quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mudança do clima é apenas um dos problemas ambientais

A humanidade terá que se adaptar à mudança do clima, como nossa espécie já fez no passado 

NASA/Trent Schindler and Matt Rodell
Depleção de águas subterrâneas

Os satélites que compõem o Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE) podem ver a diminuição dos reservatórios de águas subeterrâneas de grandes aquíferos como consequência das secas e da atividade humana. Através dos dados de GRACE, os cientistas descobriram que os níveis de águas subterâneas na Índia caiu 33 centrímetros na região entre os anos de 2002 e 2008. e concluíram que a perda decorre quase exclusivamente da atividade humana. 

“A realidade deve ter precedência sobre as relações públicas, porque a natureza não pode ser enganada” – do físico Richard Feynman, no relatório final sobre o desastre daChallenger

Desde o início de sua existência na Terra, a vida tem que lidar com a mudança ambiental, especialmente a mudança climática. Espécies se adaptam ou são extintas, e as duas coisas já aconteceram.

Para formas de vida com nossos tipos de células – eucarióticas, o tipo que tem organelas distintas – a existência média de uma espécie é de aproximadamente um milhão de anos e, em média, uma espécie é extinta a cada ano, pelo menos em se tratando das espécies que batizamos e conhecemos, incluindo as que só conhecemos de registros fósseis. 

Organismos se ajustam à mudança ambiental de três maneiras, da mais rápida para a mais lenta: comportamentalmente, fisiologicamente, e geneticamente.

O ecologista Larry Slobodkin costumava demonstrar as duas primeiras fazendo uma brincadeira durante suas palestras ao jogar um pedaço de giz para um de seus alunos. O aluno desviava ou pegava o giz e Larry ensinava que essa era a resposta comportamental, a primeira e mais rápida. Passados 20 segundos, o aluno corava demonstrando o segundo, o fisiológico.

As reações, explicava ele, não eram apenas relativamente rápidas, mas usavam pouca energia em uma população. Se esses ajustes não fossem bem sucedidos, a composição genética de uma população poderia mudar e a transmissão de genes à geração seguinte poderia dar origem indivíduos com características melhor ajustadas ao ambiente modificado, num processo obviamente muito mais lento.

Organismos individuais móveis migram como forma de se ajustar ao clima. Plantas e outras espécies não-móveis se ajustam com sementes ou outros propágulos que se deslocam facilmente. Vento, água e animais fornecem a maior parte do transporte.

Em qualquer população existe uma mistura de tipos genéticos e, como explicou Darwin há muito tempo, aqueles melhores adaptados ao clima do momento deixam uma prole maior do que os menos adaptados, e com o tempo uma população evolui para se adequar ao novo clima.

Mas esse ajuste genético leva tempo, e como o clima está sempre mudando, pode ser que a qualquer momento uma população esteja se ajustando geneticamente a um clima que esteve presente, mas que passou ou estava passando. Isso era, e é, uma dança eterna. Populações nunca estão exatamente em harmonia perfeita com seu ambiente atual.

Se a taxa de mudança ambiental é rápida demais, populações não conseguem se adaptar e são extintas. Lidar com mudanças ambientais sempre foi parte de estar vivo.

O homem primitivo era parte dessa dança entre vida e ambiente. O Homo erectus, o primeiro de nosso tipo a deixar a África, provavelmente teria migrado naturalmente. Eles podem não ter pensado nisso como sendo uma migração em sentido moderno; iam para onde o ambiente, incluindo as fontes de alimento e água, era melhor. A mudança ambiental era simplesmente natural, e mudar com ela também era.

Com o início da civilização e a construção de abrigos que podiam durar muito tempo, e com investimentos de tempo e esforço em campos agrícolas, bem como a descoberta de fontes específicas de minerais e a construção de minas para obtê-los, a vida das pessoas mudou e surgiu o desejo de estabilidade .

O estabelecimento dos direitos de propriedade e fronteiras nacionais (começando com fronteiras territoriais estabelecidas por tribos) aumentaram a necessidade e o desejo pela constância de local e ambiente.

Pode-se argumentar que a nossa espécie é a que mais precisa e mais deseja a constância, e que por isso formou visões de mundo que não apenas requerem a constância ambiental, mas que a transformaram em uma crença fundamental, um modo de vida, uma série de mitos. 

