quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mudança do clima é apenas um dos problemas ambientais

A humanidade terá que se adaptar à mudança do clima, como nossa espécie já fez no passado 

NASA/Trent Schindler and Matt Rodell
Depleção de águas subterrâneas

Os satélites que compõem o Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE) podem ver a diminuição dos reservatórios de águas subeterrâneas de grandes aquíferos como consequência das secas e da atividade humana. Através dos dados de GRACE, os cientistas descobriram que os níveis de águas subterâneas na Índia caiu 33 centrímetros na região entre os anos de 2002 e 2008. e concluíram que a perda decorre quase exclusivamente da atividade humana. 

“A realidade deve ter precedência sobre as relações públicas, porque a natureza não pode ser enganada” – do físico Richard Feynman, no relatório final sobre o desastre daChallenger

Desde o início de sua existência na Terra, a vida tem que lidar com a mudança ambiental, especialmente a mudança climática. Espécies se adaptam ou são extintas, e as duas coisas já aconteceram.

Para formas de vida com nossos tipos de células – eucarióticas, o tipo que tem organelas distintas – a existência média de uma espécie é de aproximadamente um milhão de anos e, em média, uma espécie é extinta a cada ano, pelo menos em se tratando das espécies que batizamos e conhecemos, incluindo as que só conhecemos de registros fósseis. 

Organismos se ajustam à mudança ambiental de três maneiras, da mais rápida para a mais lenta: comportamentalmente, fisiologicamente, e geneticamente.

O ecologista Larry Slobodkin costumava demonstrar as duas primeiras fazendo uma brincadeira durante suas palestras ao jogar um pedaço de giz para um de seus alunos. O aluno desviava ou pegava o giz e Larry ensinava que essa era a resposta comportamental, a primeira e mais rápida. Passados 20 segundos, o aluno corava demonstrando o segundo, o fisiológico.

As reações, explicava ele, não eram apenas relativamente rápidas, mas usavam pouca energia em uma população. Se esses ajustes não fossem bem sucedidos, a composição genética de uma população poderia mudar e a transmissão de genes à geração seguinte poderia dar origem indivíduos com características melhor ajustadas ao ambiente modificado, num processo obviamente muito mais lento.

Organismos individuais móveis migram como forma de se ajustar ao clima. Plantas e outras espécies não-móveis se ajustam com sementes ou outros propágulos que se deslocam facilmente. Vento, água e animais fornecem a maior parte do transporte.

Em qualquer população existe uma mistura de tipos genéticos e, como explicou Darwin há muito tempo, aqueles melhores adaptados ao clima do momento deixam uma prole maior do que os menos adaptados, e com o tempo uma população evolui para se adequar ao novo clima.

Mas esse ajuste genético leva tempo, e como o clima está sempre mudando, pode ser que a qualquer momento uma população esteja se ajustando geneticamente a um clima que esteve presente, mas que passou ou estava passando. Isso era, e é, uma dança eterna. Populações nunca estão exatamente em harmonia perfeita com seu ambiente atual.

Se a taxa de mudança ambiental é rápida demais, populações não conseguem se adaptar e são extintas. Lidar com mudanças ambientais sempre foi parte de estar vivo.

O homem primitivo era parte dessa dança entre vida e ambiente. O Homo erectus, o primeiro de nosso tipo a deixar a África, provavelmente teria migrado naturalmente. Eles podem não ter pensado nisso como sendo uma migração em sentido moderno; iam para onde o ambiente, incluindo as fontes de alimento e água, era melhor. A mudança ambiental era simplesmente natural, e mudar com ela também era.

Com o início da civilização e a construção de abrigos que podiam durar muito tempo, e com investimentos de tempo e esforço em campos agrícolas, bem como a descoberta de fontes específicas de minerais e a construção de minas para obtê-los, a vida das pessoas mudou e surgiu o desejo de estabilidade .

O estabelecimento dos direitos de propriedade e fronteiras nacionais (começando com fronteiras territoriais estabelecidas por tribos) aumentaram a necessidade e o desejo pela constância de local e ambiente.

Pode-se argumentar que a nossa espécie é a que mais precisa e mais deseja a constância, e que por isso formou visões de mundo que não apenas requerem a constância ambiental, mas que a transformaram em uma crença fundamental, um modo de vida, uma série de mitos. 

Quanto mais tecnológica e legalmente avançada é uma civilização, maior é sua necessidade e desejo por estabilidade ambiental, por um equilíbrio da natureza. Daí nosso dilema moderno frente à mudança climática.

Em vez de alegar que o mundo é constante exceto por nossa pecaminosa interferência nele, precisamos reconhecer e encontrar maneiras de conviver com a mudança ambiental.

Isso pode incluir fazer nosso melhor para deter ou desacelerar essa mudança, como fazemos no curto prazo com a irrigação agrícola, estabilizando a “precipitação”, por assim dizer.

Quanto mais trabalhamos para forçar uma constância ambiental para nossos arredores, mais frágil se torna a constância e maior é o esforço e a energia que elas requerem.

O uso de água do subsolo para a irrigação de plantações ilustra essa fragilidade. Grandes aquíferos que precisaram de muitos milhares de anos para se formar estão sendo depletados pela irrigação de plantações em intervalos de tempo comparativamente curtos – décadas ou séculos.

Um grande exemplo dessa depleção é o aquífero Ogallala (também chamado de aquífero das Planícies Altas), que se estende da Dakota do Sul até o Texas. Ele armazena uma quantidade imensa de água, e é a principal fonte hídrica da área. Seu uso começou nos anos 1940. Hoje a água é retirada até 20 vezes mais rápido do que a reposição naturalmente reposta. No sudoeste do Kansas e em um trecho de terra (panhandle) do Texas ocidental, diz-se que os suprimentos podem durar apenas mais uma década.

Lower Cimarron Springs, famosa no século 19 como fonte de água ao longo do Caminho de Santa Fé, secou décadas atrás devido ao bombeamento de água do solo. Milhões de dólares serão necessários para encontrar fontes alternativas. 

Atingir a estabilidade de curto prazo ao custo da fragilidade de longo prazo é uma troca tem um preço. Faz mais sentido que as primeiras civilizações, como Egito e Pérsia, estivessem mais estabelecidas a jusante de um sistema de rios com um fluxo que variava anualmente, mas era relativamente constante comparado a grande parte das terras circundantes. 

Quando dou palestras sobre as harmonias discordantes da natureza e sobre minhas opiniões mutantes sobre o aquecimento global, uma resposta comum é “Por que se importar em apontar isso? Todo mundo acredita no aquecimento global, e fazer alguma coisa sobre isso não estraga nada e só pode trazer benefícios”.

Em nosso mundo real, a opção por uma ação significa que outras ações não serão tomadas. Estamos bem conscientes, nesses dias de limites mundiais de capital e financiamento que devemos escolher cuidadosamente o que fazer. Esse é o problema.

Falta aos debates sobre o aquecimento global situá-lo dentro do conjunto de grandes problemas ambientais e estabelecer prioridades com base no que pode ser feito, no que precisa de ações mais imediatas, e no que é mais importante.

Além dos possíveis efeitos sobre o clima, atividade humana está reduzindo a diversidade biológica geral através de atitudes que incluem (não em ordem de prioridade) a destruição de habitat; a super-exploração de recursos renováveis vivos; a poluição química; a remoção de água do subsolo; a depleção de recursos minerais necessários à vida, especialmente fontes de fosfato; e a introdução de espécies exóticas que prejudicam outras espécies e são indesejáveis de nosso ponto de vista, e simplesmente fazem com que outras espécies fiquem ameaçadas de extinção.

Esses são problemas do tipo “aqui, agora”. Além disso, às vezes ações que supostamente ajudarão a mitigar ou a reduzir o aquecimento global criam ou pioram outros problemas ambientais.

Por exemplo, na Indonésia, 44 milhões de acres (18 milhões de hectares) de florestas tropicais foram cortados para plantar palmeiras para produzir óleo de palma que será usado como biocombustível. Isso é justificado como sendo bom para o ambiente porque deve reduzir emissões de gases estufa e, portanto, deve reduzir a taxa de aquecimento global. Mas essa destruição de habitat põe orangotangos e tigres da Sumatra, já ameaçados de extinção, ainda maisem perigo.

