segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O Iraque desmancha-se


Em Al Kasar, desde o avanço do EIIL, cerca de 1 milhão de civis estão refugiados

A destruição de um Estado 
e as ameaças às fronteiras na região

Edilson Adão Cândido da Silva*
O Oriente Médio atravessou o século XX como o mais importante e instável conjunto geopolítico do globo e adentrou o XXI na mesma condição. Ora de forma mais intensa, ora mais branda, a verdade é que a região não sai do noticiário. O assunto da vez é a crise síria e as reais possibilidades de desconstrução das fronteiras iraquianas.

As capitais Damasco e Bagdá foram sedes de dois dos mais importantes califados, após a morte do profeta Maomé desde o século VII. Do esplendor do passado ao caos do presente, Síria e Iraque são, inegavelmente, países centrais no contexto geopolítico da região. E vêm de lá, no momento, as maiores preocupações.

No caso do Iraque, a crise contemporânea está indissociavelmente ligada às trapalhadas do ex-presidente norte-americano George W. Bush (2001-2009) e seus falcões naquele país desde 2003. Até então, o Iraque vivia sob um governo tirano. Mas daí, destruir um Estado e substituí-lo pelo caos, vai uma longa distância.
Saddam Hussein era um déspota, mas não um terrorista. Ao contrário, enquanto viveu combateu o terrorismo e impediu sua entrada no Iraque. Era inimigo declarado de Bin Laden.

Em artigo publicado na edição de maio de 2013 em Carta na Escola, afirmo que o Iraque tornara-se o pior lugar do mundo para se viver. A suposta “Guerra ao Terror”, implícita na cartilha geopolítica da doutrina Bush, fez do antigo reino da Babilônia um abrigo de terroristas, das mais variadas partes do mundo.

Vejamos o que afirmou George W. Bush, em setembro de 2002, em um documento enviado ao Congresso americano: “Atualmente, os Estados Unidos gozam de uma posição de incomparável força militar e grande influência política e econômica. Coerentes com nossas tradições e nossos princípios, não usamos de força para pressionar em favor de vantagens unilaterais”.

Contudo, o que se viu foi exatamente o contrário. Os EUA usaram a força e atacaram o Iraque com o único propósito de tirar vantagens unilaterais. O argumento das tais armas de destruição em massa foi um engodo. Era improvável que o país as possuísse, pois estava à míngua diante dos embargos desde 1991: não havia a menor possibilidade técnica para se produzirem tais armas. Como se sabe, os estadunidenses atacaram o Iraque sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, já que a França antecipara seu veto a uma resolução para esse fim. Muitos analistas entendem ser esse episódio o maior golpe sofrido pela entidade desde sua criação, em 1945.

Contudo, os EUA não conseguiram levar adiante o projeto de transformar o Iraque em um país aliado das empresas petrolíferas do Ocidente. Em 2003, a Halliburton, uma das maiores prestadoras de serviços no setor do mundo e que fora presidida pelo vice de Bush, Dick Cheney, entre 1995 e 2000, ganhou generosos contratos para a reconstrução do Iraque. Mas não teve êxito.

O cenário atual
O Iraque tem um frágil governo constituído, mas que não é reconhecido por todos os grupos que habitam o país. O primeiro-ministro Nouri al-Maliki é aceito pela maioria xiita (perto de 55% da população), mas tem a objeção dos árabes e curdos-sunitas. Nos últimos tempos, Al-Maliki aproximou-se demais de Teerã para desconforto da Casa Branca, que agora cogita distanciar-se de seu ex-pupilo. A instabilidade no Iraque e, posteriormente, na Síria produziu o surgimento do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) que, unilateralmente, anunciou a criação do Estado Islâmico (EI), um Estado fundamentalista que se estenderia de Aleppo, na Síria, a Diyala, no Iraque. O líder desse pretenso novo califado do século XXI é Abu Bakr Baghdadi. Os métodos do grupo lembram em muito a ordem dos assassínios, seita ismaelita do século XI, cuja violência das ações não hesitava em executar friamente os inimigos após inalarem o haxixe, originando, inclusive, a palavra assassino. Ou, numa comparação mais recente, o Grupo Islâmico Armado (GIA) que produziu horrores no interior da Argélia nos anos 1990. O EIIL vem aterrorizando as comunidades do deserto iraquiano e sírio, próximos ao Vale do Eufrates, mas também em Mosul, ao norte, segunda maior cidade do Iraque. Aos olhos do Ocidente, trata-se de ameaça maior que Teerã. Para desconforto dos EUA, quem pode deter o EIIL são exatamente dois regimes hostis aos seus interesses: o de Bashar al-Assad e de Ali Khamenei. A temida conexão Damasco-Teerã, talvez seja agora uma necessidade.

Os fatos recentes na Síria e no Iraque têm origens diversas. Na Síria, a tensão que ora se verifica é fruto das manifestações que varreram o mundo árabe desde dezembro de 2010, enquanto o tenso caldeirão que se tornou o Iraque resulta da intervenção anglo-americana em 2003. Isso, claro, considerando um recorte histórico recente.

A instabilidade e a forte tensão que atualmente vigoram têm uma matriz sectária que, por meio do totalitarismo da era Saddam, estava sob controle. O Iraque era uma espécie de “ditadura plurinacional”, em que os sunitas detinham o poder e a maioria xiita e os curdos eram reprimidos. Os árabes sunitas nunca foram maioria no Iraque, mas sempre estiveram no poder. Hoje, o ódio milenar entre xiitas e sunitas explode em meio à insanidade passional que caracteriza as religiões, quando a não aceitação da outra verdade se sobrepõe. As notícias dão conta de que, desde o avanço do EIIL, mais de mil civis foram executados e algo próximo de 1 milhão tornaram-se refugiados. Mas a violência não começou aí: o extermínio mútuo vem desde a ocupação, quando o Iraque tornou-se um Estado acéfalo; foi nesse contexto, em 2003, que o diplomata brasileiro e representante da ONU, Sérgio Vieira de Melo, morreu em um dos inúmeros atentados que marcaram o país. O Iraque, a partir da ocupação, mergulhou no caos sectário e não se veem perspectivas de melhora a curto prazo.

No entanto, é possível que a ofensiva do EIIL não prossiga, pois, excetuando-se seus seguidores, a ojeriza ao grupo é consensual no mundo árabe e islâmico, e há uma convergência dos mais distintos interesses na região para pôr fim ao avanço do grupo. Contra essa incógnita extremista, Iraque, Irã, Síria, Estados Unidos, Arábia Saudita e, possivelmente, até a Rússia possam dar as mãos, mesmo que circunstancialmente. O EIIL, ao que se parece mais aterrorizador que a própria Al-Qaeda, com quem inclusive rompeu, conseguiria unir numa mesma frente históricos desafetos.

Independentemente do EIIL, a divisão étnico-religiosa do Iraque poderá, sim, num futuro médio, resultar em três Estados, embora os esforços no sentido contrário estejam sendo engendrados por Estados Unidos, Irã e Turquia. Essa possível fragmentação redundaria numa desvantagem inicial aos sunitas: o Iraque possui a terceira maior reserva mundial de petróleo, mas o hidrocarboneto concentra-se no sul xiita e no norte curdo, enquanto a região ocupada pelos sunitas é desprovida de grandes reservas. Esse é um dos fatores da reação extremista sunita.

País desconstruído
O Iraque atual é produto do rearranjamento territorial que a Grã-Bretanha impôs ao Oriente Médio, após a dissolução do Império Turco-Otomano no desfecho da 1ª Guerra Mundial há cem anos. Suas fronteiras preservavam as do antigo Império Babilônico, mas distinguiram-se do que fora no Império Otomano. O Vale do Eufrates não lhe pertencia; Mossul, ao norte, era área de litígio com os turcos e reivindicado pelos mesmos; as constantes desavenças com o Irã sobre o Chat el-Arab, ponto de encontro estuarino entre o Tigre e Eufrates junto à desembocadura do Golfo, são antigas.

A porção sudoeste sempre foi habitada por árabes nômades não muito afeitos a respeitar as fronteiras políticas, e sim suas próprias noções de “fronteira”. Daí a criação de uma zona neutra entre Iraque, Arábia Saudita e Kuwait, onde os beduínos e suas caravanas têm livre trânsito. Até 1920, o que é hoje o Iraque não existia cartograficamente: as três principais macrounidades do Iraque contemporâneo, Mossul, ao norte; Bagdá, ao centro; Basra, ao sul, uniram-se a partir do estabelecimento do mandato britânico. As duas monarquias consentidas que surgiram na ordem do pós-1ª Guerra Mundial, Assabah, no Kuwait, e Fayçal, Iraque, tencionavam constituir uma federação, projeto abortado por Londres. Anos mais tarde, em 1990, Saddam Hussein invadiria o pequeno país, alegando que, histórica e geograficamente, não se justificava a existência do Kuwait: ele seria parte do Iraque.
Revista Carta Escola

Cazaquistão

O desastre Nuclear de Chernobyl

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O Continente Europeu: Terras Vulcânicas

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Toda a verdade : ONU - Abusos e Escândalos

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A fuga de habitantes da Coréia do Norte através da China passando por Laos,

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Zonas de Guerra Coréia do Norte

Crônicas do Cáucaso - As Guerras da Chechênia - PARTE 1

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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Notícias Geografia Hoje



Segundo ONU, 77 milhões de brasileiros não têm acesso regular à água

agosto 4, 2014
“Nos últimos anos, o Brasil experimentou um desenvolvimento significativo, com crescimento econômico e uma melhoria dos indicadores sociais. Mas essas ganhos ainda não foram refletidos nos serviços de água e saneamento básico”, diz relatório produzido pela entidade

Um levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que 77 milhões de brasileiros não têm acesso a um abastecimento de água regular e de qualidade. De acordo com os dados, 8 milhões de pessoas ainda precisam fazer suas necessidades ao ar livre no Brasil.

