quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

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Estudo acha vida em salmoura isolada por 20 m de gelo na Antártida

DO EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

Poucos ambientes parecem menos promissores para a vida do que uma salmoura resfriada a -13 graus Celsius, mas um ambiente desse tipo é lar de uma diversificada comunidade de bactérias no interior da Antártida.

Mais intrigante ainda, esse ecossistema improvável parece estar isolado de fontes externas de energia e nutrientes há pelo menos 3.000 anos, afirmam os cientistas americanos que o exploraram pela primeira vez em artigo na revista científica "PNAS".

Alison Murray e seus colegas do Centro de Pesquisas do Deserto em Reno (sudoeste dos EUA) acharam as bactérias depois de cuidadosas perfurações no manto de pelo menos 20 m que recobre o lago Vida (veja mapa abaixo).

Não se sabe exatamente a profundidade do lago. Também não está claro se, abaixo da grossa camada de gelo, existiria algo parecido com uma lagoa líquida.

O que dá para dizer é que, abaixo de certa profundidade, a placa sólida de gelo começa a dar lugar a uma rede de canais por onde corre a salmoura onde vivem as bactérias do lago.
Alison Murray/Divulgação 
Lago Vida, corpo d'água congelado em vale no interior da Antártida

O líquido não congela totalmente, mesmo com a temperatura bem abaixo de zero, por causa da elevada quantidade de cloreto de sódio (o popular sal de cozinha) dissolvida nele. Por causa disso, essa água é seis vezes mais salgada que a do mar.

Levemente amarelo, o líquido contém tanto ferro que fica laranja-escuro quando exposto à atmosfera (dentro do lago, praticamente não existe oxigênio). Também há elevadas quantidades de enxofre e nitrogênio ali.

Mesmo assim, análises de DNA e observações de amostras da salmoura feitas com microscópios revelaram a presença de exemplares de pelo menos oito filos bacterianos (um filo é um agrupamento que reúne grande diversidade de espécies; o dos cordados, por exemplo, abrange todos os vertebrados, do homem aos peixes).

Tudo indica que várias dessas espécies nunca foram detectadas antes. Há sinais de que elas estão sobrevivendo em "marcha lenta" desde que ficaram isoladas ali -sem uma explosão populacional, mas mantendo seu metabolismo numa taxa baixa e relativamente constante.

O mistério é como elas estariam fazendo isso. Uma possibilidade é que estejam se aproveitando, por exemplo, do hidrogênio produzido pelas rochas da região, em contato com o lago, para produzir alguma energia.

Vai ser preciso mais trabalho para entender o que está ocorrendo no lago Vida, mas a descoberta já dá fôlego a uma busca bem mais ampla: a caçada por micróbios durões fora do nosso planeta.

É que as condições do lago antártico não são tão diferentes assim das que existem em oceanos congelados de locais como Europa, uma das luas de Júpiter. (Reinaldo José Lopes)
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
Folha de S. Paulo

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