Quanto mais tecnológica e legalmente avançada é uma civilização, maior é sua necessidade e desejo por estabilidade ambiental, por um equilíbrio da natureza. Daí nosso dilema moderno frente à mudança climática.

Em vez de alegar que o mundo é constante exceto por nossa pecaminosa interferência nele, precisamos reconhecer e encontrar maneiras de conviver com a mudança ambiental.

Isso pode incluir fazer nosso melhor para deter ou desacelerar essa mudança, como fazemos no curto prazo com a irrigação agrícola, estabilizando a “precipitação”, por assim dizer.

Quanto mais trabalhamos para forçar uma constância ambiental para nossos arredores, mais frágil se torna a constância e maior é o esforço e a energia que elas requerem.

O uso de água do subsolo para a irrigação de plantações ilustra essa fragilidade. Grandes aquíferos que precisaram de muitos milhares de anos para se formar estão sendo depletados pela irrigação de plantações em intervalos de tempo comparativamente curtos – décadas ou séculos.

Um grande exemplo dessa depleção é o aquífero Ogallala (também chamado de aquífero das Planícies Altas), que se estende da Dakota do Sul até o Texas. Ele armazena uma quantidade imensa de água, e é a principal fonte hídrica da área. Seu uso começou nos anos 1940. Hoje a água é retirada até 20 vezes mais rápido do que a reposição naturalmente reposta. No sudoeste do Kansas e em um trecho de terra (panhandle) do Texas ocidental, diz-se que os suprimentos podem durar apenas mais uma década.

Lower Cimarron Springs, famosa no século 19 como fonte de água ao longo do Caminho de Santa Fé, secou décadas atrás devido ao bombeamento de água do solo. Milhões de dólares serão necessários para encontrar fontes alternativas. 

Atingir a estabilidade de curto prazo ao custo da fragilidade de longo prazo é uma troca tem um preço. Faz mais sentido que as primeiras civilizações, como Egito e Pérsia, estivessem mais estabelecidas a jusante de um sistema de rios com um fluxo que variava anualmente, mas era relativamente constante comparado a grande parte das terras circundantes. 

Quando dou palestras sobre as harmonias discordantes da natureza e sobre minhas opiniões mutantes sobre o aquecimento global, uma resposta comum é “Por que se importar em apontar isso? Todo mundo acredita no aquecimento global, e fazer alguma coisa sobre isso não estraga nada e só pode trazer benefícios”.

Em nosso mundo real, a opção por uma ação significa que outras ações não serão tomadas. Estamos bem conscientes, nesses dias de limites mundiais de capital e financiamento que devemos escolher cuidadosamente o que fazer. Esse é o problema.

Falta aos debates sobre o aquecimento global situá-lo dentro do conjunto de grandes problemas ambientais e estabelecer prioridades com base no que pode ser feito, no que precisa de ações mais imediatas, e no que é mais importante.

Além dos possíveis efeitos sobre o clima, atividade humana está reduzindo a diversidade biológica geral através de atitudes que incluem (não em ordem de prioridade) a destruição de habitat; a super-exploração de recursos renováveis vivos; a poluição química; a remoção de água do subsolo; a depleção de recursos minerais necessários à vida, especialmente fontes de fosfato; e a introdução de espécies exóticas que prejudicam outras espécies e são indesejáveis de nosso ponto de vista, e simplesmente fazem com que outras espécies fiquem ameaçadas de extinção.

Esses são problemas do tipo “aqui, agora”. Além disso, às vezes ações que supostamente ajudarão a mitigar ou a reduzir o aquecimento global criam ou pioram outros problemas ambientais.

Por exemplo, na Indonésia, 44 milhões de acres (18 milhões de hectares) de florestas tropicais foram cortados para plantar palmeiras para produzir óleo de palma que será usado como biocombustível. Isso é justificado como sendo bom para o ambiente porque deve reduzir emissões de gases estufa e, portanto, deve reduzir a taxa de aquecimento global. Mas essa destruição de habitat põe orangotangos e tigres da Sumatra, já ameaçados de extinção, ainda maisem perigo.

Enquanto poucas, se é que alguma, organizações ambientais serão enganadas pela alegação de que isso será benéfico para o ambiente, a União Europeia e o governo da Malásia estão considerando o que fazer com o biocombustível dessas plantações, levando a sério a possibilidade de que usar esse combustível em carros e caminhões na Europa contrabalanceará parte da produção de gás estufa desses veículos e que por isso é justificada e, em geral, ambientalmente segura.

