domingo, 28 de abril de 2013

Notícias Geografia Hoje


Aquecimento global vai intensificar turbulência em voos

GIULIANA MIRANDA
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO


Apertem os cintos: o aquecimento global deve dobrar a ocorrência de turbulência de céu claro nas viagens aéreas.

Além de mais frequentes, esses sacolejos causados por variação de velocidade de correntes de ar --menos comuns do que a turbulência ligada a tempestades-- devem ficar mais intensos até a metade deste século.

Um trabalho, publicado na revista "Nature Climate Change", usou um supercomputador para simular a ocorrência de eventos atmosféricos em diferentes cenários climáticos e, assim, estimar o impacto das temperaturas elevadas sobre as turbulências.

O grupo identificou que o incremento na frequência pode ficar entre 40% e 170%. Mas o cenário mais provável é que a quantidade de tremores aéreos dobre até a metade deste século --quando, de acordo com projeções, a temperatura terá se elevado em até 2º C e a concentração de CO2 na atmosfera será duas vezes maior do que a do período pré-industrial.

"As variações de temperatura causadas pelo CO2 estão aumentando a velocidade das correntes de ar atmosférico", explica o climatologista Paul Williams, principal autor do trabalho. "As mudanças climáticas estão acelerando as correntes de ar e levando a mais instabilidade nos voos."

O trabalho se concentrou na região do Atlântico Norte, mas seus resultados podem valer para outras partes do globo, apesar de haver ainda muitas incertezas.

"O trabalho tem o mérito de chamar a atenção para os efeitos das mudanças climáticas nas turbulências, que não têm sido muito estudados pelos climatologistas", diz José Marengo, climatologista do Inpe membro do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU).

O tipo de tremor no qual o trabalho se concentrou --as turbulências de céu claro-- é o mais problemático para as companhias aéreas.

"Elas são invisíveis para pilotos e satélites e se intensificam no inverno", explica Manoj Joshi, professor da Universidade de East Anglia e autor do trabalho.

O sacolejo aéreo danifica as aeronaves, atrasa voos, aumenta os custos de manutenção e pode ferir a tripulação e os viajantes. A pesquisa estima o custo anual disso em US$ 150 milhões (cerca de R$ 300 milhões).

A boa notícia é que, nas próximas décadas, muita coisa pode evoluir na tecnologia aeroespacial. "Até a metade do século já será possível detectar esse tipo de turbulência [de céu claro]", conta Ronaldo Jenkins, coordenador da comissão de segurança de voo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias.
Editoria de Arte/Folhapress 



Folha de S. Paulo

domingo, 21 de abril de 2013

Astrônomos acham sistema com dois planetas na zona habitável

SALVADOR NOGUEIRA

Quem pensa que o Sistema Solar é interessante por ter um planeta habitável vai pirar com o que há ao redor da estrela Kepler-62. Lá, nada menos que dois mundos --possivelmente rochosos-- ocupam órbitas na região mais favorável ao surgimento da vida.

É a conclusão eletrizante a que chega um estudo produzido pela equipe do satélite Kepler, caçador de planetas da Nasa, e recém-publicado na revista científica americana "Science".

Os pesquisadores liderados por William Borucki identificaram um total de cinco planetas girando ao redor da estrela, uma anã laranja com 63% do diâmetro do Sol.

Todos eles são relativamente nanicos --quatro entram na categoria das superterras (com diâmetro até duas vezes o terrestre) e um é do tamanho de Marte, ou seja, menor que a Terra.

Os três mais internos são quentes demais para abrigar vida. Já os dois mais externos, Kepler-62e e Kepler-62f, têm suas órbitas na chamada zona habitável do sistema --região em que, numa atmosfera similar à da Terra, um planeta pode abrigar água líquida em sua superfície.

NASA/Ames/JPL-Caltech 
Concepção artística do planeta Kepler 62f, o menor em zona habitável já achado fora do Sistema Solar

APARÊNCIAS ENGANAM

A questão é: esses planetas são parecidos com a Terra? Constatar isso é um dos maiores desafios da astronomia, uma vez que as superterras não têm equivalente no Sistema Solar.
Por aqui, há, nas órbitas mais distantes, planetas gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno), e nas mais próximas do Sol os pequeninos mundos rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte), dos quais o nosso planeta é o maior deles.

As superterras, em termos de tamanho, estão no meio do caminho entre essas duas categorias. Mas ninguém sabe com certeza se elas são rochosos grandalhões ou gasosos murchos.

E isso tende a fazer toda a diferença do mundo para a busca por vida.

Uma forma de resolver a questão é determinar, ao mesmo tempo, o diâmetro do planeta e sua massa. Assim, dividindo a massa pelo volume, obtemos a densidade. Com ela, dá para saber se o planeta é rochoso ou gasoso.

A técnica usada pelo satélite Kepler para detectar planetas (medir pequenas reduções de brilho nas estrelas conforme os mundos ao seu redor passam à frente dela, como minieclipses) é boa para medir o diâmetro.

Contudo, para estimar a massa com segurança, a melhor técnica é a usada pelos observatórios em terra, que mede o "bamboleio" gravitacional da estrela conforme os planetas giram ao seu redor.

Infelizmente, no caso do Kepler-62, os planetas são pequenos demais e a estrela é muito ativa para permitir o uso dessa estratégia para confirmar a massa desses mundos com o nível de precisão dos instrumentos atuais.

CASOS SIMILARES

Embora a composição desses mundos ainda seja desconhecida, os pesquisadores citam outros planetas com diâmetro similar que tiveram sua densidade medida (três casos no total) para argumentar que Kepler-62e e Kepler-62f provavelmente sejam rochosos como a Terra.

Uma modelagem em computador feita por um outro grupo liderado por Lisa Kaltenegger, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, nos EUA, sugere que os dois planetas devem ter oceanos globais cobrindo totalmente sua superfície --planetas-água, por assim dizer. Mas isso pressupõe que os cientistas acertaram as quantidades dos ingredientes usados para formar os planetas, o que não é de modo algum certo.

Pelo menos, esses dois mundos não têm um problema que outros planetas detectados na zona habitável de suas estrelas possuem: o "travamento gravitacional".
Reuters 
Concepção artística compara o tamanho dos exoplanetas, Kepler-22b, Kepler-69c, Kepler-62e, Kepler 62f, respectivamente, com a Terra.

Esse fenômeno acontece quando a mesma face do planeta fica o tempo todo voltada para a estrela. Mais comumente observado no sistema Terra-Lua, em que o satélite exibe sempre a mesma face para o planeta, casos como esse se apresentam naqueles mundos que orbitam muito próximos do astro principal. Mas não é o caso aqui.

"Exceto pelo planeta mais interno --Kepler-62b--, todos os planetas têm períodos orbitais tão grandes que é extremamente improvável que eles estejam travados", disse à Folha Borucki, antes de apresentar os resultados em uma entrevista coletiva organizada pela Nasa nesta quinta.

Em suma, esses dois mundos sobem direto para o topo da lista de potenciais planetas com vida, embora rigorosamente nada se possa dizer a esse respeito, exceto que, em teoria, eles podem abrigar água líquida na superfície.

Por isso, apesar do entusiasmo, os cientistas são muito cautelosos no parágrafo final de seu artigo científico: "Não sabemos se Kepler-62e e -62f têm uma composição rochosa, uma atmosfera ou água. Até que consigamos detectar espectros adequados de suas atmosferas não poderemos determinar se eles são de fato habitáveis."

Ainda assim, é impossível não se empolgar com a possibilidade.
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje


Degelo na Antártida se intensifica em 50 anos

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Um estudo divulgado nesta segunda-feira indica que o degelo atual do verão antártico está dez vezes mais rápido que há 600 anos.

De acordo com o trabalho, publicado na revista especializada "Nature Geoscience", esse fenômeno se intensificou ainda mais nos últimos 50 anos.

Para chegar a esses resultados, os cientistas perfuraram, a uma profundidade de 364 metros, calotas da ilha James Ross, no norte da geleira antártica.

O objetivo dos pesquisadores era medir as temperaturas de centenas de anos que ficaram registradas no gelo.