Enquanto poucas, se é que alguma, organizações ambientais serão enganadas pela alegação de que isso será benéfico para o ambiente, a União Europeia e o governo da Malásia estão considerando o que fazer com o biocombustível dessas plantações, levando a sério a possibilidade de que usar esse combustível em carros e caminhões na Europa contrabalanceará parte da produção de gás estufa desses veículos e que por isso é justificada e, em geral, ambientalmente segura.

Isolar o aquecimento global de outros problemas ambientais é uma abordagem que privilegia um fator, o que tem sido muito comum nas decisões de política ambiental.

A Clean Water America Alliance, por exemplo, lembra que o uso de recursos hídricos requer energia considerável, mas o uso de água e de energia são tratados como problemas separados na maior parte das análises de políticas ambientais.

Como o aquecimento global recebe tanta atenção e tanto financiamento, abordar um único fator é um aspecto particularmente importante da análise política desse problema.

Em muitos casos, ações que ajudam a resolver outro problema ambiental também podem ser benéficas para reduzir efeitos indesejáveis da mudança climática.

Discuto em Powering the Future: A Scientist’s Guide to Energy Independence (Energizando o Futuro: O guia de um cientista para a independência energética, literalmente), por exemplo, que o abandono de combustíveis fósseis em direção à energia solar e eólica reduz a contribuição humana de gases estufa para a atmosfera enquanto também reduz a destruição de habitat (da mineração de combustíveis fósseis) e a poluição do ar, da água, e dos oceanos (da mineração, processamento e queima desses combustíveis), beneficiando a biodiversidade e a saúde e bem-estar humanos.

O mesmo pode ser dito de um afastamento de usinas nucleares baseadas em fissão, cujas substâncias tóxicas duram até milhões de anos (o governo dos Estados Unidos está procurando um sinal de alerta que mantenha as pessoas longe de depósitos de resíduos nucleares por 10 mil anos).

A politização e as crenças movidas por ideologias sobre o aquecimento global dos dois lados do problema evitam um exame ponderado e racional de onde ações para mitigar o aquecimento global poderiam se encaixar em um conjunto de prioridades.

De fato, simplesmente alegar que essa priorização é possível já leva a uma mudança em pontos de vista e provavelmente frustrará muitos que acreditam que o aquecimento global já é uma realidade presente e futura com efeitos desastrosos.

Precisamos ser capazes de colocar a discussão em um contexto racional. Entre outros aspectos desse contexto, nós precisamos, como escreveu Thomas Friedman em 14 de setembro de 2011 no New York Times, “começar a dar passos, como incitam nossos cientistas, ‘para controlar o inevitável e evitar o incontrolável”. Não apenas na mudança climática, mas para estabelecer uma abordagem integrada e multifatorial para nossos maiores problemas ambientais.

Excerto de The Moon in the Nautilus Shell: Discordant Harmonies Reconsidered, por Daniel B. Botkin. Oxford University Press, 2012. Copyright © 2012. Reimpresso com permissão. 
Scientific American Brasil

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Astronautas fotografam vulcão em erupção visto do espaço

DE SÃO PAULO
Astronautas a bordo da ISS (Estação Espacial Internacional) obtiveram a impressionante imagem à direita: um flagrante da erupção do vulcão Ulawun, em Papua-Nova Guiné (Sudeste Asiático).

O Ulawun, que tem 2.334 metros de altura e está em atividade quase constante nos últimos anos, é visto no lado esquerdo da imagem, soltando uma pluma de vapor e cinza vulcânica que se estende rumo à ilha de Lolobau (embaixo na imagem).
Nasa/AFP
Fotografia do vulcão Ulawun, em erupção em Papua Nova Guiné

Os papuanos apelidaram o Ulawun de "o Pai", enquanto outro vulcão vizinho, o Bamus, é conhecido como "o Filho". Na imagem, o Bamus pode ser visto à direita, coberto por nuvens brancas.

Calcula-se que a ferocidade do Ulawun seja responsável por lançar na atmosfera cerca de sete quilos de SO2 (dióxido de enxofre) por segundo --cerca de 2% das emissões mundiais. A substância é responsável por criar uma espécie de "guarda-sol" na atmosfera, causando um resfriamento local e, em alguns casos, global.
Folha de S. Paulo

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Grupo encontra possível 'super-Terra' habitável

SALVADOR NOGUEIRA

Um grupo internacional de pesquisadores diz ter descoberto um possível planeta habitável fora do Sistema Solar.

Mas é melhor ir com calma: o que o novo estudo faz melhor é mostrar como é delicado o trabalho de procurar exoplanetas.

A descoberta foi feita usando dados do espectrógrafo Harps, do ESO (Observatório Europeu do Sul), o mais preciso do mundo para buscar planetas extrassolares.
Ilustração J.Pinfield/Universidade de Hertfordshire 
Concepção artística do novo candidato a planeta em órbita da estrela HD 40307, a 44 anos-luz da Terra

Contudo, o trabalho não é fruto de uma nova leva de observações, mas de dados antigos, garimpados dos arquivos da organização.

A estrela, designada HD 40307, é parecida com o Sol, mas um pouco menor e mais fria (cerca de 70% da massa solar), localizada a 44 anos-luz da Terra. (Um ano-luz equivale à distância que a luz percorre em um ano, cerca de 9,5 trilhões de quilômetros.)

Com as observações originais, pesquisadores europeus já haviam descoberto três planetas, todos muito próximos da estrela para abrigar água em estado líquido --principal qualidade para a habitabilidade.

Usando uma nova técnica de análise, a equipe liderada por Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e Guillem Anglada-Escudé, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, conseguiu extrair sinais de outros três mundos orbitando HD 40307.

O mais interessante deles completa sua órbita (um ano naquele mundo) em cerca de 200 dias terrestres. Como a estrela é um pouco menos brilhante que o Sol, ele está na posição certa para abrigar água em estado líquido na superfície.

E o melhor de tudo: ele tem cerca de sete vezes a massa da Terra, o que o coloca numa categoria de planeta que possivelmente tem solo rochoso --as "super-Terras". É interessante notar que não há análogo desse tipo de mundo no Sistema Solar.
Editoria de Arte/Folhapress 

BAMBOLÊ ESTELAR

A técnica mais consolidada --e usada pelo Harps-- para detectar planetas é observar pequenas modificações na luz da estrela, causadas por seu movimento. Se o astro está se aproximando de nós, sua luz fica mais azulada. Se ele está se afastando, a luz fica mais avermelhada.

Essa variação, por sua vez, pode ser correlacionada com o efeito gravitacional que possíveis planetas --pequenos demais para serem observados diretamente-- causam na estrela, conforme giram em suas órbitas.

Só que a coisa fica mais complicada que isso. É preciso extrair outros efeitos (como variações naturais no brilho da estrela) e conseguir separar os efeitos individuais de cada planeta.

O novo software desenvolvido pelos pesquisadores é um avanço no sentido de melhorar a interpretação desses dados, aumentando a precisão das descobertas.

Só assim eles puderam encontrar o possível planeta habitável, designado HD 40307g. Mas o resultado não é incontroverso, a ponto de os próprios descobridores tratarem o objeto como "candidato", ainda carecendo de confirmação mais sólida.

Astrônomos não envolvidos com o achado se mostram céticos. "O fato de que eles colocam em dúvida no trabalho a própria natureza da descoberta já diz tudo", afirma Cassio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos (SP). "Para mim é o desejo de encontrar um planeta rochoso na zona habitável em uma distância que alguma missão seja capaz de alcançar em escalas de tempo razoáveis em alguma época futura."

A boa notícia é que, a 44 anos-luz daqui, de fato esse possível planeta estaria ao alcance de uma futura geração de telescópios espaciais, como o Terrestrial Planet Finder, da Nasa, e o Darwin, da ESA, que buscarão detectar diretamente a luz vinda desses astros.

"É o primeiro planeta na zona habitável no regime de massa das "super-Terras" que poderia ser alvo desses observatórios planejados", dizem Tuomi e seus colegas, no artigo aceito para publicação no periódico "Astronomy & Antrophysics".

