos de energia eletromagnética provenientes de aparelhos eletrônicos e tecnológicos têm pulso fixo, o que se torna um fator irritante para o corpo. De acordo com o médico, esse tipo de impulso é um campo de interferência à nossa saúde, causa desequilíbrio e, consequentemente, é responsável por diversas doenças.

A poluição eletromagnética é uma realidade e, mesmo que as autoridades ainda não tenham chegado a um consenso, é de extrema importância a população buscar formas de se proteger, garantindo a integridade de sua saúde.

Esse assunto e outros relacionados à Terapia Frequencial, alicerçada à medicina quântica alemã e russa, foram apresentados no Brasil em novembro, durante o 1 Congresso Internacional Fronteiras da Saúde Quântica (I CIFSQ), que aconteceu de 5 a 8 de novembro, em São Paulo, e traouxe ao País dois renomados cientistas internacionais: Konstantin Korotkov (Rússia) e Alexander Popp (Alemanha), filho do criador da teoria biofotônica, Fritz-Albert Popp, além do cientista Boris Petrovic e de outros dez médicos que atuam no Brasil nessa área prática.



RADIAÇÃO NOCIVA PODE SER AMENIZADA NO DIA A DIA
Estudos científicos revelam que regiões próximas a torres de transmissão de energia e de telefonia são carregadas de energia negativa, em razão das radiações eletromagnéticas, com efeitos nocivos, que podem se alastrar por grandes áreas.

Da mesma forma, os estudos mostram que, nos ambientes onde estão ligados muitos aparelhos elétricos ou eletroeletrônicos, como escritórios, centros de processamento de dados e outros, as pessoas também sofrem com essas emanações negativas. E, mesmo no dia a dia, estamos expostos a radiações eletromagnéticas negativas, por causa do uso indiscriminado de celulares, fones de ouvido ou até de fornos de micro-ondas.

Essas radiações, denominadas “poluição invisível”, segundo os mesmos estudos, podem provocar distúrbios como insônia, estresse e tontura, além de doenças como catarata, glaucoma e mal de Parkinson, entre outras.

PESQUISA
As radiações eletromagnéticas (REM) são estudadas há vários anos por cientistas de diversos países, como Suíça, Alemanha, França, Rússia, Espanha e Polônia. O mais importante pesquisador brasileiro da área, o comendador José Barbosa Marcondes, há mais de 50 anos dedica-se a desvendar e a esclarecer as causas e os efeitos dessas emanações negativas. Ele é reconhecido pelos cientistas internacionais pelos seus trabalhos e pesquisas nessa área.

Marcondes desenvolveu técnicas com as quais é possível proteger desde grandes áreas, como indústrias, empresas e fazendas. Há também modos simples, por meio dos quais podemos nos prevenir e nos proteger das REM, sem abrir mão do conforto e das facilidades que os avanços da tecnologia nos proporcionam nos dias atuais. Existem métodos específicos para detecção dessas áreas, mas, a princípio, hastes metálicas que podem ser improvisadas com objetos caseiros, como arame de cabide, pode ser usado para detectar os pontos negativos de um ambiente. Com mais de 80 anos de idade, José Barbosa Marcondes ensinou todas as técnicas à sua filha Elys Marcondes. Ela sugere, como antídoto para essas radiações, a simples mudança na disposição dos móveis no ambiente, até a alternativa de recorrer ao sal grosso da seguinte forma: empilhar três copinhos pequenos (de café) de plástico, cada qual com uma colher de café rasa de sal grosso; deixar os copinhos nas áreas de maior radiação; substituir os copinhos regularmente. Elyz Marcondes dá ainda as seguintes dicas para prevenção às radiações eletromagnéticas:
• Evite usar por tempo prolongado o telefone celular. Sempre que possível, use-o com fones de ouvido.
• Procure levar o celular longe do corpo e, principalmente, o mais distante possível da cabeça.
• Menores de 14 anos e pessoas que usam marca-passo ou aparelhos de audição devem utilizá-los com moderação.
• Ao operar o forno de micro-ondas, não que em suas proximidades, pois pode haver fuga de radiação acima do limite estabelecido pelos fabricantes. A radiação emanada do forno de micro-ondas atinge principalmente o fígado.
• Nos monitores de computador, dê preferência para os que têm o selo Low Emission do EPA e procure manter- se sempre a distância de, pelo menos, 90 cm da tela. Para TV, a distância é proporcional ao tamanho do tubo.
• Não permaneça ou trabalhe próximo da parte de trás de monitores e TVs. A radiação eletromagnética nesse local é mais elevada do que na parte frontal.
• Não trabalhe, tampouco more a uma distância inferior a 150 m das linhas de transmissão de alta tensão ou de subestações da rede elétrica. Estudos comprovam que as radiações emanadas pelos campos eletromagnéticos de baixa frequência (ELF) desses locais são indutoras de câncer e de leucemia (principalmente para crianças).
• Use com moderação secadores de cabelo, escovas de dente e barbeadores elétricos.
 Revista Geografia

