terça-feira, 30 de outubro de 2012

Notícias Geografia Hoje


Fumaça. Indústrias e veículos são as principais fontes de material particulado que polui a atmosferaCUSTODIO COIMBRA/15-10-2009
Padrão de qualidade do ar do Brasil está defasado

Estudo comparou limites adotados no país com os de outras nações e recomendação da OMS

RIO - O padrão de qualidade do ar adotado pelo Brasil está defasado, e no caso de alguns poluentes, segue diretrizes com quase 40 anos de idade, necessitando por isso rediscussão urgente para preservar a saúde da população e o ambiente. A conclusão é de estudo realizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), que comparou os limites brasileiros com os usados por EUA, União Europeia e vários outros países, além das últimas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o levantamento, com exceção do monóxido de carbono (CO) e da concentração de ozônio (O3) respirável, a regulamentação no país deixa a desejar com relação aos principais poluentes atmosféricos, como material particulado, dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx).

André Luis Ferreira, diretor-presidente do Iema, conta que o padrão brasileiro foi estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em 1990 e permanece o mesmo desde então, enquanto no resto do mundo costuma ser revisto periodicamente. Além disso, Ferreira lembra que os limites adotados tiveram como base os que já eram usados pelos primeiros programas de monitoramento da qualidade do ar no país, criados no Rio e em São Paulo na década de 70, que por sua vez se espelhavam nos que os EUA usavam na época.

— Estamos muito longe das recomendações atuais da OMS — afirma. — Alguns valores na resolução do Conama estão completando quase 40 anos. Não houve revisão, nem se discute o assunto.

Ferreira aponta como o primeiro grande defeito da resolução do Conama que esta não estabelece um padrão para o chamado MP2,5, o material particulado mais fino, com até 2,5 micrômetros (milésimos de milímetro) de diâmetro, e o mais nocivo à saúde por atingir regiões mais profundas dos pulmões, podendo levar a problemas respiratórios, cardiovasculares e até câncer. A atual legislação do país prevê apenas um limite para as chamadas Partículas Totais em Suspensão (PTS), que inclui desde poeira com até 100 micrômetros a material inalável com tamanho de até 10 micrômetros.

— Quanto mais fino for o material particulado, mais perigoso ele é para a saúde, então a primeira grande falha de nosso programa de qualidade do ar é não incluir o MP2,5 — diz Ferreira. — E mesmo para o MP10 nosso padrão, de 50 microgramas por metro cúbico de ar, é mais do que o dobro do recomendado pela OMS, de 20 microgramas.

De acordo com Ferreira, esta defasagem observada nos limites para o material particulado se repete para o dióxido de enxofre e dos óxidos de nitrogênio. Além disso, o diretor-presidente do Iema cobra a implantação de um sistema de monitoramento transparente da qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras. No Rio, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), é responsável por este monitoramento. O órgão, no entanto, não soube precisar quantas estações fazem o levantamento na região metropolitana da cidade. Segundo informações disponíveis no site do Inea, seriam 26 no total, a grande maioria voltada apenas para análise de material particulado e só quatro, as únicas automáticas e localizadas em Jacarepaguá, no Centro, em Nova Iguaçu e em São Gonçalo, fariam medições dos outros poluentes. Além disso, o último relatório de qualidade do ar do estado na página do Inea data de 2009.

— Não adianta nada estabelecer padrões rigorosos se não há monitoramento, única maneira de observar se eles estão sendo atendidos. Há grandes capitais do país em que milhões de pessoas estão vivendo sem nenhum monitoramento do ar que respiram — critica Ferreira, lembrando que é necessário ainda o investimento em políticas públicas. — É preciso integrar as políticas de transporte e mobilidade urbana às ambientais.
Jornal O Globo

Notícias Geografia Hoje

Observatório Nacional de olho no passado e com foco no futuro

Aos 185 anos, instituição estuda alguns dos maiores mistérios da astronomia atual

