sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Os acordos da água

Apesar da crescente escassez global de água, a história mostra que até mesmo países inimigos podem entrar em acordo para racionalizar o uso do recurso. É bem melhor para todos.
Susan Schneegans


O alto número de rios partilhados e a escassez de água para populações em crescimento já levaram muitos políticos e estudiosos a alardear futuras “guerras pela água”. Em 1995, por exemplo, o então vice-presidente do Banco Mundial, Ismail Serageldin, afi rmou que “as guerras do próximo século serão motivasa pela água”. Invariavelmente, esses avisos apontam para o árido e hostil Oriente Médio, onde exércitos já trocaram tiros por causa desse recurso escasso e precioso. Elaboradas teorias do “imperativo hidráulico” citam a água como a principal razão para estratégias militares e conquistas territoriais, sobretudo no conflito árabe-israelense. 

O único problema com o cenário paranoico é a falta de provas. Em 1951-1953 e em 1964-1966, Israel e Síria confrontaram- se em decorrência do projeto sírio de desviar o rio Jordão, mas a ação final, envolvendo ataques com tanques e aviões, parou a construção e liquidou as tensões entre os países nessa área. A água teve pouco ou nenhum impacto no pensamento estratégico dos militares na subsequente violência árabe-israelense, incluindo as guerras de 1967, 1973 e 1982. Mas foi uma fonte subjacente de estresse político e um dos temas mais difíceis em negociações posteriores. Em outras palavras, mesmo que as guerras não fossem uma disputa pela água, os acordos de partilha foram um impedimento para a paz.

Tratados disseminados

Enquanto o abastecimento e a infraestrutura de água serviram muitas vezes como instrumentos ou alvos militares, nenhum Estado foi à guerra por recursos hídricos desde que as cidades-estado de Lagash e Umma lutaram entre si, na Bacia do Tigre-Eufrates, em 2500 a.C.

Em vez disso, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 3.600 tratados sobre água foram assinados desde 805 d.C. a 1984 d.C. Embora a maioria fosse ligada à navegação, ao longo do tempo um número crescente abordou a gestão da água, incluindo controle de enchentes, projetos hidrelétricos ou partilhas em bacias internacionais. Desde 1820, mais de 680 tratados de água e outros acordos ligados a ela foram assinados, com mais da metade deles concluída nos últimos 50 anos.

Pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon (EUA) compilaram dados de disputas globais pela água e chegaram a quatro conclusões principais:

1- Apesar do potencial para disputas em bacias internacionais, a taxa de cooperação supera a incidência de confl itos graves por recursos hídricos. De 1948 a 2008 houve apenas 44 disputas violentas, 30 das quais entre Israel e um dos seus vizinhos. Também foram registrados 759 eventos relacionados a confl itos e 1.705 relativos à cooperação, o que demonstra que a violência ligada à água não é estrategicamente racional, hidrografi camente eficaz ou economicamente viável.

2- Apesar da retórica inflamada dos políticos, a maioria das ações tomadas sobre a água é amena. Cerca de 40% dos eventos situam-se entre o apoio verbal leve e a hostilidade verbal leve. Se o nível seguinte (apoio verbal ofi cial e hostilidade verbal ofi cial) é somado à equação, os eventos verbais atingem cerca de 60% do total. Assim, quase dois terços desses eventos são apenas verbais e mais de dois terços deles não originaram sanção oficial. 

3- Há mais questões de cooperação do que de confl ito. A distribuição de eventos cooperativos abrange um espectro amplo, incluindo quantidade e qualidade da água, desenvolvimento econômico, energia hidrelétrica e gestão conjunta. Já nos eventos de confl ito ligados à água, cerca de 90% envolvem quantidade e infraestrutura. Quase todas as ações militares caem nessas duas categorias. 

4- Embora não cause violência, a água tanto pode irritar quanto unir. Ela pode piorar boas e más relações. Porém, apesar da complexidade do tema, as águas internacionais podem agir como um unifi cador em bacias com instituições relativamente fortes.


BBC Brasil

Notícias Geografia Hoje

Mulheres que dirigiram na Arábia Saudita serão julgadas em corte antiterror, dizem ativistas

Foto de vídeo divulgado por Loujain al-Hathloul mostra ela dirigindo dos Emirados Árabes Unidos até a fronteira com a Arábia Saudita

Duas sauditas detidas por infringirem uma proibição para que mulheres dirijam no país serão julgadas em um tribunal antiterrorismo, disseram ativistas.

Loujain al-Hathloul, de 25 anos, e Maysa al-Alamoudi, 33, estão detidas há quase um mês. Os casos teriam sido transferidos devido a comentários que elas fizeram nas redes sociais e não por estarem dirigindo, segundo os ativistas.

Loujain foi presa em 1º de dezembro após ter tentado entrar no país dirigindo, vinda dos Emirados Árabes Unidos, segundo a agência de notícias AFP.

Maysa, uma jornalista saudita baseada nos Emirados Árabes Unidos, também foi presa quando chegou à fronteira para ajudar Loujain, disse a agência.

As duas mulheres têm um grande número de seguidores no Twitter. Loujain escreveu uma mensagem sobre sua longa espera na fronteira saudita ao tentar entrar no país.

A Arábia Saudita é o único país do mundo onde mulheres são impedidas de dirigir. Apesar de não ser tecnicamente ilegal que elas dirijam, apenas homens recebem carteiras de habilitação – e mulheres que dirigem correm o risco de serem multadas e detidas pela polícia.

Sob as leis sauditas, as mulheres devem ficar no banco de passageiros

Sauditas lançaram uma série de campanhas – inclusive nas redes sociais – exigindo um relaxamento das restrições.

Uma ativista e escritora saudita, Hala al-Dosari, disse à BBC que a transferência dos casos das mulheres era vista como "uma continuação dos esforços das autoridades da reprimir a oposição". "Este não é um caso isolado", disse ela.

Na quinta-feira, um tribunal em al-Ahsa, no leste do país, decidiu que as mulheres deveriam ser julgadas em uma corte especializada em Riad, criada para lidar com casos de terrorismo.

Ativistas dizem que advogados das mulheres planejam recorrer da decisão.
BBC Brasil

Notícias Geografia Hoje


Por que a história do filme 'A Entrevista' revoltou a Coreia do Norte?
Jaime González
Da BBC em Los Angeles

Poster do filme norte-americano The Interview, que satiriza governo na Coreia do Norte

Fontes no FBI, a polícia federal americana, asseguram que a Coreia do Norte está por trás do recente ataque cibernétrico à Sony Pictures, atribuído a um grupo de hackers que se autodenomina GOP (Guardians of Peace - ou Guardiões da Paz, em tradução livre).

A notícia de que o regime norte-coreano estaria envolvido no roubo de informações surgiu dois dias depois de a Sony anunciar que suspenderia o lançamento do filme A Entrevista, uma paródia a Kim Jong-un, líder do país asiático.

O estúdio tomou a decisão depois de algumas das principais redes de cinemas dos Estados Unidos cancelarem a exibição do filme. Elas alegam ter sofrido ameaças de hackers da GOP.

Tais acontecimentos - que incluem a interceptação de uma enorme quantidade de dados da Sony Pictures, incluindo milhares de e-mails trocados pelos principais executivos do estúdio - causaram revolta e surpresa em Hollywood.

Kate Perry

Muita gente se pergunta: o que acontecerá com a liberdade de expressão na meca do cinema mundial, uma vez que piratas eletrônicos são capazes de evitar que um filme, por mais polêmico que seja, chegue às salas de projeção?

A Entrevista gira em torno de um plano para que jornalistas norte-americanos - interpretados por James Franco y Seth Rogen - assassinem Kim Jong-un.

No filme, o líder norte-coreano é fã de um talk-show com famosos apresentado pelo personagem de Franco. O fato é então aproveitado pela CIA, que decide orquestrar uma viagem dos repórteres à nação asiática com o objetivo de assassinar o mandatário.

Na tela, Kim Jong-un e o jornalista Dave Skylark - interpretado por Franco - compartilham seus vícios por basquete, pelas músicas de Katy Perry e pelas mulheres.

Preocupação
Cena do filme estrelado por James Franco, cuja estreia foi cancelada pela Sony Pictures

De acordo com os e-mails de executivos da Sony trazidos a público nas últimas semanas, a direção do estúdio estava mesmo preocupada com a reação da Coreia do Norte à estreia de A Entrevista - mesmo antes de um funcionário do governo de Pyongyang classificar a película como um "ato de guerra", em junho passado.

No mês de maio, por exemplo, um alto executivo da Sony disse ter reservas à data inicialmente prevista para a estreia do filme.

Keith Weaver considerava que a estreia em 10 de outubro não seria uma boa indeia, já que neste dia a Corea do Norte celebra uma de suas festas nacionais mais importantes.

Em junho, a Sony Pictures decidiu que as ações promocionais do filme, junto a seus diretores e protagonistas, deveriam minimizar a importância do roteiro político de A Entrevista.

O temor de possíveis repercussões negativas também ficava claro num e-mail em que Amy Pascal, vice-presidente da Sony Pictures, sugeria a Seth Rogen - codiretor ao lado de Evan Goldberg - mudanças na cena em que se vê a cabeça de Kim Jong-un explodindo. A ideia era torná-la menos sangrenta.

Mas estas cenas realmente justificam os ataques cibernéticos à Sony que supostamente foram orquestrados pelo governo da Coreia do Norte? Alguns dos jornalistas consultados pela BBC que chegaram a assistir ao filme não acham que seja para tanto.

"Humor vulgar"

"Tenho a sensação de que o motivo pelo qual não se está falando muito sobre o filme é porque ele nem chega a ser uma boa comédia", diz Scott Foundas, crítico da revista Variety.

"Ao longo das décadas vimos bons filmes cuja história acontece em regimes totalitários, como O Grande Ditador, de Charles Chaplin, ou Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick. No caso de A Entrevista, não me parece um filme especialmente subversivo ou surpreendente", assinala Foundas.