Isolar o aquecimento global de outros problemas ambientais é uma abordagem que privilegia um fator, o que tem sido muito comum nas decisões de política ambiental.

A Clean Water America Alliance, por exemplo, lembra que o uso de recursos hídricos requer energia considerável, mas o uso de água e de energia são tratados como problemas separados na maior parte das análises de políticas ambientais.

Como o aquecimento global recebe tanta atenção e tanto financiamento, abordar um único fator é um aspecto particularmente importante da análise política desse problema.

Em muitos casos, ações que ajudam a resolver outro problema ambiental também podem ser benéficas para reduzir efeitos indesejáveis da mudança climática.

Discuto em Powering the Future: A Scientist’s Guide to Energy Independence (Energizando o Futuro: O guia de um cientista para a independência energética, literalmente), por exemplo, que o abandono de combustíveis fósseis em direção à energia solar e eólica reduz a contribuição humana de gases estufa para a atmosfera enquanto também reduz a destruição de habitat (da mineração de combustíveis fósseis) e a poluição do ar, da água, e dos oceanos (da mineração, processamento e queima desses combustíveis), beneficiando a biodiversidade e a saúde e bem-estar humanos.

O mesmo pode ser dito de um afastamento de usinas nucleares baseadas em fissão, cujas substâncias tóxicas duram até milhões de anos (o governo dos Estados Unidos está procurando um sinal de alerta que mantenha as pessoas longe de depósitos de resíduos nucleares por 10 mil anos).

A politização e as crenças movidas por ideologias sobre o aquecimento global dos dois lados do problema evitam um exame ponderado e racional de onde ações para mitigar o aquecimento global poderiam se encaixar em um conjunto de prioridades.

De fato, simplesmente alegar que essa priorização é possível já leva a uma mudança em pontos de vista e provavelmente frustrará muitos que acreditam que o aquecimento global já é uma realidade presente e futura com efeitos desastrosos.

Precisamos ser capazes de colocar a discussão em um contexto racional. Entre outros aspectos desse contexto, nós precisamos, como escreveu Thomas Friedman em 14 de setembro de 2011 no New York Times, “começar a dar passos, como incitam nossos cientistas, ‘para controlar o inevitável e evitar o incontrolável”. Não apenas na mudança climática, mas para estabelecer uma abordagem integrada e multifatorial para nossos maiores problemas ambientais.

Excerto de The Moon in the Nautilus Shell: Discordant Harmonies Reconsidered, por Daniel B. Botkin. Oxford University Press, 2012. Copyright © 2012. Reimpresso com permissão. 
Scientific American Brasil

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Astronautas fotografam vulcão em erupção visto do espaço

DE SÃO PAULO
Astronautas a bordo da ISS (Estação Espacial Internacional) obtiveram a impressionante imagem à direita: um flagrante da erupção do vulcão Ulawun, em Papua-Nova Guiné (Sudeste Asiático).

O Ulawun, que tem 2.334 metros de altura e está em atividade quase constante nos últimos anos, é visto no lado esquerdo da imagem, soltando uma pluma de vapor e cinza vulcânica que se estende rumo à ilha de Lolobau (embaixo na imagem).
Nasa/AFP
Fotografia do vulcão Ulawun, em erupção em Papua Nova Guiné

Os papuanos apelidaram o Ulawun de "o Pai", enquanto outro vulcão vizinho, o Bamus, é conhecido como "o Filho". Na imagem, o Bamus pode ser visto à direita, coberto por nuvens brancas.

Calcula-se que a ferocidade do Ulawun seja responsável por lançar na atmosfera cerca de sete quilos de SO2 (dióxido de enxofre) por segundo --cerca de 2% das emissões mundiais. A substância é responsável por criar uma espécie de "guarda-sol" na atmosfera, causando um resfriamento local e, em alguns casos, global.
Folha de S. Paulo

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Grupo encontra possível 'super-Terra' habitável

SALVADOR NOGUEIRA

Um grupo internacional de pesquisadores diz ter descoberto um possível planeta habitável fora do Sistema Solar.

Mas é melhor ir com calma: o que o novo estudo faz melhor é mostrar como é delicado o trabalho de procurar exoplanetas.