As sucessivas camadas na geleira revelam o movimento de degelo e de congelamento que ocorreu, e ao medir a espessura destas camadas, os cientistas foram capazes de comparar as variações de temperatura nas camadas mais superficiais com as do núcleo de gelo ao longo dos últimos mil anos.

Robin Bell/Divulgação 
Capa de gelo perto das montanhas Gamburtsev, na Antártida

Constatamos que, há 600 anos, havia condições mais frias na península antártica e uma menor quantidade de gelo derretido", disse Nerilie Abram, líder do trabalho e pesquisadora do British Antarctic Survey de Cambridge, no Reino Unido.

Naquela época, as temperaturas eram aproximadamente 1,6 grau Celsius menor que as registradas no fim do século 20, e a proporção de neve que derretia a cada ano e depois voltava a congelar era de 0,5%, segundo Abram.

"Hoje, a quantidade de neve que derrete a cada ano é dez vezes maior."

Apesar do aumento regular das temperaturas que ocorre há centenas de anos, o degelo se intensificou a partir da metade do século 20, afirma o novo estudo.

Isso significa que o aquecimento na Antártida alcançou um nível em que até leves aumentos de temperatura podem provocar uma forte aceleração do degelo.
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje

Em busca do milagre energético


A Lockheed Martin tem um plano para transformar o sistema energético mundial: um tipo viável de fusão nuclear. Bill Gates e outro veterano da Microsoft, Nathan Myhrvold, já despejaram milhões de dólares em um reator de fissão que poderia funcionar à base de resíduos nucleares. A China aproveitou uma pesquisa descartada nos EUA para tentar desenvolver um reator mais seguro, baseado num elemento abundante chamado tório.

Muita gente inteligente está chegando à conclusão de que o problema energético será o maior desafio do século 21. Temos de fornecer energia e transporte a uma população que chegará a 10 bilhões de indivíduos, mas também precisamos limitar as emissões de dióxido de carbono (CO2) que ameaçam nosso futuro.

Muitos ambientalistas creem que as energias eólica e solar poderão ser ampliadas para atender à crescente demanda. Mas diversos analistas afirmam que as energias renováveis não poderão nos levar nem até a metade desse caminho.

Jovens brilhantes estão trabalhando para melhorar o armazenamento de eletricidade. Também já começaram a ser desenvolvidas tecnologias futuristas que possam retirar o CO2 da atmosfera de forma barata.

Mas, diante da premente necessidade de milhares de usinas geradoras de energia que funcionem noite e dia sem emitir CO2, muitos tecnólogos continuam revisitando as possibilidades de aperfeiçoamento da energia nuclear.

"Precisamos de milagres energéticos", declarou Gates três anos atrás, ao lançar sua iniciativa. Gates e Myhrvold planejam construir o chamado "reator de onda viajante". Em princípio, ele poderia operar de forma segura por meio século (ou mais) sem ser reabastecido e seria alimentado com resíduos perigosos das atuais usinas.

Esse método, como os dos reatores existentes, baseia-se na fissão, ou seja, na quebra de átomos pesados, usando a energia resultante para acionar turbinas elétricas.

A abordagem da Lockheed Martin envolve a fusão de variantes do hidrogênio em elementos mais pesados, uma reação semelhante àquela que mantém o Sol "aceso".

Em discurso neste ano, um dos líderes desse programa, Charles Chase, sugeriu que a meta é desenvolver reatores de fusão pequenos e modulares que possam ser montados em fábricas.

Entre as novas abordagens nucleares, os reatores de fissão à base de tório oferecem vantagens em termos de segurança. Os conceitos básicos foram provados em pesquisas da década de 1960 nos EUA, mas a ideia acabou abandonada.

Um engenheiro do Alabama, Kirk Sorensen, ajudou a resgatar esse trabalho e fundou uma empresa, a Flibe Energy, para levar isso adiante. Mas a China está à frente dos EUA nesse campo, com centenas de engenheiros desenvolvendo reatores de tório.

"Eles estão dando voltas na pista, e nós nem decidimos se vamos amarrar nosso tênis", afirmou Sorensen.

No entanto, mesmo que essas tecnologias funcionem, é possível que elas só sejam amplamente instaladas nas décadas de 2030 e 2040. Os climatologistas nos dizem que seria tolice esperar tanto tempo para começar a confrontar o problema das emissões.

As duas abordagens para a questão -gastar dinheiro na tecnologia atual ou investir em avanços futuros- são às vezes apresentadas como conflitantes. Mas os especialistas mais inteligentes dizem que temos de perseguir ambas, agressivamente.

Uma política climática ambiciosa por parte dos EUA, ancorada por um preço elevado sobre as emissões de CO2, atenderia simultaneamente aos dois objetivos, acelerando a tendência de substituição das usinas termoelétricas a carvão por usinas a gás natural e direcionando investimentos para as atuais tecnologias de baixa emissão de carbono, como a eólica e a solar.

Também haveria maior recompensa econômica para o desenvolvimento de novas tecnologias -reatores nucleares de nova geração, células solares melhoradas ou alguma coisa inteiramente imprevista.

Na prática, a política dos EUA é esperar por milagres energéticos, sem muito esforço para que eles aconteçam. Mas, certamente, nos sentiríamos bem melhor em relação ao futuro se o pleno poder criativo do capitalismo americano fosse liberado para o problema climático.
Folha de S. Paulo

terça-feira, 16 de abril de 2013

Rio Tapajós: cabe uma usina aqui?

A região do Alto Tapajós se prepara para receber um megaprojeto de geração de energia do governo federal. A esperança por empregos e desenvolvimento local divide opiniões com os temores pelos impactos sociais e ambientais

Ricardo Carvalho

O Hotel Plaza fica em um edifício de dois pavimentos cujas paredes externas são de um tom branco, com detalhes em vermelho. Conta com algo em torno de 20 quartos, sem luxo, mas todos bastante aconchegantes. Por quase duas décadas, Hildomar Moraes, o recepcionista considerado pelos demais funcionários o mais próximo da função de gerente, acostumou-se com poucos hóspedes, sempre numa ocupação média anual na casa dos 50%, na maioria garimpeiros. Há dois anos, entretanto, os corredores da hospedaria, localizada a poucos metros do rio Tapajós, na cidade paraense de Itaituba, passaram a respirar ares mais agitados.

Pesquisadores, geólogos, engenheiros e técnicos ambientais tornaram-se personagens corriqueiros no hotelzinho; também surgiram por ali empresários e representantes comerciais interessados em abrir novos estabelecimentos no município de 97 mil habitantes. Para a alegria de Hildomar, atualmente os índices de ocupação superam os 70%.

O repentino interesse por Itaituba não é para menos. A região espera, com indisfarçável ansiedade, a chegada de empreendimentos milionários, que se avizinham com a promessa de um bilhete de primeira classe no trem do desenvolvimento nacional. Por exemplo: o lado oposto do rio Tapajós, no distrito de Miritituba, deve receber, nos próximos anos, um conjunto de portos para escoar a produção de soja e milho do norte do Mato Grosso. De lá, os grãos seguirão em barcaças diretamente para o porto de Santana, no Amapá, de onde serão embarcados ao exterior, sobretudo à China. Além do mais, para que as carretas vindas do Mato Grosso cheguem aos futuros portos, cerca de 350 quilômetros da BR-163, a Santarém-Cuiabá, estão sendo asfaltados. Mas nada disso se compara às dimensões dos planos do setor energético para a região, uma vez que o rio Tapajós é tido como a grande aposta entre as bacias da Amazônia candidatas a geradoras de energia hidrelétrica para o país.

O complexo hidrelétrico do Tapajó pretende aproveitar o potencial de quedas d’água dessa bacia hidrográfica por meio da construção de cinco usinas – duas no rio Tapajós e três no Jamanxim (veja mapa ao lado). De acordo com a Eletrobrás, empresa do governo federal responsável pela atual etapa do projeto, o complexo terá potência geradora de mais de 12 mil megawatts (MW), o equivalente ao consumo mensal de duas cidades de São Paulo ou três do Rio de Janeiro.