Com a luz, seria possível identificar, por exemplo, a composição atmosférica desses mundos. Se HD 40307 tiver grandes quantidades de oxigênio em sua atmosfera, é certo que o planeta não só é habitável, como também é efetivamente habitado (pelo menos por criaturas capazes de fotossíntese, como plantas).
Folha de S. Paulo

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Estudo acha vida em salmoura isolada por 20 m de gelo na Antártida

DO EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

Poucos ambientes parecem menos promissores para a vida do que uma salmoura resfriada a -13 graus Celsius, mas um ambiente desse tipo é lar de uma diversificada comunidade de bactérias no interior da Antártida.

Mais intrigante ainda, esse ecossistema improvável parece estar isolado de fontes externas de energia e nutrientes há pelo menos 3.000 anos, afirmam os cientistas americanos que o exploraram pela primeira vez em artigo na revista científica "PNAS".

Alison Murray e seus colegas do Centro de Pesquisas do Deserto em Reno (sudoeste dos EUA) acharam as bactérias depois de cuidadosas perfurações no manto de pelo menos 20 m que recobre o lago Vida (veja mapa abaixo).

Não se sabe exatamente a profundidade do lago. Também não está claro se, abaixo da grossa camada de gelo, existiria algo parecido com uma lagoa líquida.

O que dá para dizer é que, abaixo de certa profundidade, a placa sólida de gelo começa a dar lugar a uma rede de canais por onde corre a salmoura onde vivem as bactérias do lago.
Alison Murray/Divulgação 
Lago Vida, corpo d'água congelado em vale no interior da Antártida

O líquido não congela totalmente, mesmo com a temperatura bem abaixo de zero, por causa da elevada quantidade de cloreto de sódio (o popular sal de cozinha) dissolvida nele. Por causa disso, essa água é seis vezes mais salgada que a do mar.

Levemente amarelo, o líquido contém tanto ferro que fica laranja-escuro quando exposto à atmosfera (dentro do lago, praticamente não existe oxigênio). Também há elevadas quantidades de enxofre e nitrogênio ali.

Mesmo assim, análises de DNA e observações de amostras da salmoura feitas com microscópios revelaram a presença de exemplares de pelo menos oito filos bacterianos (um filo é um agrupamento que reúne grande diversidade de espécies; o dos cordados, por exemplo, abrange todos os vertebrados, do homem aos peixes).

Tudo indica que várias dessas espécies nunca foram detectadas antes. Há sinais de que elas estão sobrevivendo em "marcha lenta" desde que ficaram isoladas ali -sem uma explosão populacional, mas mantendo seu metabolismo numa taxa baixa e relativamente constante.

O mistério é como elas estariam fazendo isso. Uma possibilidade é que estejam se aproveitando, por exemplo, do hidrogênio produzido pelas rochas da região, em contato com o lago, para produzir alguma energia.

Vai ser preciso mais trabalho para entender o que está ocorrendo no lago Vida, mas a descoberta já dá fôlego a uma busca bem mais ampla: a caçada por micróbios durões fora do nosso planeta.

É que as condições do lago antártico não são tão diferentes assim das que existem em oceanos congelados de locais como Europa, uma das luas de Júpiter. (Reinaldo José Lopes)
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
Folha de S. Paulo

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Universo está parando de fabricar novas estrelas, mostra levantamento

SALVADOR NOGUEIRA

Já não se fazem mais estrelas como antigamente. Um novo estudo mostra que 95% de todas elas já nasceram.

Também, pudera. Lá se vão 13,7 bilhões de anos, dos quais durante todo o tempo, salvo os 500 milhões de anos iniciais, o Cosmos vem fabricando novas estrelas.

A essa altura, a matéria-prima para a formação estelar --nuvens de gás-- está em vias de se tornar insuficiente para novas fornadas.

O trabalho, sob a batuta de David Sobral, da Universidade de Leiden (Holanda), teve observações de três diferentes instalações: o Ukirt e o Subaru, no Havaí, e o VLT (Very Large Telescope), no Chile.

Graças a essa combinação, astrônomos conseguiram observar diversas amostras de galáxias. Embora seja difícil distinguir estrelas individuais nesses casos, é possível analisar o espectro (a "assinatura" de luz) e identificar o nível de formação estelar.
Editoria de Arte/Folhapress 

E, como a luz desses objetos que chega até nós tem velocidade finita, viajando a 300 mil km/s, quanto mais longe olhamos, mais velha é a luz (o que permite estudar estados antigos do Universo).

"Obtivemos amostras grandes e robustas de galáxias que correspondem a 4,2 bilhões, 7 bilhões, 9,2 bilhões e 10,6 bilhões de anos atrás", diz Sobral. Seu artigo foi aceito pela publicação "Monthly Notices of the Royal Astronomy Society".

A referência buscada no espectro é uma emissão na chamada linha H-alfa do hidrogênio. "É a mais confiável de todas", afirma Laerte Sodré Junior, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.

Segundo ele, as principais conclusões estão de acordo com outros trabalhos. "Todos eles sugerem que a 'época de ouro' da formação estelar ocorreu há muito tempo e, essencialmente, em todo o intervalo de tempo coberto pelo estudo, a taxa de formação estelar vem decrescendo."

Não deixa de surpreender o fato de que restam só 5% para que o "download de estrelas" seja completado. Dali para frente, o Universo terá de se resignar a, calma e lentamente, se encaminhar para um tedioso apagar das luzes. Isso se a tendência for mantida, diz Sodré.
Folha de S. Paulo

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Brasileiros ajudam a desvendar segredos de 'irmão' de Plutão

SALVADOR NOGUEIRA

Um grupo internacional de pesquisadores, com importante participação brasileira, encontrou algumas surpresas ao fazer observações de um dos "irmãos menores" de Plutão, um astro chamado Makemake. Os achados, por sua vez, podem ajudar a compreender melhor o que caracteriza essa classe de objetos localizados nos confins do Sistema Solar.

Descoberto em 2005, esse planeta anão é aproximadamente esférico (suavemente oval) e tem cerca de 1.450 km de diâmetro. Mas a grande surpresa do novo estudo é que, diferentemente de Plutão, Makemake não tem uma tênue atmosfera global.

A técnica usada nas observações depende tanto de perícia quanto de sorte. Como esses astros estão muito distantes e são muito pequenos -- os dois maiores conhecidos são Plutão e Éris, ambos com cerca de 2.300 km de diâmetro --, os astrônomos usam um truque para descobrir mais sobre eles. Entra em cena o fenômeno das ocultações estelares.

Funciona assim: observando cuidadosamente a trajetória desses planetas anões pelo céu, eles calculam se e quando eles vão passar à frente de uma estrela mais distante, com relação aos telescópios na Terra. Um grupo de pesquisadores do Observatório Nacional, liderado por Roberto Vieira Martins, produz esses cálculos, com base em observações feitas no ESO (Observatório Europeu do Sul).
Nick Risinger/ESO/L. Calçada/skysurvey.org 
Concepção artística do planeta anão Makemake

Então, uma vez feita a previsão de quando o objeto irá passar à frente da estrela, astrônomos do mundo inteiro ficam de prontidão em seu telescópio para observar o fenômeno.

Nem todos conseguem observá-lo (assim como ocorre com um eclipse, nem todo mundo no planeta está precisamente posicionado para vê-lo direito), mas quem tentou participa do estudo. Por isso são 56 os autores do trabalho sobre o Makemake, que ganhou as páginas da última edição da revista "Nature".

Ao analisar a luz da estrela que passou por trás do objeto, é possível inferir uma porção de coisas sobre ele, como o diâmetro quase exato e a presença de uma atmosfera (quando não há, a luz da estrela "some" num piscar de olhos na ocultação; quando há, essa transição é mais suave, conforme as camadas atmosféricas vão gradualmente bloqueando a luz).

Após as observações, que incluem dados de qualidade coletados no Observatório Pico dos Dias, em Itajubá (MG), ficou patente que Makemake entra na categoria dos que não têm atmosfera global -- embora os pesquisadores não descartem que, em algumas regiões, ainda exista uma suave camada gasosa sobre a superfície.