A descoberta foi feita usando dados do espectrógrafo Harps, do ESO (Observatório Europeu do Sul), o mais preciso do mundo para buscar planetas extrassolares.
Ilustração J.Pinfield/Universidade de Hertfordshire 
Concepção artística do novo candidato a planeta em órbita da estrela HD 40307, a 44 anos-luz da Terra

Contudo, o trabalho não é fruto de uma nova leva de observações, mas de dados antigos, garimpados dos arquivos da organização.

A estrela, designada HD 40307, é parecida com o Sol, mas um pouco menor e mais fria (cerca de 70% da massa solar), localizada a 44 anos-luz da Terra. (Um ano-luz equivale à distância que a luz percorre em um ano, cerca de 9,5 trilhões de quilômetros.)

Com as observações originais, pesquisadores europeus já haviam descoberto três planetas, todos muito próximos da estrela para abrigar água em estado líquido --principal qualidade para a habitabilidade.

Usando uma nova técnica de análise, a equipe liderada por Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e Guillem Anglada-Escudé, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, conseguiu extrair sinais de outros três mundos orbitando HD 40307.

O mais interessante deles completa sua órbita (um ano naquele mundo) em cerca de 200 dias terrestres. Como a estrela é um pouco menos brilhante que o Sol, ele está na posição certa para abrigar água em estado líquido na superfície.

E o melhor de tudo: ele tem cerca de sete vezes a massa da Terra, o que o coloca numa categoria de planeta que possivelmente tem solo rochoso --as "super-Terras". É interessante notar que não há análogo desse tipo de mundo no Sistema Solar.
Editoria de Arte/Folhapress 

BAMBOLÊ ESTELAR

A técnica mais consolidada --e usada pelo Harps-- para detectar planetas é observar pequenas modificações na luz da estrela, causadas por seu movimento. Se o astro está se aproximando de nós, sua luz fica mais azulada. Se ele está se afastando, a luz fica mais avermelhada.

Essa variação, por sua vez, pode ser correlacionada com o efeito gravitacional que possíveis planetas --pequenos demais para serem observados diretamente-- causam na estrela, conforme giram em suas órbitas.

Só que a coisa fica mais complicada que isso. É preciso extrair outros efeitos (como variações naturais no brilho da estrela) e conseguir separar os efeitos individuais de cada planeta.

O novo software desenvolvido pelos pesquisadores é um avanço no sentido de melhorar a interpretação desses dados, aumentando a precisão das descobertas.

Só assim eles puderam encontrar o possível planeta habitável, designado HD 40307g. Mas o resultado não é incontroverso, a ponto de os próprios descobridores tratarem o objeto como "candidato", ainda carecendo de confirmação mais sólida.

Astrônomos não envolvidos com o achado se mostram céticos. "O fato de que eles colocam em dúvida no trabalho a própria natureza da descoberta já diz tudo", afirma Cassio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos (SP). "Para mim é o desejo de encontrar um planeta rochoso na zona habitável em uma distância que alguma missão seja capaz de alcançar em escalas de tempo razoáveis em alguma época futura."

A boa notícia é que, a 44 anos-luz daqui, de fato esse possível planeta estaria ao alcance de uma futura geração de telescópios espaciais, como o Terrestrial Planet Finder, da Nasa, e o Darwin, da ESA, que buscarão detectar diretamente a luz vinda desses astros.

"É o primeiro planeta na zona habitável no regime de massa das "super-Terras" que poderia ser alvo desses observatórios planejados", dizem Tuomi e seus colegas, no artigo aceito para publicação no periódico "Astronomy & Antrophysics".

Com a luz, seria possível identificar, por exemplo, a composição atmosférica desses mundos. Se HD 40307 tiver grandes quantidades de oxigênio em sua atmosfera, é certo que o planeta não só é habitável, como também é efetivamente habitado (pelo menos por criaturas capazes de fotossíntese, como plantas).
Folha de S. Paulo

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Estudo acha vida em salmoura isolada por 20 m de gelo na Antártida

DO EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

Poucos ambientes parecem menos promissores para a vida do que uma salmoura resfriada a -13 graus Celsius, mas um ambiente desse tipo é lar de uma diversificada comunidade de bactérias no interior da Antártida.

Mais intrigante ainda, esse ecossistema improvável parece estar isolado de fontes externas de energia e nutrientes há pelo menos 3.000 anos, afirmam os cientistas americanos que o exploraram pela primeira vez em artigo na revista científica "PNAS".