Relíquia. A luneta 46, de 90 anos de idade, em cúpula do observatório: equipamento obsoleto só serve para fins educativos devido à poluição luminosa da cidade
FOTOS DE DIVULGAÇÃO/OBSERVATÓRIO NACIONAL

RIO - No início do século XIX, a astronomia moderna ainda engatinhava. Pouco mais de cem anos depois de Isaac Newton publicar sua Teoria da Gravitação Universal, os cientistas ainda recorriam a ideias surgidas na Antiguidade, como o éter e a quintessência, para explicar como o Universo funcionava. Neste contexto, em outubro de 1827 Dom Pedro I criava o Observatório Nacional (ON). A princípio, a instituição tinha objetivos bem práticos e mundanos: aferir a hora oficial do país e demarcar as fronteiras da então recém-nascida nação brasileira, ambas ações dependentes de medições astronômicas em uma época em que não existiam sistemas de posicionamento por satélite como o GPS, e os viajantes usavam bússolas e o posicionamento das estrelas para se orientarem.

— O Observatório Nacional acompanha o Brasil desde seu nascimento, tendo sido criado apenas cinco anos depois da Independência — lembra Teresinha Rodrigues, pesquisadora da instituição que prepara para publicação em breve do livro “Observatório Nacional — Protagonista do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil”. — Ele teve papel central no levantamento de coordenadas geográficas, fundamental para determinação das fronteiras do país que nascia.

Balão vermelho para indicar o meio-dia

Já a aferição da hora certa foi além de sua função para a navegação, entrando no dia a dia dos moradores do Rio de Janeiro, então capital do país, conta Teresinha. Desde o século XIX e até o início do século XX, um balão vermelho era içado em uma torre no topo do prédio da instituição, no antigo Morro do Castelo, pouco antes das 12h, e seu recolhimento do mastro marcava a chegada do meio-dia.

— Muitas relojoarias da cidade instalavam balões próprios e “retransmitiam” o sinal do observatório, que assim corria toda a cidade — diz a pesquisadora. — Quando da transferência do observatório para São Cristóvão, em 1921, o balão já estava gasto e a torre foi demolida, mas por força do costume e exigência da população o observatório criou um sistema de luzes que continuou marcando a chegada do meio-dia até a completa demolição do morro.

Mas se ao longo de boa parte de sua história o Observatório Nacional foi importante para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, sua atuação foi mais modesta no âmbito das pesquisas mundiais. Isso não impediu, no entanto, que a instituição por vezes assumisse um papel de coadjuvante de luxo em algumas descobertas significativas. Jailson Alcaniz, chefe do Departamento de Astronomia, lembra, por exemplo, a participação que os astrônomos da instituição tiveram em uma expedição inglesa em 1919 que veio ao Brasil para acompanhar um eclipse total do Sol na cidade de Sobral, no interior do Ceará, com o objetivo de verificar a previsão feita apenas alguns poucos anos antes por Albert Einstein.

Em 1915, o cientista alemão havia publicado sua Teoria da Relatividade Geral, que desde então tomou o lugar da teoria de Newton como a mais completa a explicar como funciona a gravidade. Pelos cálculos de Einstein, a luz de uma estrela distante deveria sofrer uma deflexão maior do que a prevista pela física newtoniana ao passar pelas proximidades do Sol, em razão da curvatura que sua gravidade provoca no espaço-tempo, o que foi confirmado pela expedição inglesa.

— Foi o primeiro teste e a primeira evidência de que a Teoria da Relatividade Geral estava certa e isso aconteceu com uma participação ativa do Observatório Nacional — destaca Alcaniz.

Hoje, o Observatório Nacional se debruça sobre alguns dos maiores mistérios da cosmologia e astrofísica atuais — a matéria e a energia escuras que comporiam cerca de 96% de tudo que há e cuja natureza desconhecemos, o que curiosamente remete às explicações “esotéricas” para o funcionamento do Universo, como o éter e a quintessência, que os estudiosos usavam no tempo de sua fundação.

