quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

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Congresso republicano compromete meta climática de Obama
Plano para reduzir emissões de CO2 pode enfrentar oposição significativa no novo congresso americano

Crédito: Supermac1961 via flickr
Os candidatos republicanos deputados Cory Gardner do Colorado, Thom Tillis da Carolina do Norte e Joni Ernst de Iowa conquistaram a vitória, apesar dos esforços de grupos ambientalistas 


A fenomenal conquista do Senado americano por republicanos no último dia 4 de novembro põe fim a um domínio de poder de oito anos durante os quais os democratas fizeram várias tentativas fracassadas de cortar as emissões de carbono em meio a acentuadas oscilações de opinião do público sobre mudanças climáticas e crescentes danos causados por desastres naturais.

Cadeiras disputadas em estados chave, como o Colorado e Iowa, passaram para as mãos de candidatos do Partido Republicano [GOP, ou “Good Old Party”, em inglês] que, de vez em quando, fizeram campanha contra a expansão das medidas de proteção ambiental do governo do presidente Barack Obama.

A onda conservadora desestabiliza um escudo democrata que até agora vinha resguardando de ataques republicanos os esforços da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) de finalizar suas normas climáticas à medida que a era Obama se encaminha ao fim em 2016.

Agora é provável que Obama passe seus últimos anos na Casa Branca defendendo, em parte, seu plano de reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa em usinas de energia, enquanto lida, simultaneamente, com prioridades republicanas sobre energia convencional, como a construção do oleoduto Keystone XL, em uma legislatura unida sob a bandeira do Partido Republicano.

Os republicanos garantiram vitórias fáceis em Montana, Dakota do Sul e Virginia Ocidental, todos estados ricos em energia, onde o declínio da popularidade de Obama coincidiu com fins de mandatos democratas.

Só essas conquistas deram aos republicanos metade dos assentos de que precisavam para assumir o controle do Senado.

Os democratas também perderam Arkansas e Iowa, um resultado que havia sido previsto por muitos analistas. Para selar a transferência de poder, os republicanos ainda conseguiram virar a representação no Colorado e na Carolina do Norte ao derrotarem os senadores democratas Mark Udall e Kay Hagan.

Problemas de comparecimento e transmissão de mensagens

A demoção dos democratas suscita questões sobre a eficácia de enfatizar temas como mudança climática para atrair eleitores “abstentos”, inclusive jovens, mulheres solteiras, afro-americanos e hispânicos, às urnas em um ano sem uma eleição presidencial.

Os candidatos republicanos Cory Gardner do Colorado, Thom Tillis da Carolina do Norte e Joni Ernst de Iowa foram vitoriosos apesar dos acentuados gastos por parte de grupos ambientalistas que procuraram retratar atitudes republicanas sobre ciência climática como ignorantes e ansiosas por [encontrar] aliados de combustíveis fósseis.

Dada a cacofonia de mensagens e influências que levam eleitores a preferir um candidato a outro, muitos observadores afirmam ser impossível usar as eleições intermediárias [no meio de um mandato presidencial] deste ano para julgar a eficiência de anúncios publicitários que visaram candidatos céticos (“negadores” ou “deniers”) sobre ciência climática.

Em outras palavras, isso é apenas o início do ataque aos “contestadores”.

“À medida que mais opositores, ou céticos, da ciência climática perdem, futuros candidatos que tenham a mesma posição extrema perceberão que será cada vez mais difícil vencer eleições gerais”, resumiu Daniel Weiss, um vice-presidente sênior da Liga de Eleitores Conservacionistas, que gastou cerca de US$ 30 milhões na eleições.

Essa estratégia nem sempre funciona.

Em Iowa, onde Joni Ernst derrotou o democrata Bruce Braley, um congressista que cumpriu três mandatos, em uma corrida pela cadeira vacante do senador Tom Harkin (D) que está se aposentando, grupos ambientalistas gastaram livremente para atacá-la por se opor aos regulamentos da EPA e questionar a validade da ciência climática.

“Dirijo um carro híbrido, e minha família recicla tudo”, Ernst declarou em um debate com Bruce Braley. “Não conheço a ciência por trás da mudança climática; não posso afirmar de uma ou outra forma qual é o impacto direto, se ele é decorrente de ações do homem ou não”.

Braley a criticou por não estar em contato com agricultores e caçadores de Iowa, sugerindo que Ernst não aceita que “isso é um problema real” com o clima.

Mas a injeção de dinheiro ambiental vinda de fora na corrida eleitoral também deu a Ernst uma abertura para atacar seu oponente, que, segundo ela, foi apoiado por um “ambientalista bilionário extremo”, referindo-se a Tom Steyer da NextGen Climate.

Grupos afiliados com David e Charles Koch [da Koch Industries, uma das maiores empresas privadas dos Estados Unidos, ativa no setor de refinação de petróleo] também teriam gasto pelo menos US$ 3 milhões na disputa em Iowa.