"É uma película de humor vulgar e juvenil, cujo argumento acontece por casualidade na Coreia do Norte, mas que poderia estar situado em qualquer outro lugar."

O crítico da Variety não acredita que ninguém que assista a A Entrevista considere o filme "incendiário no ponto de vista político" e acredita ser irônico que um filme como este tenha causado tanta revolta, "já que é bastante inócuo".

"Kim Jong-un é apresentado da maneira mais óbvia, tendo-se em conta o pouco que se sabe dele. O mostram como um menino mimado que tem traumas com seu pai."

"Muitas das cenas do filme consistem em Kim Jong-un jorgando basquete ou escutando a músicas de Katy Perry com o personagem de James Franco", explica o jornalista.

Críticos se dividem em relação ao enredo, considerado "bobo" por alguns
'Liberdade de expressão'

Jen Yamato, crítica de cinema da Deadline Hollywood, tem uma opinião mais favorável ao filme, ainda que também não creia que seu enredo justifique o ataque sofrido pela Sony.

"Achei divertida e acho que é uma boa sátira do mundo do jornalismo, em particular o jornalismo de entretenimento e celebridades, e sobre como às vezes ele se mistura com a política", diz Yamato em entrevista à BBC Mundo.

"Alguns dirão que é só mais uma comédia de James Franco e Seth Rogen, mas a acho mais sofisticada que isso. A ideia de fazer ficção a partir da intenção de assasinato de um líder mundial ativo nunca tinha sido feita dessa maneira", diz a jornalista.

"Cinema é arte, e através da arte é possível fazer interpretações sobre a atualidade e a política", diz Yamato.

Justificada ou não a ira do governo norte-coreano com o argumento de A Entrevista, o certo é que o cancelamento de sua estreia causou surpresa e indignação em Hollywood. Muitos consideram que o ataque à Sony e as ameaças dos hackers do GOP não deixaram alternativas ao estúdio.

"Se houvesse acontecido algum incidente em algum cinema, a Sony teria que enfrentar processos de dezenas de milhões de dólares e se teria criado um problema enorme", alerta Stephen Galloway, editor da revista The Hollywood Reporter.

"Acho que se trata da um precedente terrível, mesmo que a Sony não tivesse outra saída. Este ataque causou muitos danos ao estúdio e vão perder muito dinheiro", afirma.

Galloway conhece há anos Amy Pascal, vice-presidente da Sony e uma das pessoas mais prejudicadas pelos vazamentos do ataque cibernético.

"É triste. Amy Pascal é uma amante do cinema. É incrível que agora se veja envolta em um incidente com ramificações de política internacional que envolveu até Barack Obama. Deve ser tremendamente difícil para ela."
BBC Brasil

Notícias Geografia Hoje

Análise: Como um tuíte virou uma guerra com milhares de mortos na Ucrânia

O protesto foi convocado pelo Twitter em novembro de 2013 e ficou fora de controle nos meses seguintes

O Parlamento da Ucrânia aprovou na terça-feira uma resolução para renunciar ao status de país que não participa de alianças militares. Isto inicia o processo para que o país se converta em um membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que esta decisão é contraproducente e que poderia gerar tensões no futuro.

A tensão entre a Ucrânia e a Rússia, com conflitos em áreas de fronteira e a anexação da Crimeia pelos russos, foi uma das notícias mais importantes de 2014. E o jornalista ucraniano Olexiy Solohubenko, editor de notícias do Serviço Mundial da BBC, analisa o que aconteceu no país durante o ano.

"Imagine que, no México, os moradores do Estado de Yucatán resolvam que não querem ter mais nada a ver com o governo mexicano. Que são diferentes, que falam com um sotaque diferente e têm suas próprias tradições e história.

Além disso, eles convocam um referendo e o governador do Estado de Yucatán se transforma no presidente da República Popular de Yucatán.

E mais: grupos armados estabelecem postos de controle e barricadas. Pessoas morrem. E tudo isso ocorre diante do olhar impassível do resto do continente americano.

Isto pode ser uma fantasia, mas foi exatamente o que aconteceu em 2014 na Ucrânia.

E, um elemento adicional aprofunda a diferença entre o caso real e o que estamos imaginando: a presença de uma força externa.
Pelo menos cem pessoas morreram apenas em Kiev durante os primeiros dias de protestos

É difícil conceber a possibilidade de que um agente externo possa intervir em uma disputa no México.

Mas, no caso da Ucrânia, isto é real: há um país e um presidente que apoia movimentos separatistas em uma área importante do território. A área a que me refiro é a Crimeia e o presidente é Vladimir Putin, da Rússia.
Terreno fértil

Tudo começou, acredite ou não, com um tuíte de Mustafa Nayem, um jornalista ucraniano famoso, filho de imigrantes afegãos, descontente com o que o então presidente Victor Yanukovich decidiu fazer de última hora: não assinar um acordo de associação com a União Europeia.

A Rússia não queria este acordo e sentia que havia uma possibilidade de a Ucrânia se afastar para sempre da influência do governo de Moscou. E, para evitar tal acordo, os russo injetaram uma quantidade enorme de dinheiro e prometeram ainda mais fundos, algo que Yanukovich aceitou.

Em novembro de 2013, Nayem pediu que seus seguidores no Twitter protestassem na Praça da Independência, conhecida como Maidan. Primeiro, vieram centenas, logo eram milhares... depois eram dezenas de milhares.

Não era o primeiro protesto dos ucranianos.
Os confrontos resultaram na derrubada do presidente Victor Yanukovich e a eleição de um novo líder

A tecnologia pode ter mudado, agora existem smartphones, mas o desejo, o espírito era o mesmo de dez anos atrás, na chamada Revolução Laranja.

O protesto tinha como base a não aceitação da manipulação, da intenção de "comprar" o país, fazê-lo voltar para os padrões soviéticos em uma espécie de união com a Rússia.

É importante entender que boa parte dos manifestantes de Maidan pertencem a esta primeira geração que nasceu, cresceu e se educou depois da independência do país. Queriam um novo pacto social que mudasse os conceitos do que é bom e do que é ruim.

Foi neste terreno fértil que caiu o tuíte de Nayem.

A polícia tentou dispersar os manifestantes de forma violenta: mais de cem pessoas morreram em Kiev, no centro de uma capital do continente europeu.

A partir de então começaram as tentativas de acordo, que não conseguiram resultados.

O presidente foi derrotado em algo que a Rússia descreveu como um golpe e os ucranianos chamaram que revolução popular. Foram convocadas eleições, foi eleito um novo presidente, Petro Poroshenko, e um novo Parlamento. E, infelizmente, ocorreu uma nova guerra.

E, para isto, o país não estava preparado.

História

O que aconteceu na Ucrânia em 2014 ilustra o fato de que, na Europa, a história nunca desaparece.
Em 1994, os presidentes dos EUA, Bill Clinton, da Rússia, Boris Yeltsin (centro) e da Ucrânia, Leonid Kravchuk, firmaram um acordo para o desarmamento da Ucrânia

Há pouco mais de 20 anos, no dia 5 de dezembro de 1994, as três potências nucleares da época, Rússia, Estados Unidos e Ucrânia, junto com a Grã-Bretanha, assinaram um memorando em Budapeste no qual o governo ucraniano aceitava renunciar à sua condição nuclear.

Em troca, a Ucrânia recebia garantias de manter sua integridade territorial, a inviolabilidade de suas fronteiras e o respeito à sua política interna. Nada disso se concretizou.

E, para piorar a questão da integridade territorial, a Rússia anexou a Crimeia em março.

A Crimeia, no sul da Ucrânia, sempre foi um ponto sensível para a Federação Russa. É o lugar de onde o Império Russo travou suas muitas guerras contra o Império Otomano.

Alguns analistas afirmam que, se prestarmos atenção ao presidente Putin, é possível notar que ele não quer reescrever a história, mas fazê-la voltar para as fronteiras que marcam o passado imperial russo. A instabilidade na Ucrânia foi uma oportunidade que o presidente russo não perdeu.
A maioria dos moradores da Crimeia votou a favor da anexação pela Rússia, mas a validade do referendo foi questionada

Para a Ucrânia foi muito difícil reagir: havia vendido a maior parte de seu arsenal bélico e reduzido seu enorme exército de 400 mil soldados nos anos 1990 para cerca de 130 mil em 2013.

O governo russo aproveitou para atacar, para tomar um território que também era um local estratégico do ponto de vista militar. E fez exatamente isso alegando apoio popular.

Logo vieram os movimentos separatistas no leste do país. Algumas regiões seguiram o exemplo da Crimeia e convocaram referendos, o que levou à proclamação de novas repúblicas, não necessariamente reconhecidas, mas, segundo muitos, financiadas e apoiadas pela Rússia.

A Rússia negou que estivesse envolvida militarmente, mas muitos cidadãos russos estão lutando ao lado dos rebeldes.
Vítimas
A Rússia não admite que seus soldados tenham participado dos confrontos na Ucrânia

A área que estas "repúblicas" controlam é muito pequena, mas o número de vítimas é alto.

Até o começo de dezembro, mais de 5 mil pessoas haviam morrido.

As baixas ocorrem entre civis, soldados ucranianos, forças rebeldes e efetivos russos.

A tragédia também teve repercussão internacional. A mais palpável foi a morte dos estrangeiros inocentes que estavam no voo MH17 da Malaysian Airlines e que foi derrubado na Ucrânia no dia 17 de julho, em circunstâncias que ainda não foram totalmente esclarecidas.

As sanções econômicas também fizeram a Rússia buscar apoio de países que não estão necessariamente aliados com os Estados Unidos, incluindo Argentina, Venezuela, Cuba e Turquia, além de países que fazem parte da União Europeia, como Hungria e Itália. Com este dois, a Rússia tenta desequilibrar a postura adotada pela União Europeia em relação às sanções aplicadas aos russos.