A violência das guerras e a importância de contar estórias

Zona de conflito

DANIEL MEDEIROS*




A Primeira Guerra Mundial foi há cem anos. Começou em 1914 e encerrou-se em 1918. "Encerrou-se" no sentido de concluir um ciclo de tempo contínuo, pois, como sabemos, o ano de 1914 foi o pontapé de um processo de violência entre nações que só esgotou suas energias no fim do século 20, embora não seja possível ser totalmente otimista essa afirmação. Muito se falou sobre as decorrências da guerra: da falta de propósitos claros, dos milhões de mortos, dos feridos, da ascensão econômica dos EUA, da frustração e do ódio na Alemanha, do germe do nazismo, do início do desequilíbrio político no Oriente Médio etc.

Gostaria de falar de outro fenômeno da guerra, lembrado, pela primeira vez, pelo pensador alemão Walter Benjamin, em texto de 1936 chamado "O Narrador". Benjamin afirma que a guerra foi responsável por destituir uma geração inteira da capacidade de trocar experiências por meio de narrativas. Disse o filósofo: "No final da guerra, observou-se que os combatentes voltavam mudos dos campos de batalha. Não mais ricos e sim mais pobres em experiências comunicáveis".

REPERTÓRIO
O homem da terra - o camponês e o viajante - o marinheiro e o mercador - é a principal fonte das estórias que compõem o repertório de comunicação entre as pessoas e, por meio desse repertório, vão se fixando e passando, de geração em geração, os modos de agir e as regras de interdição que caracterizam o que chamamos de cultura ou autorreferência. Essa é a razão - ou deveria ser! - de contarmos estórias para as crianças.

A guerra emasculou uma geração inteira de jovens, privando-os do lugar necessário e do tempo fundamental para a troca de experiências por meio das narrativas. A vivência nas trincheiras foi uma não experiência; o medo diário e asfixiante não deixava espaço para registrar variantes, inversões de expectativas e desfechos surpreendentes típicos de qualquer boa estória. Não é à toa que o mais conhecido romance da primeira guerra, do alemão Erich Maria Remarque, descrevendo a rotina de horrores e sofrimentos da guerra, chamou-se Nada de novo no front.

RELATOS
Primo Levi, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, e também Jorge Semprun tentaram relatar a violência desumanizadora à qual foram submetidos. Em É isto um Homem?, Levi busca dar contornos capazes de ser identificados pelos que não experienciaram aquela realidade inacreditável dos campos de concentração. No entanto, título de seu livro é um sinal da dificuldade de descrever, de maneira crível, o que se passou. Semprun, no livro A escrita ou a vida, diz: "Vem-me uma dúvida sobre a possibilidade de contar. Não que a experiência vivida seja indizível. Ela foi invivível, o que é outra coisa [...] Outra coisa que não se refere à forma de um relato possível, mas à sua substância. Não à sua articulação, mas à sua densidade. [...]"

"A guerra emasculou uma geração inteira de jovens, privando-os do lugar necessário e do tempo fundamental para a troca de experiências por meio de narrativas."

Hoje, como sabemos, as guerras continuam. Não em um sentido formal de "guerras mundiais", com trincheiras ou bombas atômicas, mas a violência nas fronteiras, nos territórios ocupados, nos exercícios fundamentalistas, nas lutas de traficantes, no trânsito, na insensibilidade policial, na violência doméstica ou, simplesmente, ditada pela miséria e pelo descaso. Da mesma forma, o "invivível" desses fatos torna pouco crível seus relatos. As tentativas feitas pelos jornais e pelos programas de televisão acabam promovendo uma anestesia, uma banalização, um menoscabo que exaspera as vítimas e reforça a invisibilidade dos algozes.