Itaituba, no alto Tapajós, está no epicentro de uma guinada energética na região Norte. A dúvida é se a precária infraestrutura da cidade suportará a chegada de milhares de “barrageiros”

Cinco usinas à vista

Diante disso, não é de se estranhar que Itaituba, cuja sobrevivência econômica depende quase que exclusivamente da garimpagem, veja o complexo hidrelétrico como uma oportunidade de ouro. O próprio recepcionista do Plaza, a exemplo de todos que têm algum capital, já comprou um pequeno lote de terra na esperança de erguer uma casa para vendê-la quando as obras estiverem a todo vapor. Com a especulação imobiliária, o preço da terra disparou e o comércio espera impaciente a chegada de milhares de “barrageiros” – como são chamados os trabalhadores necessários para a construção da barragem da usina e de sua infraestrutura. 

Apesar da euforia, não faltam vozes a argumentar que o preço a ser pago excederá os benefícios da criação de postos de trabalho ou royalties para a cidade. É o caso de Jesielita Roma Gouveia, a Lita, coordenadora do Fórum dos Movimentos Sociais da BR-163, organização que reúne mais de uma centena de entidades de Itaituba e região. Lita teme que aconteça em Itaituba o que hoje se vê em Altamira, cidade-sede da construção da hidrelétrica de Belo Monte, a maior obra em andamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

Altamira, também no Pará, viu sua população saltar de 100 mil habitantes, em 2010, para quase 150 mil, em 2012, consequência do início da construção da barragem. Carências sociais crônicas, como falta de escolas, de hospitais e de saneamento básico, se agravaram. Além do mais, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, calcula que a violência contra crianças e adolescentes em Altamira cresceu mais de 200%. “São chagas que nós já vivemos, na época do ouro, e estamos há anos tentando cicatrizar. Com a chegada das usinas, tudo indica que teremos de conviver com elas mais uma vez”, lamenta Lita. 

A era da febre do ouro citada por Lita, ocorrida entre 1970 e o início dos anos 1990, não foi nada mais do que isso mesmo: uma febre. Por anos, Itaituba ardeu num delírio de riqueza graças ao minério que por pouco não brotava do solo em plena selva. Por mês, numa estimativa do presidente da Associação dos Mineradores do Ouro de Itaituba (Amot), José Antunes, os garimpos prospectavam até duas toneladas de ouro – estimativa certamente subestimada por tratar-se de um setor com forte informalidade. 


A era do metal precioso

Antes dos “anos dourados”, Itaituba não alcançava os 20 mil habitantes, enquanto que, no pico da febre, já viveram por ali quase 200 mil pessoas, entre fixos e flutuantes. E a fatura mais amarga do inchaço desordenado foi justamente a violência, nos garimpos ou em conflitos fundiários. “Ainda mantemos o estigma de uma cidade violenta, apesar de as mortes terem diminuído bastante nos últimos anos [a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu de 51, em 1992, para 25,8, em 2010, segundo o Mapa da Violência]. O medo é que tudo isso se repita”, conclui Lita.

O caos social causado pelo ouro foi suficientemente traumático para que até mesmo os setores mais entusiastas da construção do complexo hidrelétrico recomendem cautela. Davi Menezes, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaituba, por exemplo, tem motivos de sobra para comemorar os planos do governo para o Tapajós. Além do aumento expressivo no comércio local que se prevê, Menezes confessa já estar se aventurando no setor imobiliário. “Um terreno que há um ano valia R$ 5 mil, o proprietário pode, tranquilamente, vender por R$ 30 mil hoje”, assegura. Mesmo assim, ele diz que caso não sejam realizados investimentos urbanos para receber o contingente populacional que acompanhará as usinas, tudo indica que Itaituba padecerá dos mesmos males vividos por Altamira. “A diferença é que nós, enquanto sociedade civil organizada, não vamos lutar contra a construção das hidrelétricas, pois sabemos que elas virão, queiramos ou não. O que faremos é exigir da Eletrobrás e do consórcio construtor garantias que diminuam os impactos sociais”, argumenta. 

Em Altamira, segundo o procurador da República Cláudio Terre do Amaral, a licença de instalação foi emitida em meados de 2011, sem que a Norte Energia, concessionária vencedora do leilão, levasse adiante as chamadas medidas antecipatórias, que incluíam a criação de leitos hospitalares, moradias e a construção de escolas. Com isso, afirma Amaral, a saúde pública em Altamira se encontra em situação caótica, razão pela qual a procuradoria entrou com uma Ação Civil Pública para que estado e União tomem providências contra o abandono do hospital da cidade, que sofre com superlotação e falta de equipamentos. “É um hospital que já não tinha condições de atender adequadamente a antiga população de Altamira. Imagine isso no auge das obras, quando podem chegar aqui até 100 mil pessoas?” Para o procurador, o desastre social gerado com a chegada de um megaprojeto tal qual Belo Monte é algo que se repete a cada empreendimento hidrelétrico realizado na região. 

O aproveitamento do potencial hidrelétrico da Amazônia é uma discussão antiga e que costuma desembocar num debate acalorado entre dois polos. De um lado, aqueles que ressaltam a necessidade imediata de o país ampliar a geração de energia – fato considerado incontestável por especialistas em política energética. Do outro, um grupo que reclama da falta de planejamento que poderia evitar danos sociais e minimizar os prejuízos ambientais infligidos numa região tão complexa quanto a amazônica.



Canteiro de obras de Belo Monte: chegada de operários trouxe problemas sociais para a cidade mais próxima, Altamira

Demanda por energia

Num cenário de polarização, haveria espaço para o diálogo? De acordo com Demóstenes Barbosa da Silva, pesquisador da empresa Base Energia Sustentável e pós-doutorando do Instituto de Eletrônica e Energia (IEE), da Universidade de São Paulo (USP), sim Em primeiro lugar, segundo o pesquisador, é fundamental destacar que o Brasil vai precisar gerar muita energia a médio e longo prazo. Isso porque, historicamente, a demanda por eletricidade sempre avançou em até um ponto percentual acima da variação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, comenta Barbosa. O crescimento de renda da população na última década, em especial da classe C, pressionou ainda mais a relação produção versus demanda de energia. “É fato que vamos necessitar dessa energia. Mas é preciso também estabelecer qual o limite, em termos de interferência no bioma amazônico, que podemos chegar”, defende Barbosa.

O pesquisador sugere que a expansão da produção de energia na Amazônia seja pensada no contexto de uma política de longo prazo, que analise o bioma como um todo. “O governo poderia optar por deixar algumas bacias preservadas. Se vai mexer no rio Xingu, seria interessante manter o Tapajós intacto, até como uma forma de equilíbrio.” Também é crucial, para o pesquisador, que o país invista em pesquisa de outras fontes renováveis. 

Professora de pós-graduação do IEE-USP, Virgínia Parente explica que, pelo menos por ora, não há alternativa possível à hidreletricidade para a crescente sede por energia do país. As demais fontes renováveis, como a energia solar ou eólica, têm ainda um papel tímido demais para oferecer megawatts em escala que acompanhe a atual demanda. A energia eólica, por exemplo, representa só 0,4% da oferta interna de energia, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de custar 20% a 30% mais. “Isso não significa que energias como a eólica ou a solar não são importantes. São fontes que devem ser incentivadas em qualquer planejamento energético, justamente para que se tornem viáveis economicamente e assumam um peso cada vez maior na oferta de energia do Brasil.”

Assim como são indispensáveis os investimentos para aliviar a pressão sobre a equação produção versus demanda energética, é impossível desconsiderar as interferências que os megaprojetos hidrelétricos causam no ecossistema amazônico. Especificamente no rio Tapajós, os principais temores em relação ao impacto ambiental dizem respeito à perda da biodiversidade, principalmente a dos peixes. Por abrigar uma grande variedade de espécies migradoras, a existência de barragens ao longo do curso d’água do Tapajós significaria impor barreiras físicas à piracema, período no qual esses animais se deslocam da foz às cabeceiras do rio para a reprodução. “A existência de um grande número de reservatórios fragmentará demais a bacia e causará o desaparecimento, ou pelo menos uma expressiva diminuição, dos peixes migradores”, adverte Pedro Bara Neto, da ONG internacional WWF. 


As pequenas comunidades ribeirinhas se dividem entre aqueles ansiosos pelo trabalho nas obras e os que temem o sumiço dos peixes

Um canal para os peixes

A Eletrobrás, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o projeto da bacia do Tapajós engloba a construção de canais de piracema, desvios artificiais que contornariam a barragem até o lago e permitiriam a continuidade do fluxo migratório. 