Alison Murray e seus colegas do Centro de Pesquisas do Deserto em Reno (sudoeste dos EUA) acharam as bactérias depois de cuidadosas perfurações no manto de pelo menos 20 m que recobre o lago Vida (veja mapa abaixo).

Não se sabe exatamente a profundidade do lago. Também não está claro se, abaixo da grossa camada de gelo, existiria algo parecido com uma lagoa líquida.

O que dá para dizer é que, abaixo de certa profundidade, a placa sólida de gelo começa a dar lugar a uma rede de canais por onde corre a salmoura onde vivem as bactérias do lago.
Alison Murray/Divulgação 
Lago Vida, corpo d'água congelado em vale no interior da Antártida

O líquido não congela totalmente, mesmo com a temperatura bem abaixo de zero, por causa da elevada quantidade de cloreto de sódio (o popular sal de cozinha) dissolvida nele. Por causa disso, essa água é seis vezes mais salgada que a do mar.

Levemente amarelo, o líquido contém tanto ferro que fica laranja-escuro quando exposto à atmosfera (dentro do lago, praticamente não existe oxigênio). Também há elevadas quantidades de enxofre e nitrogênio ali.

Mesmo assim, análises de DNA e observações de amostras da salmoura feitas com microscópios revelaram a presença de exemplares de pelo menos oito filos bacterianos (um filo é um agrupamento que reúne grande diversidade de espécies; o dos cordados, por exemplo, abrange todos os vertebrados, do homem aos peixes).

Tudo indica que várias dessas espécies nunca foram detectadas antes. Há sinais de que elas estão sobrevivendo em "marcha lenta" desde que ficaram isoladas ali -sem uma explosão populacional, mas mantendo seu metabolismo numa taxa baixa e relativamente constante.

O mistério é como elas estariam fazendo isso. Uma possibilidade é que estejam se aproveitando, por exemplo, do hidrogênio produzido pelas rochas da região, em contato com o lago, para produzir alguma energia.

Vai ser preciso mais trabalho para entender o que está ocorrendo no lago Vida, mas a descoberta já dá fôlego a uma busca bem mais ampla: a caçada por micróbios durões fora do nosso planeta.

É que as condições do lago antártico não são tão diferentes assim das que existem em oceanos congelados de locais como Europa, uma das luas de Júpiter. (Reinaldo José Lopes)
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
Folha de S. Paulo

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Universo está parando de fabricar novas estrelas, mostra levantamento

SALVADOR NOGUEIRA

Já não se fazem mais estrelas como antigamente. Um novo estudo mostra que 95% de todas elas já nasceram.

Também, pudera. Lá se vão 13,7 bilhões de anos, dos quais durante todo o tempo, salvo os 500 milhões de anos iniciais, o Cosmos vem fabricando novas estrelas.

A essa altura, a matéria-prima para a formação estelar --nuvens de gás-- está em vias de se tornar insuficiente para novas fornadas.

O trabalho, sob a batuta de David Sobral, da Universidade de Leiden (Holanda), teve observações de três diferentes instalações: o Ukirt e o Subaru, no Havaí, e o VLT (Very Large Telescope), no Chile.

Graças a essa combinação, astrônomos conseguiram observar diversas amostras de galáxias. Embora seja difícil distinguir estrelas individuais nesses casos, é possível analisar o espectro (a "assinatura" de luz) e identificar o nível de formação estelar.
Editoria de Arte/Folhapress 

E, como a luz desses objetos que chega até nós tem velocidade finita, viajando a 300 mil km/s, quanto mais longe olhamos, mais velha é a luz (o que permite estudar estados antigos do Universo).

"Obtivemos amostras grandes e robustas de galáxias que correspondem a 4,2 bilhões, 7 bilhões, 9,2 bilhões e 10,6 bilhões de anos atrás", diz Sobral. Seu artigo foi aceito pela publicação "Monthly Notices of the Royal Astronomy Society".

A referência buscada no espectro é uma emissão na chamada linha H-alfa do hidrogênio. "É a mais confiável de todas", afirma Laerte Sodré Junior, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.

Segundo ele, as principais conclusões estão de acordo com outros trabalhos. "Todos eles sugerem que a 'época de ouro' da formação estelar ocorreu há muito tempo e, essencialmente, em todo o intervalo de tempo coberto pelo estudo, a taxa de formação estelar vem decrescendo."