— Como todas as ciências, a astronomia mudou muito no último um século e meio — diz Alcaniz. — Naquele tempo, nossa compreensão do Universo era completamente diferente da que temos hoje e não se imaginava que o espaço fosse o quase completo vazio que sabemos que é. Saímos de um quadro obscuro para um de maior entendimento, um movimento enorme graças a muita tecnologia, novos instrumentos e teorias. Mas agora voltamos a um estágio de desconhecimento do Universo que achávamos que tínhamos superado. Temos pela frente o desafio de explicar o que são esses 96% de tudo que há, isto é, a matéria e a energia escuras, que simplesmente desconhecemos.

Essa mudança na astronomia, porém, não se deu só pela tecnologia envolvida, mas também na forma de trabalhar. Antigamente, era comum aquela figura do pesquisador solitário, o astrônomo que passava noites sozinho observando o céu, enquanto hoje a ciência está marcada pelas grandes colaborações, projetos que envolvem pesquisadores e equipamentos espalhados ao redor do mundo. Um destes casos é o Levantamento Astrofísico de Javalambre para a Física do Universo em Aceleração (J-PAS, na sigla em inglês), uma parceria entre Brasil e Espanha que está construindo um telescópio e uma câmera que terão como principal missão investigar a natureza da matéria e energia escuras.

Instalado no topo de uma montanha de 2 mil metros de altura, na serra espanhola de mesmo nome, o Observatório Astronômico de Javalambre terá um telescópio com um espelho de 2,5 metros de diâmetro equipado com a segunda maior câmera do mundo, com uma resolução de 1,2 gigapixels. Chamada de J-CAM, ela está sendo produzida no Brasil e é uma das principais contribuições do país para o projeto, que tem um orçamento total de 30 milhões de euros.

O conjunto deverá começar a varrer o céu em 2014, produzindo, num prazo de quatro a cinco anos, um mapa em três dimensões do Universo até uma distância de mais de 8 bilhões de anos-luz. Com os dados, os cientistas esperam conseguir medir a influência da energia e da matéria escuras na distribuição das galáxias, desvendando assim uma parte de suas características.

— Independentemente de a matéria ser escura ou luminosa, ela age gravitacionalmente, o que faria as galáxias responderem — explica o astrônomo Luiz Nicolaci, também pesquisador do Observatório Nacional e que coordena a participação brasileira em outra grande colaboração internacional, o Levantamento sobre Energia Escura (DES, na sigla em inglês).

Marcas na estrutura do Universo

Mas se a ação gravitacional da matéria escura — que responderia por 80% de toda matéria do Universo, com os 20% restantes compostos pelos átomos e partículas comuns que formam as galáxias, estrelas e nós mesmos, conhecida como matéria bariônica — a torna mais fácil de ser detectada, apesar de invisível, o mesmo não acontece com a energia escura. Neste caso, são várias as teorias dos cosmologistas para explicar sua aparente ação repulsiva, que estaria compensando a gravidade das matérias escura e bariônica e acelerando a expansão do Universo. Por isso, projetos de levantamentos amplos sobre a estrutura do Cosmo como o J-PAS e o DES, que já opera outra poderosa câmera instalada em um telescópio no Chile, são promissores. Neles, os cientistas esperam ver sinais da chamada oscilação acústica bariônica, o “eco” deixado no Universo pelas primeiras formações de matéria logo depois do Big Bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos.

— Voltamos a engatinhar na nossa compreensão do Universo. O próprio termo “energia escura” é uma manifestação disso e descobrir o que ela é pode ter implicações profundas na física fundamental, talvez exigindo uma revisão da Relatividade Geral de Einstein — diz Nicolaci. — Durante muito tempo o Observatório Nacional teve uma posição um tanto irrelevante para as pesquisas mundiais, mas agora ele está inserido nos assuntos mais quentes da cosmologia, participando de forma ativa de estudos de ponta, em um processo de integração e interação com quem é quem na astronomia mundial, o que é muito bom para a formação de nossos jovens estudantes. Nossa próxima geração de astrônomos estará muito capacitada e em contato com os principais centros de pesquisa do mundo de uma forma que era inconcebível até um passado recente.