O alerta é dado por Catarina de Albuquerque, relatora da ONU e responsável pelo estudo, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Ela deixa claro que o crescimento da economia brasileira não acarretou uma melhora no setor de saneamento básico e fornecimento hídrico. “Nos últimos anos, o Brasil experimentou um desenvolvimento significativo, com crescimento econômico e uma melhoria dos indicadores sociais. Mas essas ganhos ainda não foram refletidos nos serviços de água e saneamento básico”, observou.

O relatório revela, também, que as diferenças regionais são profundas. No Norte, 31% da população vive “sem um fornecimento adequado de água”. No Nordeste, o número cai para 21,5%.

Segundo o raio-x, a situação é mais grave em favelas e zonas rurais. “O direito à água não pode ser negado a ninguém com base no status legal de sua moradia”, aponta. O problema está diretamente ligado à renda dos habitantes de determinada área. “Em locais onde a população ganha um quarto de um salário mínimo, o déficit de água é de 35%”, pontua a ONU.

Como alternativa, a entidade sugere a fixação de um teto para o preço da água. Segundo os padrões internacionais, os gastos com abastecimento não podem representar mais do que 5% do orçamento familiar. No Brasil, Albuquerque constatou que algumas famílias destinavam até 25% de sua renda mensal com serviços de água e saneamento.

O levantamento indica, ainda, que o governo federal precisa mudar sua postura e rever objetivos, incluindo o Plano Nacional de Saneamento. “O Plano não tem como meta uma cobertura Universal, deixando 1% da população sem acesso à água e 8% sem saneamento”, expõe. Além disso, a ONU sugere que uma emenda à Constituição seja feita para transformar o direito à água em uma garantia constitucional.
Revista Fórum

Notícias Geografia Hoje



Nestlé e a água: a eterna polêmica

agosto 17, 2014

Decisão da Anvisa de proibir venda de um lote de água engarrafada São Lourenço, pertencente à gigante Nestlé, reacende a discussão sobre o papel privado em relação à água como bem público


Na última sexta-feira (15), a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) tomou a decisão de proibir a distribuição e a comercialização, em todo o território nacional, de um lote da água engarrafada São Lourenço por conta de um laudo do Instituto Adolpho Lutz (da Universidade de São Paulo), que constatou presença anormal da bactéria Pseudomonas aeruginosa, em pelo menos parte das garrafas vendidas em todo o país. Este tipo de bactéria ataca os pulmões, vitimando em especial pessoas com baixa resistência imunológica.

A notícia quase não foi destacada por boa parte da mídia, no entanto, a decisão de Anvisa reabre a discussão sobre as práticas de desmineralização da água, que a Nestlé adota em São Lourenço (MG), pois não é de hoje que a transnacional suíça se envolve em polêmicas por conta da água – e isso não é exclusividade brasileira. O estado norte-americano de Michigan, conhecido como o “estado das águas” – por conta de seus diversos lagos que fazem fronteira com o Canadá – é um dos que mais sofrem por conta da presença da Nestlé no estado.

De fato, não faz muito tempo que Peter Brabeck, presidente da Nestlé, defendeu a privatização do fornecimento da água, isso para que atentássemos ao fato de que a água sendo gratuita faz com que em várias ocasiões as pessoas não lhes deem valor e a desperdicem. Além de também defender que a água deveria fosse tratada como qualquer outro bem alimentício e ter um valor de mercado, estabelecido pela lei de oferta e procura. Só desta maneira, aponta, empreenderíamos ações para limitar o consumo excessivo que se dá nesses momentos.

Obviamente, além do grande “bem” para a sociedade, isso também geraria enormes lucros para sua empresa: a Nestlé é a líder mundial na venda de água engarrafada - setor que representa 8% de seu capital, que em 2011 totalizaram aproximadamente 68,5 bilhões de euros. Afinal, o negócio das águas minerais engarrafadas se transformou em um dos setores mais lucrativos e de maior expansão no mundo.
Revista Fórum

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Notícias Geografia Hoje

Islândia eleva nível de alerta para erupção de vulcão


Possível erupção vulcânica faz autoridades da Islândia elevarem nível de risco para a aviação

O risco de uma erupção no vulcão de Bardarbunga, na Islândia, está aumentando. Autoridades meteorológicas disseram ter identificado sinais de que o magma já está se movimentando.

O nível de risco para a aviação foi elevado para laranja, o quarto mais alto em uma escala de cinco estágios.

Embora a erupção em si não tenha sido ainda constatada, se ela acontecer poderá causar explosões e emissão de cinzas em uma grande área.

Ao entrar em erupção em 2010, outro vulcão da Islândia- o Eyjafjallajokull – produziu uma nuvem de cinzas que causou uma interrupção severa no espaço aéreo europeu. A nuvem de cinzas produzida pela erupção afetou centenas de milhares de passageiros devido a restrições de voos.

O sistema vulcânico de Bardarbunga está localizado na região noroeste da geleira de Vatnajokull.
Terremoto mais forte

Uma "intensa atividade sísmica" começou em 16 de agosto e um terremoto intenso foi registrado na região durante a segunda-feira.

Segundo autoridades locais, esse foi o mais forte terremoto registrado na região desde 1996.

"Atualmente não há sinais de erupção, mas não podemos desconsiderar que a atividade atual vai resultar em uma erupção subglacial explosiva", afirmou um meteorologista. Ele disse que a situação está sendo monitorada.

Os códigos de cores da aviação são usados para indicar o nível de risco que um vulcão representa para as viagens aéreas.

Um alerta laranja indica que um vulcão tem potencial de entrar em erupção ou já está nesse estágio, porém sem a emissão massiva de cinzas.

Um alerta vermelho indica uma erupção iminente ou a emissão significativa de cinzas na atmosfera durante uma erupção.
BBC Brasil

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Notícias Geografia Hoje

Entenda como o Estado Islâmico se tornou mais perigoso que a Al-Qaeda

Grupo nasceu após invasão dos EUA no Iraque e tinha ao menos 800 combatentes em junho; hoje o número ultrapassaria 15 mil



Em junho, quando militantes extremistas do Estado Islâmico tomaram Mosul - a segunda cidade mais importante do Iraque -, as potências ocidentais decidiram não intervir. Foi dito na época que o grupo jihadista era um problema sectário e regional.

AFP
Estado Islâmico é hoje mais poderoso que a al-Qaeda

No entanto, o Estado Islâmico - anteriormente conhecido como EIIL - continuou avançando e provocando caos no Iraque. E com uma poderosa campanha na internet anunciou o estabelecimento de um califato em partes do Iraque e da Síria, expulsando muitas comunidades da região.

Na semana passada, enquanto circulavam imagens de dezenas de milhares de iraquianos da minoria étnica curda yazidi presos em uma montanha fugindo do Estado Islâmico, o governo americano decidiu lançar uma operação aérea contra posições chaves do movimento.

Na segunda-feira (11), o Pentágono descreveu o Estado Islâmico como um adversário imponente e de grande qualidade - uma descrição raramente usada por militares ocidentais para se referir a grupos considerados terroristas.

"Estão extraordinariamente bem organizados, bem equipados, sabem coordenar suas operações e até agora tem mostrado capacidade de atacar em múltiplos eixos. E isso não é pouca coisa", disse o comandante William Mayville.

O grupo, que antes era visto como pequeno e fanático, agora virou um exército determinado e perigoso.

"Mais poderoso que a al-Qaeda"

O presidente do governo regional curdo, Massoud Barzani, cujo exército tenta expulsar os jihajistas do norte do país, ecoa essas palavras e também adverte que não se deve subestimar o poder do Estado Islâmico.

"Não estamos combatendo uma organização terrorista. Estamos combatendo um Estado terrorista", disse Barzani no domingo.

No mesmo dia, parlamentares americanos expressaram temores sobre a milícia. "A cada dia que passa, o Isis [sigla em inglês] levanta seu califato e se converte a uma ameaça direta aos Estados Unidos", disse o presidente do subcomitê Antiterrorismo do Congresso americano, o republicano Peter King.

"Agora eles são mais poderosos do que era a al-Qaeda durante o 11 de setembro."
O temor maior do governo americano é que o grupo consiga formar um Estado próprio no coração do Oriente Médio, que serviria de plataforma de lançamentos de ataques contra os Estados Unidos - semelhante ao que foi feito com o Afeganistão pelo Talebã na década passada.
Como se chegou até aqui

O Estado Islâmico surgiu depois da invasão dos Estados Unidos e seus aliados ao Iraque com sobreviventes da Al-Qaeda no país, então liderada por Abu Musab al Zarqawi.