Foi uma surpresa. "Ele era um dos melhores candidatos a apresentar uma tênue atmosfera", afirma Felipe Braga Ribas, do Observatório Nacional, um dos autores do estudo. "A não detecção é uma informação preciosa para entendermos os processos físicos aos quais esses corpos são submetidos."

Comparando os dados de ocultações obtidos com Plutão, Éris e Makemake, os pesquisadores apresentam a hipótese de que, entre os objetos da população que existe logo além da órbita de Netuno, aqueles que estão mais próximos do Sol devem ter uma leve atmosfera. Já os mais distantes provavelmente estão submetidos a tamanho frio que a atmosfera "colapsa" sobre a superfície, solidificando-se.

Isso explicaria, por exemplo, porque Éris (o mais distante dos três), além de não ter atmosfera detectável, é tão mais brilhante que Plutão. Provavelmente sua antiga atmosfera colapsou, produzindo uma camada nova de gelo "limpo" sobre a superfície.
Folha de S. Paulo

domingo, 9 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Negociações climáticas da ONU estendem Protocolo de Kyoto até 2020

DA REUTERS, EM DOHA

Quase 200 países estenderam neste sábado o prazo para um fraco plano da ONU (Organização das Nações Unidas) para combater o aquecimento global até 2020.

A extensão de oito anos do Protocolo de Kyoto para além de 2012 o mantém ativo como o único plano que gera obrigações legais com o objetivo de enfrentar o aquecimento global. Mas Rússia, Japão e Canadá abandonaram o contrato, o que faz com que as emissões de gases do efeito estufa de países que assinam o tratado representem apenas 15% do total global.

"Eu agradeço a todos pela boa vontade e pelo trabalho duro em fazer esse processo avançar", disse o presidente da conferência, Abdullah bin Hamad Attiyah, ao bater repetidamente o martelo em um pacote de decisões no final da maratona de negociações.

Mas o delegado de Moscou, Oleg Shamanov, disse que a Rússia, Belarus e Ucrânia se opõem à decisão de estender o Protocolo de Kyoto para além de 2012. A Rússia que limites menos rígidos sobre as licenças de emissões de carbono não utilizado, conhecido como ar quente.

Um pacote de decisões, conhecida como "Porta de Entrada Climática de Doha", também adiaria até 2013 uma disputa sobre demandas de nações desenvolvidas por mais recursos para ajudá-las a lidar com o aquecimento global.

Todos os lados dizem que as decisões tomadas em Doha ficaram aquém das recomendações de cientistas a favor de medidas mais duras para evitar mais ondas de calor, tempestades de areia, enchentes, secas e aumento do nível dos oceanos.

A versão preliminar do acordo estenderia o Protocolo de Kyoto por oito anos. Ele obrigou cerca de 35 nações industrializadas a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em média 5,2% frente aos níveis de 1990 durante o período de 2008 a 2012.
Folha de S. Paulo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje

'Resultado da Rio+20 podia estar em papel higiênico', diz chefe da Eco-92

JULIANA DAL PIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO


Partes do relatório final da conferência Rio+20, realizada pela ONU em junho no Rio, foram tão fracas que poderiam ter sido impressas "em papel higiênico".

A avaliação foi feita ontem pelo canadense Maurice Strong, 75, secretário-geral da Eco-92, conferência sobre ambiente, também da ONU, realizada na cidade há 20 anos. A Eco-92 acabou se tornando um marco dos encontros ambientais globais.

"A parte oficial dos governos [na Rio+20] foi muito fraca, decepcionante. Por outro lado, a sociedade civil foi muito útil, com cerca de 50 mil pessoas presentes. Mas, para deixar as coisas claras, eu acho que o relatório final podia até ser impresso em papel higiênico", disse.
Wallace Teixeira - 15.jun.2012/Fotoarena
O canadense Maurice Strong durante a conferência Rio+20

Em entrevista após palestra no Conselho Empresarial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Strong disse que, no relatório final, governos chegaram até mesmo a voltar atrás em pontos que já haviam sido definidos nas reuniões preparatórias.

"Infelizmente, em alguns momentos, a Rio+20 não esteve nem perto de ser discutida da maneira como ocorreu em 1992", queixou-se.

Para Strong, os governantes mundiais estavam -e ainda estão- mais preocupados com suas crises internas.

Durante a palestra, o ativista elogiou os esforços brasileiros no combate às mudanças climáticas e citou o investimento na produção de etanol como exemplo.

Apesar dos fracos resultados da Rio+20, avalia Strong, a cidade se tornou a capital mundial do ambiente e da sustentabilidade.

O secretário-geral da Eco-92 disse ainda que pensa em instalar na cidade a sede da Earth Council Alliance, entidade criada por ele há 20 anos, que busca pressionar os governos a respeito de questões climáticas.

Mas seu maior esforço atual, disse, é para que Brasil e China se aproximem e façam parcerias sustentáveis.

Em sua opinião, por terem economias complementares, os dois países podem criar para o mundo um novo conceito de sustentabilidade.

Folha de S. Paulo

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Conferência do clima pode sepultar extensão do Protocolo de Kyoto

GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A DOHA (QATAR)


A COP-18, décima-oitava conferência do clima da ONU, que acontece até o fim da semana em Doha, no Qatar, entra nesta segunda-feira (3) em sua fase decisiva ainda cercada de incertezas quanto ao principal objetivo do encontro: estabelecer uma extensão do Protocolo de Kyoto, hoje o único acordo internacional de proteção climática em vigor.

O panorama geral das negociações foi resumido pela secretária-executiva do evento, Christiana Figueres. Apesar de iniciar seu balanço da primeira semana da convenção de maneira otimista, ela admitiu que muita coisa inevitavelmente ficará de fora.
Karim Jaafar/AFP 
Manifestantes pedem ação climática em Doha, no Qatar

"O que vier de Doha não será no nível de ambição que precisamos", resumiu Figueres sobre as negociações, que envolvem quase 200 países.

Diferentemente da COP-15, que aconteceu em Copenhague em 2009 e foi cercada de muita expectativa sobre um grande acordo global, a atual cúpula já nasceu um tanto morna.

No encontro do ano passado, em Durban, na África do Sul, os países "concordaram em concordar" com a criação de um pacto global de redução de emissões, que englobaria países ricos e pobres. O acordo, porém, ficou para começar a ser definido em 2015, para entrar em vigor até 2020.

Para não deixar o mundo sem nenhuma meta de redução de emissões de gases do efeito estufa, as partes optaram pelo prolongamento do Protocolo de Kyoto, que oficialmente deixa de valer no próximo dia 31.

Além de decidir até quando esse "puxadinho" do acordo valerá -- se até 2017 ou até 2020--, ficou para o encontro de agora a definição do quanto será reduzido nas emissões.

De qualquer maneira, o acordo já nasce com um alcance limitado. Só a União Europeia e a Austrália, responsáveis por cerca de 15% das emissões globais de carbono, concordaram em participar com ações concretas de redução de emissões do que já está sendo chamado, nos bastidores da COP-18, de "Kyotinho".

Em sua criação, em 1997, o protocolo comprometeu as nações desenvolvidas a reduzir suas emissões de gases-estufa em 5,2%, entre 2008 e 2012, em comparação aos níveis de 1990.

O acordo, porém, já foi criado com ausências importantes. Os EUA não ratificaram o pacto, e nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que hoje respondem por boa parte das emissões mundiais, não tinham metas imediatas.

Hoje, o maior impasse para a extensão é puxado por Rússia, Polônia e Ucrânia. Esses países emitiram menos do que poderiam na primeira fase de Kyoto e agora querem levar essas "sobras" no potencial de emissões, o chamado "hot air", para a segunda fase do acordo, o que desagrada boa parte dos negociadores.
Editoria de Arte/Folhapress 

Canadá e Japão, que participaram da primeira etapa, já avisaram que não vão aderir ao novo período.

EFEITO DOMINÓ

Embora vá ter um alcance limitado, a extensão das metas de Kyoto é importante na construção do futuro pacto global para redução de emissões.