Se, com Benjamin, aprendemos que: "O narrador retira da experiência o que ele conta. Sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas às experiências de seus ouvintes", é Jorge Semprun quem afirma uma saída: "Só alcançarão essa substância, essa densidade transparente, os que souberem fazer de seu testemunho um objeto artístico, um espaço de criação. Ou de recriação. Só o artifício de um relato que se possa controlar conseguirá transmitir parcialmente a verdade do testemunho. [...]"

MARCA
As guerras e a violência estática que elas proporcionam podem ser enfrentadas pela formação de novas sensibilidades. E só as criações narrativas têm o condão dessa formação. Se a violência é a marca secular de nossa humanidade desenraizada, a capacidade de sensibilizar os outros - principalmente as crianças e os jovens - com a riqueza artística de um relato pode ser a maior bandeira de paz e de um futuro menos sombrio.

*DANIEL MEDEIROS é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor do Curso Positivo.
Revista Geografia

sábado, 22 de outubro de 2016

Se o paraíso islâmico tem 72 virgens, que interesse despertaria em uma mulher-bomba?


Ela teria direito a um homem perfeito, poderia sentar-se ao lado de Maomé e ajudar setenta familiares no dia do julgamento final

  Duda Teixeira

 





Hasna Aitboulahcen, mulher-bomba do Estado Islâmico, em Saint Denis, na França



A tradição islâmica diz que os os homens que morrem como mártires em nome de Alá têm direito a 72 virgens no paraíso. Para as mulheres mártires, por sua vez, é prometido apenas um homem. Como alguém pode dizer que essa conta não fecha, então vale ficar atento às nuances.

Ter um único homem no paraíso não seria uma desvantagem porque as mártires ficariam satisfeitas com ele. Segundo alguns clérigos islâmicos, enquanto o homem tem capacidade para amar mais de uma companheira; a mulher, por natureza, só consegue amar um homem.

Esse homem também não seria qualquer um, pois seria perfeito. “Ele poderia ser o marido que elas tiveram em vida, então não necessariamente há uma troca”, diz a canadense Mia Bloom, autora do livro Bombshell e professora da Georgia State University, nos Estados Unidos. Outro benefício de estar no paraíso seria sentar-se ao lado de Maomé.

Conta ainda que os mártires poderiam interceder em favor de setenta parentes no dia do julgamento final. Os pecados e transgressões deles seriam perdoados e todos se encontrariam no paraíso. “As mulheres pensam que terão a possibilidade de ajudar a comunidade e de fazer algo altruísta”, diz Mia.

Antes de fechar este post, vale fazer três adendos:

1. O Corão não promete o número de “72 virgens”. Apenas fala em companheiras femininas para os fiéis (não apenas para os mártires). O número 72 vem da Hadith, o conjunto de narrações tradicionais de palavras e atos de Maomé;

2. A crença de que cada muçulmano tem direito a 72 virgens sofreu variações ao longo do tempo. Autores medievais já escreveram que, entre as recompensas, haveria também os ghilmaan: rapazes brancos como pérolas. Eles estariam prontos para servir os mártires pela sua fé, segundo o livro A História da Sexualidade, de Peter Stearns (Contexto);

3. Entre as coisas ditas pelos terroristas para as mulheres está que elas poderiam renascer em uma versão melhorada, mais perfeita, mais amável, sem cicatrizes e que não iriam menstruar.
Revista Veja

Na política de filho único da China, que fim levavam os gêmeos?


Pais que tinham partos múltiplos não recebiam o "certificado de honra de pais de filhos únicos", mas não sofriam punições. A brecha multiplicou o número de gêmeos no país

Duda Teixeira 

Gêmeos em parque de Pequim, na China, em 2006. Crédito Zhou Min/ChinaFotoPress/Getty Images

A Lei de População e Planejamento Familiar, que deve ser extinta em breve, afirma que:

“O país determina estar em efeito a política do nascimento, que encoraja o cidadão a casar-se e, em um momento posterior, a ter filhos. Recomenda-se que marido e mulher tenham somente uma criança”

A norma estipula que os pais de filhos únicos podem requerer um “certificado de honra para pais de filhos únicos”. Com o documento em mãos, eles passam a ter direito a vários benefícios estatais, como assistência médica e um seguro para a idade avançada. Na sua continuação, o texto diz que:

“As crianças que nascerem de acordo com a regulamentação, mas que porventura enquadrem-se na condição de gêmeos ou crianças de um parto múltiplo, não desfrutarão dos benefícios do filho único”

A lei, portanto, não prevê punições para os pais de gêmeos, uma vez que admite claramente a existência deles. E nem poderia ser diferente. “Nascer de acordo com a regulamentação”, afinal, é uma expressão um tanto ridícula. Por outro lado, a legislação não concede aos pais de gêmeos os benefícios daqueles que possuem o “certificado de honra para pais de filhos únicos”.