Depois da morte de Al Zarqawi, em um ataque dos Estados Unidos em 2006, membros da Al-Qaeda fundaram o Estado Islâmico do Iraque (ISI, sigla em inglês).

No começo, o grupo era frágil. Mas entre 2011 e 2013, quando começou a rebelião na Síria, o ISI – agora dirigido por Abu Bakr al Baghdadi – começou a ganhar força. Este ano, o grupo tomou várias cidades no norte do Iraque.

Com táticas brutais, o grupo que passou a se chamar ISIS (Estado Islâmico do Iraque e Levante) e depois simplesmente Estado Islâmico. O seu crescimento surpreendeu muitos no Ocidente. Acredita-se que em junho, quando Mosul foi tomada, o grupo possuía 800 combatentes.

Agora, armado com arsenal americano obtido após vitórias sobre o exército iraquiano, o Estado Islâmico estaria com mais de 15 mil combatentes e acesso a recursos de US$ 2 bilhões – oriundos de fontes diversas, entre as quais doações privadas, sequestros e roubos.

Para a jornalista iraquiana Mina al-Orabi, do jornal Ash-Sharq al Awsat, o Estado Islâmico conseguiu avançar graças ao apoio de milícias locais.

"Alguns apoios são firmados com base no medo. Outros com a satisfação temporária de seus interesses", diz ela.
http://ultimosegundo.ig.com.br/

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Catalunha independente

Muitos catalães defendem a independência da Espanha. A língua é diferente, e por muitos séculos a Catalunha existiu como nação. Eles querem criar um novo país na Europa em pleno século 21

Mauro Tracco, De Barcelona

Todo domingo, às 11 h da manhã, o programa diante da Catedral de Barcelona é sempre o mesmo: jovens e idosos dão as mãos, formam uma roda e começam a bailar a sardana, uma dança que existe desde o século 19, mas quase foi proscrita durante a ditadura de Francisco Franco, entre 1939 e 1975. A sardana é, a um só tempo, exemplo e demonstração do orgulho catalão - e das diferenças entre a região e o resto da Espanha. Essas diferenças afloraram no dia 11 de setembro do ano passado quando 1,5 milhão de catalães, 10% da população, tomaram as ruas de Barcelona para reivindicar um estado próprio. O nacionalismo catalão é real e cresce a cada geração. Mas de onde ele vem? Baseado em que a Catalunha se intitula uma nação? Aliás, o que exatamente constitui uma nação? "Na velha Europa, são comunidades culturais assentadas em um território, com uma história comum, uma língua, uma cultura e o que poderíamos definir como uma psicologia coletiva, resultado de um processo de longa duração", dizAugustí Alcoberro, diretor do Museu de História da Catalunha e professor de história moderna na Universidade de Barcelona. "A Catalunha é uma nação europeia porque reúne todas essas características." 


Protestos pró-independência no Dia Nacional da Catalunha, em 11 de setembro (foto: Getty Images)

Forte desde os gregos 
A região da Catalunha, no nordeste da Península Ibérica, é velha conhecida da humanidade. Os gregos desembarcaram ali e fundaram as cidades de Emporion (atual Empuries) e Rodhes (Roses). Depois chegaram os fenícios, vindos do norte da África, que usaram a região como caminho para Roma durante a Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.). Os romanos também passaram (e ficaram) por ali. Em sua longa estada fundaram cidades como Tarraco (Tarragona) - capital da Hispania Cisterior e depois da província Tarraconense -, Gerunda (Girona) e Barcino (Barcelona). Trouxeram as leis, o latim e, no final do império, o cristianismo. Ainda há ruínas do circo romano em Tarragona.

Em 472, os visigodos puseram fim a 600 anos de domínio romano, mas não foram capazes de evitar a invasão árabe no começo do século 8. Foi justamente a luta do Império Carolíngio, liderado pelo imperador franco Carlos Magno, para expulsar os muçulmanos da Europa, que plantou o gérmen da futura Catalunha - os exércitos francos tomaram Barcelona em 801. Carlos Magno dividiu seu reino em condados, subordinados ao poder central. Aos poucos, durante o século 9, os nobres foram se desvinculando dos francos e deram origem a dinastias locais. "Esse processo foi a base da futura independência do país", explica Jaume Sobrequés, catedrático de história da Catalunha da Universidade Autônoma de Barcelona, no livro Història de Catalunya. Diz a lenda que após uma batalha contra os muçulmanos, Guifré, El Pilòs, que unificou os vários condados catalães, ficou gravemente ferido. O imperador carolíngio Carlos II colocou a mão direita na ferida do conde e passou os quatro dedos ensanguentados sobre o escudo dourado. Desde então, as quatro barras vermelhas sobre fundo amarelo se tornaram o escudo dos Condes de Barcelona. 

Os termos "Catalunha" e "catalães" para definir o lugar e sua gente são documentados a partir do século 12, na mesma época em que foram produzidos os primeiros textos de caráter literário, jurídico e religioso em catalão, uma língua evoluída do latim. 

Em 1137, o casamento entre o Conde de Barcelona, Ramón Berenguer IV, e a herdeira do reino de Aragão, Petronila, criou a confederação catalão-aragonesa, ou Coroa de Aragão. "O pacto garantiu a sobrevivência do reino de Aragão, ameaçado pelos de Castela e Navarra, e a supremacia da Casa de Barcelona sobre esse território", diz Alcoberro. Os dois domínios mantiveram suas leis, idiomas e impostos próprios. Tinham em comum apenas a figura do soberano, que em um lugar era chamado de rei de Aragão e no outro de conde de Barcelona. Foi um período dourado. Durante o século 13, o conde-rei Jaime I, o Conquistador, empreendeu uma bem-sucedida política expansionista (veja ao lado). Sob seu comando, os reinos de Majorca e Valência foram incorporados à Coroa de Aragão. Seus descendentes conquistariam as ilhas de Sardenha e Sicília, os ducados gregos de Atenas e Neopátria e o reino de Nápoles. "Foi formado um verdadeiro império político e econômico catalão no mediterrâneo, em dura rivalidade com Gênova e outras cidades-estado italianas", afirma Sobrequès. Foi também nessa época que começaram a tomar forma definitiva as instituições que governariam o país até 1714, como o Conselho de Cento de Barcelona, responsável pela vida municipal, e as Cortes Catalãs, o legislativo que controlava a atuação do rei. A partir de 1362 se consolidou uma representação permanente das Cortes, chamada Diputació del General, ou Generalitat, que se converteria no mais importante organismo político da Catalunha durante os séculos 14 e 15. 


O declínio sob Castela 
Quando o rei Martin, o Humano, morreu em 1410 sem deixar herdeiros, colocou fim à dinastia catalã. Em 1469, veio o casamento entre Fernando II de Aragão e Isabel de Castela, que passaram à História como os Reis Católicos. Seus respectivos domínios continuaram sendo governados separadamente, seguindo um modelo semelhante à da confederação catalã-aragonesa. Carlos I, da Casa de Áustria, neto de Fernando II, foi o primeiro monarca a receber a dupla herança de Castela e Aragão, em 1516.

Apesar da manutenção das instituições, a união beneficiou Castela, que de forma progressiva conquistou relevância no cenário internacional, principalmente com o descobrimento da América, em 1492. O surgimento da figura do vice-rei, representante do soberano na Catalunha, erodiu o poder local e alimentou o atrito com uma Madri cada vez mais absolutista. O golpe de misericórdia à Catalunha foi dado em um dos últimos episódios da Guerra da Sucessão Espanhola, que opôs os estados bourbônicos (França e a Espanha de Felipe V) aos da Grande Aliança de Haia (Inglaterra, Países Baixos, o Império Alemão, Savoia e Portugal). A Catalunha apostou pela causa aliada para garantir a preservação de suas leis. Mas Felipe V de Bourbon, primeiro monarca da dinastia que até hoje reina na Espanha, saiu vitorioso do conflito. No dia 11 de setembro de 1714, após 13 meses de sítio, ocupou Barcelona. "A pior consequência da derrota foi a dissolução do Estado catalão", diz Alcoberro. Desde então, a Espanha passou a ser um estado juridicamente uniforme, com apenas uma língua oficial - o castelhano - e administração centralizada em Madri. 

Luta pela autonomia 
A Catalunha experimentou um notável crescimento econômico durante o século 18 e iniciou um processo de industrialização em 1830. As fábricas a vapor configuraram um novo modelo de produção baseado no setor têxtil. "Ao longo do século 19, a industrialização diferenciou a Catalunha e o País Basco do resto dos territórios da Espanha, ainda de predomínio rural", diz Jordi Casassas, catedrático de história contemporânea da Universidade de Barcelona. A sociedade catalã protagonizou a eclosão de um movimento cultural conhecido como Reinaxença (Renascimento). Guiados pelo ideal romântico do século 19, toda uma geração de intelectuais, poetas e artistas sentiu a necessidade de ressuscitar a identidade e o idioma nativos. 

"Os atores da Reinaxença tiveram papel vital para o catalanismo, uma vez que criaram a bagagem cultural sobre a qual se codificaria a moderna identidade catalã", diz Casassas. O partido conservador Liga Regionalista, criado em 1901, deu origem à aliança Solidaritat Catalana, que se transformou em uma potência eleitoral e social. "Foi um passo definitivo para a consolidação do nacionalismo catalão", afirma Sobrequés. Paralelamente a essa corrente conservadora, surgiu outra mais radical, representada pelo Estat Català, fundado por Francesc Macià em 1922. A união do Estat Català com outros grupos deu origem à Esquerra Republicana, partido que está ativo até hoje e advoga pela independência da Catalunha. 