Enquanto isso, dentro da Rússia, o sentimento contra o Ocidente como resultado do apoio dos Estados Unidos ao governo ucraniano é inédito.
As 298 pessoas que estavam no voo MH17 morreram no incidente ocorrido na Ucrânia em julho

Muitos também afirmam que aquilo que era apenas uma possibilidade teórica há uns três ou quatro anos, uma nova Guerra Fria, agora já está ocorrendo.
Estagnação

Hoje, a situação é de estagnação e é difícil ver como resolver isto sem recorrer à força militar.

Economicamente, ninguém saiu ganhando. Do lado humanitário, todos são perdedores. Do lado político, alguns observadores acreditam que, se a Rússia realmente quisesse, o conflito acabaria em breve.
O apoio dos EUA à Ucrânia alimentou a oposição ao ocidente na Rússia; na foto, o secretário de Estado John Kerry visita manifestantes em Kiev

Mas, neste momento, parece não haver nenhuma vontade política para isto.

O acordo com a União Europeia, que deu início aos protestos, foi firmado e já entrou em vigência.

É possível que o movimento iniciado por aquela geração da praça Maidan tenha sido "sequestrado" pela intervenção russa, que o transformou em um conflito armado pelo controle do território? Não acredito nisto.

Os manifestantes conseguiram entre 50% e 60% do que reivindicavam. O inesperado foi a guerra, as vidas perdidas, parte do território ucraniano perdido, todos os custos que ninguém poderia prever. Estes foram os outros 40%.

Mas a história frequentemente não se mede por pontos percentuais. Ela simplesmente acontece."
BBC Brasil

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Vida é coisa rara no Cosmos?

Associação de organismos pode ter conferido complexidade da vida como conhecemos 

Wikimedia commons

Caleb A. Scharf, em Blogs da Scientific American

A raridade da vida se baseia na observação de que a existência de formas de vida como a nossa, repletas de complexas células grandes, carentes de energia, pode depender de uma série de fatores muito específicos e improváveis na história da Terra.

Quando somados, esses elementos sugerem que lugares como o nosso planeta podem ser extremamente incomuns no Universo.

Como já apontei em um post anterior[intitulado “O Grande Debate Alienígena”, em inglês], há algumas falhas potenciais em argumentos desse tipo, em grande parte devido ao modo como fazemos inferênciaspost-hoc [conclusivas, a posteriori].

Um dos elementos mais potentes dessa noção de “Terra rara” deriva da sugestão de que nossas “usinas energéticas” celulares, as mitocôndrias, resultam de uma fusão bastante improvável de organismos microbiais mais simples (os procariotas, desprovidos de núcleos celulares) há cerca de 2 bilhões de anos.

Nesse cenário, a estrutura celular complexa dos eucariotas [organismos vivos uni ou pluricelulares constituídos por células dotadas de núcleo], que inclui humanos, plantas, insetos, fungos, etc., começou essencialmente com aquela extremamente afortunada — e, portanto, cosmicamente rara — incorporação mútua e consequente simbiose.

Mas uma nova pesquisa oferece uma alternativa intrigante (embora também não comprovada).

Zhang Wang e Martin Wu da University of Virginia argumentam que, em vez de uma fusão celular randômica, ou incorporação de um procariota por outro, o mecanismo mitocondrial na realidade deriva de um parasita.

O que começou como uma bactéria que roubava energia química acabou se transformando em um organismo que fornecia energia química, em troca de uma vantagem evolutiva.

Essa proposta resulta de uma análise profunda do parentesco genético entre mitocôndrias modernas e 18 bactérias estreitamente aparentadas, que vivem livremente.

De fato, os pesquisadores tentam reconstruir os prováveis processos metabólicos das mitocôndrias mais primitivas e suas precursoras imediatas. Na opinião deles, essas criaturas provavelmente eram parasitas de energia química — possivelmente muito ágeis —, equipados com genes para desenvolverem “caudas”, ou flagelos bacterianos que impulsionam muitos microrganismos.

Por que isso alteraria o argumento da vida complexa rara?

Parasitas são abundantes na natureza. De fato, como o escritor de ciência Carl Zimmer apontou em seu livro Parasite Rex:Inside the Bizarre World of Nature`s Most Dangerous Creatures (Parasita Rex: No interior do bizarro mundo das criaturas mais perigosas da Natureza, em tradução literal), sob muitos aspectos a vida na Terra pode ser considerada como sendo dominada por parasitas. E a beleza deles (sim, todas as coisas são belas no contexto apropriado!) é que sua própria sobrevivência depende de sua capacidade de se insinuar em outros organismos.

Em outras palavras: se mitocôndrias e células complexas são resultados posteriores de uma infestação parasitária, sua existência talvez não seja tão improvável. Havia um forte incentivo para essas espécies mitocondriais ancestrais encontrarem hospedeiros — o resto é apenas seleção natural.

Sobre o Autor: Caleb Scharf é diretor do Centro de Astrobiologia multidisciplinar da Columbia University. Ele trabalhou nos campos de cosmologia observacional, astronomia de raios-X, e mais recentemente ciência exoplanetária. Seu livro mais recente é intitulado Gravity`s Engines: How Bubble-Blowing Black Holes Rule Galaxies, Stars, and Life in the Cosmos [“Motores da gravidade: como buracos negros emissores de bolhas governam galáxias, estrelas e vida no Cosmos”, em tradução literal]. Atualmente, ele está trabalhando na obra The Copernicus Complex [“O complexo de Copérnico”, em tradução literal] (ambas de Scientific American/Farrar, Straus and Giroux).

Scientific American Brasil

Notícias Geografia Hoje

Censo contabiliza centenas de cometas em sistema distante
Os “exocometas” ao redor de Beta Pictoris diferem dos observados em nosso próprio Sistema Solar

Essa impressão artística mostra enxames de exocometas orbitando a jovem estrela Beta Pictoris.

Lee Billings

Em 1986, enquanto observava uma estrela a cerca de 63 anos-luz chamada de Beta Pictoris, a astrônoma francesa Anne-Marie Lagrange e seus colegas perceberam algo profundamente estranho. Eles estavam realizando observações porque, dois anos antes, outros pesquisadores estudando a jovem estrela de 23 milhões de anos perceberam o brilho infravermelho do que parecia ser um disco gigante de gás e poeira em rotação, semelhante ao que deu origem ao nosso próprio sistema solar há muito tempo.

A Beta Pictoris parecia estar nas últimas fases de produzir seu próprio sistema planetário, e astrônomos tinham uma posição privilegiada para assistir.

Estudando a luz estelar que passava pelo disco, Lagrange observou indícios inesperados de movimentos de ida e vinda durante horas e dias, quase como se alguma estrutura sombria que absorvia luz ficasse passando por ali. Durante meses, Lagrange e seus colegas se esforçaram para explicar as observações; eles consideraram pulsos estelares, grãos de poeira à deriva e outros fenômenos, mas nenhum das explicações se adequava aos dados.

Desesperados, em 1987 eles tentaram uma última explicação absurda, que mais tarde se provou verdadeira: eles estavam vendo a luz estelar brilhando através de plumas gigantes de gás saindo de objetos gelados que caíam pelo disco na direção da estrela.

Ou seja, eles estavam vendo cometas rasantes – também conhecidos como exocometas – anos antes das primeiras descobertas de exoplanetas.

Lagrange dedicou seu trabalho de doutorado à Beta Pictoris sob a orientação do astrônomo francês Alfred Vidal-Madjar, do Instituto de Astrofísica de Paris (IAP), e em 2008 conduziu uma equipe que descobriu e produziu imagens de um planeta gigante, o Beta Pictoris b, que acabava de se formar ao redor da estrela.

Quase 30 anos após a descoberta do disco e cometas de Beta Pictoris, o sistema é um dos objetos mais monitorados do céu.

Em 22 de outubro, Lagrange e sua equipe de outros astrõnomos franceses adicionaram mais uma faceta à compreensão que os astrônomos têm do sistema planetário embrionário, anunciando o censo mais completo de seus exocometas já realizado. Suas descobertas foram publicadas na Nature. (Scientific Americané parte do Nature Publishing Group).

Usando oito anos de dados de arquivo do espectrógrafo de busca planetária HARPS, do Observatório Europeu do Sul, a equipe catalogou um número sem precedentes de cometas rasantes ao redor de Beta Pictoris, detectando quase 500 deles por meio da absorção de luz estelar provocada por suas caudas gasosas passando diante da estrela como vista da Terra.

Algumas outras estrelas também são conhecidas por abrigar exocometas, astrônomos nunca haviam mapeado números tão altos desses pequenos corpos gelados, tão longe de nosso sistema solar.

“Esse é um estudo louvável, e a determinação desses pesquisadores é impressionante”, elogia Aki Roberge, astrônoma do Centro Goddard de Voos Espaciais, da Nasa, que escreveu um comentário para acompanhar o artigo. “Por um lado, cometas rasantes foram descobertos ao redor de Beta Pictoris há muito tempo mas esse estudo só foi possível por meio de um monitoramento dedicado e constante durante muitos anos”.

Ao analisar cuidadosamente as velocidades e tamanhos estimados de cada nuvem de gás de cometa selecionada entre mais de mil observações do HARPS, a equipe descobriu que os cometas ficam divididos em duas famílias distintas – uma família externa que circula serenamente a estrela a distâncias comparáveis à separação entre Mercúrio e o Sol, e uma família interna que exibe uma ampla gama de velocidades, em órbita cada vez mais próxima. De maneira curiosa, a família mais distante da estrela parece estar produzindo muito mais gás que os cometas mais próximos – o exato oposto do que seria esperado, dado que cometas em nosso sistema solar tendem a ficar mais ativos quanto mais se aproximam do intenso calor de nosso Sol.

De acordo com o principal autor do estudo, Flavien Kiefer, astrônomo do IAP, a explicação mais provável é que a família interior é composta de cometas mais antigos que já quase esgotaram seus reservatórios de gás e poeira, enquanto a família exterior é composta de cometas mais jovens ou maiores, produzidos a partir da fragmentação recente de um corpo comum maior.