Ao longo de mais de três décadas, essa brecha foi aproveitada por aqueles que desejavam mais de uma criança dentro de casa. Desde que a regra entrou em vigor, em 1980, o número de gêmeos na população chinesa aumentou em um terço.

Os chineses elevaram a incidência de gêmeos de duas maneiras. A primeira foi tomando remédios para estimular a ovulação e ter mais de um embrião por vez. O mais comum é o citrato de clomifeno, normalmente indicado para mulheres com problemas de fertilidade. Mesmo em uma dose baixa, o comprimido faz com que 70% das mulheres ovulem. Dessas, 40% ficam grávidas.

A segunda maneira usada pelos chineses foi registrando dois filhos que nasceram próximos, em datas diferentes, como gêmeos. Apesar de alguns centímetros na diferença de altura, muitos conseguiram furar a diretriz do Partido Comunista principalmente nas áreas rurais, em que o controle governamental é mais poroso. Essas duas soluções, quando empregadas, sempre ficaram em completo segredo. “Os chineses em geral não gostam de contrariar o Estado. Por esse motivo, esse tipo de assunto jamais apareceria numa reunião entre amigos”, diz o sinólogo brasileiro Tadzio Goldgewicht, que morou no país durante catorze anos e traduziu os trechos da lei chinesa 
Revista Veja

Dá para morrer de poluição na China?


As partículas do ar podem provocar o entupimento dos vasos que levam sangue ao coração. Na maratona de Pequim, seis corredores sofreram ataque cardíaco fulminante

Duda Teixeira

Mulher com máscara contra poluição em Pequim, na China. A cidade decretou alerta vermelho no início de dezembro, pela primeira vez. Crédito Kevin Frayer/Getty Images


Quando o ar está cheio de pequenas partículas, elas podem entrar na corrente sanguínea, via pulmão, e atiçar o sistema de defesa. Dentro dos vasos, isso inicia um aumento das placas, que se movem e podem barrar o fluxo para o coração. “A maior parte das mortes provocadas por poluição acontece por eventos no coração, e não por algo no pulmão ou por um câncer, como normalmente se pensa”, diz o médico de família americano Richard Saint Cyr, que vive em Pequim e mantém o site MyHealth Beijing.

Na maratona de Pequim, em setembro de 2015, seis corredores e um funcionário do evento morreram de ataque cardíaco durante a competição. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a quantidade de partículas finas recomendável no ar é de até 25 microgramas por metro cúbico. No dia da prova, estava em 175 microgramas. Em Pequim, nos últimos dias de dezembro, o valor chegou a ser de 600 microgramas.

O governo comunista evita falar sobre essas consequências trágicas, mas em janeiro de 2014 um ex-ministro de saúde, Chen Zhu, calculou que entre 350 000 e 500 000 morrem prematuramente todos os anos devido a problemas causados pela poluição. Segundo os cientistas, só quem já tem alguma disfunção no coração está suscetível.

Para se proteger, muitos começaram a usar máscaras cirúrgicas e de algodão. Como não vedam direito a entrada de ar, são inúteis. A máscara que aparece na foto desse blog é bem mais eficiente e deve ser vista com mais frequência. “Me parece uma grande ideia ter um aparelho movido a bateria que filtra e canaliza o ar para perto do nariz. Muitas peças desse tipo estão sendo desenvolvidas agora”, diz Saint Cyr, que dá assessoria a fabricantes e testa os modelos à venda.
Revista Veja

Por que os terroristas do Estado Islâmico (Isis) executam gays, mas mantêm homossexuais em suas fileiras?