A construção de um canal de piracema é encarada com bastante ceticismo por Lúcia Carvalho, chefe do Parque Nacional da Amazônia (PNA). O parque, hoje com um milhão de hectares, é uma unidade de conservação estabelecida ainda na década de 1970 com o intuito de compensar o estrago ambiental gerado pela abertura da rodovia Transamazônica, a BR-230. O PNA, que provavelmente terá seu espaço de uso público inundado pelo complexo, faz parte de um amplo mosaico de áreas de proteção ambiental cuja função é servir de barreira ao desmatamento que avança do leste do Pará, do Mato Grosso e de Rondônia “Pode até ser que alguns peixes consigam subir pelo canal. De qualquer forma, os migradores não vão sobreviver na represa, porque são espécies que precisam de corredeiras e de água com níveis altos de oxigenação.” Os migradores também podem sofrer com o aumento da acidez da água, consequência do apodrecimento da vegetação que será submersa pela represa, avisa a chefe do PNA. A diminuição de peixes poderá alterar o equilíbrio da cadeia alimentar e a própria dinâmica da vida no Tapajós, principalmente pela redução do número de jacarés, de lontras e pelo sumiço de tabuleiros de desova de tartaruga. 

A Eletrobrás informou que o impacto ambiental a ser gerado na região é objeto dos estudos de viabilidade. Uma vez concluídos, eles serão enviados à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A partir daí, agência e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exigirão condicionantes para liberar a realização do leilão, que definirá o consórcio responsável por erguer as barragens. Esse processo dura, em média, dois anos.

Além de um possível problema ambiental, a redução do número de peixes, especialmente os migradores, maiores e mais comerciais em relação aos demais, pode representar um duro golpe econômico para as comunidades ribeirinhas do Tapajós. Todas elas têm na pesca um meio de subsistência. “Será que ainda teremos a piracema, com esses peixes de 20 quilos?”, questiona-se Maria do Socorro Amorim, membro de um pequeno grupo da vila conhecida por São Luiz do Tapajós que se opõe à ideia de ter uma barragem literalmente ao lado de casa. 


Marinildo não quer saber de emprego temporário e diz que “o rio é seu freezer”

“Meu freezer é o Tapajós”

Tendo como referência o local da futura hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, uma das cinco que formam o complexo, a comunidade ribeirinha de mesmo nome está localizada à jusante do rio e não deve ser alagada. A maioria dos moradores, ao contrário de Maria do Socorro, empolga-se ao vislumbrar no horizonte a possibilidade de um emprego nos canteiros de obra. “Queremos trabalhar e, com um salário, conseguir comprar alguma coisinha para a casa, quem sabe uma geladeira”, projeta Antônio Mário. 

A poucos quilômetros dali, entretanto, a situação é diametralmente a oposta. A razão dessa inversão é evidente. Entre os poucos quilômetros que separam as casinhas de taipa de São Luiz do Tapajós e as do vilarejo do Pimental será construída a represa da hidrelétrica, o que condena Pimental a ir para debaixo d’água. Por isso, o debate ali é mais acalorado e não faltam vozes indignadas. “Eu não quero um freezer! O meu freezer é o rio Tapajós”, ironiza Marinildo Souza Robertino, 36 anos, presidente da comunidade do Pimental, onde vivem 360 famílias. 

Quanto mais se avança rio acima, mais hostis são os ribeirinhos em relação aos planos do governo federal. Diferentemente de Pimental, onde, mesmo sofrendo uma possível inundação existe uma fatia dos moradores que se mostra esperançosa sob o argumento da geração de renda, nessas vilas não há opiniões a favor. Seus habitantes entoam um coro de rechaço unânime, talvez por viverem em grupos formados apenas por um ou dois núcleos familiares, talvez por serem indivíduos historicamente avessos a qualquer interferência do governo. “Aqui nunca veio um prefeito ou mesmo um vereador do Itaituba para dar satisfação sobre os impactos da usina. Para falar a verdade, nunca vieram aqui para nada”, revela Marialvo Paiva dos Anjos, morador da vilinha do Jatobá. Marialvo mora com mais uma dezena de pessoas, todas dependentes da pesca e da mineração. “Vão acabar com os peixes e com as ‘dragas’. Nossa única alternativa será ir para a cidade.”

As ‘dragas’ mencionadas por Marialvo são plataformas de prospecção de ouro que operam – na maioria das vezes de forma irregular, conforme reconhece um dos “gerentes” de uma embarcação visitada – em pleno rio Tapajós. Essas estruturas são equipadas com uma espécie de broca metálica que remexe o leito do rio e suga a bordo os sedimentos; os fragmentos de ouro grudam num tapete enquanto ocorre o descarte das demais substâncias. Os danos ambientais são claros: grande quantidade de óleo combustível despejada no rio e altos teores de mercúrio na água. Toda a área na qual atuam as ‘dragas’, incluindo a vila do Jatobá, deve ser inundada.

É preciso citar as ‘dragas’ para tentar compreender como o complexo hidrelétrico alterará a garimpagem, atividade danosa em termos ambientais, porém pilar econômico sobre o qual se sustenta Itaituba. Prova disso é que os donos de garimpo compõem quadros importantes do poder político local. E o melhor exemplo disso é um garimpeiro que, antes de tornar-se filho adotivo de Itaituba, era um jovem leitor de O Pasquim e crítico à abertura da Transamazônica. 

Minerador e ambientalista 

Ivo Lubrinna de Castro chegou à cidade durante a “febre do ouro” e enfiou-se no meio do mato “com apenas uma sandália gasta no pé”, conforme gosta de repetir. Afortunado, encontrou seu filão precioso, fez-se dono de garimpo, galgou a presidência da associação dos mineradores e atualmente ocupa a função de secretário do Meio Ambiente. Ele reconhece a contradição de fazer parte de um dos segmentos que mais causa danos ambientais na região e ocupar, ao mesmo tempo, a pasta que deveria protegê-lo, razão pela qual se define, com franqueza desconcertante, como “o homem errado no lugar errado”. 

Os planos de instalação das cinco usinas interferem diretamente na mineração, uma vez que 20% do minério prospectado atualmente em Itaituba provém de pontos que serão alagados, segundo estimativa de José Antunes, da Amot. Como cerca de 70% da economia municipal gira em torno das atividades de garimpo, segundo o secretário, será crucial investimentos na qualificação profissional para absorver essa mão de obra, que ficará ociosa. 

Na opinião de José Santos Nascimento Filho, do Movimento dos Atingidos por Barragens e coordenador da Organização dos Amigos do Parque Nacional da Amazônia, é improvável que essa qualificação aconteça. “As pessoas daqui serão aproveitadas para o serviço braçal de carregar cimento, coisa temporária. Os cargos melhores e de operação da usina, que são permanentes, não vão ficar para quem é da cidade”, prevê José Santos.


Praia em Alter-dochão, no baixo Tapajós: ponto turístico de um rio até agora exuberante e preservado

Aumento no desmatamento 

A acentuação de carências de infraestrutura com a chegada de megaprojetos de engenharia num município como Itaituba, o qual, ainda citando o secretário do Meio Ambiente, “não conta com um palmo sequer de rede coletora de esgoto”, é algo inevitável. 

Também é fácil encontrar quem acuse uma atuação desastrosa no quesito compensação ambiental. Pesquisador sênior do Imazon, Paulo Barreto relata que, em Rondônia, pressões políticas do governo estadual e do setor ruralista forçaram a mudança na legistação de importantes unidades de conservação federais, o que contribuiu para um aumento de mais de 100% no desmatamento na região entre 2009 e 2010. “Eram áreas que tinham sido criadas para compensar impactos ocasionados com a abertura e o asfaltamento de rodovias no estado na década de 1980. Isso fragiliza toda a ideia de políticas de diminuição dos danos ambientais.” 

Não se trata de demonizar a opção brasileira por uma matriz baseada na hidreletricidade. Longe disso: é preciso ressaltar que a escolha é considerada acertada por especialistas, principalmente quando comparada à péssima alternativa que dispomos hoje, que é das termelétricas movidas a gás natural ou óleo diesel, que são altamente poluentes e consomem um recurso não renovável. 