Após a ditadura de Primo de Rivera (1923-1930), as eleições municipais de 1931 acabaram com a monarquia e inauguraram o curto perío-do da Segunda República Espanhola. Macià aproveitou para proclamar a República Catalã, gerando uma crise que obrigou o governo de Madri a aceitar a criação de um governo autônomo. Em 1932, as Cortes Constituintes espanholas aprovaram o Estatuto de Autonomia da Catalunha, que garantia um presidente (Macià), um governo e um Parlamento. Porém, "a transferência de atribuições do Estado estava longe de acabar quando estourou a Guerra Civil, em 1936", diz Sobrequés. 

A vitória franquista anulou o Estatuto, destruiu instituições e impôs uma feroz repressão. O uso público do catalão foi proibido. Mas a violência só alimentou o sentimento independentista. Com a morte de Franco, em 1975, a Espanha começou sua transição para a democracia. A nova Constituição, de 1978, abriu as portas para a Catalunha aprovar um novo estatuto. 

A Generalitat estava de volta. Em 1983, foi criada a Lei da Normalização Linguística, que transformou o catalão em idioma co-oficial, ensinado nas escolas. Surgiram estações de rádio e TV com programação no idioma local. Ao contrário do que queria o governo de Madri, as comunidades autônomas não apaziguaram o nacionalismo. A cada geração cresce o sentimento antiespanhol e o número dos que reivindicam um plebiscito que permita à Catalunha abandonar a Espanha. Faz sentido? "Pedem a independência de Madri e politicamente querem depender de Bruxelas. Os governos nacionais hoje pouco podem interferir nas decisões tomadas na União Europeia", diz Juan Sisinio, da Universidade de Castilla-La Mancha 


Sangue na armadura 
Diz a lenda que o escudo que representa a região nasceu depois que o conde Guifre, el Pilòs, o unificador do Estado Catalão, foi ferido em batalha por muçulmanos. O imperador Carlos II passou os dedos na ferida e depois na armadura do conde. 

Eles e o Brasil 
Em 1580, Portugal foi anexado à Espanha, o período da União Ibérica. Décadas depois, a Catalunha, aliada à França, proclamou a República. Em seguida, Portugal tornou-se independente. "Uma Catalunha aliada à França era mais temível que Portugal independente na órbita da Inglaterra", diz Augustí Alcoberro, da Universidade de Barcelona.

A Catalunha e outros rebeldes 
Como seria o novo país independente da Europa e as outras regiões autônomas da Espanha 

Galícia 
O Reino da Galiza teve curtos períodos de independência até ser anexado por Castela. Ainda que menos ruidoso que o catalão e o basco, conta com um movimento nacionalista que reivindica a autodeterminação. 

Navarra 
O Reino de Navarra nasceu no século 9. Após ser anexado à Espanha, manteve suas instituições e leis, os Foros. Hoje tem autonomia política e econômica e regula seu próprio regime tributário. Os catalães exigem um convênio similar. 

País Basco 
Isolados pelos Pirineus, os bascos têm um idioma próprio. O Partido Nacionalista Vasco, separatista, é de 1895. Em 1959, nasceu o ETA, que depôs armas no ano de 2012. Tem regime tributário próprio. 

Espanha x Catalunha 
Área (em km2): 505 992 x 32 114 
População (em milhões) 47 x 7,5 
PIB (em milhões de euros) 1 063 x 200 
PIB per capita (em euros) 23 100 x 27 627

Culturas diferentes 
Como diferenciar um catalão de um espanhol

Castellers x Tourada 
Os castelos humanos são a mais popular tradição catalã. A cultura taurina é um dos principais símbolos da identidade espanhola. E foi proibida na Catalunha em 2010. 

Sardana X Flamenco 
A idéia da dança de roda típica dos catalães é mostrar a unidade do seu povo. O flamenco tem raízes nas culturas ciganas e mouras da Andaluzia. 

Salvador Dalí x Pablo Picasso 
O mestre surrealista é catalão. O gênio cubista nasceu em Málaga, na Andaluzia. 

Gaudí x Cervantes 
A arquitetura de Gaudí criou a identidade visual da Catalunha. Já a obra Dom Quixote, de Cervantes, escrita em castelhano, é considerada o primeiro romance moderno. 

Fuet x Jamón 
Na Península Ibérica, você é o embutido que você come. O fuet catalão é uma espécie de salame e o jamón, um presunto cru. 

Cava x Jerez 
A independência não terá champanhe, mas cava, o vinho espumante catalão. Os espanhóis vão ter que digerir a notícia com uma dose de jerez, um vinho fortificado com aguardente. 

Campeões mundiais 
Dos 11 ganhadores da Copa de 2010, 5 são catalães: Puyol, Piqué, Capdevila, Busquets e Xavi. Os espanhóis são Casillas, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Iniesta, Pedro e Villa. (Os três últimos jogam no Barcelona.)

Saiba mais 
Livro 
Història de Catalunya, Jaume Sobrequés, Editorial Base, 2011
Revista Aventuras na História

sábado, 9 de agosto de 2014

Notícias Geografia Hoje


América Latina é chave para a Rússia, diz Putin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que a cooperação com uma América Latina forte e politicamente independente é fundamental para a Rússia


Havana - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que a cooperação com uma América Latina "forte" e "politicamente independente" é "fundamental" para a política externa de seu país, mas descartou uma entrada da Argentina no grupo dos BRICS, segundo afirmou em entrevista divulgada  pela imprensa de Cuba.

"A cooperação com os estados da América Latina é hoje uma das principais direções e de muitas perspectivas na política externa da Rússia", afirmou Putin em entrevista à agência cubana "Prensa Latina" reproduzidas pelo jornal oficial "Granma".

Na entrevista, concedida em Moscou antes de viajar para Havana, onde iniciou hoje seu tour pela América Latina, Putin ressaltou que a Rússia espera "aumentar a interação econômica e comercial" na região com ênfase em "seu componente de investimento".

Entre as áreas de interesse para a cooperação, mencionou concretamente o setor de petróleo, gás, energia nuclear e hidráulica, construção e tecnologia da informação.

"Estamos interessados em uma América Latina unida, forte, economicamente sustentável e politicamente independente, que está se transformando em uma parte importante do mundo multipolarizado e emergente", disse.

O presidente da Rússia chegou na madrugada desta sexta-feira em Cuba para uma visita de um dia, como parte de seu giro pela América Latina, que também o levará para Argentina e Brasil, onde participará da sexta cúpula do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que será realizado nos dias 15 e 16 de julho em Brasília e Fortaleza.

"A Rússia valoriza o desejo do governo argentino de se unir aos BRICS", disse Putin, mas acrescentou que, "no entanto, a questão de aumentar o número de seus membros por enquanto não está em questão".

"Primeiro se devem otimizar todos os vários formatos da cooperação estabelecidos no grupo. Não há critérios rigorosos para que um Estado se uma aos BRICS. A decisão se toma individualmente", explicou.

Nesse sentido, afirmou que "é bastante possível estabelecer relações de aliança estratégica" em política internacional, economia e finanças entre os BRICS e a Argentina, que participará como convidada da reunião do grupo no Brasil.

Ao se referir às relações entre Moscou e Buenos Aires, Putin destacou seu "apreço" pelo "diálogo construtivo e de confiança" com a presidente argentina, Cristina Kirchner, e antecipou que a Rússia dará "atenção especial à intensificação da cooperação tecnológica e de investimento, especialmente nos setores de energia, energia atômica e maquinaria".

"A cooperação na Antártida parece promissora. Penso debater todas essas questões durante as negociações com a presidente Cristina Kirchner", afirmou.

O chefe do Kremlin, que visitou Cuba no ano 2000, iniciará sua agenda no país caribenho com a realização de uma oferenda floral diante do Mausoléu ao Soldado Internacionalista Soviético e, posteriormente, visitará o líder da revolução cubana, Fidel Castro, de 87 anos e que se retirou do poder em 2006.

Putin se reunirá também com o presidente Raúl Castro no Palácio da Revolução, em Havana, onde os governos russo e cubano assinarão um pacote de dez acordos, que envolve a parceria nos âmbitos da cultura, indústria, comércio e saúde.
Revista Exame

Kibutz: laboratório socialista



A experiência com comunidades coletivas e voluntárias deu certo. Mas para sobreviver, elas tiveram de fazer concessões ao capitalismo

Gabriel Toueg, de Jerusalém 

Muito antes de se transformar em uma força do capitalismo globalizado, Israel foi um laboratório para o socialismo. O kibutz, comunidade agrícola sobre a qual todo mundo já ouviu falar, foi a primeira experiência da economia israelense. Um empreendimento coletivo e voluntário, baseado nos mais puros ideais do socialismo sionista.

