sábado, 19 de novembro de 2016

Estudo esmiúça por que cresce a violência no Brasil

Pesquisadores argumentam que opor prevenção à repressão é um obstáculo à eficácia de políticas públicas de controle da criminalidade
Redação




O Brasil está entre os países mais violentos do mundo. A ocorrência cotidiana de homicídios e assaltos atinge patamares inadmissíveis. E essa violência cresceu nas últimas décadas, sem dar sinais de trégua. O mais intrigante é que a deterioração da segurança pública na sociedade brasileira está acontecendo paralelamente a signi ficativos avanços nos indicadores socioeconômicos, especialmente a partir dos anos 2000. Diminuímos a pobreza absoluta, o acesso à educação básica se universalizou, o acesso dos jovens mais pobres à universidade foi ampliado, a taxa de analfabetismo diminuiu, a esperança de vida ao nascer foi incrementada e até a desigualdade na distribuição da renda nacional diminuiu. Alçamo-nos à posição de sexta economia do planeta, a in flação permaneceu relativamente controlada, o desemprego e a informalidade no mercado de trabalho caíram.

Estamos vivenciando uma situação inusitada: há menos pobres e mais crimes. Como explicar esse aparente paradoxo? Como é possível uma sociedade que reduz a exclusão social sofrer com o recrudescimento da violência? A proposta do livro Por que cresce a violência no Brasil?, dos sociólogos Luís Flávio Sapori e Gláucio Ary Dillon Soares, lançamento da Autêntica Editora, em parceria com a Editora PUC Minas, é oferecer respostas a essas indagações. Na verdade, não se trata de um paradoxo. O argumento defendido pelos autores, dois dos maiores especialistas da área no Brasil, é que a dinâmica da violência na sociedade brasileira não é mera derivação da dinâmica da estrutura socioeconômica. "A violência crescente nas cidades brasileiras está relacionada mais a fatores internos do que a fatores externos ao País. São nossas próprias mazelas sociais que estão interferindo na dinâmica do fenômeno. Esqueçamos a ação imperialista, o 'demônio neoliberal' e a globalização. Debruçar-nos sobre as contradições de nossa sociedade é um bom começo para explicar, entender e reverter o crime e a violência", explicam os autores.

ANTAGONISMO
Para eles, o pretenso antagonismo entre prevenção e repressão constitui um sério obstáculo à eficácia e à e ciência das políticas de controle da criminalidade. "O debate está contaminado de conotação ideológica, atrelando as políticas repressivas ao ideário da direita, ao passo que as políticas preventivas seriam a expressão das posições políticas da esquerda. E, quando é percebido nesses termos, o diálogo torna-se ainda mais difícil, separando ainda mais o que poderia ser articulado. À medida que prevenção e repressão são concebidas como polos opostos e excludentes, reduz-se a capacidade do Estado em prover segurança com efetividade", afirmam. Podemos reduzir a violência e nos tornar uma sociedade mais civilizada e pacífica, se formos capazes de formular e implementar políticas públicas de controle da criminalidade consistentes. E, para começar, é primordial um diagnóstico mais preciso do fenômeno. Essa é a principal contribuição desse livro.


SOBRE OS AUTORES
Luís Flávio Sapori é doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), foi secretário-adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais de 2003 a 2007, coordenou o Instituto Minas Pela Paz no biênio 2010-2011 e, atualmente, é professor do curso de Ciências Sociais da PUC Minas e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública (Cepesp/PUC Minas). Além disso, é autor de diversos artigos cientí ficos e de livros, destacando-se Segurança pública no Brasil: desa os e perspectivas, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, e Crack: um desa fio social, publicado pela Editora PUC Minas.

Gláucio Ary Dillon Soares é graduado em Sociologia e Ciência Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, graduado em Direito pela Universidade Cândido Mendes, mestre em Direito pela Tulane University e doutor em Sociologia pela Washington University em St. Louis Mo. Atualmente, é pesquisador sênior nacional do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj), um dos principais especialistas brasileiros na temática da segurança pública, com publicações referenciais: Não matarás, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, e As vítimas ocultas da violência na cidade do Rio de Janeiro, publicado pela Editora Civilização Brasileira.

TÍTULO: Por que cresce a violência no Brasil?
AUTORES: Luís Flávio Sapori e Gláucio Ary Dillon Soares
NÚMERO DE PÁGINAS: 144
Revista Geografia

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