Com base na orientação de suas órbitas próximas, a família interna de cometas também parece estar presa em uma ressonância orbital ao redor da estrela pela influência gravitacional de um planeta massivo próximo – talvez Beta Pictoris b, ou talvez outro mundo ainda não visto.

“Essa ressonância é muito semelhante à influência de Júpiter em nosso sistema solar, que produz a maior parte dos cometas de período curto ao redor do Sol”, explica Kiefer. “Nós poderíamos estar vendo alguns dos restos ejetados da formação de Beta Pictoris b. É como se estivéssemos observando uma versão muito mais jovem de nosso Sol, logo após a formação de seus planetas”.

Um mistério ainda sem solução é a natureza do corpo comum que produziu o cinturão externo de cometas ao redor da estrela.

Kiefer aponta que esse corpo comum pode ter sido um cometa extra-grande oriundo do cinturão interno, preso em ressonância com Beta Pictoris b. Se o cometa gigante passou muito perto do planeta, forças gravitacionais podem tê-lo destruído, expondo materiais novos à luz estelar, fazendo-os evaporar.

Mas Roberge aponta que o progenitor do cinturão externo poderia ter o tamanho de um planeta.

Em 2013, ela integrou uma equipe que utilizou o rádiotelescópio ALMA, no Chile, para descobrir duas nuvens gigantes de monóxido de carbono nas fronteiras externas do sistema Beta Pictoris. Uma possível explicação para o posicionamento e a forma das nuvens era a escultura gravitacional provocada por um planeta gigante ainda não visto distante da estrela; outra explicação é a colisão recente e destrutiva de dois mundos gélidos com a massa de Marte.

Fragmentos de uma colisão assim poderiam cair nas partes internas do Sistema como um enxame de cometas massivos. “Se os aglomerados de monóxido de carbono foram causados por essa suposta colisão massiva, então isso poderia estar conectado aos fragmentos que observamos agora”, explica Roberge. “Eu não sei se esse realmente é o caso, mas eu ficaria muito feliz se tudo isso fosse verdade”.

Identificar a plausibilidade desse cenário alternativo de formação dependerá da modelagem dinâmica dos fragmentos produzidos por uma colisão tão cataclísmica, além de observações futuras de nuvens orbitais de monóxido de carbono. 

Além da origem dos cometas, seu maior mistério é: Onde está sua água? Astrônomos ainda não viram qualquer indicação dela, apesar de anos de buscas. “Se esses cometas realmente forem gélidos e ricos em água como esperamos que sejam, esperaríamos ver fotoevaporação de água sendo dissociada em hidrogênio e oxigênio – e nós ainda não vimos isso”, aponta Roberge.

“Ninguém ainda fez uma previsão sólida sobre quanta água deve haver por lá, e se poderíamos já tê-lo vista ou não, mas tudo que temos é essa pergunta incômoda. Alguém provavelmente vai começar a investigar isso em breve”.

Se investigações mais profundas não conseguirem mostrar algum sinal de água nos cometas de Beta Pictoris, explica Kiefer, pode ser que eles sejam muito diferentes de nossos próprios cometas.

Os cometas podem, talvez, ser compostos principalmente de gelo de monóxido ou dióxido de carbono, em vez de água – um prospecto para astrobiólogos esperando que a maioria das estrelas abriguem mundos habitáveis ricos em águas.

Kiefer e seus colaboradores já estão planejando mais estudos profundos sobre os cometas da estrela, e também dos cometas de uma de suas irmãs, nascida na mesma maternidade estelar – uma estrela chamada HD 172555 que já se sabe ter exocometas próprios. Roberge também está estudando vários exocometas recentemente encontrados ao redor de outra estrela, a 49 Ceti.

Observando a história recente de uma estrela distante, mas próxima de seu coração, Lagrange se sente vingada pelas ondas constantes de descobertas. “Nos anos 80, eu não esperava continuar trabalhando na Beta Pictoris depois de 30 anos”, admite ela, adicionando que não estava animada para estudar a estrela em seu doutorado. “Muitas pessoas ficaram céticas em relação ao cenário dos cometas, e não acreditaram que era possível detectar cometas fora do sistema solar; mal sabíamos que os cometas do sistema solar às vezes passavam perto do Sol e evaporavam. Eu fico feliz que esse cenário de cometas tenha sobrevivido a todos esses testes com o passar dos anos”.
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Estados Unidos assumem liderança do Conselho do Ártico
A entidade planeja gerenciamento de mudanças climáticas na região polar boreal

Centro Goddard de Voos Espaciais da Nasa via flickr
As recomendações da força-tarefa do Conselho do Ártico–, que ainda não foram divulgadas formalmente, devem delinear novas exigências informativas sobre emissões de carbono negro, entre outras coisas.


Autoridades de vários países se reunirão de21 a23 de outubro em Yellowknife, nos Territórios do Noroeste, no Canadá, para ouvir o representante dos Estados Unidos apresentar a agenda americana de sua presidência rotativa de dois anos da entidade, a partir do próximo ano.

O Conselho do Ártico é um fórum para nações que fazem fronteira com o Ártico.

A administração Obama está pressionando para adotar a mudança climática como um foco dos esforços quando os Estados Unidos assumirem a liderança do fórum internacional, no ano que vem. A moção é elogiada por ambientalistas, embora não esteja claro como ela poderia ser traduzida em ações.

Muitos ecologistas estão vibrando com as recentes declarações do representante especial dos Estados Unidos para o Ártico, almirante Robert Papp Jr., que indicou através de discursos que a mudança climática seria um tema dominante no fórum internacional, com novos esforços direcionados para problemas como controle de emissões de carbono negro* e redução de gás metano. [*Carbono negro é o segundo poluente de maior impacto em mudanças climáticas, atrás apenas do dióxido de carbono (CO2) e à frente do metano. Seu potencial poluidor, originário da queima incompleta de combustíveis fósseis e biomassa, é duas vezes pior que se pensava.]

De acordo com ambientalistas, isso abre a porta a potenciais ações inéditas para proteger essa região prístina e controlar emissões que estão derretendo o gelo e espalhando fuligem.

“Isso realmente é um ponto de virada”, elogiou Erika Rosenthal, uma advogada da equipe do grupo Earthjustice. Outros, porém, alertam que uma postura agressiva demais poderia desviar o conselho de metas prioritárias incompletas e possivelmente estimular tensão política.

“O almirante está atacando um alvo ligeiramente equivocado”, observou Charles Ebinger, diretor da Iniciativa de Segurança Energética do Instituto Brookings, a respeito da recente ênfase em mudança climática. De acordo com ele, o Conselho do Ártico pode não ser o melhor lugar para abordar questões como o metano, considerando o caráter internacional de suas emissões. Além disso, resolver como responder a emergências e vazamentos de petróleo na região continuam sendo questões “inacabadas”, acrescentou.

Importantes mudanças no horizonte?

O que está claro é que o comando americano da entidade provavelmente desviará acentuadamente da abordagem defendida pela liderança canadense ao longo dos últimos dois anos, que enfatizou o desenvolvimento econômico no norte. A presidência do conselho muda rotativamente a cada dois anos entre os países-membros, sendo que a delegação dos Estados Unidos é chefiada pelo Departamento de Estado.

“Por que precisamos agir agora? Precisamos agir agora porque eu vi as mudanças drásticas que ocorreram no Ártico”, advertiu Papp em um discurso proferido em setembro no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês). Na ocasião, ele descreveu como tinha visitado o Estreito de Bering após um intervalo de 30 anos e ficado perplexo diante da recente ausência de gelo. “Precisamos garantir que a atividade econômica no Ártico seja sustentável e que não agrave os efeitos da mudança climática e da degradação ambiental”.

Em declarações adicionais no Centro para o Progresso Americano, Papp delineou uma extensa lista de potenciais ações [climáticas] dos Estados Unidos, inclusive implementar todas as recomendações do conselho referentes a carbono negro, pressionar os países-membros a reduzir suas emissões de metano e insistir em um adiamento ou uma proibição formal de pesca no Ártico.

Ele também pediu a implementação de recomendações feitas em um relatório para aumentar a resiliência em comunidades locais, elaborar um inventário de fontes de água doce em áreas vulneráveis que sofrem de erosão e contaminação, e implantar um projeto piloto de energia renovável no extremo norte, para desvincular áreas da queima de óleo diesel, que produz fuligem.

No CSIS, Papp falou mais detalhadamente sobre três princípios mais abrangentes para a presidência americana do conselho, inclusive um diretamente ligado a mitigação e adaptação a mudanças climáticas. Os outros dois diziam respeito ao gerenciamento do oceano Ártico e à melhoria das condições de vida para habitantes árticos.

“Por que não nos concentraríamos em carbono negro? Nós faremos bem isso”, anunciou Papp, lembrando que uma força-tarefa do Conselho do Ártico vem desenvolvendo um conjunto de recomendações para países-membros sobre redução e monitoramento da substância fuliginosa resultante da queima incompleta de combustíveis fósseis, biocombustíveis e biomassa.

Essa fuligem é uma preocupação para o Ártico porque neve e gelo escuros absorvem mais calor e derretem mais facilmente.

As recomendações da força-tarefa, que ainda não foram divulgadas formalmente, deverão, entre outras coisas, definir novas exigências para informações sobre emissões de carbono negro.

“Trabalharemos com muito empenho para implementar essas diretrizes. (...) Também trabalharemos com nossos sete parceiros para levá-los a fazer o mesmo... para inventariar as atividades que produzem carbono negro... e para mostrar progresso de ação por meio de medidas colocadas em prática durante o tempo que ocuparmos a presidência”, arrematou Papp no CSIS.

Navegando por um mar de questões

O almirante acrescentou que os Estados Unidos também se esforçarão para fazer cumprir acordos vinculativos adotados nos últimos três anos entre os países-membros do conselho sobre ações de busca e salvamento e respostas a vazamentos de petróleo.