Essa é a primeira alternância de poder no Senado americano desde 2007, quando os democratas assumiram o controle em meio a uma forte oposição à guerra do Iraque sob o comando do então presidente George W. Bush.

De modo muito similar, dessa vez a mudança partidária ocorre na metade do segundo mandato do presidente Barack Obama, em um momento em que sua popularidade está despencando em meio a desafios a suas políticas sobre o Oriente Médio, a economia e as mudanças climáticas.

Colisão de grandes gastadores

A reviravolta ocorreu na esteira de gastos explosivos por parte de grupos externos, inclusive massivas campanhas de publicidade dos setores de interesses energéticos e ambientais.

Segundo se informa, os libertários irmãos Koch teriam gasto dezenas de milhões de dólares contra os democratas através de organizações de defesa conservadoras como a Americans for Prosperity.

Por outro lado, grupos ambientalistas liderados pela NextGen Climate, que pretendia gastar US$ 100 milhões, desencadearam uma série de ondas publicitárias para atacar posições republicanas sobre mudança climática, energia e meio ambiente.

Em termos gerais, essa poderia ser a campanha política intermediária mais cara da história. Recentemente, o Center for Responsive Politics, [um grupo de pesquisa não partidário e sem fins lucrativos que rastreia dinheiro em política e seus efeitos em eleições] estimou que grupos de fora gastariam cerca de US$ 900 milhões na campanha.

Os grupos ambientais priorizaram as corridas ao Senado no Alasca, Colorado, Iowa, Michigan, Carolina do Norte e New Hampshire, só para perder a maioria delas.

O revés ocorre em um momento em que o governo se esforça para concluir seus históricos regulamentos climáticos, antes de Obama deixa o cargo daqui a dois anos.

Os democratas foram prejudicados por fatores como a impopularidade do presidente e o grande número de cadeiras democratas conservadoras em jogo no Senado; mas as vitórias do GOP vieram apesar dos esforços de ambientalistas para fazer do ceticismo climático uma posição politicamente perigosa.

De acordo com estrategistas, é improvável que as perdas democratas do dia 4 servirão como uma “nota ruim” para essas mensagens climáticas agressivas. Muitos ambientalistas estão de olho em 2016, baseados na convicção de que um político que rejeita a ciência climática não conseguirá encontrar tração entre um público nacional republicano.

“Não vejo isso como uma derrota para grupos preocupados com o meio ambiente”, comentou John Weaver, que assessorou o ex-governador de Utah Jon Huntsman durante as primárias presidenciais republicanas em 2012.

Obama também fez uma campanha agressiva para motivar eleitores casuais [nos Estados Unidos o voto não é obrigatório] particularmente veementes sobre mudanças climáticas.

Durante o verão americano, ele falou sobre a seca na Califórnia, os incêndios no estado de Washington — “Grande parte disso tem a ver com a mudança climática”, advertiu ele em um discurso em Chicago — e o “desafio geracional” do aquecimento.

O aquecimento global apareceu regularmente em seus discursos voltados a atrair eleitores “desgarrados”.

Os esforços de Obama e organizações ambientalistas podem ter contribuído para alguns sucessos nas urnas, embora seja impossível determinar a verdadeira causa.

Democratas ganharam uma acirrada disputa senatorialem Michigan. No Alasca, a apuração dos resultados da corrida entre o senador Mark Begich (D) e o republicano Dan Sullivan poderá levar dias, à medida que os votos forem sendo contabilizados em áreas mais remotas.

Mas nos dois casos, grupos ambientalistas descreveram os candidatos republicanos como céticos climáticos.

Em Michigan, o deputado Gary Peters (D) venceu Terri Lynn Land (R) para substituir o senador Carl Levin (D) que está se aposentado; durante a campanha, Peters falou sobre seu apoio a uma ação climática e não descartou a possibilidade de adoção da política “cap and trade” [“limite e negociação” de carbono] no futuro.

Na noite de 4 de novembro, Gene Karpinski, presidente da Liga de Eleitores Conservacionistas (LCV, em inglês), comentou que Peters ajudará a “enfrentar a crise climática”. A LCV gastou US$ 2 milhões na campanha eleitoral.

Na Câmara dos Deputados, o democrata Pete Aguilar venceu uma disputa apertada no 31º Distrito da Califórnia contra o republicano Paul Chabot, a quem grupos ambientalistas descreveram como “contestador climático”. Mas o deputado Scott Peters (D) perdeu por pouco para o republicano Carl DeMaio em seu distrito de San Diego. Em campanha, ele destacou seu apoio a normas que limitam emissões de carbono em usinas elétricas.

Em termos gerais, os republicanos ampliaram sua maioria na Câmara para 241.