Nos primeiros anos do Estado de Israel, os kibutzim (plural em hebraico para kibutz) desempenharam um papel extremamente importante no delineamento de fronteiras e na defesa das populações judaicas. Mas a história dessas comunidades começa bem antes disso, ainda no final do século 19, época em que muitos judeus viviam na Rússia czarista. O anti-semitismo, de tão arraigado, virava lei, como a que proibiu os judeus de viver em cidades com menos de 10 mil habitantes. Diante dessa situação, não restavam muitas opções. Uma delas era a imigração em massa para a Palestina.

A década de 1880 foi especialmente simbólica para esse movimento de imigrantes. Cerca de 15 mil judeus, oriundos principalmente do sul da Rússia e regiões vizinhas, fugiram da perseguição czarista e em direção à Terra Santa. Era o fluxo migratório que ficaria conhecido como a Primeira Aliá. Entre 1904 e 1914, veio a segunda, que levou à região outros 40 mil judeus. Foram esses os responsáveis pelo estabelecimento das primeiras comunidades agrícolas – ou agrupamentos (kvutzot, em hebraico).

Socialismo na prática

O primeiro kibutz de que se tem notícia é o Degania, criado em 1909 às margens do Kineret, o Mar da Galiléia. Apenas 12 pessoas – dez homens e duas mulheres – fundaram essa comunidade. Eles enfrentaram as mais adversas situações, de ataques árabes a surtos de doenças e secas cruéis. Ainda assim, o Degania não pereceu. E outros kibutzim foram surgindo, com especial vigor nessa região onde tudo começou. O lendário general Moshe Dayan, principal estrategista de Israel na Guerra dos Seis Dias e ministro da Defesa durante a Guerra do Yom Kippur, foi o primeiro bebê a nascer no Degania, em 1915.

A vida em um kibutz não era nada fácil no início da década de 1950, quando Israel ainda dava seus primeiros passos. Marion Bariach sentiu na pele essa realidade. Ela fez parte do primeiro grupo de brasileiros que chegou ao kibutz Bror Chail, em 1948. Segundo Marion, as condições eram precárias. “Dávamos tudo o que podíamos e recebíamos apenas aquilo de que precisávamos. Era tudo dividido: as roupas, a comida, as acomodações.”

Naquele tempo, quem vivia nos kibutzim costumava enfrentar as agruras cotidianas com altas doses de idealismo. Como a gaúcha Tzivia Kariv, que chegou a Bror Chail alguns anos depois do grupo de pioneiros brasileiros. “Não precisávamos ser doutores, engenheiros ou dentistas. O importante era trabalhar a terra em nome do ideal sionista.” Mas a passagem dos anos se encarregou de provar que o movimento kibutziano tinha muito de utopia e pouco de pragmatismo. Tzivia deixou Bror Chail com seu marido em 1994, depois de viver ali por mais de 40 anos. Hoje, mora na cidade costeira de Ashkelon, 54 quilômetros ao sul de Tel-Aviv. E diz que, olhando para trás, já não sabe explicar como pôde suportar as condições de sobrevivência em um kibutz daquela época. “Sentíamos um orgulho imenso ao dizer que éramos membros de um kibutz. Mas, no dia-a-dia, tínhamos literalmente de afundar na lama para chegar aos quartos.”

Marion Bariach também deixou Bror Chail e agora vive em Tel-Aviv. Hoje, acredita que o conceito original dos kibutzim “vai contra a natureza humana”. “O homem quer ter sua família, seu canto, um trabalho... Não quer dividir tudo que ganha pelo bem de um ideal.” A brasileira refere-se ao “socialismo na prática”, adotado em todas as comunidades daqueles tempos – os membros trabalhavam em troca de benefícios e serviços gratuitos (de alimentação a lavanderia e energia elétrica), além de uma espécie de mesada, cujo valor era designado pela coletividade.

Modelo esgotado

A falência do modelo original de kibutz era clara desde o início da década de 1980. Em 1985, ficou ainda mais evidente. Naquele ano, Israel enfrentou uma crise econômica. Os kibutzim sentiram os efeitos. Em cada um deles, o conceito de comunidade coletiva começou a ser questionado. “Primeiro, os membros perguntaram-se onde é que tinham errado”, diz Schlomo Getz, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Kibutzim, da Universidade de Haifa – ele mesmo membro de um kibutz desde a década de 1970. “Logo depois, já estavam se preocupando com a conquista de liberdades. Queriam, por exemplo, ter condições de comprar aquilo que o kibutz não podia oferecer, como qualquer cidadão.”

De acordo com o pesquisador, no final da década de 1980 o conceito socialista de kibutz já dava sinais inequívocos de esgotamento. “Membros com 30 ou 40 anos começaram a deixar os kibutzim, ao perceber que eles não proviam mais suas necessidades”. Quem batia em retirada eram os filhos dos fundadores, consideravelmente menos comprometidos com o ideário que deu origem ao movimento. De lá para cá, calcula Getz, mais de 60% dos kibutzim passaram a pagar salários proporcionais ao trabalho executado por cada um de seus membros. Hoje, apenas 84 dos 270 kibutzim ainda seguem o modelo original.



Para todos os gostos
Não importa seu estilo: sempre há um kibutz que combina com você

KIBUTZ NA PRAIA

O Palmachim, criado em 1949, fica perto de Rishon LeTzion, cerca de 10 quilômetros ao sul de Tel-Aviv, no litoral mediterrâneo. Foi fundado por integrantes da organização clandestina Palmach, de onde vem o seu nome.

KIBUTZ POPULOSO 

O Ma´agan Michael (1949) tem quase 2,7 mil habitantes – a maior população entre todos os kibutzim. Nele são fabricados instrumentos médicos, um negócio que fatura 100 milhões de dólares por ano.

KIBUTZ RICO

O Hatzerim (1943) e o Yotvetá (1957) são exemplos de kibutzim ricos. O primeiro é sede de uma fábrica de tecnologia de irrigação, com receita estimada em 300 milhões de dólares anuais. No segundo, há uma fábrica de laticínios cujos produtos são vendidos em supermercados e em uma rede própria de restaurantes – com filiais nas maiores cidades.

KIBUTZ BRAZUCA

Fundado por judeus refugiados do Egito em 1948, Bror Chail é conhecido como “o kibutz dos brasileiros”. Seu restaurante tem uma churrascaria estilo rodízio. Há também um museu dedicado ao gaúcho Oswaldo Aranha, presidente da assembléia geral da ONU que dividiu a Palestina.
Revista Aventuras na História

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A geografia do carnaval carioca

Estudo relaciona o surgimento das escolas de samba à urbanização da cidade
 Catarina Chagas

Não é só em fevereiro que a Sapucaí atrai atenções: o geógrafo Marcelo Pereira Matos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), respira carnaval o ano inteiro. Há cinco anos, ele estuda as relações entre o desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro e a proliferação das escolas de samba. Para isso, determinou três períodos distintos da história dos desfiles: 1932-1942, 1943-1983 e 1984-2001.


Carnaval popular na avenida Rio Branco, em 1969 (fotos: Arquivo Nacional)

Quando as escolas começaram a surgir, eram atrações secundárias em relação às grandes manifestações do carnaval da época . Cerca de 100 integrantes desfilavam na Praça Onze, numa passarela formada entre arquibancadas desmontáveis. O primeiro desfile formal, em 1932, foi realizado com o patrocínio do Jornal Mundo Sportivo . A prefeitura oficializou o evento em 1935.

Durante o período inicial das apresentações, grande parte da população de baixa renda morava na área central do Rio e as escolas, como a Deixa-Falar (a primeira da cidade), se concentravam sobretudo no núcleo metropolitano. O contexto político do Estado Novo influenciou decisivamente as agremiações, que eram obrigadas a apresentar em seus enredos temas nacionalistas e sofriam forte repressão policial.


No início do século, havia, além das escolas de samba, desfilavam também as chamadas grandes sociedades. Essas associações de elite se apresentavam em carros puxados por burros. A foto acima retrata a Sociedade Pierrot da Caverna

A partir de 1943, o desenvolvimento levou à reestruturação do centro e provocou alterações fundamentais na estrutura urbana. As obras forçaram sucessivas mudanças na localização da folia, que passou pelas avenidas Rio Branco e Presidente Antônio Carlos antes de se instalar definitivamente na avenida Marquês de Sapucaí, em 1978.

O segundo período da história das escolas de samba -- considerado seu auge -- foi marcado pelo surgimento de novas agremiações. Apesar da estagnação da área central do Rio como local de moradia, a cidade cresceu muito na periferia e as escolas acompanharam a expansão rumo às zonas Norte e Oeste, direcionada pelo traçado das linhas de trem.

Segundo Matos, o sentimento de comunidade, mais forte na periferia, é fundamental tanto para a criação de uma escola de samba quanto para sua sobrevivência. "Analisando o próprio nome das escolas, podemos observar a referência espacial e a ideologia da união de uma comunidade", explica. O pesquisador reuniu mais de 70 nomes que comprovam essa afirmativa, entre eles agremiações famosas como Unidos da Tijuca ou Acadêmicos do Salgueiro.

Com a inauguração do Sambódromo, em 1984, o desfile passou a obedecer a regras externas (como as exigências feitas pelas emissoras de TV), tornou-se palco da promoção de artistas famosos e minimizou a importância das próprias comunidades.