Além disso, a presidência americana pretende pressionar pela conclusão e aprovação do chamado código polar na Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), um proposto conjunto de normas obrigatórias para navios que operam em regiões polares protegerem o meio ambiente e evitarem desastres como o do Titanic.

Países árticos deveriam “assumir a liderança para garantir que os padrões [do código polar] sejam adotados dentro de [outros] países”, observou Papp.

O Conselho do Ártico pode ser uma entidade um tanto fraca e instável, mas tem sua própria terminologia para avaliações de monitoramento e grupos de trabalho.

Formada em1996, aentidade reúne oito nações árticas — Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia, Suécia e Estados Unidos — além de participantes permanentes representativos de populações nativas, como o Conselho Circumpolar Inuit e a Associação Aleuta Internacional (AIA, em inglês). Também há vários países observadores que podem participar das reuniões, inclusive a China e a Índia.

Embora exerça pouco poder direto, o conselho é um fórum para países elaborarem acordos mútuos, como o pacto juridicamente vinculativo de resposta a vazamentos de petróleo, assinado em 2013. Além disso, é também um corpo para apresentação/discussão de relatórios científicos, como a avaliação de acidificação oceânica no Ártico, de 2013.

Por essas razões, os temas antecipados por Papp e outras autoridades americanas sobre mudanças climáticas poderiam se traduzir em resultados significativos em solo, de acordo com alguns analistas.

Em termos mais simples, isso poderia significar, por exemplo, fornecer uma plataforma para cientistas desenvolverem protocolos para medir emissões do degelo de permafrost (solos antes permanentemente congelados). Ou poderia implicar em mais acordos formais entre as nações do bloco sobre uma implementação precoce de disposições de outros organismos internacionais.

O proposto código polar da IMO, por exemplo, visa a reduzir catástrofes e desastres ambientais em regiões polares (Ver ClimateWire, 1 de abril, em inglês). “Não há nada que impeça os oito países árticos de implementar o código antecipadamente”, observa Erika Rosenthal da Earthjustice.

A força-tarefa do Conselho do Ártico que trabalha na questão do carbono negro vem desenvolvendo há anos uma estrutura conceitual e normativa que fará dos Estados Unidos o primeiro país a presidir o conselho com a oportunidade de implementar as iminentes recomendações, salientou Rosenthal.

Embora isso possa envolver uma simples defesa das medidas, essa também seria uma chance para os Estados Unidos aplicarem leis existentes para fins árticos.

Como um exemplo disso, a Lei de Redução de Emissões de Diesel, de 2005, poderia ser usada através do processo anual de apropriação para fornecer fundos destinados especificamente ao Ártico para “desmamar” comunidades árticas setentrionais do óleo diesel, sua principal fonte combustível, e um contribuinte do carbono negro, exemplificou Rosenthal.

O equipamento de adaptação para reduzir emissões de diesel é bem comprovado; portanto, essa é uma questão de determinação e dinheiro, concluiu ela.

“Se os Estados Unidos mostrassem alguma liderança eles poderiam transmitir a ideia aos outros sete” países árticos, avaliou.

Com o metano poderia haver uma pressão similar, levando talvez a avaliações adicionais e a um fundo de dinheiro aprovado por todos para projetos de demonstração, para reparar vazamentos de gás e capturar o combustível fóssil.

No dia19, aForça-Tarefa Ar Limpo divulgou um relatório sobre alavancar o Conselho do Ártico para progredir na questão do carbono negro e do metano. Embora não responda diretamente aos comentários de Papp, o grupo faz recomendações formais sobre como usar o conselho para reduzir poluentes climáticos de vida curta que têm um impacto desproporcional em gelo.

Uma das principais atividades do conselho poderia ser trabalhar com empresas de petróleo e gás que operam no Ártico para implantar práticas de ponta, sugeriu Lindsey Griffith, autora do relatório e consultora da Força-Tarefa Ar Limpo (Clean Air Task Force).

“Estão ocorrendo muitas erupções [de poços] em chamas na Rússia, o que é regulamentado, mas não controlado”, citou como exemplo. Da mesma forma, programas existentes no Alasca poderiam ser mais alavancados para transitar comunidades dependentes do diesel poluente para energias renováveis, acrescentou Griffith. Outra ideia seria pressionar a IMO a proibir o uso de combustível pesado [derivado de petróleo] no oceano Ártico, acrescentou.

Encontro inclui maiores emissores

Outros analistas sugeriram que uma das maiores oportunidades dos Estados Unidos pode ser simplesmente usar mais o púlpito impositivo da presidência para educar a comunidade global sobre fatos básicos a respeito do Ártico, como uma queda de 14% no gelo ártico marinho de verão por década desde o final dos anos 70.

Além disso, há decepção entre os seis participantes permanentes do conselho* porque ele não está mais atento à redução de dióxido de carbono, argumentou Whit Sheard, diretor do Programa Ártico Internacional na Ocean Conservancy. [*As organizações que são participantes permanentes do Conselho do Ártico são (todas as siglas em inglês): Conselho Atabasco Ártico (AAC), Associação Aleuta Internacional (AIA), Conselho Internacional Gwich`in (GCI), Conselho Circumpolar Inuit (ICC), Associação Russa de Povos Nativos do Norte (RAIPON), Conselho Saami (SC).]



Esses seis participantes estão enviando uma carta rara às autoridades reunidas em Yellowknife nesta semana para pedir, com insistência, uma consideração maior de CO2, considerando que os maiores emissores do mundo estão na mesma sala do conselho, informou Sheard, que trabalha com um dos participantes, o Conselho Circumpolar Inuit.

De acordo com ele, a inclusão, há dois anos, de países observadores como a China oferece uma rara oportunidade para discutir divergências sobre CO2 em um fórum menor que as Nações Unidas e depois levar algum tipo de acordo, ou opinião similar, para negociações internacionais sobre o clima.

“Só acredito que há esperança de que isso possa ser um processo paralelo, que move esse trâmite global um pouco mais dinamicamente, por ter na sala países que sentem as mudanças mais rapidamente ao lado dos maiores emissores”, acrescentou.

No entanto, o Conselho do Ártico pode ser um fórum lento, e não há nenhuma garantia de que o que será apresentado esta semana na reunião acabe sendo a agenda americana.

O tema mudanças climáticas não é inteiramente novo no conselho como a Noruega enfatizou durante sua presidência, observou Heather Conley, diretora do programa europeu no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

“O problema é que, de fato, é muito difícil fornecer resultados realmente pragmáticos de políticas aplicáveis com um tema tão abrangente. (...) Mudanças climáticas e as políticas que giram em torno delas têm significados diferentes para cada um dos oito membros do [Conselho do] Ártico”, argumentou ela.

Para Ebinger, reduções de metano e CO2 são metas nobres, mas talvez temas mais apropriados para as Nações Unidas, considerando a gama de países que contribuem para o efeito estufa.

Ele salientou que quando o instituto Brookings compilou um recente relatório sobre o Ártico, houve uma discussão sobre reunir reguladores para trocar ideias, mas alguns países viram isso como uma violação de soberania.

Em seus discursos, Papp enfatizou a necessidade de implementar os acordos existentes de resposta a operações de busca e salvamento e ações contra um vazamento de petróleo. De acordo com Ebinger, no entanto, há nisso um risco de tentar fazer demais e desviar a atenção dos acordos do conselho.

Em sua opinião, também há um risco de excesso em algo como uma proibição de pesca, considerando que não se sabe exatamente como a mudança climática está impulsionando migrações de peixes.

Para muita gente, o cenário mais ameaçador continua sendo um grande acidente de navio mercante ou de cruzeiro, quando não há equipamento adequado disponível, de helicópteros a balsas salva-vidas, para controlar a situação, observou Ebinger.

Embora os acordos do conselho tenham sido assinados, houve poucas ações em solo, exceto as atribuições de qual país é responsável por que áreas do oceano Ártico, quando se trata de operações de busca e salvamento.

Um foco melhor que apenas mudança climática seria adicionar “garra” e destinar recursos para o que já está sendo feito, de acordo com Ebinger. Isso é especialmente verdade quando se considera os altos custos dos equipamentos, sublinhou.

“Existem tantas coisas que precisam ser feitas com uma resposta emergencial que, em minha opinião, o melhor seria que prestássemos atenção, em nossa presidência, e realmente começássemos a fazer um lobby junto ao Congresso, defendendo o grande volume de dinheiro que precisa ser gasto se quisermos fingir que somos, remotamente, participantes importantes no Ártico”, advertiu ele.

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Novo mapeamento revela a topografia oceânica

Menos de 0,05% do leito marinho do planeta foi mapeado em detalhe 

Google Earth, D.T. Sandwell/Instituto de Oceanografia Scripps.
Novo mapa gráficos as profundezas dos oceanos da Terra (Atlântico, na figura) mostra detalhes sem precedentes, usando dados de satélite. As cores quentes correspondem a formações como montanhas e plataformas continentais; cores mais azuis representam as áreas mais profundas, como trincheiras.


Este ensaio foi reproduzido com permissão de The Conversation, uma publicação on-line que cobre as mais recentes pesquisas

É comum escutarmos comentários como “95% dos oceanos são inexplorados” ou “sabemos mais sobre a superfície da Lua ou de Marte que sobre leitos oceânicos”. 

Mas isso realmente é verdade? E, o que queremos dizer com “explorado”?

Todo o leito oceânico planetário acaba de ser mapeado com uma resolução máxima de cerca de 5.000 metros. Isso significa que podemos ver a maioria dos grandes relevos a uma distância de 5 km nessas cartas.

Essa é a resolução de um novo mapa global do leito oceânico divulgado em 3 de outubro por David Sandwell do Scripps Institute of Oceanographyem San Diego e seus colegas.

Para criar o mapa, eles usaram alguns truques elegantes com satélites para estimar a paisagem do leito marinho e até revelaram alguns aspectos da crosta da Terra, oculta sob camadas sedimentares.