Especialistas temem que um fracasso nessa negociação influencie negativamente o futuro acordo, que ainda nem foi rascunhado, mas é ameaçado pela prioridade dada à crise econômica mundial.

Mesmo nesse cenário, a delegação brasileira chegou em clima de otimismo a Doha.

O negociador-chefe do Brasil, o embaixador Luiz Figueiredo Machado, disse que não há risco de a reunião terminar esvaziada.

"Impasses são comuns em negociações longas, com mais de duas semanas, como essa", afirmou.

"Nós acreditamos que a conferência de Doha vai abrir uma nova etapa nas negociações do clima. Essa vai ser uma COP importante, complexa. Há muita coisa importante sobre a mesa, inclusive as bases para o futuro protocolo que foi negociado em Durban", completou.

Na opinião de Carlos Klink, secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil chegará à convenção com o "dever de casa" feito, apresentando "a menor taxa de desmatamento da história na Amazônia", divulgada na semana passada.

MÁS NOTÍCIAS

Enquanto o acordo não vem, a COP está sendo marcada pela divulgação de vários estudos pouco animadores sobre as condições gerais do planeta.

Dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial indicam que 2012 deve se tornar o nono mais quente desde que as medições foram iniciadas, em 1850. E isso mesmo com a presença do La Niña, fenômeno que contribui para o resfriamento das temperaturas.

O documento destacou ainda o degelo recorde no Ártico e eventos extremos de seca e enchentes espalhados por todo o planeta. A temporada intensa de tempestades tropicais e furacões, incluindo o Sandy, que atingiu o Caribe e os EUA, também foi ressaltada.

Já o relatório "Climate Action Tracker", que analisou a eficácia das medidas para combater o aquecimento global, foi ainda mais pessimista. Praticamente todas as grandes nações emissoras, como China, EUA e Índia, tiveram suas medidas consideradas ineficientes. Desse grupo, apenas Coreia do Sul e Japão tiveram medidas classificadas como satisfatórias.

O desempenho do Brasil foi avaliado como "na média"

FOLHA DE SÃO PAULO

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Rio+20 e o nosso desafio

ANA PAULA ZACARIAS

Há poucos meses, terminava a Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável, a ''Rio+20''.

Na plenária final, a União Europeia apoiou a adoção do texto ''O futuro que queremos'' e parabenizou o Brasil por seu desempenho como anfitrião, mas mencionou também que tinha esperado obter resultados mais concretos.

As crises econômica, social e ambiental que afetam todos os países, em grau variável e de maneira diversa, falavam a favor não apenas de novos modelos de crescimento, mas também de ações urgentes, coletivas e efetivas para realizá-los.

O acordo conseguido no Rio de Janeiro nos traz, apesar de tudo, algumas conquistas que, se forem implementadas corretamente, criarão uma base para continuarmos o progresso até um futuro sustentável, junto com o setor privado e a sociedade civil. Mais do que pelo resultado da conferência, o sucesso da Rio+20 será determinado pela forma como conseguirmos implementar o consenso a que chegamos.

A economia verde é reconhecida formalmente num texto da ONU como ferramenta de fomento ao desenvolvimento sustentável. Um dos seus componentes essenciais é a mudança dos padrões de consumo e produção para mais sustentabilidade, que integra princípios fundamentais como o uso eficiente dos recursos, o desacoplamento do crescimento econômico da degradação ambiental e a luta contra o desperdício.

Reconheceu-se também que para ter objetivos ambiciosos --os futuros objetivos de desenvolvimento sustentável-- é preciso garantir meios de implementação, sobretudo em ajuda aos mais fracos.

A Rio+20 ordenou a elaboração de uma estratégia de financiamento para o desenvolvimento sustentável. Isso constitui uma oportunidade para integrar critérios de sustentabilidade nas prioridades políticas e nas alocações orçamentais nacionais de todos os países. É também a oportunidade para fazer todos os atores contribuírem, segundo seu grau de responsabilidade e suas capacidades, incluindo os operadores privados, motor principal da economia.

A Rio+20 lançou sinais fortes para estimular o trabalho em curso sobre desafios globais essenciais, tais como a segurança alimentar, a biodiversidade, a mudança climática, a gestão internacional das substâncias químicas, a proteção dos oceanos fora das jurisdições nacionais e a luta contra a degradação das terras. Sublinhou também a importância da democracia, a igualdade de gênero, a juventude, a sociedade civil e os direitos humanos para o desenvolvimento sustentável.

Incumbe agora a todos nós, Europeus, brasileiros e os outros povos do mundo, agir para a Rio+20 não ficar esquecida em alguma gaveta. Temos compromissos a seguir, seja já em Hyderabad e Doha, seja para 2015, 2020 ou 2050.

Queremos relembrar que apoiar os esforços dos países em desenvolvimento para erradicar a pobreza é o objetivo principal da política de desenvolvimento da UE. É uma das grandes prioridades da sua ação exterior, na promoção dos interesses europeus para um mundo estável, próspero e sustentável.

A recente outorga do Prêmio Nobel da Paz é com certeza um reconhecimento desse desempenho que a UE demonstra há décadas. A União Europeia e os seus Estados-membros continuarão a apostar no processo de transformação que nos levará a um mundo mais sustentável.

ANA PAULA ZACARIAS, diplomata portuguesa, é embaixadora da União Europeia no Brasil

Notícias Geografia Hoje

Japão investe em energia geotérmica

YURIKO NAGANO
DO "NEW YORK TIMES"



YUZAWA, Japão - Tarobee Ito, 69, é o guardião de um legado familiar que sobrevive há mais de 12 gerações: ele administra o Tarobee Ryokan, um tradicional "onsen ryokan" (hotel junto a fontes termais) no desfiladeiro de Oyasu.

No mesmo local, perto da cidade de Yuzawa, no norte do Japão, há cerca de uma dúzia de outros estabelecimentos do tipo.

Recentemente, o vapor branco dessas fontes também atraiu planos para a construção de uma usina geotérmica na região, considerada um monumento nacional.

O Japão busca fontes energéticas alternativas -como a geotérmica- desde março do ano passado, quando um tsunami destruiu a usina nuclear de Fukushima Daiichi.

Os 54 reatores atômicos do país foram paralisados, e só dois retomaram as operações desde então.

As usinas nucleares forneciam 30% da eletricidade japonesa. Sua interdição causou uma escassez energética nacional.

Segundo a Associação Geotérmica Internacional, o Japão tem a terceira maior reserva de energia geotérmica do mundo, atrás dos EUA e da Indonésia, mas ocupa apenas a oitava colocação em termos de produção.

O governo japonês diz que pretende triplicar o uso de energias renováveis, inclusive a geotérmica, até 2030.

Neste ano, o governo destinou 9 bilhões de ienes (US$ 115 milhões) para levantamentos geotérmicos e solicitou 7,5 bilhões de ienes para continuar o trabalho em 2013. Reservou também 6 bilhões de ienes para um programa de ajuda a desenvolvedores de energia geotérmica e está pedindo 9 bilhões adicionais para prorrogar essa iniciativa.

A primeira usina geotérmica japonesa começou a funcionar em 1966, numa região próxima a Yuzawa.

Há, atualmente, 17 usinas geotérmicas no país, mas desde 1974 a construção de novas unidades está suspensa, devido a preocupações ambientais.

As usinas geotérmicas geram 535 megawatts, ou 0,2% do total nacional. Mas seu potencial é enorme: mais de 20 gigawatts de energia geotérmica poderiam ser produzidos no Japão, segundo um relatório governamental.

"Ao contrário das energias solar ou eólica, que dependem das condições climáticas, a energia geotérmica é bastante consistente e estável em termos de produção", disse Keiichi Sakaguchi, chefe do grupo de pesquisas geotérmicas do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Industriais Avançadas.

Quase 80% das reservas geotérmicas japonesas ficam em áreas tombadas como monumentos ou parques nacionais.

Em março, o governo suspendeu a proibição de novas usinas geotérmicas nesses locais, o que pode resultar em cinco projetos em monumentos e parques nacionais.

"Muitos moradores da cidade, inclusive eu, apoiam o desenvolvimento da energia geotérmica. Ela nos diferencia dos municípios vizinhos", disse Shoji Sato, 77, presidente da ONG Conselho de Facilitação do Desenvolvimento Geotérmico da Cidade de Yuzawa.