Apesar disso, comunidades de áreas recentemente ocupadas e novas favelas se organizaram em novas agremiações, como a Renascer de Jacarepaguá. Cresceu também a quantidade de escolas na periferia e em outros municípios da região metropolitana. A distribuição das escolas estendeu-se, enfim, por todos os espaços do Rio de Janeiro. "Afinal, a estrutura urbana constitui, ao mesmo tempo, o território das políticas urbanas e o território das práticas sociais e manifestações culturais", conclui Matos.

História do Carnaval

Até o início do século 20, o carnaval tinha outra cara. Sua primeira manifestação veio com os portugueses no século 17: o entrudo. Essa brincadeira democrática entre escravos e senhores durou três séculos, até que atos de violência levaram à proibição do festejo. Mais tarde, a festa foi retomada com a apresentação dos ranchos (formados pelos baianos que vinham morar na cidade), corsos (desfiles de carros enfeitados) e grandes sociedades (associações de elite que desfilavam em carros alegóricos com mensagens políticas). Nesse contexto, surgiram as escolas de samba, a partir da década de 1930.

Catarina Chagas
Revista Ciência Hoje

Um momento de desordem mundial

Livro discute reformulação de territórios diante de novas influências políticas, econômicas e culturais

Fabíola Bezerra

Neste começo de século, assistimos a uma reformulação de fronteiras e influências político-econômicas no mundo. Essa nova forma de organização mundial, baseada na existência de redes, fluxos e conexões, exige mudanças no método geográfico tradicional de agrupar e separar territórios. O livro A nova des-ordem mundial apresenta propostas para entender a estrutura do espaço contemporâneo sob as dimensões econômica, política, cultural e ambiental e tece as causas dessa reconfiguração territorial com base em argumentos históricos. 

Segundo os autores do livro, os geógrafos Rogério Haesbaert e Carlos Walter Porto-Gonçalves, os conceitos básicos de estudo da geografia vêm mudando por causa de uma série de acontecimentos que, nos últimos 15 anos, alteraram os rumos da humanidade. Para eles, o melhor exemplo para representar essa reformulação mundial seria o fato de que, enquanto as torres gêmeas do World Trade Center foram derrubadas nos Estados Unidos em 2001, as torres Petronas permanecem firmes em Kuala Lumpur, capital da Malásia, o que, de forma simbólica, revela a ascensão de um novo poder no Oriente. A tarefa de reorganizar as regiões do planeta em função dessas mudanças para fins de estudo torna-se então o grande desafio da geografia pós-moderna. 

Haesbaert e Porto-Gonçalves afirmam no livro que a hegemonia do Ocidente e o pensamento moderno são incompreensíveis sem o conceito de colonização. No entanto, o mecanismo de exploração da Ásia e da África iniciado pelos europeus com a expansão marítima e comercial mudou a partir da Primeira Guerra Mundial. A busca por novas fontes de matéria-prima e mercados consumidores impulsionada pelo imperialismo gerou uma nova ordem, encabeçada pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo Japão. Enquanto o comércio internacional crescia no início do século 20, a África, a Ásia e a América Latina viviam devastações ecológicas e sociais, por causa da nova divisão internacional do trabalho, que atribuiu aos países “centrais” a produção de tecnologia e a exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra dos países “periféricos”. Essa geografia imperialista regeu o mundo por muito tempo, até o período em que os teóricos chamam de Pós-modernidade. 

Essa nova era é marcada pelo advento da globalização e da internet, que permitiu maior integração internacional e criou um novo espaço público, o “território-mundo”, composto de uma sociedade mundial que compartilha os mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a soberania de um país através de um grupo – situação que os geógrafos chamam de capitalismo globalmente integrado – são demonstradas pela força dos blocos econômicos – como a União Européia –, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para manter a influência sobre seus parceiros comerciais. Nesse processo, interesses econômicos e políticos se mesclam o tempo todo. 

No livro, os autores identificam um novo movimento de regionalização do espaço contemporâneo a partir de redes integradas ilegais de poder, como o tráfico de drogas e o terrorismo globalizado – por exemplo, a rede árabe Al Qaeda –, e de organizações não-governamentais (ONGs). Estas seriam talvez as melhores indicadoras da desordem na organização do território, por não atuarem em uma base específica. Segundo Haesbaert e Porto-Gonçalves, a existência dessas organizações civis comprova a crise do Estado, que não exerce o seu papel político em causas sociais. 

O uso de termos mais complexos, além de referências constantes a teóricos, podem vir a confundir o leitor que não está habituado à linguagem acadêmica. No entanto, os próprios avanços e retrocessos do texto, bem amarrado pelos autores, transmitem a idéia principal do livro: a reconfiguração dos territórios devido a mudanças nas relações de poder e ao hibridismo cultural. Ler A nova des-ordem mundial pode ser um começo para entender esse movimento. 

A nova des-ordem mundial 
Rogério Haesbaert e Carlos Walter Porto-Gonçalves 
São Paulo, 2006, Editora Unesp 

Fabíola Bezerra 
Revista Ciência Hoje

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A desigualdade entre os estados



Um dos problemas da federação brasileira é a desigualdade entre a importância e o peso dos 26 estados que hoje compõem a federação , aos quais se soma um distrito federal , onde está sediada a capital da República. São assim, na realidade, 27 unidades políticas.

Há também, uma grande diferença quanto a sua extensão territorial: o estado mais extenso, o Amazonas, é aproximadamente 60 vezes maior que o menos extenso, Sergipe. A essa diferença soma-se a outra, a da população absoluta entre os vários estados, a ponto de São Paulo, o mais populoso, abrigar em 1995 cerca de 21,6 %  da população do país, o que corresponde a 128 vezes à dos estados menos populosos (...).

Quanto à representação política, cada estado, seja qual for a sua população e renda, elege três senadores, o que torna muito mais fácil a uma político  eleger-se por estados pouco povoados como Roraima ou Amapá, do que por um estado com população elevada, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais. Por outro lado, a distorção maior se observa em relação à representação estadual na Câmara dos Deputados, a Constituição de 1988, estabeleceu um número mínimo de deputados por estado, ou seja, oito representantes, e um máximo de setenta deputados (...).
Manuel Correia de Andrade

Buracos na Sibéria associados a mudanças climáticas

Derretimento do permafrost pode ter provocado aumento de pressão nas camadas sob a superfície do solo
Screengrab Newslook Video
Um buraco siberiano apareceu misteriosamente e foi relatado em julho de 2014.


Tanya Lewis e LiveScience 

Um trio de misteriosos buracos no norte da Sibéria deu origem a muitas teorias, mas cientistas sugerem algumas explicações concretas.

De acordo com o jornal Siberian Times, em meados de julho pastores de renas encontraram uma cratera com aproximadamente 80 metros de largura, na Península de Yamal, cujo nome significa “fim do mundo”. Desde então, dois outros fenômenos – uma cratera de 15 metros no distrito de Taz e uma de 60 a 100 metros na Península de Taymyr – também foram relatados.

Nem alienígenas nem meteoritos provocaram essas estranhas cavidades, como alguns especulavam, mas a verdadeira explicação poderia ser igualmente empolgante. Cientistas russos investigaçam para descobrir mais.

Imagens aéreas do primeiro buraco mostram o local cercado por montes de terra solta que parecem ter sido removidos do buraco.

“Em minha opinião pessoal, isso é um tipo de sumidouro”, declarou Vladimir Romanovsky, geofísico que estuda o permafrost na University of Alaska Fairbanks. Sumidouros são buracos formados no chão quando a água não consegue ser drenada.

A água provavelmente veio do derretimento do permafrost ou de gelo, observa Romanovsky, que já falou com os cientistas russos que investigam o local. Mas enquanto a maioria dos sumidouros suga o material colapsado, “esse acabou entrando em erupção”, contou ele à LiveScience. “Isso sequer existe na literatura científica. Estamos lidando com algo completamente novo”, adicionou ele.

A princípio, o cientista polar Chris Fogwill da University of New South Wales, na Austrália, sugeriu que o primeiro buraco tivesse sido criado pelo colapso de um “pingo”, um grande aglomerado de gelo coberto por terra que normalmente se forma em regiões árticas e subárticas.

“Grandes buracos começaram a aparecer na Sibéria, e cientistas acreditam que o clima é a causa: http://t.co/4mExye7BR9 pic.twitter.com/bix07TBEka” – Sean Breslin (@Sean_Breslin), 29 de Julho de 2014

Kenji Yoshikawa, cientista ambiental da University of Alaska Fairbanks, também declarou acreditar que uma poça drenada e colapsada de “pingo” seja a explicação mais provável para a cratera da Península de Yamal. No Alaska existem “pingos” semelhantes no norte da Península Seward, e perto da cidade de Nuiqsut.

Mas Romanovksy declarou que o buraco não parece um “pingo” típico colapsado; esses fenômenos normalmente se formam a partir de montes maiores que colapsam após décadas, com todo o material caindo para dentro.

A partir da foto da cratera de Yamal, “é óbvio que parte do material foi ejetado pelo buraco”, aponta Romanovsky. Seus colegas russos que visitaram o local lhe disseram que a pilha de areia tinha mais de um metro de altura ao longo das bordas do buraco.