Ao contrário do mapeamento terrestre, não podemos fazer levantamentos topográficos do fundo do mar diretamente a partir de satélites que usam radar, porque a água marinha bloqueia essas ondas de rádio. Mas satélites podem usar radar para medir com muita precisão a altura da superfície do mar. E, se houver medições suficientes para subtrair os efeitos de ondas e marés, satélites até conseguem mensurar as ondulações da água superficial, resultantes da paisagem subjacente no leito oceânico.

Onde se ergue uma grande cordilheira ou uma montanha submarina, por exemplo, o pequeno aumento de gravidade local resultante de sua massa “puxa” a água do mar, formando uma ligeira elevação, ou onda, acima dela. Se, em vez disso, houver uma fossa oceânica (uma grande depressão no relevo marinho), a gravidade local mais fraca produz um movimento equivalente, ou seja, para baixo, na superfície do oceano.

“Ler” essas ondulação, ou marolas, superficiais é uma façanha surpreendente de precisão, que envolve lasers para monitorar a trajetória do satélite que está fazendo a medição e, inevitavelmente, muita matemática para processar os dados.

O novo mapa utilizou dados dos satélites CryoSat-2 e Jason-1 e revela aspectos topográficos nunca vistos em mapas baseados em dados de satélites mais antigos. O mapa global do leito marinho anterior, criado com as mesmas técnicas e publicado em 1997, tinha uma resolução de aproximadamente20 km.

Portanto, na realidade temos um mapa de 100% do leito oceânico com uma resolução de cerca de 5 km.

A essa distância podemos ver as principais características de sua paisagem oculta, como as cordilheiras, ou dorsais, meso-oceânicas e fossas oceânicas. Nesse sentido, portanto, o leito marinho certamente não é “95% inexplorado”. Mas, devido ao véu aquoso de nosso planeta, o novo mapa é, admitidamente, menos detalhado que os de Marte, da Lua, ou de Vênus.

A nave espacial Magellan da Nasa mapeou 98% da superfície de Vênus com uma resolução de cerca de 100 metros. A superfície de Marte também foi escaneada, em sua totalidade, com essa nitidez; e pouco mais de 60% do planeta vermelho já foram cartografados com uma precisão de cerca de 20 m. Paralelamente, selenógrafos, que já haviam mapeado toda a superfície da Lua a uma resolução de cerca de 100 metros, agora conseguiram uma definição de até sete metros.

Aqui na Terra, temos que usar sonares em vez de satélites para mapear o fundo do oceano em maior detalhe.

Modernos sistemas de sonares a bordo de navios conseguem escanear o leito marinho a uma resolução de cerca de 100 metros através de uma faixa estreita abaixo do navio. Esses mapas mais detalhados agora abarcam de 10% a 15% dos oceanos, uma área aproximadamente igual à da África [30.221.532 km2].

O nível de detalhe alcançado pelo mapeamento feito por esses sistemas náuticos ainda revela muitas surpresas.

A primeira fase de buscas do avião desaparecido da Malaysian Airlines voo MH370 no Oceano Índico [os esforços foram retomados em 6 de outubro], que envolveu mapeamentos de navios para planejar futuros levantamentos por veículos subaquáticos, descobriu montanhas submarinas e outros relevos que não apareciam em mapas derivados de satélites para essa área.

Mas, se quisermos detectar coisas de apenas alguns metros de tamanho no leito marinho, como os destroços de uma aeronave desaparecida ou as espiras [cones em forma de espiral] minerais de respiradouros vulcânicos submarinos que minha equipe investiga, precisamos levar nossos sistemas de sonares para muito mais perto do fundo do mar com veículos subaquáticos ou instrumentos rebocados.

Até agora, menos de 0,05% do leito oceânico foi mapeado por sonares a esse nível altíssimo de detalhe. Essa área equivale mais ou menos à da Tasmânia [90.758 km2]. Mas é claro que ver, de fato, o fundo do mar com câmeras ou com nossos próprios olhos significa chegar ainda mais perto, utilizando veículos operados remotamente ou submersíveis tripulados.

Portanto, o meme dos “95% inexplorados” realmente não corresponde a toda a história de nossa exploração oceânica.

Quando se trata de ter um mapa em grande escala, o leito marinho talvez não seja tão inexplorado quanto poderíamos supor: temos uma cobertura de 100% para uma resolução de5.000 metrose outra que abarca entre 10% e 15% com definição de cerca de 100 m. Essa última é semelhante à resolução dos atuais mapas planetários de Marte e Vênus.

No entanto, nossa exploração dos oceanos depende do que queremos saber. Se nossas perguntas forem: “Como é o relevo lá embaixo”, ou “O que se passa lá embaixo?”, então a área “explorada” é questionavelmente inferior até ao 0,05% mapeado até agora na mais alta resolução possível por sonar.

Filosoficamente, quando se trata de explorar qualquer lugar em nosso mundo dinâmico, a pergunta é: como e quando decidimos que ele “foi explorado”? Declaramos “missão cumprida” assim que vimos um local pela primeira vez?

As florestas locais pelas quais passeio com meu cão têm um aspecto muito diferente no inverno em comparação com o verão, com espécies diferentes florescendo em épocas distintas. Eu deveria considerá-las “exploradas” após minha primeira visita em apenas uma estação? A exploração de nosso mundo começa com o mapeamento, mas talvez ela realmente não tenha um fim.

Jon Copley recebe verbas do Natural Environment Research Council.

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Leste da Alemanha limpa matriz energética
A antiga nação comunista transitou de carvão para fontes mais renováveis

NASA/Chris Hadfield
Lembrança persistente de um passado dividido: A diferença entre os sistemas elétricos do leste e oeste da Alemanha ainda pode ser observada nas luminárias públicas de Berlim. As luzes azuladas da parte ocidental contrastam com as douradas do lado oriental da capital alemã.


A quase322 kmacima da Terra, o astronauta canadense Chris Hadfield olhou por uma janela da Estação Espacial Internacional (ISS) para um mar de luzes brilhantes abaixo e tirou uma foto de Berlim, a capital da Alemanha.

À noite, as luminárias de rua da cidade delineiam as grandes vias públicas que irradiam de seu centro como uma teia de aranha. O contraste entre luzes azuladas e douradas reflete a história moderna da metrópole.

Na foto pode-se ver nitidamente onde o bulevar Unter den Linden encontra o Portão de Brandemburgo às margens do Tiergarten, o enorme parque urbano que aparece como um oval preto cortado por uma clara linha divisória dourada.

O outro círculo escuro, no centro, é o antigo Aeroporto Tempelhof, agora um parque, onde aviões de carga C-47 americanos pousavam para abastecer Berlim Ocidental com comida, carvão e suprimentos médicos durante o bloqueio soviético [de 24 de junho de1948 a12 de maio de 1949] que culminou na divisão política da Alemanha.

Mas a relíquia mais óbvia da cidade antes dividida reside nas próprias luzes.

“Espantosamente, acho que as lâmpadas ainda mostram a divisão leste/oeste da órbita [terrestre]”, Hadfield escreveu em um post no Facebook no ano passado.

No lado esquerdo da foto, que corresponde a Berlim ocidental, as luzes aparecem em um tom azul-acinzentado em comparação com os reflexos de cor âmbar na parte oriental. A linha onde eles se encontram traça a direção da infame barreira de concreto, de mais de3,5 metrosde altura, hoje coberta de grafites, que separou os berlinenses durante mais de 28 anos.

Embora o próprio Muro tenha caído sob marretas e motoniveladoras, reduzido a um memorial da largura de apenas dois tijolos que atravessa a cidade, o fantasma de um país dividido ainda assombra os sistemas energéticos da Alemanha.

De usinas de energia a linhas de alta tensão, a nação passou os últimos 25 anos apagando as diferenças entre leste e oeste e investiu bilhões em sua infraestrutura.



Ambiciosa redução de emissões de CO2 

Agora, o país reunificado tem metas climáticas e energéticas entre as mais ousadas do globo sob o programa “Energiewende”, ou transição energética.

Sua meta é desligar todos os reatores nucleares até 2022 e gerar 80% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis até 2050. Ao mesmo tempo, o governo alemão decidiu reduzir em 89% as emissões de gases de efeito estufa em relação aos níveis de 1990 até 2050.

O processo de unificação oferece alguns insights sobre como o país pode alcançar suas ambições.

Sob o regime da antiga República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Oriental extraía anualmente 300 milhões de toneladas de linhito, ou carvão marrom, que é muito mais sujo para minerar e queimar que variedades de carvão mais duro.

Mas linhito é barato e abundante na Alemanha e a RDA atendia 70% de sua demanda de energia com ele, incluindo eletricidade, aquecimento e até transportes. Outros 10% das necessidades energéticas vinham de reatores nucleares projetados pelos soviéticos.

A matriz energética, era centralizada, e dispunha de grandes instalações de distribuição de energia para a população e os centros industriais. O governo comunista da RDA planejava e gerenciava o sistema de cima para baixo.

Tudo isso ruiu junto com o Muro.

Logo após a reunificação, em 3 de outubro de 1990, autoridades desligaram todos os reatores nucleares do leste e suspenderam a construção de uma nova usina, alegando preocupações de segurança.

Uma nova companhia de energia se formou na região oriental, desmembrou o restante da falida estrutura da indústria de energia da RDA e comprou os antigos geradores estatais e linhas de transmissão a preços baratos.

“Após essa liberalização do mercado da noite para o dia, uma grande parcela da indústria de linhito faliu”, explicou Felix Matthes, coordenador de pesquisa para política energética e climática do Instituto de Ecologia Aplicada (Öko-Institut), em Berlim.

Muitas das centrais elétricas da antiga Alemanha Oriental não conseguiram competir no mercado aberto e fecharam. A redundância dos sistemas foram eliminadas e a geração de energia deixou de ser centralizada, passando para companhias de distribuição municipais, muitas das quais decidiram construir suas próprias centrais de cogeração de energia [-tecnologia em que o calor produzido na geração elétrica é usado no processo produtivo sob a forma de vapor-] a gás.