Sato admite que os operadores de pousadas em Oyasu estão "um pouco nervosos" com o risco de perderem suas águas termais.

A empresa petrolífera japonesa Idemitsu Kosan é um dos desenvolvedores desse projeto, e seus representantes já se reuniram com líderes comunitários para explicar os planos.

A Idemitsu quer perfurar um poço exploratório de mais de 1.500 metros para testar o volume e a temperatura das águas termais e dos reservatórios de vapor.

Outro grande projeto geotérmico está previsto para a Prefeitura (província) de Fukushima. Lá, grupos locais de "onsens" ainda estão avaliando a situação, e o levantamento técnico não foi iniciado.

Sakaguchi disse que projetos geotérmicos fora do Japão já causaram o esgotamento de duas fontes termais, mas que "a tecnologia para detectar movimentos subterrâneos e a tecnologia de simulação realmente melhoraram nas últimas duas décadas, então o risco é muito menor".

O desenvolvimento de uma usina geotérmica geralmente leva 20 anos, inclusive por causa da demora em obter a confiança e a cooperação dos locais, segundo Sakaguchi.

Ito, do Tarobee Ryokan, está preocupado. "Parece que há algum risco envolvido", disse. "Nada é um negócio fechado."

Notícias Geografia Hoje

Até dois terços das espécies marinhas podem ser desconhecidos, diz estudo

RAFAEL ANDERY

Nos últimos dez anos, mais espécies marinhas foram descobertas pela ciência do que em qualquer outra década da história. Apesar disso, cientistas estimam que até dois terços das espécies que habitam os oceanos ainda sejam completamente desconhecidas, afirma estudo recém-publicado na revista científica "Current Biology".

A publicação americana divulgou hoje em seu site o lançamento de um censo da vida marinha, criado a partir da colaboração de diversos cientistas ao redor do mundo.

O Worms (Registro Mundial de Espécies Marinhas) foi criado a partir do trabalho de 270 estudiosos de 146 instituições, provenientes de 32 países. O catálogo pode ser acessado gratuitamente através do site http://www.marinespecies.org, e é constantemente atualizado a partir da descoberta de novas espécies.
Russ Hopcroft/AP
A lesma-do-mar "Platybrachium antarcticum"


Mark Costello, pesquisador da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) que ajudou na construção do projeto, afirmou que o trabalho de coleta de dados "não foi tão fácil quanto deveria".

"Um problema encontrado pelos pesquisadores foi a ocorrência de diferentes nomes e descrições para as mesmas espécies, os chamados sinônimos", afirmou Costello. As baleias e golfinhos, por exemplo, apresentam em média 14 diferentes nomes científicos para cada espécie, em geral dadas por pesquisadores diferentes que estão trabalhando com o mesmo bicho sem saber. Quando esse problema é percebido, fica valendo o nome que foi publicado primeiro.

A partir da exclusão dos sinônimos, cerca de 40 mil espécies foram retiradas da base de dados que forma o Worms, apesar de seus nomes científicos continuarem disponíveis para a consulta no site.

"Pela primeira vez podemos fornecer um olhar detalhado sobre a riqueza de espécies marinhas. Nunca soubemos tanto sobre a vida nos oceanos", afirmou Ward Appeltans, colaborador do projeto e membro da Comissão Intergovernamental de Oceanografia, órgão ligado à Unesco.

A partir do levantamento das quase 215 mil espécies já catalogadas pelo Worms, pesquisadores estimam que o número total de espécies que habitam os oceanos possa chegar a até 1 milhão. Até a publicação desse estudo, estimativas costumavam apontar para números muito maiores.

A pesquisa fornece um ponto de referência para esforços de conservação e estimativas de taxas de extinção, afirmam os pesquisadores. Eles esperam que a grande maioria das espécies desconhecidas -- principalmente pequenos crustáceos, moluscos, vermes e esponjas --- seja achada ainda neste século.

"Apesar de menos espécies viverem nos oceanos do que na terra, a vida marinha apresenta linhagens evolutivas muito mais antigas, fundamentais para a nossa compreensão da vida no planeta", disse Appeltans. "Em certo sentido, o Worms é só o começo."

Appeltans ainda ressaltou a importância do trabalho colaborativo dos cientistas na construção do projeto. "Esse banco de dados nos fornece um exemplo de como outros biólogos também podem colaborar para produzir um inventário coletivo de toda a vida na Terra", diz Appeltans.
Folha de S.Paulo

Notícias Geografia Hoje

Estudo faz mapa da expansão do Universo há 11 bilhões de anos

FRANCISCO FIGUEIREDO ZAIDEN

Uma equipe de 63 cientistas, de nove países, divulgou nesta semana um estudo em que foi possível mapear o momento em que o Universo começou a diminuir sua velocidade de expansão, há 11 bilhões de anos.

Nessa época remota, ocorria justamente o inverso do que se vê hoje. No ano passado, físicos americanos ganharam o Nobel por descobrirem que a atual expansão do Universo é acelerada e acontece há cerca de 5 bilhões de anos, graças à atuação de uma força misteriosa conhecida como energia escura, que se sobrepõe à gravidade e faz as galáxias se repelirem.

A nova pesquisa dos astrônomos do Sloan Digital Sky Survey (projeto de mapeamento e captação de imagens do Universo) mostrou que, diferentemente de hoje, o crescimento do Cosmos começou a desacelerar 3 bilhões de anos após o Big Bang.

O motivo seria a influência da força gravitacional no comportamento e na densidade da matéria e da radiação, mantendo-as condensadas e obrigando-as a se separar lentamente.

"Se pensarmos no Universo como uma montanha russa, hoje estaríamos descendo uma ladeira, ganhando muita velocidade", comparou Matthew Pieri, astrônomo da Universidade de Portsmouth, Reino Unido, e um dos autores do estudo, em entrevista à agência de notícias Reuters.

"Nossa nova medição nos indica o tempo em que o Universo estava subindo a ladeira", completou.

A intenção dos cientistas é recolher mais dados para explicar o que ninguém sabe ainda: as razões que levaram à desaceleração inicial da expansão cósmica e, principalmente, a sua aceleração atual, muito forte se comparada ao que ocorreu no passado.

Notícias Geografia Hoje


Mundo pode esquentar 4º C, diz relatório

FERNANDO MORAES

Se o mundo ficar de braços cruzados, um aumento de até 4º C na temperatura média do planeta pode ocorrer até o ano de 2060, afirma um novo relatório encomendado pelo Banco Mundial.

Segundo o estudo, mesmo que as reduções de gases do efeito estufa definidas nas recentes cúpulas do clima sejam implementadas, há cerca de 20% de chance de que esse aumento de temperatura ocorra até o fim do século.

O levantamento, divulgado ontem, foi coordenado por uma equipe do Instituto de Pesquisa sobre Impactos Climáticos de Potsdam (Alemanha), um dos grupos mais importantes da área no mundo.

Admitindo as incertezas desse tipo de previsão, o estudo procura mostrar os possíveis efeitos de tal aumento de temperatura para o planeta e, principalmente, para os países em desenvolvimento, os mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Editoria de Arte/Folhapress 


PROBABILIDADE

O risco dos possíveis impactos é definido como o "impacto multiplicado pela probabilidade", ou seja, um evento com pouca probabilidade pode ter alto risco se ele trouxer consequências sérias.

A concentração de dióxido de carbono, um dos principais gases do efeito estufa, vem aumentando substancialmente a acidez dos oceanos. Segundo relatório, o aumento previsto de 4º C na temperatura implicaria um aumento de 150% na acidez dos mares.

Isso poderia levar a sérios danos aos recifes de corais, muito sensíveis a mudanças do tipo, e teria fortes consequências para as várias espécies dependentes deles e para as populações que exploram o turismo nessas áreas.

A temperatura prevista em 2100 pode acarretar o aumento de até um metro no nível do oceano. Além dos riscos mais óbvios, como a inundação de áreas costeiras, isso traria mudanças nas correntes marítimas e nos padrões dos ventos, com um aumento de ciclones tropicais e outros eventos climáticos.