Não deixa de surpreender o fato de que restam só 5% para que o "download de estrelas" seja completado. Dali para frente, o Universo terá de se resignar a, calma e lentamente, se encaminhar para um tedioso apagar das luzes. Isso se a tendência for mantida, diz Sodré.
Folha de S. Paulo

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Brasileiros ajudam a desvendar segredos de 'irmão' de Plutão

SALVADOR NOGUEIRA

Um grupo internacional de pesquisadores, com importante participação brasileira, encontrou algumas surpresas ao fazer observações de um dos "irmãos menores" de Plutão, um astro chamado Makemake. Os achados, por sua vez, podem ajudar a compreender melhor o que caracteriza essa classe de objetos localizados nos confins do Sistema Solar.

Descoberto em 2005, esse planeta anão é aproximadamente esférico (suavemente oval) e tem cerca de 1.450 km de diâmetro. Mas a grande surpresa do novo estudo é que, diferentemente de Plutão, Makemake não tem uma tênue atmosfera global.

A técnica usada nas observações depende tanto de perícia quanto de sorte. Como esses astros estão muito distantes e são muito pequenos -- os dois maiores conhecidos são Plutão e Éris, ambos com cerca de 2.300 km de diâmetro --, os astrônomos usam um truque para descobrir mais sobre eles. Entra em cena o fenômeno das ocultações estelares.

Funciona assim: observando cuidadosamente a trajetória desses planetas anões pelo céu, eles calculam se e quando eles vão passar à frente de uma estrela mais distante, com relação aos telescópios na Terra. Um grupo de pesquisadores do Observatório Nacional, liderado por Roberto Vieira Martins, produz esses cálculos, com base em observações feitas no ESO (Observatório Europeu do Sul).
Nick Risinger/ESO/L. Calçada/skysurvey.org 
Concepção artística do planeta anão Makemake

Então, uma vez feita a previsão de quando o objeto irá passar à frente da estrela, astrônomos do mundo inteiro ficam de prontidão em seu telescópio para observar o fenômeno.

Nem todos conseguem observá-lo (assim como ocorre com um eclipse, nem todo mundo no planeta está precisamente posicionado para vê-lo direito), mas quem tentou participa do estudo. Por isso são 56 os autores do trabalho sobre o Makemake, que ganhou as páginas da última edição da revista "Nature".

Ao analisar a luz da estrela que passou por trás do objeto, é possível inferir uma porção de coisas sobre ele, como o diâmetro quase exato e a presença de uma atmosfera (quando não há, a luz da estrela "some" num piscar de olhos na ocultação; quando há, essa transição é mais suave, conforme as camadas atmosféricas vão gradualmente bloqueando a luz).

Após as observações, que incluem dados de qualidade coletados no Observatório Pico dos Dias, em Itajubá (MG), ficou patente que Makemake entra na categoria dos que não têm atmosfera global -- embora os pesquisadores não descartem que, em algumas regiões, ainda exista uma suave camada gasosa sobre a superfície.

Foi uma surpresa. "Ele era um dos melhores candidatos a apresentar uma tênue atmosfera", afirma Felipe Braga Ribas, do Observatório Nacional, um dos autores do estudo. "A não detecção é uma informação preciosa para entendermos os processos físicos aos quais esses corpos são submetidos."

Comparando os dados de ocultações obtidos com Plutão, Éris e Makemake, os pesquisadores apresentam a hipótese de que, entre os objetos da população que existe logo além da órbita de Netuno, aqueles que estão mais próximos do Sol devem ter uma leve atmosfera. Já os mais distantes provavelmente estão submetidos a tamanho frio que a atmosfera "colapsa" sobre a superfície, solidificando-se.

Isso explicaria, por exemplo, porque Éris (o mais distante dos três), além de não ter atmosfera detectável, é tão mais brilhante que Plutão. Provavelmente sua antiga atmosfera colapsou, produzindo uma camada nova de gelo "limpo" sobre a superfície.
Folha de S. Paulo

domingo, 9 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Negociações climáticas da ONU estendem Protocolo de Kyoto até 2020

DA REUTERS, EM DOHA

Quase 200 países estenderam neste sábado o prazo para um fraco plano da ONU (Organização das Nações Unidas) para combater o aquecimento global até 2020.