Com o tempo, usinas movidas a carvão, remanescentes da Guerra Fria, foram sendo substituídas por novos geradores a carvão, mais limpos e mais eficientes, que começaram a chegar do lado ocidental da Alemanha e de outras partes do mundo como investimento atraído por incentivos fiscais favoráveis.

Paralelamente, no entanto, o governo alemão pagou pela limpeza e reabilitação de minas de linhito a céu aberto.

Mas ainda levou alguns anos para que a grade de transmissão fosse integrada. Berlim ocidental permaneceu uma ilha elétrica até a cidade instalar interconexões em 1995. O operador da rede no leste da Alemanha, 50Hertz, não respondeu aos pedidos de comentários.



Convivendo com os altos e baixos da energia solar

Enquanto isso, a primeira iteração da tarifa feed-in [– mecanismo de política pública destinado a acelerar o investimento em energias renováveis por meio da oferta de contratos de longo prazo para produtores –.] de energia renovável do país, aprovada pelo Bundestag, o Parlamento alemão, em 1991, entrou em vigor.

No leste da Alemanha, as energias solar e eólica encontraram um mercado confortável porque algumas cidades viram suas populações despencar à medida que fábricas locais fechavam suas portas devido à forte concorrência no mercado.

Isso deixou um sistema energético exagerado e caro com uma receita muito limitada destinada à manutenção de grandes companhias. Portanto, praticamente não havia como fazer upgrades, ou modernizações.

Comunidades nos novos Länder, estados federados orientais, responderam a isso com cooperativas energéticas, construção de turbinas eólicas, instalação de painéis solares em telhados e construção de geradores de biomassa para atender às suas próprias necessidades.

A energia limpa só ganhou mais força quando a Lei de Energia Renovável da Alemanha (EEG) foi aprovada em 2000.

Quando a produção de painéis solares se estabeleceu, os alemães orientais viveram os altos e baixos da prosperidade, falência e renovação da indústria. Atualmente, a região também detém um terço da capacidade alemã de energia eólica.

Embora a energia renovável tenha atendido a 28,5% do consumo de energia elétrica em todo o país no primeiro semestre deste ano, essa participação ultrapassou os 40% na antiga RDA.

Fábricas fechadas, usinas movidas a combustíveis fósseis desativadas, crescente proliferação de energia renovável, upgrades de eficiência e uma população em declínio se somaram e resultaram em uma grande redução na emissão de gases de efeito estufa no leste.

Durante a década após a reunificação, a emissão de gás carbônico alemã caiu 15%. Nos estados federados do leste, as emissões do setor de energia despencaram 43% entre 1990 e 1995.

Esses avanços custaram muito caro à nação reunificada. “Isso tudo não foi gratuito”, salientou Felix Matthes. “Custou ao contribuinte alemão € 1,5 trilhão [cerca de US$ 1,87 trilhão] até agora”.

Os alemães orientais sofreram particularmente quando suas taxas de energia, até então subsidiadas pelo Estado comunista, triplicaram e se equipararam ao preço de mercado pago pelos ocidentais. O produto interno bruto (PIB) na região encolheu mais de 30% nos dois anos imediatamente após a queda do Muro.

Parte do investimento em energia alemã oriental também teve consequências não intencionais, uma vez que elas surgiram antes que as mudanças climáticas se estabelecessem como consciência pública.

Como o parque de usinas a carvão no leste é muito mais recente, isso significa que essas instalações ainda têm décadas à frente para emitir mais dióxido de carbono (CO2), enquanto muitas usinas movidas a combustíveis fósseis na parte ocidental estão chegando perto da aposentadoria, o que abre a possibilidade de substituí-las por algo mais limpo.

Companhias de energia ainda mineram cerca de 80 milhões de toneladas de linhito no leste. Neste verão boreal, empresas de mineração foram autorizadas a expandir suas operações a céu aberto, o que gerou protestos internacionais (Greenwire, 25 de agosto, em inglês).



Gerenciando altos níveis de energia intermitente

De qualquer modo, a economia alemã cresceu como um todo ao longo das últimas duas décadas e agora é a maior da Europa. E, apesar dos altos níveis de energia renovável intermitente, o Conselho de Reguladores Europeus de Energia concluiu que a Alemanha tem a grade elétrica mais confiável do continente.

“De certa forma, a região leste da Alemanha é um caso interessante para a Energiewende, porque de um lado há muito carvão, mas do outro também há muitas [fontes] de energias renováveis”, resumiu Patrick Graichen, diretor executivo da Agora Energiewende, um think tank de energia em Berlim.

“Se você quiser entender como gerenciar um sistema de flutuante [energias renováveis], o leste da Alemanha já tem uma participação bem alta”.

Como a reunificação, a Energiewende desperta um sentimento de solidariedade entre os alemães, embora os custos pesem no bolso dos contribuintes (ClimateWire, 22 de outubro, em inglês).

Autoridades públicas não estão se distanciando de seus ambiciosos objetivos, embora o resto da União Europeia tenha concordado, em outubro, em adotar meta mais modesta de redução de 40% das emissões até 2030.

No final de outubro, o ministério do ambiente alemão anunciou estar considerando planos para fechar algumas usinas de energia movidas a carvão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Quanto às luzes de Berlim, a distinção deverá desaparecer à medida que a cidade substituir suas lâmpadas de mercúrio e vapor de sódio por LEDs mais eficientes.

Além das luminárias modernas, a capital alemã ainda tem quase 44 mil lâmpadas a gás, mais da metade das remanescentes no mundo, e grupos ativistas como o Gaslicht-Kultur estão fazendo um lobby para mantê-las acesas.

Como algumas delas datam do século 19, suas luzes iluminam uma parte da história do país que os berlinenses não querem esquecer.

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Congresso republicano compromete meta climática de Obama
Plano para reduzir emissões de CO2 pode enfrentar oposição significativa no novo congresso americano

Crédito: Supermac1961 via flickr
Os candidatos republicanos deputados Cory Gardner do Colorado, Thom Tillis da Carolina do Norte e Joni Ernst de Iowa conquistaram a vitória, apesar dos esforços de grupos ambientalistas 


A fenomenal conquista do Senado americano por republicanos no último dia 4 de novembro põe fim a um domínio de poder de oito anos durante os quais os democratas fizeram várias tentativas fracassadas de cortar as emissões de carbono em meio a acentuadas oscilações de opinião do público sobre mudanças climáticas e crescentes danos causados por desastres naturais.

Cadeiras disputadas em estados chave, como o Colorado e Iowa, passaram para as mãos de candidatos do Partido Republicano [GOP, ou “Good Old Party”, em inglês] que, de vez em quando, fizeram campanha contra a expansão das medidas de proteção ambiental do governo do presidente Barack Obama.

A onda conservadora desestabiliza um escudo democrata que até agora vinha resguardando de ataques republicanos os esforços da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) de finalizar suas normas climáticas à medida que a era Obama se encaminha ao fim em 2016.

Agora é provável que Obama passe seus últimos anos na Casa Branca defendendo, em parte, seu plano de reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa em usinas de energia, enquanto lida, simultaneamente, com prioridades republicanas sobre energia convencional, como a construção do oleoduto Keystone XL, em uma legislatura unida sob a bandeira do Partido Republicano.

Os republicanos garantiram vitórias fáceis em Montana, Dakota do Sul e Virginia Ocidental, todos estados ricos em energia, onde o declínio da popularidade de Obama coincidiu com fins de mandatos democratas.

Só essas conquistas deram aos republicanos metade dos assentos de que precisavam para assumir o controle do Senado.

Os democratas também perderam Arkansas e Iowa, um resultado que havia sido previsto por muitos analistas. Para selar a transferência de poder, os republicanos ainda conseguiram virar a representação no Colorado e na Carolina do Norte ao derrotarem os senadores democratas Mark Udall e Kay Hagan.

Problemas de comparecimento e transmissão de mensagens

A demoção dos democratas suscita questões sobre a eficácia de enfatizar temas como mudança climática para atrair eleitores “abstentos”, inclusive jovens, mulheres solteiras, afro-americanos e hispânicos, às urnas em um ano sem uma eleição presidencial.

Os candidatos republicanos Cory Gardner do Colorado, Thom Tillis da Carolina do Norte e Joni Ernst de Iowa foram vitoriosos apesar dos acentuados gastos por parte de grupos ambientalistas que procuraram retratar atitudes republicanas sobre ciência climática como ignorantes e ansiosas por [encontrar] aliados de combustíveis fósseis.

Dada a cacofonia de mensagens e influências que levam eleitores a preferir um candidato a outro, muitos observadores afirmam ser impossível usar as eleições intermediárias [no meio de um mandato presidencial] deste ano para julgar a eficiência de anúncios publicitários que visaram candidatos céticos (“negadores” ou “deniers”) sobre ciência climática.

Em outras palavras, isso é apenas o início do ataque aos “contestadores”.

“À medida que mais opositores, ou céticos, da ciência climática perdem, futuros candidatos que tenham a mesma posição extrema perceberão que será cada vez mais difícil vencer eleições gerais”, resumiu Daniel Weiss, um vice-presidente sênior da Liga de Eleitores Conservacionistas, que gastou cerca de US$ 30 milhões na eleições.

Essa estratégia nem sempre funciona.

Em Iowa, onde Joni Ernst derrotou o democrata Bruce Braley, um congressista que cumpriu três mandatos, em uma corrida pela cadeira vacante do senador Tom Harkin (D) que está se aposentando, grupos ambientalistas gastaram livremente para atacá-la por se opor aos regulamentos da EPA e questionar a validade da ciência climática.

“Dirijo um carro híbrido, e minha família recicla tudo”, Ernst declarou em um debate com Bruce Braley. “Não conheço a ciência por trás da mudança climática; não posso afirmar de uma ou outra forma qual é o impacto direto, se ele é decorrente de ações do homem ou não”.

Braley a criticou por não estar em contato com agricultores e caçadores de Iowa, sugerindo que Ernst não aceita que “isso é um problema real” com o clima.