Haveria também uma tendência maior ao clima extremo, com mais seca no sul da Europa e em partes das Américas do Sul e do Norte, entre outras áreas, bem como grande umidade nas altas latitudes do hemisfério Norte.

Na Amazônia, um aumento de cerca de 2º C até 2050 poderia dobrar o número de incêndios na floresta. "De fato, num planeta 4º C mais quente, a mudança climática pode se tornar a força motriz das mudanças nos ecossistemas, ultrapassando a destruição de habitats como grande ameaça à biodiversidade", afirma o relatório.

"A mudança climática e o aumento da concentração de de CO2 pode levar os ecossistemas da Terra a um estado desconhecido na experiência humana", completa.

'AMEDRONTADA'

"O objetivo desse e de muitos relatórios semelhantes é manter a população amedrontada por uma ameaça irreal, manter os cientistas na sua posição de destaque na sociedade, manter os governos elaborando leis e arrecadando impostos envolvendo o clima, manter ONGs ambientalistas arrebanhando adeptos", critica Daniela Onça, da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Daniela foi uma das signatárias de uma carta aberta à presidente Dilma negando o aquecimento global.

Ela diz que a projeção catastrofista do aumento da temperatura "não é uma previsão, é um cenário, uma possibilidade que tem tanto valor quanto qualquer outra".

"É fato que o homem afeta o clima em escala local, mas não tem a capacidade de alterar os fluxos de matéria e energia em escala planetária", completa.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Grupo encontra possível 'super-Terra' habitável

SALVADOR NOGUEIRA

Um grupo internacional de pesquisadores diz ter descoberto um possível planeta habitável fora do Sistema Solar.

Mas é melhor ir com calma: o que o novo estudo faz melhor é mostrar como é delicado o trabalho de procurar exoplanetas.

A descoberta foi feita usando dados do espectrógrafo Harps, do ESO (Observatório Europeu do Sul), o mais preciso do mundo para buscar planetas extrassolares.
Ilustração J.Pinfield/Universidade de Hertfordshire 
Concepção artística do novo candidato a planeta em órbita da estrela HD 40307, a 44 anos-luz da Terra


Contudo, o trabalho não é fruto de uma nova leva de observações, mas de dados antigos, garimpados dos arquivos da organização.

A estrela, designada HD 40307, é parecida com o Sol, mas um pouco menor e mais fria (cerca de 70% da massa solar), localizada a 44 anos-luz da Terra. (Um ano-luz equivale à distância que a luz percorre em um ano, cerca de 9,5 trilhões de quilômetros.)

Com as observações originais, pesquisadores europeus já haviam descoberto três planetas, todos muito próximos da estrela para abrigar água em estado líquido --principal qualidade para a habitabilidade.

Usando uma nova técnica de análise, a equipe liderada por Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, e Guillem Anglada-Escudé, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, conseguiu extrair sinais de outros três mundos orbitando HD 40307.

O mais interessante deles completa sua órbita (um ano naquele mundo) em cerca de 200 dias terrestres. Como a estrela é um pouco menos brilhante que o Sol, ele está na posição certa para abrigar água em estado líquido na superfície.

E o melhor de tudo: ele tem cerca de sete vezes a massa da Terra, o que o coloca numa categoria de planeta que possivelmente tem solo rochoso --as "super-Terras". É interessante notar que não há análogo desse tipo de mundo no Sistema Solar.
Editoria de Arte/Folhapress 


BAMBOLÊ ESTELAR

A técnica mais consolidada --e usada pelo Harps-- para detectar planetas é observar pequenas modificações na luz da estrela, causadas por seu movimento. Se o astro está se aproximando de nós, sua luz fica mais azulada. Se ele está se afastando, a luz fica mais avermelhada.

Essa variação, por sua vez, pode ser correlacionada com o efeito gravitacional que possíveis planetas --pequenos demais para serem observados diretamente-- causam na estrela, conforme giram em suas órbitas.

Só que a coisa fica mais complicada que isso. É preciso extrair outros efeitos (como variações naturais no brilho da estrela) e conseguir separar os efeitos individuais de cada planeta.

O novo software desenvolvido pelos pesquisadores é um avanço no sentido de melhorar a interpretação desses dados, aumentando a precisão das descobertas.

Só assim eles puderam encontrar o possível planeta habitável, designado HD 40307g. Mas o resultado não é incontroverso, a ponto de os próprios descobridores tratarem o objeto como "candidato", ainda carecendo de confirmação mais sólida.

Astrônomos não envolvidos com o achado se mostram céticos. "O fato de que eles colocam em dúvida no trabalho a própria natureza da descoberta já diz tudo", afirma Cassio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos (SP). "Para mim é o desejo de encontrar um planeta rochoso na zona habitável em uma distância que alguma missão seja capaz de alcançar em escalas de tempo razoáveis em alguma época futura."

A boa notícia é que, a 44 anos-luz daqui, de fato esse possível planeta estaria ao alcance de uma futura geração de telescópios espaciais, como o Terrestrial Planet Finder, da Nasa, e o Darwin, da ESA, que buscarão detectar diretamente a luz vinda desses astros.

"É o primeiro planeta na zona habitável no regime de massa das "super-Terras" que poderia ser alvo desses observatórios planejados", dizem Tuomi e seus colegas, no artigo aceito para publicação no periódico "Astronomy & Antrophysics".

Com a luz, seria possível identificar, por exemplo, a composição atmosférica desses mundos. Se HD 40307 tiver grandes quantidades de oxigênio em sua atmosfera, é certo que o planeta não só é habitável, como também é efetivamente habitado (pelo menos por criaturas capazes de fotossíntese, como plantas).
Folha de São Paulo

Notícias Geografia Hoje


Índia testa novos riquixás para reduzir a poluição

AMY YEE
DO "NEW YORK TIMES
"

NOVA DÉLI - Em toda a Índia, pequenos triciclos motorizados levam pessoas e produtos para cima e para baixo. São mais de dezenas de milhares só em Déli.

Em janeiro, foram apresentados no país os primeiros riquixás com motores movidos a hidrogênio. Os 15 carrinhos adaptados, que antes usavam combustível tradicional, ainda fazem o mesmo ruído estridente.

Apesar disso, há diferenças cruciais: o escapamento solta vapor de água, calor e praticamente nenhuma outra emissão.

A carroceria está adaptada para transportar o tanque de gás hidrogênio. O motor do veículo também sofreu modificações, e foi instalado um sistema eletrônico de controle, desenvolvido no Instituto Indiano de Tecnologia.

O veículo é abastecido num posto, mais ou menos como os riquixás comuns movidos a gás natural comprimido.

"Limpo", eficiente e abundante, o hidrogênio tem potencial para "facilitar a transição para um futuro energético de baixo carbono, de forma semelhante à qual o petróleo e o motor a combustão interna substituíram o carvão e o motor a vapor", segundo o Centro Internacional para as Tecnologias Energéticas a Hidrogênio, um projeto da Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas e do governo turco.

Os riquixás movidos a hidrogênio em Déli são resultado de um projeto de três anos que envolveu vários parceiros, incluindo a agência de desenvolvimento da ONU, que financiou metade do custo, superior a US$ 1 milhão.

Até 1 milhão de veículos a hidrogênio podem estar rodando pelas ruas da Índia até 2020, segundo Bibek Bandopadhyaya, assessor do Ministério de Energias Novas e Renováveis da Índia.

A necessidade de energia "limpa" é premente. A Índia ficou na 125a colocação entre 132 países pesquisados para o Índice de Desempenho Ambiental de 2012, das Universidades Yale e Columbia (EUA), que mede a poluição atmosférica e outros indicadores. O país foi o terceiro maior emissor mundial de gases do efeito estufa no ano passado.

Entre os obstáculos para a adoção dessa nova tecnologia, estão o acesso insuficiente ao hidrogênio que esteja separado de outros elementos, a falta de uma rede de distribuição e o custo elevado em relação a outros combustíveis.

Embora o hidrogênio seja abundante na natureza, a sua separação de outros elementos é um processo caro que consome muita energia.