Na Síria, terroristas do Estado Islâmico jogam de um prédio jovem de 15 anos, acusado de ter tido relações comum comandante do grupo
 

Muitos muçulmanos condenam os gays passivos, mas toleram os que são ativos em um relacionamento. Isso acontece no Talibã, entre os iranianos e os príncipes sauditas

  Duda Teixeira


Ainda que governos do Oriente Médio persigam homossexuais, muitos islâmicos têm para com eles uma postura paradoxal: condenam os que são passivos na relação e aceitam os que são ativos. Assim pensam muitos terroristas do Estado Islâmico (Isis ou EI) no Iraque e na Síria, membros do Talibã no Afeganistão e príncipes na Arábia Saudita.

No início deste ano, um jovem de 15 anos foi lançado de um prédio por terroristas do Estado Islâmico em Deir ez-Zor, na Síria. Ele fora encontrado na casa do comandante do Estado Islâmico, Abu Zaid al-Jazrawi. Enquanto o menino foi executado por ser gay em frente a uma multidão (na foto acima), Jazrawi foi chicoteado e mandado para lutar no Iraque. Mais velho que o parceiro, ele não foi excluído do grupo.

Um caso parecido aconteceu em 2010, quando um príncipe saudita, Saud Abdul Aziz bin Nasir al-Saud, foi condenado à prisão perpétua em Londres por matar seu escravo, depois de lhe dar umas mordidas na bochecha. Apesar de dormirem juntos e de se comportarem como um casal, o príncipe passou boa parte do julgamento insistindo que era hetero. “Matei, sim, mas que meu país fique tranquilo: não sou gay”, disse al-Saud na época.

Na Turquia, a homossexualidade pode ser motivo para escapar do alistamento militar. Os médicos então pedem para ver fotos e vídeos dos recrutas fazendo sexo com um homem. Segundo a revista alemã Spiegel, se o candidato estiver na posição de passivo, a homossexualidade é comprovada. Mas se aparecer como ativo, então vai para as forças armadas do mesmo jeito.

E entre os muçulmanos xiitas? Pelas regras do Irã, um homem que tenha tido um papel passivo em um relacionamento homossexual deve ser enforcado. Se tiver sido o ativo, contudo, recebe uma pena é mais branda: é chicoteado 100 vezes.

Dá para explicar isso? No mundo islâmico, é muito difícil um jovem ter um encontro amoroso com uma mulher. Por esse motivo, sempre houve alguma tolerância em relação ao sexo entre os homens. Em alguns textos religiosos, fala-se até que, além das 72 virgens, os homens poderiam encontrar garotos “brancos como pérolas” no paraíso. Permeia também a noção de que o gay ativo ainda poderia se reproduzir com uma mulher e, portanto, deveria ser poupado.

Fora esses casos, o castigo é severo. Os tribunais baseados na sharia, a lei islâmica, normalmente se baseiam no trecho do Corão em que os habitantes de Sodoma (“o povo de Lot”) são mortos por se aproximarem dos homens, e não das mulheres (26:165-166).
Revista Veja

Por que o Estado Islâmico quer o apocalipse?


 Carro-bomba do Estado Islâmico (EI ou Isis) que explodiu na cidade de Aleppo, na síria, em janeiro de 2016. Quatro pessoas morreram na explosão. (Photo by Ibrahim Ebu Leys/Anadolu Agency/Getty Images)
 
Não há menção ao fim dos tempos no Corão. Isso só veio quando vários grupos já brigavam entre si

  Duda Teixeira


Um dos pontos centrais na ideologia do grupo terrorista Estado Islâmico (EI ou Isis) é o de que o apocalipse, o fim dos tempos, está próximo e deve chegar após uma batalha entre exércitos islâmicos e ocidentais na cidade síria de Dabiq. No confronto, o Mahdi, um salvador que irá unificar os muçulmanos, e Jesus, o filho de Maria, descerão à terra, apressando o Dia do Julgamento Final.

O argumento é tão central na cabeça dos integrantes do EI que eles deram o nome de Dabiq à revista que publicam na internet.

A suposição de que tudo logo irá acabar, contudo, não aparece em surata alguma no Corão, o livro sagrado que teria sido revelado por Alá a Maomé. Como então explicar que o Estado Islâmico dê tanta importância para isso e ainda atraia milhares de adeptos com essa insistência?

Há, sim, textos que falam sobre o apocalipse, mas são todos posteriores à morte de Maomé. Eles aparecem nas hadiths, escritas décadas ou séculos mais tarde. As origens deles estão nas disputas entre as primeiras comunidades muçulmanas, em que cada lado buscou justificar suas políticas prevendo a sua vitória inevitável e a derrota certeira do oponente.