A formação da cratera provavelmente começou de maneira semelhante à de um sumidouro, onde a água (nesse caso, gelo ou permafrost derretido) se acumula em uma cavidade subterrânea, explicou Romanovsky. Mas em vez de o teto da cavidade colapsar, algo diferente ocorreu. A pressão aumentou, possivelmente oriunda do gás natural (metano), e acabou lançando lama para todos os lados quando o chão afundou. Anna Kurchatova, cientista do Centro de Pesquisa Científica Subártico da Rússia, fez uma observação semelhante ao Siberian Times.

A foto da borda da cratera mostra uma vegetação que não parece recente, o que sugere que o buraco talvez tenha vários anos de idade, observa Yoshikawa. Romanovsky acredita que a cratera possa ser mais recente, mas pesquisadores precisarão examinar imagens de alta resolução obtidas por satélites para descobrir exatamente quando a cratera apareceu.

E ainda restam muitas outras perguntas: se um sumidouro lançou material para fora, porque sua borda é tão redonda e regular? Será que havia gás suficiente para provocar uma erupção? E de onde veio esse gás?

De acordo com Romanovsky, essa parte da Sibéria contém campos profundos de gás, além de vários lagos pequenos que se formaram entre quatro e 10 mil atrás atrás, quando o clima era mais quente. Talvez esses estranhos buracos tenham se desenvolvido da mesma maneira que os sumidouros, expandindo-se mais tarde.

Domos de gás natural também existem nos Estados Unidos, localizados a leste do Rio Sagavanirktok, no norte do Alaska.

O desenvolvimento de sumidouros de permafrost poderia ser uma indicação do aquecimento global, alerta Romanovsky. “Se esse for o caso, provavelmente veremos isso acontecer com mais frequência”.
Scientific American Brasil

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Notícias Geografia Hoje

Por que os EUA e a Europa relutam em criticar Israel?


Americanos e europeus reconhecem direito de Israel de "se defender"

Enquanto várias cidades do mundo registraram protestos contra Israel pelos ataques à Faixa de Gaza, nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia muitos governos relutam em questionar a estratégia militar israelense.

Desde o início da ofensiva, mais de 1.800 palestinos foram mortos, 75% deles civis, segundo as Nações Unidas. As vítimas israelenses foram 67, quase todos militares, à exceção de três civis.

Mas a ONU fez grandes críticas a Israel depois que uma escola da organização no campo de refugiados de Jabaliy, em Gaza, foi bombardeada pelos israelenses – episódio que resultou em 15 mortes. Os Estados Unidos chegaram a criticar Israel, mas ressaltaram o direito do país "se defender".

Há alguns dias, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália também pediram um cessar-fogo e reprovaram a perda de vidas, mas da mesma forma foram cuidadosos em ressaltar o "direito de defesa" de Israel.

Quando o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou na quarta-feira passada uma abertura de investigação para determinar se Israel cometeu crimes de guerra em Gaza o resultado foi 29 a 1. Os Estados Unidos votaram contra, e França, Alemanha e Grã-Bretanha se abstiveram.
"Rodeado de inimigos"

A própria criação do Estado de Israel, após o holocausto judeu, está enraizada nos interesses de potências como Estados Unidos e Grã-Bretanha.

Washington reconheceu o Estado de Israel no mesmo dia de sua proclamação, em 1948. Com o tempo, o país se tornou o principal aliado americano na região.

"Os Estados Unidos, em diferentes governos, sempre sentiram a necessidade de defender Israel de ataques globais, particularmente na ONU, onde há um amplo número de países da África, Ásia e América Latina que estão dispostos a se unir para criticar Israel", disse à BBC Mundo Edward Gnehm, ex-embaixador dos Estados Unidos na Jordânia e hoje professor da Universidade George Washington, na capital americana.

A relação atual entre os dois países está embasada em mais de US$ 3 bilhões em ajuda financeira militar fornecida pela Casa Branca. Segundo o Serviço de Investigações do Congresso americano, Israel é o principal receptor de ajuda estrangeira dos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial. O valor acumulado da assistência chega a US$ 121 bilhões.

Além disso, parte significativa da população americana simpatiza com Israel. Uma pesquisa recente realizada pelo Centro de Investigação Pew revelou que 40% dos americanos considera que o Hamas é culpado pela violência atual em Gaza. Os que culpam Israel são 19%.

Além disso, 35% dizem que a resposta de Israel ao conflito está sendo adequada, enquanto 25% opinam que ela foi exagerada.
Europa

Na Europa, a postura dos países não é homogênea nem responde às mesmas condições. Uma das razões está relacionada ao sentimento de culpa em relação aos judeus, segundo Mariano Aguirre, diretor do Centro Norueguês de Construção da Paz.

A Alemanha, por exemplo, é sensível às relações com Israel e permanece atenta ao surgimento de estereótipos antissemitas.

Segundo Michael Brenner, diretor do Centro de Estudos de Israel da Universidade Americana, em Washington, em algumas manifestações recentes os participantes fizeram uma diferença entre Israel e os judeus.

"Qualquer crítica a Israel é permitida, mas (o governo) será mais severo com os efeitos antissemitas dessas manifestações", ele disse.

Aguirre afirmou que a história colonial da França e da Grã-Bretanha também estão relacionadas ao tema. Segundo ele, esses países "ficam presos em seus próprios discursos" na medida em que as decisões que tomaram no início do século 20 criaram uma atual "inércia diplomática" - que hoje eles não querem revisar.

Para especialistas, ISrael desfruta sentimento de impunidade ao violar tratados com ação militar

Outro fator importante para os países europeus é a relação com Washington. "Se criticam Israel, os países sabem que estão colocando em dúvida a postura dos Estados Unidos", disse Félix Arteaga, pesquisador do Instituto Real Elcano, uma organização não governamental espanhola.

De acordo com ele, os governos europeus não vão criticar a desproporcionalidade dos ataques israelenses antes que o governo Barack Obama o faça.

Além disso, um fator conjuntural também dificulta que as nações da Europa critiquem Israel. "A União Europeia já tem muitos problemas para articular sanções contra a Rússia por causa do conflito na Ucrânia e não pode abrir outra frente", disse Arteaga.

Por causa desses fatores, segundo o pesquisador, Israel desfruta uma sensação de "impunidade".

"Há muito tempo os Estados Unidos e a Europa, líderes nesse conflito, aceitaram implicitamente que Israel tem impunidade. Por isso, pode violar sistematicamente o direito internacional, o direito humanitário e os acordos de que é signatário sem ser condenado", afirmou.

Israel já violou 32 resoluções do Conselho de Segurança da ONU desde 1968, segundo um estudo de Steven Zines, da Universidade de San Francisco, publicado no jornal israelense Haaretz.
Hamas

Segundo Nadim Shehadi, investigador associado de Oriente Médio na Chatan House, um centro de estudos em Londres, uma solução do conflito no momento atual daria força ao Hamas – classificado como grupo terrorista por Washington - na OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

"O Hamas se declararia vitorioso", segundo Shehadi. Ele afirmou que os Estados Unidos e a Europa querem evitar isso a qualquer custo.

Além disso, segundo Aguirre, americanos e europeus ficaram sem uma "resposta política" após o fracasso das negociações da criação dos dois Estados lideradas pelo secretário de Estado americano John Kerry.

"Ficaram sem um marco de referência e sem modelos de negociação para oferecer"
BBC Brasil

Brasil obtém permissão da ONU para explorar minério em fundo do oceano



Área a ser explorada fica em águas internacionais, a 1.500km da costa do Rio de Janeiro

O Brasil foi autorizado por um braço da ONU a explorar recursos minerais em águas internacionais do oceano Atlântico, levantando tanto potenciais ganhos econômicos quanto preocupações ambientais.

Essa mineração submarina é considerada uma nova fronteira na busca por metais preciosos, como manganês, cobre e ouro, que se tornaram essenciais na economia mundial moderna.

A permissão foi concedida pela Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (Isba), órgão vinculado à ONU, e confere ao país o direito de atuar por 15 anos em uma área de 3 mil quilômetros quadrados na região do Atlântico conhecida como Elevação do Rio Grande, localizada a cerca de 1,5 mil km da costa do Rio de Janeiro.

O pedido foi feito em dezembro pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em nome do Ministério de Minas e Energia, depois do investimento de R$ 90 milhões ao longo de quatro anos de estudos sobre o potencial geológico desta área.
Potencial econômico

O Brasil poderá estudar as chamadas crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto em projetos de mineração submarina. Segundo o CPRM, esses depósitos foram identificados como os de maior potencial econômico e estratégico em levantamentos realizados em expedições a essa região.

"Nestes 15 anos, mapearemos o que existe lá e avaliaremos seu potencial econômico. Depois, podemos entrar com um novo pedido para explorar economicamente", afirma à BBC Brasil Roberto Ventura Santos, diretor de geologia e recursos minerais do CPRM.

"As possibilidades são interessantes, porque é uma região rica em elementos químicos usados na indústria, especialmente nas de alta de tecnologia, na produção de chips, peças de usinas eólicas e carros elétricos."

Santos afirma ainda que o Brasil ampliará seu conhecimento técnico sobre este tipo de mineração submarina, formará profissionais capacitados a trabalhar nesta área e criará tecnologia para tal.