A grande questão é se as necessárias medidas antecipatórias sociais e de compensação ambiental serão relegadas ao segundo plano, como aconteceu com outros empreendimentos na Amazônia, ou se elas serão cumpridas conforme as promessas. Dar prioridade a essas medidas é fundamental para que se encontre um equilíbrio entre a necessidade de geração de energia renovável e limpa e a manutenção da integridade ecológica e social que a natureza e os moradores da Amazônia merecem.
Revista Horizonte Geográfico

A libertação da Líbia

Os últimos dias dos 42 anos da ditadura de Kadafi foram vividos na sua cidade natal, Sirte, em outubro de 2011. E Maurício Lima, fotógrafo brasileiro estava lá, do lado rebelde

Dois rebeldes rezam antes de ir para a batalha enquanto outros colegas carregam tanques que foram tomados do exército líbio, no início da ofensiva em Sirte. Esse dia foi o pior para os rebeldes durante toda a batalha por Sirte, que durou 15 dias. Morreram 26 e mais de 50 ficaram feridos Foto: Maurício Lima

Rebelde comemora após encontrar dois fuzis e um saco de munição em uma casa de apoiadores do regime, enquanto companheiros da cidade de Benghazi avançam para a entrada leste de Sirte, em um dos momentos mais tensos que antecederam os combates de rua. Carros eram saqueados e qualquer imagem de Kadafi ou bandeira do antigo regime era destruída imediatamente Foto: Maurício Lima
Revista Horizonte Geográfico

Secura em curso - O processo de desertificação no Nordeste

As regiões da caatinga, que vêm sofrendo processo de desertificação, precisam repensar suas escolhas econômicas, antes que seja tarde demais

Joana Marins



Em Capelinha, no Piauí, uma cena típica do semiárido brasileiro: Gonçala Batista dos Santos chega ao açude quase seco com os galões para o consumo doméstico diário. Mau uso do solo está por trás de muitos dos problemas vividos na região Foto: Araquém Alcântara

A vegetação verde e o ar úmido de Natal, capital do Rio Grande do Norte, vão ficando para trás. No caminho para o interior nordestino o verde da vegetação vai dando lugar aos tons de bege, ocre e areia em tempos de seca. As pedras começam a ficar cada vez mais frequentes e na linha do horizonte nos deparamos com serras em diversas nuanças de marrom. Nosso destino é a região do Seridó potiguar, encravada no semiárido brasileiro, uma das zonas mais secas da caatinga. Para aonde vamos, a temperatura do chão chega a atingir 60 graus, e a temperatura ambiente oscila entre 25 e 33 graus na maior parte do ano, segundo dados do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. 

Em Caicó, a maior cidade da região, com 62 mil habitantes, é comum ver guardachuvas na mão das senhoras que andam nas ruas, apesar de não cair uma chuva “de encher os açudes”, como dizem os moradores, há mais de um ano. As sombrinhas no sertão servem para proteger o corpo da forte incidência solar nessa região de “pouca folhagem e pouca sombra”, fazendo justificar a origem do nome Seridó, segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, nascido não muito distante dali, em Natal. Tanto calor e o pouco cuidado humano com o solo pedregoso e de baixa profundidade transformaram esse pedaço do semiárido em uma das regiões brasileiras mais próximas do que se entende como um deserto. 

“A formação de desertos, como o do Atacama, no Chile, foi natural, uma combinação de solo e clima. Já no semiárido brasileiro, o processo de desertificação é causado pelo homem, pois a caatinga é muito rica, tanto em plantas quanto em biodiversidade e as chuvas por aqui são mais abundantes do que em um deserto propriamente dito”, explica Leonardo Tinoco, pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), um órgão de pesquisa governamental ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Para ele, o problema está no manejo inadequado da terra, responsável por retirar da região do semiárido 100 toneladas de solo por hectare ao ano, segundo estima Tinoco, que completa: “E a natureza demora 300 anos para recuperar isso”. Por manejo inadequado entenda-se o desmatamento das árvores nativas, a retirada de solos férteis para a fabricação de telhas e tijolos, a mineração e as queimadas. E, ainda, a criação de animais de grande porte em número acima do suportável para essa região. Além de consumir a pouca vegetação disponível, com seus cascos as vacas e cabras impedem que as novas plantas vinguem.

A família de José Ávila da Nóbrega sempre viveu no Seridó, mais especificamente na zona rural do município de Parelhas. Ao caminhar pela propriedade de 12 hectares, ele aponta a casa em que vivia sua bisavó. Esse não é o único pedaço de terra pertencente ao agricultor, mas é onde fica a sua residência, herdada do pai. Ao lado dela podemos ver mais três casas, uma ocupada pelo filho mais velho e duas vazias, à espera dos quatro filhos que estudam em cidades maiores. “Deus me livre vender uma delas! É para ficar aqui quando eles precisarem”, afirma. Orgulhoso da família que criou com Inês, sua esposa há 30 anos, ele diz ter abandonado o gado porque dava mais trabalho do que lucro. “Quando tinha seca, como agora, eu precisava comprar ração, que é muito cara. Agora só planto banana, manga, coco e goiaba, porque a minha propriedade é perto do rio Seridó. Mas, se não chove, tenho de irrigar”, conta. 

A seca se instalou por aqui desde 2011. Ela se configura, tecnicamente, quando o período de precipitação dura menos que quatro meses no ano e o balanço hídrico é negativo, ou seja, chove menos do que é evaporado. Esse cenário já se repetiu diversas vezes na história, como em 1915, 1932, 1958, 1983 e 1998. Algumas dessas secas se tornaram lendárias, como a de 1915, transformada em tema do romance O Quinze, da escritora cearense Rachel de Queiroz, ou a ocorrida na década de 1930, retratada no livro Vidas Secas, do alagoano Graciliano Ramos. “A seca é caracterizada mais por um problema social, pelo desequilíbrio ao acesso da água do que apenas pela falta de chuvas. Felizmente, não temos mais o cenário de morte e destruição que tínhamos no início do século passado. Muitas pessoas ainda passam necessidade, mas não perdemos mais vidas”, afirma Leonardo Tinoco. 
Revista Horizonte Geográfico

domingo, 14 de abril de 2013

Parada no tempo, Coreia do Norte nunca esteve em paz

DA BBC BRASIL

A Coreia do Norte nasceu da Guerra Fria entre o comunismo e o capitalismo e dela nunca conseguiu escapar, mesmo após o fim do bloco comunista.

Ao final da Segunda Guerra, a Coreia foi libertada de décadas de ocupação japonesa e parecia a caminho de retomar sua independência, com seus aliados do tempo da guerra, os Estados Unidos, a China, o Reino Unido e a União Soviética todos apoiando este objetivo.

Forças soviéticas e americanas ocuparam os dois extremos do país em uma período de transição antes de eleições democráticas.

Mas, à medida que a cooperação do período da guerra entre a União Soviética e os EUA se deteriorou, dois Estados bem diferentes surgiram --a República da Coreia, apoiada pelos Estados Unidos, no sul, e a República Democrática da Coreia, ao norte, com um líder, Kim Il-sung, que havia sido treinado pelo Exército Vermelho.

A Coreia do Norte foi uma ''aberração desde o nascimento'', afirma John Everard, ex-embaixador britânico na Coreia do Norte. ''Foi uma criação de oficiais do Exército soviético que pareciam ter pouca ideia do que consistia a criação de um Estado.''

"Fizeram de Kim Il-sung um líder, mas quando descobriram que ele tinha pouco respeito por parte da população, construíram em torno dele um culto de personalidade stalinista que fez com que o país acabasse sendo governado por um deus-rei, assim como eram os últimos reis da Coreia [antes da ocupação japonesa]'', opina o embaixador.

GUERRA

Em 1950, a Coreia do Sul declarou independência. A Coreia do Norte, com o apoio da Coreia do Sul e da China, rapidamente invadiu o sul, provocando a Guerra da Coreia, que foi até 1953.

Os EUA intervieram, temendo que uma tomada da Coreia do Sul pelos comunistas pudesse ter implicações maiores, diz Robert Kelly, professor da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul. ''O temor de Washington era de que, se os EUA desistissem da guerra na Coreia, houvesse um efeito dominó (com mais países adotando o comunismo) em outras partes da Ásia. Era um risco que eles não podiam correr'', afirma.