Para que o hidrogênio se torne viável no país, seria necessário restringir a poluição ou obrigar a conversão dos veículos, segundo Nicolas Lymberopoulos, diretor de projetos da agência da ONU e do centro tecnológico.

O hidrogênio, segundo Kandeh K. Yumkella, diretor-geral da agência da ONU, serve "não só para ônibus e veículos de alta tecnologia, mas também para aplicações práticas, como os riquixás".FOLHA DE S.PAULO

Notícias Geografia Hoje

Nuvens ajudam previsão do tempo
DAVID FERRIS
DO "NEW YORK TIMES"


Desde o início, o brasileiro Carlos F. Coimbra sabia que precisava decifrar o código das nuvens.

Professor de engenharia da Universidade da Califórnia em Merced, ele liderou uma campanha bem sucedida para que 15% da energia da escola viesse de um conjunto de painéis solares.

Em duas ocasiões, porém, as nuvens frustraram seus esforços, lançando sombras inesperadas e forçando a escola a depender da energia convencional.

Então, ele tentou um novo tipo de previsão. Ele escreveu um algoritmo de computador para projetar como as nuvens se movimentam e mudam de forma.

Hoje, seis anos mais tarde, Coimbra, 44, e seu colaborador, Jan P. Kleissl, 37, criaram um mecanismo de previsões que afirmam ser 20% a 40% mais preciso do que o modelo comumente usado.

Especialistas em meteorologia, energia e rede elétrica dizem que a inovação pode acelerar a adoção de fontes de energia renovável e possibilitar a economia de bilhões de dólares.

"Não posso dizer o que vai acontecer às 16h23 de domingo", disse Coimbra, cujas previsões se estendem por sete dias, mas com precisão decrescente. "Mas posso dizer o que vai acontecer hoje entre o meio-dia e as 18h."

O potencial de economia de custos atraiu o interesse de empresas que constroem e operam usinas de energia solar, além de empresas de eletricidade e operadores da rede elétrica.

Uma previsão certeira torna mais fácil o uso da energia esporádica do sol e do vento, levando a energia renovável a ter um grau de confiabilidade próximo ao de uma usina de combustível fóssil ou de energia nuclear.

À medida que poupa dinheiro nos mercados energéticos, a tecnologia também dinamiza o mundo das previsões meteorológicas.

As previsões ajudam os aeroportos a ter uma noção mais exata de quando tempestades vão chegar e ir embora, o que resulta em menos atrasos de voos.

Essa tecnologia também pode dizer a agricultores quando será a primeira geada do ano ou quando haverá um temporal, reduzindo a necessidade de bombear água para a irrigação.

Além disso, uma boa previsão pode guiar bombeiros que combatem incêndios florestais, projetar o percurso de um ataque de bioterrorismo ou localizar com precisão o caminho que será seguido por um tornado.

É provável que as previsões tenham sua primeira aplicação em usinas de energia solar e eólica, algumas das quais mantêm grandes e caros bancos de baterias para armazenar energia extra e liberá-la, se necessário.

Operadores da rede elétrica se acotovelam para comprar energia no mercado financeiro quando as fontes de energia relacionadas ao tempo escasseiam, pagando dez a cem vezes a mais do que pagariam se comprassem com um dia de antecedência.

Uma previsão perfeita dos ventos, se representasse 20% do fornecimento energético, pouparia entre US$ 1,6 bilhão e US$ 4,1 bilhões por ano.

O instrumento mais importante da tecnologia criada por Coimbra é uma câmera com uma lente grande-angular que faz fotos de 13 km2 do céu a cada 30 segundos.

Esse aparelho monitora a velocidade das nuvens e gera uma previsão para os próximos três a 20 minutos.

Para períodos maiores de tempo, o algoritmo de computador digere dezenas de medidas -irradiância solar, velocidade do vento, imagens de satélite, umidade do solo- e determina quais são relevantes.

Ninguém sabe como serão usadas as previsões solares quando elas forem aperfeiçoadas, mas Coimbra acha que suas viagens de motocicleta serão beneficiadas: "Vou saber o quanto posso ir antes de a chuva chegar."
Folha de S.Paulo

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Falta de recursos afeta a forma de tomar decisões

Pesquisa propõe que qualquer um, se submetido à escassez, prioriza problemas imediatos e negligencia questões de longo prazo

MARIANA LENHARO - O Estado de S.Paulo

A escassez de recursos financeiros afeta a maneira como as pessoas pensam e tomam decisões. Segundo pesquisa publicada hoje na revista Science, essa é a explicação para o fato de pessoas em situação de pobreza tomarem atitudes que reforçam essa condição, como fazer empréstimos demais e economizar de menos.

Enquanto outras interpretações imputam esse comportamento a traços da personalidade ou a fatores sociais relacionados à pobreza, esse estudo propõe que qualquer um, quando submetido a uma situação de escassez, pode ser levado a deslocar sua atenção para problemas mais imediatos e negligenciar questões de longo prazo.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores das Universidades de Chicago, de Harvard e de Princeton submeteram voluntários a cinco experimentos. Eles se assemelham a jogos que simulam situações cotidianas envolvendo a administração de recursos. Em cada experimento, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu orçamento maior - os "ricos" - e outro, um orçamento menor - os "pobres".

O que os experimentos demonstraram foi que, na situação da escassez de recursos, as pessoas tendem a despender muito mais esforço para administrar as pequenas despesas. Para os que são mais pobres, elas parecem mais urgentes e geram uma ansiedade desproporcional.

Esse excesso de concentração no problema imediato resulta contraproducente, pois leva os indivíduos a desconsiderarem as questões menos imediatas, porém mais importantes. Uma das atividades realizadas pelos pesquisadores, por exemplo, concluiu, por meio de testes de atenção, que participantes com orçamento menor no jogo tinham um cansaço mental maior.

Os pesquisadores dão um exemplo: enquanto nos concentramos em pagar a conta da mercearia de semana em semana, corremos o risco de negligenciar o aluguel do mês seguinte.

É isso o que estimularia as pessoas mais carentes a contrair empréstimos com juros altos. "Se a escassez cria um foco nas despesas urgentes de hoje, a atenção irá para os benefícios do empréstimo, mas não para os seus custos", diz o artigo.

De acordo com a psicóloga Nereida Silveira, professora da área de gestão humana e social da Universidade Mackenzie, câmpus Campinas, existe uma espécie de embotamento que impede que as pessoas com menos recursos tenham uma visão de longo prazo. Essa situação, segundo ela, vem de um desconforto interno provocado pelo conflito de querer consumir certos bens e não ter dinheiro para tal.

"A sensação é de que a pessoa tenta voltar a um estado de equilíbrio, mas não consegue, porque tem de resolver problemas imediatos. É a questão daquelas pessoas que estouram o cartão de crédito, entram em cheque especial e não conseguem perceber que se pararem, fizerem cortes e negociarem as contas, podem voltar ao equilíbrio", diz.

Nereida conclui que a compreensão de como opera o comportamento econômico das pessoas em dificuldades financeiras "é de suma importância para o desenho de políticas públicas, bem como para empresas orientadas para as classes mais vulneráveis".

Para a psicóloga Elaine Lombardi, consultora em desenvolvimento humano da consultoria MSDH, a falta de dinheiro provoca sentimentos como a frustração de não ter a situação sob controle, insegurança com relação ao futuro e, finalmente, desespero. "É justamente isso que vai levar a pessoa a tomar uma decisão sem ter dados objetivos suficientes que a ajudem a decidir." Sair dessa situação em que a pobreza reforça a pobreza requer força de vontade, segundo a consultora. "Pensando em termos de atitude, é preciso assumir um comportamento de protagonista e tomar as rédeas da vida", afirma Elaine.

Tempo. A mesma lógica, segundo os pesquisadores, pode ser aplicada para outros recursos em escassez, como o tempo, por exemplo. As pessoas muito ocupadas, às quais falta tempo, também tomam "empréstimos" quando pedem prorrogações de prazo. "Como os pobres, os ocupados pedem prorrogações com frequência porque focam nas tarefas urgentes, mas negligenciam tarefas importantes que parecem menos prementes", indica a pesquisa.

Jornal O Estadão

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