A extensão de oito anos do Protocolo de Kyoto para além de 2012 o mantém ativo como o único plano que gera obrigações legais com o objetivo de enfrentar o aquecimento global. Mas Rússia, Japão e Canadá abandonaram o contrato, o que faz com que as emissões de gases do efeito estufa de países que assinam o tratado representem apenas 15% do total global.

"Eu agradeço a todos pela boa vontade e pelo trabalho duro em fazer esse processo avançar", disse o presidente da conferência, Abdullah bin Hamad Attiyah, ao bater repetidamente o martelo em um pacote de decisões no final da maratona de negociações.

Mas o delegado de Moscou, Oleg Shamanov, disse que a Rússia, Belarus e Ucrânia se opõem à decisão de estender o Protocolo de Kyoto para além de 2012. A Rússia que limites menos rígidos sobre as licenças de emissões de carbono não utilizado, conhecido como ar quente.

Um pacote de decisões, conhecida como "Porta de Entrada Climática de Doha", também adiaria até 2013 uma disputa sobre demandas de nações desenvolvidas por mais recursos para ajudá-las a lidar com o aquecimento global.

Todos os lados dizem que as decisões tomadas em Doha ficaram aquém das recomendações de cientistas a favor de medidas mais duras para evitar mais ondas de calor, tempestades de areia, enchentes, secas e aumento do nível dos oceanos.

A versão preliminar do acordo estenderia o Protocolo de Kyoto por oito anos. Ele obrigou cerca de 35 nações industrializadas a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em média 5,2% frente aos níveis de 1990 durante o período de 2008 a 2012.
Folha de S. Paulo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje

'Resultado da Rio+20 podia estar em papel higiênico', diz chefe da Eco-92

JULIANA DAL PIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO


Partes do relatório final da conferência Rio+20, realizada pela ONU em junho no Rio, foram tão fracas que poderiam ter sido impressas "em papel higiênico".

A avaliação foi feita ontem pelo canadense Maurice Strong, 75, secretário-geral da Eco-92, conferência sobre ambiente, também da ONU, realizada na cidade há 20 anos. A Eco-92 acabou se tornando um marco dos encontros ambientais globais.

"A parte oficial dos governos [na Rio+20] foi muito fraca, decepcionante. Por outro lado, a sociedade civil foi muito útil, com cerca de 50 mil pessoas presentes. Mas, para deixar as coisas claras, eu acho que o relatório final podia até ser impresso em papel higiênico", disse.
Wallace Teixeira - 15.jun.2012/Fotoarena
O canadense Maurice Strong durante a conferência Rio+20

Em entrevista após palestra no Conselho Empresarial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Strong disse que, no relatório final, governos chegaram até mesmo a voltar atrás em pontos que já haviam sido definidos nas reuniões preparatórias.

"Infelizmente, em alguns momentos, a Rio+20 não esteve nem perto de ser discutida da maneira como ocorreu em 1992", queixou-se.

Para Strong, os governantes mundiais estavam -e ainda estão- mais preocupados com suas crises internas.

Durante a palestra, o ativista elogiou os esforços brasileiros no combate às mudanças climáticas e citou o investimento na produção de etanol como exemplo.

Apesar dos fracos resultados da Rio+20, avalia Strong, a cidade se tornou a capital mundial do ambiente e da sustentabilidade.

O secretário-geral da Eco-92 disse ainda que pensa em instalar na cidade a sede da Earth Council Alliance, entidade criada por ele há 20 anos, que busca pressionar os governos a respeito de questões climáticas.

Mas seu maior esforço atual, disse, é para que Brasil e China se aproximem e façam parcerias sustentáveis.

Em sua opinião, por terem economias complementares, os dois países podem criar para o mundo um novo conceito de sustentabilidade.

Folha de S. Paulo

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Conferência do clima pode sepultar extensão do Protocolo de Kyoto

GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A DOHA (QATAR)


A COP-18, décima-oitava conferência do clima da ONU, que acontece até o fim da semana em Doha, no Qatar, entra nesta segunda-feira (3) em sua fase decisiva ainda cercada de incertezas quanto ao principal objetivo do encontro: estabelecer uma extensão do Protocolo de Kyoto, hoje o único acordo internacional de proteção climática em vigor.

O panorama geral das negociações foi resumido pela secretária-executiva do evento, Christiana Figueres. Apesar de iniciar seu balanço da primeira semana da convenção de maneira otimista, ela admitiu que muita coisa inevitavelmente ficará de fora.
Karim Jaafar/AFP 
Manifestantes pedem ação climática em Doha, no Qatar

"O que vier de Doha não será no nível de ambição que precisamos", resumiu Figueres sobre as negociações, que envolvem quase 200 países.