"Somos o primeiro país da América Latina a conseguir essa permissão e, assim, entramos no seleto grupo de países que fazem este tipo de exploração, como Japão, Estados Unidos e China", diz Santos.
Novas permissões

Reservas de metais no fundo do oceano são consderadas nova fronteira da mineração

Além do Brasil, a ONU concedeu outras seis novas permissões a empresas públicas e estatais do Reino Unido, Cingapura, Ilhas Cook, Índia, Alemanha e Rússia.

Com isso, a área total do leito oceânico liberada para exploração foi ampliada para 1,2 milhão de quilômetros quadrados, sob um total de 26 permissões de exploração científica.

A ONU ainda não conferiu nenhuma permissão de exploração econômica, conhecida como explotação, mas as primeiras devem ser concedidas nos próximos anos, segundo a Isba.

"Existe um interesse crescente", disse Michael Lodge, da Isba, à BBC. "A maioria dessas últimas permissões foi concedida a empresas que esperam minerar estas áreas em pouco tempo".

No entanto, ainda precisam ser negociadas as condições e regras dessa atividade econômica, como por exemplo a divisão de royalties, já que um dos princípios básicos da Isba é que as riquezas do fundo do oceano devem ser compartilhadas globalmente.

A exploração mineral do fundo oceano começou a ser investigada na década de 1960, mas só recentemente tornou-se possível graças a avanços tecnológicos – criados nas indústrias de petróleo e gás. Ao mesmo tempo, o preço destas matérias-primas aumentou, também as chances de se obter um bom retorno econômico, o que viabilizou os investimentos necessários para obtê-las.
Impacto ambiental

No entanto, esse tipo de exploração não é vista com bons olhos por grupos de defesa do meio ambiente, que alegam que a exploração pode trazer prejuízos para ecossistemas marinhos.

Um protocolo para minimizar o impacto ambiental ainda está sendo estudado.

O biólogo marinho Jon Copley, da Universidade de Southampton, vem monitorando a mineração nas chamadas dorsais oceânicas, nome dado às cadeias de montanhas submersas que se originam do afastamento de placas tectônicas.

"Cerca de 6.000km de dorsais oceânicas, ou 7,5% do total, são exploradas hoje por seu potencial mineral", afirma Copley.

"Essas dorsais são um dos três locais do fundo do oceano em que há depósitos mineirais que atraem o interesse de países e empresas. Mas também vivem nestes locais colônias de espécies que não são encontradas em outras partes do oceano e podem ser suscetíveis a impactos ambientais gerados pela mineração."

Santos, da CPRM, diz que isso será levado em conta no caso brasileiro: "Faremos um estudo de impacto ambiental junto com o de potencial econômico. Nosso pedido foi muito elogiado por causa disso".

Com reportagem de David Shukman, editor de ciência da BBC News, e Rafael Barifouse, repórter da BBC Brasil.
BBC Brasil

Surto de garimpo destrói floresta e divide índios no Pará


João Fellet
Enviado da BBC Brasil a Ourilândia do Norte (PA)


A Funai diz que há por volta de 25 frentes ativas de garimpo dentro da Terra Indígena

Alimentado pelos preços em alta do ouro, um novo surto de garimpo ilegal está se alastrando com rapidez e gerando destruição numa das últimas áreas de floresta amazônica no sudeste do Pará. Com máquinas pesadas, os garimpeiros avançam por territórios habitados pelo povo kayapó e assediam os índios, que estão divididos quanto à atividade.

Alguns líderes kayapós passaram a tolerar o garimpo em suas terras em troca de um percentual dos lucros. Eles dizem precisar dos recursos para sustentar as aldeias e cobram do governo políticas que lhes permitam abrir mão das receitas.

A atividade, porém, é ilegal, e seu combate compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e à Fundação Nacional do Índio (Funai).

Segundo Thaís Dias Gonçalves, coordenadora geral de monitoramento territorial da Funai, a Terra Indígena (TI) Kayapó, em Ourilândia do Norte, é a área indígena do país onde a atividade garimpeira é mais intensa.

A Funai diz que há por volta de 25 frentes ativas de garimpo dentro da TI. O território – que ocupa cerca de 33 mil quilômetros quadrados, área equivalente à de Alagoas e do Distrito Federal somados – é quase inteiramente coberto por mata nativa.

A TI Kayapó convive com surtos esporádicos de garimpo há décadas. Segundo a Funai, porém, a atividade alcançou níveis sem precedentes nos últimos meses.

A BBC Brasil acompanhou uma operação contra o garimpo na área na semana passada. De helicóptero ou avião, veem-se as enormes clareiras com lagos artificiais abertos pelas escavadeiras. Algumas frentes de garimpo têm cerca de 40 quilômetros quadrados, o equivalente a dez campos de futebol. Nos rios que cruzam a terra dos kayapó, cerca de 90 balsas reviram o solo em busca do metal.

Os agentes do Ibama e da Funai desceram em algumas minas e deram prazo de dez dias para que os garimpeiros deixassem o local. Os órgãos estimam que haja na terra indígena entre 4 e 5 mil garimpeiros, o equivalente a quase um terço do total de índios na área (16 mil). Segundo os agentes, quem ficar será expulso e terá seus equipamentos destruídos.

Moradores da região dizem que o garimpo poluiu os rios e reduziu drasticamente o número de peixes. Para separar e aglutinar o metal, garimpeiros usam mercúrio e cianeto, duas substâncias tóxicas.

"O garimpo é o ilícito ambiental mais grave que o Ibama enfrenta hoje no país", diz à BBC Brasil o diretor de proteção ambiental do órgão, Luciano de Menezes Evaristo.

Evaristo cita, além da destruição causada pela atividade, suas consequências sociais. "O garimpo traz no seu bojo uma decadência: com ele vêm o tráfico de drogas, a prostituição e a exploração do trabalho infantil."

O diretor do Ibama afirma que os casos de garimpo no país têm se multiplicado, especialmente no Pará. Segundo Evaristo, outro ponto crítico no Estado é a bacia do rio Tapajós, no oeste paraense, onde há pelo menos 3 mil frentes da atividade.

O diretor do Ibama atribuiu o surto ao bom preço do metal. Considerado um investimento seguro em tempos de instabilidade na economia, o ouro valia cerca de US$ 800 dólares a onça (31 gramas) no fim de 2007. Hoje vale US$ 1.297.


Surto do garimpo está ligado ao bom preço do ouro, que valorizou nos últimos anos
Índios divididos

Na semana passada, a BBC Brasil acompanhou uma reunião na sede da Funai em Tucumã em que o Ibama informou autoridades locais e cerca de 15 líderes kayapós sobre a operação contra o garimpo.

Alguns índios se queixaram da ação e disseram que a atividade ajuda a sustentar suas aldeias. Segundo eles, os garimpeiros pagam às comunidades um percentual de seus lucros.

O cacique Niti Kayapó, da aldeia Kikretum, afirmou que o dinheiro do garimpo tem lhe ajudado a pagar o aluguel de tratores usados na colheita de castanha – atividade que, segundo ele, é a principal fonte de renda de sua comunidade.

"Eu preciso ter alguma coisa para a comunidade. Se vocês (governo) disserem que têm um projeto de 300, 500 mil reais para nós, a gente vai lá e tira os garimpeiros. Mas vocês não têm."

Houve um bate-boca quando um índio disse que o garimpo em área vizinha à sua aldeia tinha poluído a água usada por sua comunidade. A maioria dos líderes presentes assinou uma carta pedindo que os garimpeiros fossem expulsos da TI.

Moradores da região dizem que o garimpo poluiu os rios e reduziu drasticamente o número de peixes

Na reunião, os índios também pediram às autoridades que pressionassem a mineradora Vale a executar seu plano de compensação por ter implantado uma mina a 34 quilômetros da TI.

Para mitigar o impacto na área da mina Onça Puma, que produz ferroníquel, a empresa se comprometeu, entre outras ações, a construir uma casa de apoio para indígenas em Ourilândia do Norte e financiar projetos de geração de renda nas aldeias.

Segundo a Funai, as ações, que vêm sendo negociadas há quase uma década, custarão cerca de R$ 3,5 milhões. Nesta semana, 70 índios foram à sede da mineradora em Redenção para reforçar a cobrança. Em nota à BBC Brasil, a mineradora disse que o plano começará a vigorar em agosto.

Os índios também cobram da estatal Eletrobrás e do consórcio Norte Energia que cumpram o compromisso de financiar projetos de geração de renda nas aldeias. O acordo é uma contrapartida pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, que fica a cerca de 500 quilômetros da TI Kayapó, rio Xingu abaixo.

Em nota, a Eletrobrás afirmou que os projetos devem ser pactuados com os índios até o fim de 2014 e executados a partir de 2015. Serão destinados R$ 1,5 milhão por ano às ações, ao longo de três anos.

Segundo Thaís Dias Gonçalves, coordenadora geral de monitoramento territorial da Funai, somente serão contempladas pelos programas da Vale e da Eletrobrás/Norte Energia as aldeias que não tenham qualquer envolvimento com o garimpo.

Ela afirma, no entanto, que os programas não serão capazes de competir com o garimpo em volume de recursos.

Para Gonçalves, erradicar a atividade na área de uma vez por todas exige um trabalho de inteligência policial, que identifique quem está lucrando com o negócio. "Tanto o garimpeiro quanto o indígena envolvido são parte muito pequena de uma cadeia fortíssima."
BBC Brasil

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