Após os combates terem chegado a um impasse, o presidente dos EUA, Harry Truman, e depois seu sucessor, Dwight Eisenhower, usaram a ameaça nuclear publicamente como um meio de pôr fim à guerra.

Mas estava claro que Truman não queria que o conflito se espalhasse ou que ele levasse a uma nova guerra mundial. Em 1951, quando o general Douglas MacArthur, comandante das forças americanas no Extremo Leste asiático, publicamente pediu que a China, que apoiava a Coreia do Norte, fosse atacada, ele acabou sendo demitido por insubordinação.

Em 1953, o Acordo de Armistício coreano foi assinado. Era para ser uma medida provisória, que estabeleceu uma zona desmilitarizada, ao longo do Paralelo 38. Mas um acordo de paz permanente jamais foi assinado, e as tensões ao longo da fronteira perduram desde então.

Em seus anos iniciais, a Coreia do Norte prosperou, apoiada tanto pela China como pela União Soviética.

Mas as tensões ao longo da fronteira cresceram com a rápida industrialização da Coreia do Sul e seu crescimento econômico.

"A Coreia do Sul se tornou realmente rica na década de 70, enquanto que a Coreia do Norte permaneceu como um típico exemplo de política stalinista. O país foi bem por um tempo, mas depois começou a fraquejar'', afirma Robert Kelly.

FIM

Com o fim da década de 80 e o fim da União Soviética, a perda do auxílio fornecido pelos soviéticos foi um duro golpe contra a Coreia do Norte. Além disso, quando a China reconheceu a Coreia do Sul em 1992, a Coreia do Norte se sentiu traída e cada vez mais isolada.

"Sua economia estava em queda livre desde o colapso do bloco soviético'', afirma o escritor e especialista em Coreia do Norte Paul French.

"A economia ia mal, a indústria foi reduzida à metade. Os mercados do bloco do Leste sumiram. A agricultura norte-coreana ruiu, e o país enfrentou fome em meados da década de 90", diz French.

O programa nuclear do país, que teve início na década de 60, segundo o ex-embaixador John Everard, se tornou cada vez mais importante.

"À medida que o ambiente internacional se voltou contra a Coreia do Norte, seus líderes começaram a encarar o programa nuclear como garantia de sua existência como um Estado independente''.

TRUNFO

O ''Grande Líder'' Kim Il-sung, seguido pelo seu filho, o "Querido Líder" Kim Jong-il e agora seu neto e "Líder Supremo" Kim Jong-un contaram todos com um importante trunfo --a grande moeda de troca nuclear'', afirma French.

Mas o programa nuclear da Coreia do Norte se tornou a principal fonte de tensão com o Ocidente, e os Estados Unidos e a Coreia do Norte chegaram à beira de um conflito inúmeras vezes.

Um exemplo foi em 1994, durante o governo do presidente americano Bill Clinton, quando Pyongyang seguia violando acordos internacionais sobre inspeções de suas instalações nucleares.

Em 2002, as tensões com a Coreia do Norte ressurgiram quando o governo do país expulsou inspetores nucleares em meio a temores de que o país estava desenvolvendo, em segredo, armas nucleares.

''A Guerra da Coreia ainda não terminou por completo. As velhas inimizades permanecem, ao menos aos olhos de Pyongyang'', afirma Paul French.

"Seul seguiu adiante e se tornou uma próspera democracia. O Norte se manteve como que numa redoma desde os anos 1950, se colocando em uma narrativa histórica como vítima e apenas agora com uma capacidade nuclear que exige a atenção de todos.''
Folha de S. Paulo

Notícias Geografia Hoje


Universo é mais velho do que se pensava, diz novo estudo

Reuters


Uma observação mais atenta da radiação deixada pela criação do universo mostra que o Big Bang aconteceu há cerca de 13,8 bilhões de anos, ou 100 milhões de anos antes do que se pensava, disseram cientistas na quinta-feira.

Essas conclusões estão entre os primeiros resultados das análises dos dados recolhidos pela sonda Planck, da Agência Espacial Europeia, que está há 15 meses em órbita e faz o mais detalhado exame até agora da radiação remanescente de micro-ondas que permeia o universo.

Essa relíquia radiativa foi detectada pela primeira vez em 1964, e posteriormente mapeada por duas sondas da Nasa, lançadas em 1989 e 1991. O Planck, com maior sensibilidade, conseguiu observar detalhes como minúsculas variações de temperatura nas chamadas microondas cósmicas de fundo.

As flutuações, da ordem de 100 milionésimos de grau, correspondem a regiões ligeiramente mais densas do espaço, lugares que mais tarde deram origem às estrelas e galáxias que preenchem o universo.

"É como se tivéssemos passado de uma televisão normal para uma televisão de alta definição. Detalhes novos e importantes se tornaram cristalinos", disse o diretor de astrofísica da Nasa, Paul Hertz, em teleconferência com jornalistas.

No geral, os novos dados se encaixam bem nos modelos existentes sobre a evolução do universo, mas eles também trazem novos quebra-cabeças.

"As variações de lugar para lugar no mapa que o Planck fez nos dizem coisas novas sobre o que aconteceu apenas 10 nano-nano-nano-nano segundos após o Big Bang, quando o universo se expandiu 100 trilhões de trilhões de vezes", explicou Charles Lawrence, cientista do projeto Planck no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia.

"Podemos ver sutis efeitos das atrações gravitacionais de literalmente tudo no universo", acrescentou.

Em comparação a medições anteriores, o universo é um pouco mais velho e, surpreendentemente, está se expandindo um pouco mais lentamente do que dizem os modelos atualmente aceitos.

Os dados do Planck também mostram que a matéria comum - a que compõem estrelas, galáxias, planetas, e tudo o que é visível - responde por apenas 4,9 por cento do universo.

A matéria escura, que não interage com a luz, mas pode ser detectada por sua atração gravitacional, compreende 26,8 por cento do universo, quase um quinto a mais do que em estimativas anteriores.

O resto do universo é feito de energia escura, uma força misteriosa e recém-descoberta que desafia a gravidade e causa a aceleração do ritmo de expansão do universo. Novos resultados do Planck mostram que ela representa 69 por cento do universo, ligeiramente menos do que se estimava.

(Reportagem de Irene Klotz) 
Jornal O Estado de S.Paulo

Notícias Geografia Hoje


Telescópio registra imagem de um grupo de brilhantes e jovens estrelas azuis

Astrônomos estimam que as estrelas tenham entre 20 e 35 milhões de anos

Efe

BERLIM - O telescópio MPG/ISSO do Observatório La Silla, situado no norte do Chile, conseguiu visualizar um formoso grupo de brilhantes estrelas quentes e azuis, sinais que demonstram sua recente formação, informou nesta quarta-feira o Observatório Austral Europeu (ISSO) de Garching, no sul da Alemanha.

Observatório Austral Europeu/Efe
Imagem das estrelas do cúmulo NGC 2547

Os astrônomos estimam que as estrelas do cúmulo NGC 2547 têm entre 20 e 35 milhões de anos, idade equiparável a de um bebê de três meses se levarmos em conta que o Sol, com seus 4,6 bilhões de anos, ainda não atingiu sua meia vida.

Este grupo estelar se encontra na constelação austral de Vela, aproximadamente a 1,5 mil anos luz da Terra.

A imagem captada por uma câmera de grande campo instalada no telescópio MPG/ISSO mostra alguns novos membros de nossa galáxia, a Via Láctea, que abriga, além disso, estrelas de mais de 13 bilhões de anos, praticamente a mesma idade do universo, estimada em uns 13,7 bilhões de anos.

Apesar da antiguidade, ainda há muito movimento na Via Láctea, onde objetos se formam e se destroem de maneira constante.

A maior parte das estrelas não se forma de maneira isolada, mas em ricos cúmulos com tamanhos variáveis, que podem conter desde algumas dezenas até milhares delas.

O cúmulo NGC 2547 contém várias estrelas quentes que brilham em tons azulados, um claro sinal de sua juventude, mas também inclui uma ou duas amarelas e algumas vermelhas, que já evoluiu até se transformar em estrela vermelha gigante.