As primeiras lendas sobre a vinda do salvador Mahdi circularam na dinastia dos Omíadas, que governaram o mundo islâmico da cidade de Damasco nos séculos VII e VIII. Seus líderes perseguiram os descendentes de Maomé, o que enfureceu muitos muçulmanos. Ressentidos, eles começaram a contar histórias de que um salvador da família do profeta retornaria para fazer justiça ao mundo. Era o Mahdi, que lideraria a batalha derradeira contra os infiéis. O Julgamento final viria na sequência. “Para dar um peso adicional a essas profecias, elas frequentemente foram atribuídas a Maomé”, escreve William McCants, diretor da Brookings Institution e autor do livro The Isis Apocalypse (St. Martin´s Press).

A partir daí, os trechos apocalípticos passaram a ser usados sempre que uma facção queria dizer que estava do lado certo. Seus integrantes certamente venceriam os opositores, os quais nada mais poderiam esperar além da derrota. “Ao londo dos anos, as profecias do Mahdi inspiraram muitas pessoas. Como elas poderiam resistir? Não importa se com sinceridade ou não, evocar o poder espiritual e político do Mahdi era uma potente ferramenta de recrutamento“, escreve McCants.

No século XX, a crença em um apocalipse iminente perdeu espaço. As principais autoridades religiosas não alimentavam o assunto. Mesmo entre os muçulmanos xiitas, para os quais o Mahdi tem maior importância, livros sobre o tema eram fracassos comerciais. Entre os membros das elites, a coisa também não vingava. Como a Al Qaeda era comandada por dois bem-nascidos, Osama bin Laden, de família milionária, e o médico egípcio Ayman Zawahiri, o fim dos tempos foi desdenhado dentro do grupo. Contudo, o sentimento continuou latente entre a galera mais simples. Mesmo na Al Qaeda, terroristas de níveis inferiores falavam pelos cantos sobre isso, evitando serem censurados pelos seus superiores.

As previsões catastróficas só voltaram a ganhar fôlego recentemente, com as guerras e revoluções que aconteceram no Oriente Médio. Em 2012, uma pesquisa da Pew Research, de 2012, mostrou como a crença na vinda do Mahdi e de Jesus é muito prevalente entre os muçulmanos. Cerca de metade deles acredita que estarão vivos para ver a vinda do Mahdi. Essa certeza é mais forte no Afeganistão (83% pensam assim), Iraque (72%), Tunísia (67%) e Malásia (62%). Quanto a Jesus, 67% dos tunisianos e 64% dos iraquianos estão a sua espera. São valores elevados. No mundo, em geral, a porcentagem de pessoas que falam que o mundo irá acabar ainda durante a sua própria vida é de 15%.

O alívio para quem estava preocupado com o avanço do Estado Islâmico é que, no início de outubro, a cidade de Dabiq, que estava sob controle do grupo, foi retomada por rebeldes apoiados pela Turquia em uma curta batalha. Após a derrota, o EI até mudou o nome da sua revista, para Rumiyah. Se o apocalipse é mesmo certo, como dizem muitos, pelo menos vai demorar mais para acontecer.
Revista Veja

Liberland: o país sem governo e sem cobrança de impostos


Mais de 100.000 pessoas já se inscreveram para obter a cidadania da República Livre de Liberland, entre elas 2.500 brasileiros
 
Daniela Macedo



Território de Liberland: O primeiro país 100% libertário do mundo, localizado entre a Croácia e a Sérvia (Reprodução/Facebook)

Assim como um jogador do tradicional game Civilization, em que os praticantes desenvolvem uma civilização a partir do zero, o checo Vít Jedlicka fincou uma bandeira em um território ermo e se autoproclamou presidente da nova República Livre de Liberland, em abril de 2015. Simples assim. O ativista libertário de 33 anos encontrou um território sem dono entre a Sérvia e a Croácia – a área não foi reivindicada por nenhuma nação após a separação da Iugoslávia – e lá pretende realizar o sonho de viver em um país onde a atuação do governo na sociedade é mínima e o cidadão paga imposto quando e se desejar. ‘Viva e deixe viver’ é o lema de Liberland, que com seus 7 quilômetros quadrados é maior apenas que Vaticano e Mônaco.