Mas a injeção de dinheiro ambiental vinda de fora na corrida eleitoral também deu a Ernst uma abertura para atacar seu oponente, que, segundo ela, foi apoiado por um “ambientalista bilionário extremo”, referindo-se a Tom Steyer da NextGen Climate.

Grupos afiliados com David e Charles Koch [da Koch Industries, uma das maiores empresas privadas dos Estados Unidos, ativa no setor de refinação de petróleo] também teriam gasto pelo menos US$ 3 milhões na disputa em Iowa.

Essa é a primeira alternância de poder no Senado americano desde 2007, quando os democratas assumiram o controle em meio a uma forte oposição à guerra do Iraque sob o comando do então presidente George W. Bush.

De modo muito similar, dessa vez a mudança partidária ocorre na metade do segundo mandato do presidente Barack Obama, em um momento em que sua popularidade está despencando em meio a desafios a suas políticas sobre o Oriente Médio, a economia e as mudanças climáticas.

Colisão de grandes gastadores

A reviravolta ocorreu na esteira de gastos explosivos por parte de grupos externos, inclusive massivas campanhas de publicidade dos setores de interesses energéticos e ambientais.

Segundo se informa, os libertários irmãos Koch teriam gasto dezenas de milhões de dólares contra os democratas através de organizações de defesa conservadoras como a Americans for Prosperity.

Por outro lado, grupos ambientalistas liderados pela NextGen Climate, que pretendia gastar US$ 100 milhões, desencadearam uma série de ondas publicitárias para atacar posições republicanas sobre mudança climática, energia e meio ambiente.

Em termos gerais, essa poderia ser a campanha política intermediária mais cara da história. Recentemente, o Center for Responsive Politics, [um grupo de pesquisa não partidário e sem fins lucrativos que rastreia dinheiro em política e seus efeitos em eleições] estimou que grupos de fora gastariam cerca de US$ 900 milhões na campanha.

Os grupos ambientais priorizaram as corridas ao Senado no Alasca, Colorado, Iowa, Michigan, Carolina do Norte e New Hampshire, só para perder a maioria delas.

O revés ocorre em um momento em que o governo se esforça para concluir seus históricos regulamentos climáticos, antes de Obama deixa o cargo daqui a dois anos.

Os democratas foram prejudicados por fatores como a impopularidade do presidente e o grande número de cadeiras democratas conservadoras em jogo no Senado; mas as vitórias do GOP vieram apesar dos esforços de ambientalistas para fazer do ceticismo climático uma posição politicamente perigosa.

De acordo com estrategistas, é improvável que as perdas democratas do dia 4 servirão como uma “nota ruim” para essas mensagens climáticas agressivas. Muitos ambientalistas estão de olho em 2016, baseados na convicção de que um político que rejeita a ciência climática não conseguirá encontrar tração entre um público nacional republicano.

“Não vejo isso como uma derrota para grupos preocupados com o meio ambiente”, comentou John Weaver, que assessorou o ex-governador de Utah Jon Huntsman durante as primárias presidenciais republicanas em 2012.

Obama também fez uma campanha agressiva para motivar eleitores casuais [nos Estados Unidos o voto não é obrigatório] particularmente veementes sobre mudanças climáticas.

Durante o verão americano, ele falou sobre a seca na Califórnia, os incêndios no estado de Washington — “Grande parte disso tem a ver com a mudança climática”, advertiu ele em um discurso em Chicago — e o “desafio geracional” do aquecimento.

O aquecimento global apareceu regularmente em seus discursos voltados a atrair eleitores “desgarrados”.

Os esforços de Obama e organizações ambientalistas podem ter contribuído para alguns sucessos nas urnas, embora seja impossível determinar a verdadeira causa.

Democratas ganharam uma acirrada disputa senatorialem Michigan. No Alasca, a apuração dos resultados da corrida entre o senador Mark Begich (D) e o republicano Dan Sullivan poderá levar dias, à medida que os votos forem sendo contabilizados em áreas mais remotas.

Mas nos dois casos, grupos ambientalistas descreveram os candidatos republicanos como céticos climáticos.

Em Michigan, o deputado Gary Peters (D) venceu Terri Lynn Land (R) para substituir o senador Carl Levin (D) que está se aposentado; durante a campanha, Peters falou sobre seu apoio a uma ação climática e não descartou a possibilidade de adoção da política “cap and trade” [“limite e negociação” de carbono] no futuro.

Na noite de 4 de novembro, Gene Karpinski, presidente da Liga de Eleitores Conservacionistas (LCV, em inglês), comentou que Peters ajudará a “enfrentar a crise climática”. A LCV gastou US$ 2 milhões na campanha eleitoral.

Na Câmara dos Deputados, o democrata Pete Aguilar venceu uma disputa apertada no 31º Distrito da Califórnia contra o republicano Paul Chabot, a quem grupos ambientalistas descreveram como “contestador climático”. Mas o deputado Scott Peters (D) perdeu por pouco para o republicano Carl DeMaio em seu distrito de San Diego. Em campanha, ele destacou seu apoio a normas que limitam emissões de carbono em usinas elétricas.

Em termos gerais, os republicanos ampliaram sua maioria na Câmara para 241.

Voto jovem permanece em casa

Ao todo, a aliança de grupos ambientalistas, formada pelo Environmental Defense Action Fund, NextGen Climate, Natural Resources Defense Council Action Fund, LCV e o Sierra Club afirmou ter atingido 16 milhões de eleitores “perdidos” por meio de prospecção, telefonemas e mala-direta. De acordo com os grupos, a aliança gastou um total de US$ 85 milhões.

Alguns pesquisadores políticos acreditam que essa eleição marca uma nova era, e não o fim, de mensagens “contestadoras”, ou negadoras sobre mudanças climáticas. Em parte isso se deve ao fato de ser quase impossível saber qual mensagem de fato afetou os eleitores enquanto eles eram bombardeados por uma tempestade de anúncios publicitários, panfletos e pontos de discussão.

Os anúncios de ataque perderam ímpeto em alguns estados, onde a impopularidade de Obama e o matiz do eleitorado contribuíram para ganhos republicanos. Mas não espere uma ausência de acusações “contestadoras ou negadoras” em 2016, alertou Neil Newhouse, um pesquisador que assessorou Mitt Romney na eleição presidencial de 2012.

Os candidatos e seus aliados sabem quem visar. A parte difícil é conseguir que os eleitores respondam.

Nas últimas eleições legislativas intermediárias, em 2010, havia 45 milhões de pessoas com menos de 30 anos elegíveis para votar. Menos de 11 milhões o fizeram.

Isso corresponde a um índice de comparecimento de 24% para um grupo que está entre os mais apaixonados por mudanças climáticas, inferior a qualquer outro grupo etário em pelo menos 14 pontos percentuais.

Mais que o dobro de eleitores com mais de 65 anos, que tendem a ser menos alinhados com a questão climática, votaram em 2010.

De acordo com sondagens de boca de urna, um número semelhante de eleitores jovens votou nesta eleição.

Não só não está claro o quanto as mensagens climática deste ano foram eficazes, como também há um debate sobre sua sinceridade.

Newhouse, que assessorou Mitt Romney em 2012, descreveu os ataques dos “negadores” como uma decisão estratégica para desvirtuar candidatos republicanos, em vez de promover uma ação ambiental.

“É um esforço para forçar o candidato para fora da corrente dominante”, avaliou Newhouse.

Poder de veto pode proteger determinação climática da EPA

Um Senado republicano praticamente garante que haverá desafios à agenda climática do presidente Obama e, mais destacadamente, às normas propostas pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) para reduzir as emissões de carbono em usinas elétricas, reunidas no chamado Clean Power Plan, ou Plano de Energia Limpa.

As lideranças republicanas nas duas câmaras do Congresso propuseram projetos de lei para congelar a proposta nesse verão boreal, mas nenhum deles chegou ao plenário do Senado.

Devido à natureza do plano, porém, é improvável que os republicanos sejam capazes de submetê-lo a qualquer mudança real enquanto Obama ainda estiver na Casa Branca, de acordo com analistas.

“A Câmara e o Senado podem votar contra [o Plano Clean Power], mas eles não conseguirão votos suficientes no Senado para emendar a Lei do Ar Puro” sem um veto do presidente, avaliou Bobby McKinstry, presidente da Iniciativa de Mudança Climática e Sustentabilidade na firma de advocacia Ballard-Spahr.

O senador Mitch McConnell (R-Ky.), que deverá ser líder da maioria, havia anunciado anteriormente que usaria o processo de apropriações (dotações) para rechaçar os regulamentos da EPA. Mas qualquer tentativa de minar seriamente a Lei do Ar Puro através de mecanismos orçamentários seria, quase certamente, rejeitada pelo presidente, preparando o palco para uma nova rodada de confrontos orçamentários.

Independente de os republicanos conseguirem ou não agir sobre a regulamentação através do processo legislativo, a ascensão dos republicanos às comissões mais importantes do Senado significa que o Plano de Energia Limpa e a agenda climática do presidente com certeza serão submetidos a um escrutínio mais intenso.

O senador James Inhofe (R-Okla.), que deverá ser o novo presidente da Comissão do Senado para Meio Ambiente e Obras Públicas, é um dos mais declarados céticos climáticos do Congresso.

Como chefe do comitê encarregado da supervisão da EPA, ele estará em posição de censurar severamente autoridades da agência e dar voz às muitas queixas de conservadores sobre a regulamentação ambiental.

O senador Ted Cruz (R-Texas), outro cético climático, está na fila para assumir o comando do subcomitê de Ciência e Espaço da Comissão de Comércio, Ciência e Transportes, que supervisiona tanto a National Science Foundation como o Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca.

A senadora Lisa Murkowski (R-Alasca), que provavelmente se tornará presidente da Comissão do Senado para Energia e Recursos Naturais, reconhece o aquecimento global, mas tem sido crítica dos esforços federais para frear as emissões de carbono.

Com contribuição dos repórteres Elizabeth Harball e Benjamin Hulac.

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