Normalmente, em termos comparativos, os cúmulos estelares abertos como este têm vidas muito curtas - várias centenas de milhões de anos -, antes de se desintegraram e terem suas estrelas dispersas.

A imagem captada pelo telescópio MPG/ISSO mostra, além das brilhantes estrelas jovens quentes e azuis, muitos outros objetos, alguns mais frágeis e, inclusive, galáxias distantes da Via Láctea.

Outros objetos, com aparência difusa e alongada, são galáxias que se encontram a milhões de anos luz, por trás das estrelas que observamos com nosso campo de visão. 
Jornal O Estado de S.Paulo

Notícias Geografia Hoje


País produz 1º modelo de clima global para a ONU
Resultados serão incorporados às previsões de mudança climática do relatório do IPCC

HERTON ESCOBAR 


O próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), órgão das Nações Unidas que representa a ciência nas discussões sobre o tema, terá uma contribuição inédita brasileira. Pela primeira vez, o Brasil vai produzir um modelo de previsão climática global, que poderá ser incorporado ao portfólio internacional de modelos que o IPCC usa para fazer suas projeções sobre o futuro do clima do planeta.



O trabalho de validação do modelo brasileiro já foi submetido a uma revista especializada e está em fase final de revisão para ser publicado, o que gabaritará o Brasil a submetê-lo para o IPCC. Com isso, o País se tornará o primeiro da América Latina e apenas o segundo do Hemisfério Sul a contribuir com modelos de mudança climática global para o painel, ao lado da Austrália.

Apesar de não ter ainda o mesmo grau de sofisticação dos modelos produzidos no Hemisfério Norte - principalmente nos Estados Unidos e na Europa -, o modelo brasileiro deverá trazer informações mais detalhadas sobre fenômenos tropicais importantes, que hoje são um ponto fraco do modelos internacionais. Por exemplo, sobre fenômenos climáticos relacionados a variações de temperatura das águas do Atlântico Sul e ao desmatamento da Amazônia, do Cerrado ou de outros biomas brasileiros, que podem trazer consequências climáticas continentais ou até globais.

Segundo o pesquisador Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desenvolvimento do modelo, além de contribuir para o entendimento das mudanças climáticas globais, trará benefícios locais, com o aprimoramento da capacidade de previsão do tempo e da ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil - como as chuvas fortes que alagaram São Paulo nos últimos dias.

"Não há como fazer uma boa previsão do clima global se não tivermos modelos capazes de fazer uma ótima previsão do tempo local", afirma Nobre, que apresentou os primeiros resultados do modelo ontem, numa reunião da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre eles, a constatação de que o desmatamento da Amazônia aumenta a ocorrência do fenômeno El Niño.

O modelo enviado para publicação, chamado Besm-OA 2.3 (sigla em inglês para Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre - Oceano-Atmosfera), vem sendo desenvolvido desde 2008 por uma força-tarefa de cientistas ligados ao Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, à Rede Clima do governo federal e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas.

Todos utilizam o supercomputador Tupã, instalado no Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) do Inpe, necessário para rodar toda a matemática por trás das previsões. A máquina custou R$ 50 milhões, pagos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e pela Fapesp.

Capacitação. A opção de desenvolver um modelo próprio, em vez de adaptar um modelo já pronto de outro país, foi uma decisão estratégica com o intuito de formar uma nova geração de pesquisadores e capacitar o Brasil a produzir ciência de qualidade nessa área, segundo o pesquisador Carlos Nobre (irmão de Paulo), que foi um dos idealizadores do programa e hoje é secretário de Políticas e Programas de Pesquisa do MCTI. "É um esforço de desenvolvimento de competência", disse.

Só a Rede Clima, por exemplo, já formou 74 mestres, doutores e pós-doutores em 5 anos e tem outros 184 em formação, com um investimento de R$ 4,7 milhões do CNPq. Resultado: 127 trabalhos já publicados em revistas internacionais e 72, em periódicos nacionais.
Jornal O Estado de S.Paulo

Temperatura média do planeta subiu mais nos últimos 150 anos


Temperatura média do planeta subiu mais nos últimos 150 anos, indica estudo
Objetivo da pesquisa é dar uma visão global das temperaturas da Terra nos últimos 11.300 anos

Renato Martins - Agência Estado

Uma nova pesquisa indica que a temperatura média do planeta esteve mais alta na última década do que na maior parte dos 11.300 anos anteriores. O estudo, publicado nesta quinta-feira pela revista Science, oferece um contexto de longo prazo para as discussões sobre aquecimento global.

A pesquisa tem o objetivo de dar uma visão global das temperaturas da Terra nos últimos 11.300 anos - um período relativamente ameno, conhecido como Holoceno, que começou ao fim da última era glacial e cobre toda a civilização humana. O estudo mostra que uma variação de 1 grau na temperatura média do planeta, que demorou 11 mil anos para acontecer, foi replicada nos últimos 150 anos, desde o começo da Revolução Industrial.

Dentro desse cenário, a década entre 2000 e 2009 foi uma das mais quentes desde que esses dados começaram a ser coletados, mas as temperaturas médias não romperam os níveis do início do Holoceno. De acordo com a pesquisa, agora elas estão para chegar a esses níveis. E, se os cientistas estão certos, o planeta estará mais quente em 2100 do que nos últimos 11.300 anos.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Oregon e da Universidade Harvard e financiado pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA. Ele também tenta responder a uma questão crucial: o salto na temperatura planetária registrado nos últimos 150 anos pode ser explicado por variações naturais de longo prazo ou são resultado das emissões de gases causadores do efeito estufa feitas por atividade humana?

Os pesquisadores concluíram que a causa é a atividade humana, por causa do caráter repentino da mudança de temperatura, que parece destoar da tendência de longo prazo. "O que é diferente é o ritmo da mudança. O que vimos nos últimos 150 anos é muito maior do que vimos nos últimos 11 mil anos", disse o líder da equipe de pesquisa, o paleoclimatologista Shaun Marcott, da Universidade Estadual de Oregon.

Estimativa

O trabalho de estimar o clima antigo da Terra se apoia em medições indiretas, tomadas a partir de fósseis marinhos ou de amostras de gelo, que oferecem um registro físico das temperaturas. Por exemplo, cientistas fazem organismos marinhos crescer a temperaturas variáveis e vinculam mudanças na "assinatura química" de suas conchas a diferentes temperaturas da água. Esses dados, por sua vez, são usados para estudar fósseis marinhos. Para confirmar uma descoberta, os pesquisadores verificam se os registros de temperaturas obtidas a partir de uma fonte, como a dos fósseis marinhos, estão de acordo com os dados obtidos de outras fontes, como o gelo escavado a diferentes profundidades.

A maioria dos cientistas acredita que as emissões de gases causadores do chamado efeito estufa, como o dióxido de carbono, é responsável pela elevação da temperatura da Terra. Outros discordam. O debate é importante porque orienta a formulação de políticas energéticas pelos governos e a regulamentação da atividade de várias indústrias.

As projeções baseadas na pesquisa indicam que a temperatura da atmosfera terrestre poderá subir de 2 graus a 5 graus Celsius até o ano 2100. "O relatório é conclusivo ao mostrar que a Terra está se aquecendo. Em 2100, ela estará bastante mais quente do que há 11 mil anos", disse David Anderson, que dirige o programa de paleoclimatologia da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA), e que não esteve envolvido com a pesquisa. As informações são da Dow Jones.
Jornal O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Como ocorre o aquecimento global?


