“O governo de Liberland atuará apenas nas áreas de justiça, segurança e diplomacia”, explicou Jedlicka ao site de VEJA. Ele não acredita em um sistema de saúde público, por exemplo. Se um cidadão de Liberland não puder arcar com os custos de um tratamento caro ou uma cirurgia, por exemplo, que faça uma vaquinha ou procure uma instituição de caridade. “Esta é a forma justa, e não recebendo ajuda do Estado”, diz Jedlicka.

No modelo libertário, a sociedade toma suas próprias decisões e, segundo ele, qualquer assistência deve vir de forma espontânea. “Quem desejar construir um hospital para os necessitados pode fazer organizar uma vaquinha e construir o hospital, sem interferência do governo”. O ativista defende que o Estado é, em geral, muito ineficiente em oferecer serviços sociais. “Hospitais privados são melhores do que hospitais públicos, mesmo com verba inferior”, afirma. 


O presidente de Liberland – primeiro país 100% libertário do mundo – Vit Jedlicka – 13/04/2015 (Francois Guillot/AFP)

A política fiscal, com um modelo voluntário de pagamento de impostos, é a grande atração do projeto de Jedlicka. “É revolucionário. Em Liberland, as pessoas darão ao governo o valor que elas quiserem. Toda transação será voluntária, pois o Estado nunca deve obrigar nenhum cidadão a fazer algo contra sua vontade”.
Cidadania

Mas como garantir a segurança do país e justiça aos cidadãos sem arrecadação de impostos? “Bom, se ninguém pagar, não haverá país. Mas já temos uma quantia mais do que suficiente para tocar o governo”. Jedlicka refere-se aos 300.000 dólares que Liberland soma em doações de simpatizantes e interessados em obter a cidadania – atualmente, mais de 100.000 pessoas se inscreveram para “viver e deixar viver” nos Bálcãs, entre eles 2.500 brasileiros.

Nem todos os interessados na cidadania terão um lugar garantido na terra livre de Jedlicka. Além de preencher os critérios exigidos para a inscrição, como “ter respeito pela propriedade privada, que é intocável, não ter antecedentes criminais nem passado comunista ou nazista”, cada candidato terá de encarar uma entrevista cara a cara com o presidente do almejado país. “Não basta ter interesse e preencher os requisitos, é preciso ajudar Liberland de alguma forma”. Jedlicka explica a troca da cidadania por trabalho ou dinheiro. “Cidadania é uma commodity, como uma filiação a um clube. O país é o clube e você adquire o título para se associar a ele”.

Com um reforma, os poucos refúgios de um antigo vilarejo de caçadores, únicas construções existentes atualmente em Liberland, serão suficientes para abrigar as repartições públicas de um governo tão enxuto. No primeiro semestre de 2017, seis casas, cada uma com capacidade para doze pessoas, devem ser construídas para receber os primeiros moradores.
 
Diplomacia

Para ganhar o reconhecimento internacional, Jedlicka já viajou a diversos países apresentando seu projeto de nação libertária. Ele está no Brasil para participar do 3º Fórum Liberdade e Democracia de São Paulo, cujo tema é “Em busca de uma Sociedade Aberta”. O evento será realizado neste sábado e deve debater Estado de Direito, livre mercado e outros assuntos relacionados ao tema. Em Brasília, Jedlicka se encontrou com senadores brasileiros para promover Liberland, entre eles o vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Valdir Raupp.

O presidente de Liberland garante que pretende permanecer no cargo apenas durante o período de missões diplomáticas, até que o país seja reconhecido internacionalmente. “Depois de alguns anos, vou me aposentar. Não haverá mais presidente e todo o sistema se auto administrará”, diz. 


O senador Valdir Raupp (PMDB/RO) e o presidente de Liberland, Vít Jedlička (Divulgação)
Ilha artificial

Jedlicka não é pioneiro na criação de um território independente à la Civilization. Em 2008, o americano Patri Friedman já falava em cidades flutuantes onde os moradores não sofreriam interferência do Estado. Influenciado pelos ideais herdados do avô, Milton Friedman, e do pai, David Friedman, ambos economistas libertários, Patri fundou o Seasteading Institute e pretende criar, em 2020, a primeira ilha artificial sem órgãos regulatórios e cobrança de impostos.
Revista Veja

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