Diferentemente da COP-15, que aconteceu em Copenhague em 2009 e foi cercada de muita expectativa sobre um grande acordo global, a atual cúpula já nasceu um tanto morna.

No encontro do ano passado, em Durban, na África do Sul, os países "concordaram em concordar" com a criação de um pacto global de redução de emissões, que englobaria países ricos e pobres. O acordo, porém, ficou para começar a ser definido em 2015, para entrar em vigor até 2020.

Para não deixar o mundo sem nenhuma meta de redução de emissões de gases do efeito estufa, as partes optaram pelo prolongamento do Protocolo de Kyoto, que oficialmente deixa de valer no próximo dia 31.

Além de decidir até quando esse "puxadinho" do acordo valerá -- se até 2017 ou até 2020--, ficou para o encontro de agora a definição do quanto será reduzido nas emissões.

De qualquer maneira, o acordo já nasce com um alcance limitado. Só a União Europeia e a Austrália, responsáveis por cerca de 15% das emissões globais de carbono, concordaram em participar com ações concretas de redução de emissões do que já está sendo chamado, nos bastidores da COP-18, de "Kyotinho".

Em sua criação, em 1997, o protocolo comprometeu as nações desenvolvidas a reduzir suas emissões de gases-estufa em 5,2%, entre 2008 e 2012, em comparação aos níveis de 1990.

O acordo, porém, já foi criado com ausências importantes. Os EUA não ratificaram o pacto, e nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que hoje respondem por boa parte das emissões mundiais, não tinham metas imediatas.

Hoje, o maior impasse para a extensão é puxado por Rússia, Polônia e Ucrânia. Esses países emitiram menos do que poderiam na primeira fase de Kyoto e agora querem levar essas "sobras" no potencial de emissões, o chamado "hot air", para a segunda fase do acordo, o que desagrada boa parte dos negociadores.
Editoria de Arte/Folhapress 

Canadá e Japão, que participaram da primeira etapa, já avisaram que não vão aderir ao novo período.

EFEITO DOMINÓ

Embora vá ter um alcance limitado, a extensão das metas de Kyoto é importante na construção do futuro pacto global para redução de emissões.

Especialistas temem que um fracasso nessa negociação influencie negativamente o futuro acordo, que ainda nem foi rascunhado, mas é ameaçado pela prioridade dada à crise econômica mundial.

Mesmo nesse cenário, a delegação brasileira chegou em clima de otimismo a Doha.

O negociador-chefe do Brasil, o embaixador Luiz Figueiredo Machado, disse que não há risco de a reunião terminar esvaziada.

"Impasses são comuns em negociações longas, com mais de duas semanas, como essa", afirmou.

"Nós acreditamos que a conferência de Doha vai abrir uma nova etapa nas negociações do clima. Essa vai ser uma COP importante, complexa. Há muita coisa importante sobre a mesa, inclusive as bases para o futuro protocolo que foi negociado em Durban", completou.

Na opinião de Carlos Klink, secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil chegará à convenção com o "dever de casa" feito, apresentando "a menor taxa de desmatamento da história na Amazônia", divulgada na semana passada.

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Enquanto o acordo não vem, a COP está sendo marcada pela divulgação de vários estudos pouco animadores sobre as condições gerais do planeta.

Dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial indicam que 2012 deve se tornar o nono mais quente desde que as medições foram iniciadas, em 1850. E isso mesmo com a presença do La Niña, fenômeno que contribui para o resfriamento das temperaturas.

O documento destacou ainda o degelo recorde no Ártico e eventos extremos de seca e enchentes espalhados por todo o planeta. A temporada intensa de tempestades tropicais e furacões, incluindo o Sandy, que atingiu o Caribe e os EUA, também foi ressaltada.

Já o relatório "Climate Action Tracker", que analisou a eficácia das medidas para combater o aquecimento global, foi ainda mais pessimista. Praticamente todas as grandes nações emissoras, como China, EUA e Índia, tiveram suas medidas consideradas ineficientes. Desse grupo, apenas Coreia do Sul e Japão tiveram medidas classificadas como satisfatórias.

O desempenho do Brasil foi avaliado como "na média"

FOLHA DE SÃO PAULO

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