Gases causadores do efeito estufa são capazes de regular a quantidade de radiação que entra e a que sai da Terra
O planeta está em um processo de aquecimento muito acelerado. Isto por causa da alta concentração de gases do efeito estufa – dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) – que são provenientes da indústria, automóveis e da queimada de florestas. A Terra absorve a energia do Sol, e também irradia energia de volta para o espaço. No entanto, grande parte desta energia vai para o espaço é absorvida pelos gases causadores do efeito estufa.. Como resultado do aumento da emissão destes gases, o planeta está aquecendo. As temperaturas médias globais são as maiores nos dois últimos séculos, aumentando cerca de 0,74°C nos últimos 100 anos. Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007, poderá ocorrer o acréscimo médio de 2°C a 5,8°C na temperatura do planeta.
ultimosegundo.ig.com.br

Notícias Geografia Hoje


Estudo diz que aquecimento global gera mais bancos de gelo na Antártida
Alteração de padrão é resultado do efeito da água que derrete do gelo durante o verão e que volta a se congelar rapidamente quando a temperatura cai novamente

Getty Images
Bancos de gelo em volta da Antártica aumentam apesar do clima global esquentar

O aquecimento global está aumentando a área de bancos de gelo em volta da Antártida durante o inverno. A mudança é resultado do efeito da água que derrete do gelo durante o verão e que volta a se congelar rapidamente quando a temperatura cai. A conclusão é de um estudo divulgado neste domingo (31).

Um derretimento de gelo crescente nos limites da Antártida durante o verão, associado com menos nevascas do que o esperado no continente, está aumentando levemente o nível do mar, diz o estudo.

Cientistas têm se esforçado para explicar porque, por exemplo, os bancos de gelo em volta da Antártica alcançaram uma extensão recorde no inverno de 2010, quando o gelo no Oceano Ártico, no outro limite do planeta, diminuiu e chegou a uma baixa recorde em 2012.

"Os bancos de gelo em volta da Antártica aumentam apesar do clima global esquentar", disse Richard Bintanja, do holandês Instituto Real Meteorológico, líder do estudo. "Isso é causado pelo derretimento das camadas de gelo, afirmou sobre os resultados da pesquisa, publicados no jornal Nature Geoscience .

Quando o gelo da costa da Antártida derrete no verão por causa do aumento da temperatura do mar, a água produzida flutua sobre a mais densa e quente água salgada. No inverno, a água do derretimento do gelo sobre o mar volta a se congelar.

No pico do inverno, o gelo sobre o mar em volta da Antártida cobre uma área de cerca de 19 milhões de quilômetros quadrados, maior do que a extensão terrestre do continente. À medida que o verão se aproxima, ele derrete no oceano.

Ventos
Paul Holland, da organização britânica British Antarctic Survey, defende as conclusões da sua pesquisa feita no ano passado.

Segundo o estudo, uma mudança nos ventos, relacionada às transformações no clima, está levando para mais distante a camada de água derretida sobre mar e aumentando o volume de gelo no inverno.

"A possibilidade é que o aumento real se deve ao vento e aos efeitos da água derretida. Essa seria a minha hipótese, com o efeito da água derretida sendo o menor entre os dois", afirmou ele.

O estudo de Bintanja também afirma que a camada mais fria de água sobre o mar pode limitar a quantidade de água que sai do oceano e volta como neve sobre a Antártida, já que o ar mais frio é menos úmido.
ultimosegundo.ig.com.br

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Outdoor no Peru transforma ar em água potável
Dispositivo, instalado em vilarejo onde moradores não têm acesso à água potável, captura a umidade do ar e produz água

BBC

 
UTEC/Agência Mayo

Outdoor foi instalado em vilarejo perto de Lima com problema de falta de água potável

Um outdoor nos arredores de Lima, Peru, transforma ar em água potável.

O dispositivo, criado pelos pesquisadores da Universidade de Engenharia e Tecnologia (UTEC) de Lima e pela agência de propaganda Mayo Peru DraftFCB, captura a umidade do ar e, com a ajuda de filtros, produz a água.

O painel tem uma localização estratégica, no vilarejo de Bujama, uma área ao sul da capital na qual os moradores quase não têm acesso à água limpa.

Segundo a UTEC, os pesquisadores queriam colocar a "imaginação em ação" e mostrar que é possível resolver os problemas das pessoas com engenharia e tecnologia.

"Um outdoor que produz água potável a partir do ar", afirma o cartaz que produziu mais de 9 mil litros de água, o que dá uma média 96 litros por dia.

Capturando a umidade
Apesar das condições difíceis na região do vilarejo de Bujama, com poucas chuvas, a umidade do ar chega a 98%, segundo a UTEC.

"O painel captura a umidade no ar e a transforma em água. É simples assim", afirmou Jessica Ruas, porta-voz da universidade.


  

UTEC/Agência Mayo

Painel se transformou em ponto de encontro para moradores

Dentro do painel existem cinco dispositivos que extraem vapor de água do ar usando um condensador e filtros.

A água é armazenada em tanques no topo da estrutura. Depois de filtrada, a água desce por um cano conectado a uma torneira, acessível a todos.

O custo do sistema é de US$ 1,2 mil (pouco mais de R$ 2,4 mil) e, segundo Ruas, pode se transformar em uma solução para o problema da falta de água.

"Não precisa ter a forma de um outdoor, mas a criatividade é a chave para o desenvolvimento (do projeto)", afirmou.

A UTEC foi fundada há apenas um ano e está usando o painel com o objetivo de atrair as "mentes criativas que o Peru necessita".

Os vizinhos do outdoor aprovaram o projeto e o outdoor se transformou em uma atração local entre os moradores e motoristas que passam pelo local, além de parte indispensável da vida no vilarejo.

"Não percebemos o tamanho do impacto que causaríamos", disse Ruas.
http://ultimosegundo.ig.com.br

Notícias Geografia Hoje

Televisores antigos são perigosos para o meio ambiente
Tecnologia de tela plana tornou a reciclagem de monitores e televisores obsoleta e dizimou a demanda pelo tubo de vidro reciclado

The New York Times |

Getty Images
Tsunami de vidro: falta de interesse comercial por reciclagem de televisores cria pontos de entulho tóxico

No ano passado, dois inspetores da agência de resíduos perigosos da Califórnia visitaram uma empresa de reciclagem de eletrônicos perto de Fresno, Nevada, para uma revisão de rotina quando se depararam com um armazém repleto com milhares de monitores e televisores velhos.

As caixas de papelão estavam empilhadas em fileiras de 2 metros de altura e 4 metros de profundidade. A camada de vidro quebrado no chão e o pó de chumbo no ar era tão espesso que os inspetores logo levantaram preocupações de segurança.

Semanas mais tarde, o proprietário da empresa de reciclagem desapareceu, abandonando todo o lixo e deixando para trás uma ameaça tóxica e uma limpeza que custará caro para o Estado e para o proprietário do armazém.

Já faz algum tempo, os monitores e televisores quebrados, como os amontoados no armazém, estão sendo reciclados de uma maneira rentável. Os grandes funis no interior dessas máquinas - conhecidos como tubos – eram derretidos e transformados em novos.

Mas a tecnologia de tela plana tornou os monitores e televisores obsoletos, dizimando a demanda pelo tubo de vidro reciclado e criando o que os especialistas da indústria chamaram de "tsunami de vidro", à medida que estoques deste material se acumulam ao redor de todo o país.

A situação mostrou como pequenas mudanças no mercado de repente podem transformar um produto obsolete e demonstra as dificuldades que os reguladores ambientais federais e estaduais enfrentam ao lidar com essas mudanças rápidas.

"Muitas empresas de reciclagem menores estão sobrecarregadas e existe um risco de que elas possam abandonar seus estoques", disse Jason Linnell da Câmara de Coordenação de Reciclagem de Equipamentos Eletrônicos, uma organização que representa os reguladores ambientais do Estado, fabricantes de eletrônicos e recicladores.

Em fevereiro, o grupo enviou uma carta à Agência de Proteção Ambiental para pedir ajuda imediata para lidar com os estoques de vidro que vinham aumentando cada vez mais, muitos dos quais continham chumbo.

Com tão poucos compradores do vidro de chumbo dos antigos monitores e televisores, recicladores receberam pagamentos de Estados e empresas de eletrônicos para se livrarem das máquinas antigas. Um pequeno número de recicladores desenvolveram uma nova tecnologia para a limpeza do chumbo do tubo de vidro, mas a maior parte deste lixo está sendo armazenado, enviado para aterros sanitários ou eliminados de outras maneiras que especialistas disseram ser ambientalmente destrutivas.

"O problema agora é que a recolha destes resíduos está em alta, mas a demanda para o vidro que vem dele nunca esteve tão baixa", disse Neil Peters-Michaud, o executivo-chefe da Cascade Asset Management, uma empresa de reciclagem.

Por Ian Urbina
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