Voto jovem permanece em casa

Ao todo, a aliança de grupos ambientalistas, formada pelo Environmental Defense Action Fund, NextGen Climate, Natural Resources Defense Council Action Fund, LCV e o Sierra Club afirmou ter atingido 16 milhões de eleitores “perdidos” por meio de prospecção, telefonemas e mala-direta. De acordo com os grupos, a aliança gastou um total de US$ 85 milhões.

Alguns pesquisadores políticos acreditam que essa eleição marca uma nova era, e não o fim, de mensagens “contestadoras”, ou negadoras sobre mudanças climáticas. Em parte isso se deve ao fato de ser quase impossível saber qual mensagem de fato afetou os eleitores enquanto eles eram bombardeados por uma tempestade de anúncios publicitários, panfletos e pontos de discussão.

Os anúncios de ataque perderam ímpeto em alguns estados, onde a impopularidade de Obama e o matiz do eleitorado contribuíram para ganhos republicanos. Mas não espere uma ausência de acusações “contestadoras ou negadoras” em 2016, alertou Neil Newhouse, um pesquisador que assessorou Mitt Romney na eleição presidencial de 2012.

Os candidatos e seus aliados sabem quem visar. A parte difícil é conseguir que os eleitores respondam.

Nas últimas eleições legislativas intermediárias, em 2010, havia 45 milhões de pessoas com menos de 30 anos elegíveis para votar. Menos de 11 milhões o fizeram.

Isso corresponde a um índice de comparecimento de 24% para um grupo que está entre os mais apaixonados por mudanças climáticas, inferior a qualquer outro grupo etário em pelo menos 14 pontos percentuais.

Mais que o dobro de eleitores com mais de 65 anos, que tendem a ser menos alinhados com a questão climática, votaram em 2010.

De acordo com sondagens de boca de urna, um número semelhante de eleitores jovens votou nesta eleição.

Não só não está claro o quanto as mensagens climática deste ano foram eficazes, como também há um debate sobre sua sinceridade.

Newhouse, que assessorou Mitt Romney em 2012, descreveu os ataques dos “negadores” como uma decisão estratégica para desvirtuar candidatos republicanos, em vez de promover uma ação ambiental.

“É um esforço para forçar o candidato para fora da corrente dominante”, avaliou Newhouse.

Poder de veto pode proteger determinação climática da EPA

Um Senado republicano praticamente garante que haverá desafios à agenda climática do presidente Obama e, mais destacadamente, às normas propostas pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) para reduzir as emissões de carbono em usinas elétricas, reunidas no chamado Clean Power Plan, ou Plano de Energia Limpa.

As lideranças republicanas nas duas câmaras do Congresso propuseram projetos de lei para congelar a proposta nesse verão boreal, mas nenhum deles chegou ao plenário do Senado.

Devido à natureza do plano, porém, é improvável que os republicanos sejam capazes de submetê-lo a qualquer mudança real enquanto Obama ainda estiver na Casa Branca, de acordo com analistas.

“A Câmara e o Senado podem votar contra [o Plano Clean Power], mas eles não conseguirão votos suficientes no Senado para emendar a Lei do Ar Puro” sem um veto do presidente, avaliou Bobby McKinstry, presidente da Iniciativa de Mudança Climática e Sustentabilidade na firma de advocacia Ballard-Spahr.

O senador Mitch McConnell (R-Ky.), que deverá ser líder da maioria, havia anunciado anteriormente que usaria o processo de apropriações (dotações) para rechaçar os regulamentos da EPA. Mas qualquer tentativa de minar seriamente a Lei do Ar Puro através de mecanismos orçamentários seria, quase certamente, rejeitada pelo presidente, preparando o palco para uma nova rodada de confrontos orçamentários.

Independente de os republicanos conseguirem ou não agir sobre a regulamentação através do processo legislativo, a ascensão dos republicanos às comissões mais importantes do Senado significa que o Plano de Energia Limpa e a agenda climática do presidente com certeza serão submetidos a um escrutínio mais intenso.

O senador James Inhofe (R-Okla.), que deverá ser o novo presidente da Comissão do Senado para Meio Ambiente e Obras Públicas, é um dos mais declarados céticos climáticos do Congresso.

Como chefe do comitê encarregado da supervisão da EPA, ele estará em posição de censurar severamente autoridades da agência e dar voz às muitas queixas de conservadores sobre a regulamentação ambiental.

O senador Ted Cruz (R-Texas), outro cético climático, está na fila para assumir o comando do subcomitê de Ciência e Espaço da Comissão de Comércio, Ciência e Transportes, que supervisiona tanto a National Science Foundation como o Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca.

A senadora Lisa Murkowski (R-Alasca), que provavelmente se tornará presidente da Comissão do Senado para Energia e Recursos Naturais, reconhece o aquecimento global, mas tem sido crítica dos esforços federais para frear as emissões de carbono.

Com contribuição dos repórteres Elizabeth Harball e Benjamin Hulac.

Scientific American Brasil

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