Alcaniz tem uma opinião parecida:

— O Observatório Nacional é uma instituição antiga, mas não está parada no tempo. Minha visão para o ON é de um futuro ainda mais vibrante, com novos resultados e pesquisas sobre algumas das principais questões da astrofísica e da cosmologia atuais.
Jornal O Globo

Notícias Geografia Hoje

Seu lixo, comida de famintos
Brasil. O volume de alimento no lixo é de 26,3 milhões de toneladas anuais
MÁRCIA FOLETO

Estudo aponta que redução no desperdício poderia alimentar até um bilhão de pessoas. Especialistas ressaltam, porém, que é preciso garantir o acesso aos produtos agrícola

Dentro de uma lixeira da Central de Abastecimento (Ceasa) do Rio de Janeiro, há pouco mais de uma semana, a dona de casa Elizabeth de Moraes separava cebolas inteiras, batatas menos machucadas, cenouras sem raiz. Limpava tudo com um papel e punha em um carrinho. Em vez de percorrer barracas, é ali que ela faz a feira da família. Uma vez por semana, sai de Santa Cruz, onde mora com o marido, uma filha e três netos, e vai até a Ceasa, em Irajá, onde, segundo a Embrapa Agroindústria de Alimentos, nada menos do que dez toneladas de alimentos vão parar no lixo diariamente. Assim Elizabeth diz ter criado seus dez filhos, contando, semanalmente, com os alimentos descartados por feirantes no local. A cena carioca é um retrato de proporções mundiais alimentada pelo desperdício, que, se fosse atacado, abriria espaço para saciar a fome de um bilhão de pessoas mundo afora, sendo que 19 milhões no Brasil — mais do que os 13 milhões de brasileiros com fome.

O cálculo famintos versus desperdício é de pesquisadores da Universidade finlandesa de Aalto e foi publicado, este mês, na revista americana “Science”. Para outros especialistas, porém, a conclusão sobre a redução da fome pode ser precipitada, uma vez que não leva em conta o tipo de alimento descartado e a qualidade do produto, além da forma de acesso das populações mais pobres aos produtos agrícolas, considerados commodities. As Nações Unidas cravam que 870 milhões de pessoas passam fome, seja porque não têm terra — o que dificulta a agricultura de subsistência — ou porque não têm dinheiro para pagar o preço de mercado.

Estamos jogando fora não somente alimentos, mas também água potável (27 metros cúbicos por habitante do mundo), energia, terra (0.031 hectares de área agricultável), trabalho e fertilizantes (4,3 quilos).

— As perdas ocorrem em toda a cadeia produtiva. O consumidor paga por isso — diz Antônio Gomes, pesquisador da Embrapa.

Só no Brasil, 26,3 milhões de toneladas de alimentos têm o lixo como destino. Deste total, cerca de 10% se perdem ainda no campo. O maior desperdício, 50%, ocorre no transporte e manuseio. E 10% vão para a lixeira após a chegada do produto ao supermercado, quando ele perde qualidade na prateleira, ou simplesmente, quando comprado em excesso, não é consumido. As centrais de abastecimento espalhadas pelo país ajudam a engordar a conta: mais de 30% das perdas em toda a cadeia alimentar acontecem nesses locais.

Um passeio matinal na Ceasa do Rio é um cenário privilegiado para presenciar comerciantes descartando caixotes cheios de alimentos no chão. Há produtos que perderam qualidade no transporte, alguns ao serem embalados, outros por causa do armazenamento e até na própria disposição nas barracas. Na correria, os feirantes jogam alimentos uns por cima dos outros, e os estragam. As cenas se repetem em todas as semanas em feiras livres do Rio de Janeiro.

Em Botafogo, na semana passada, um comerciante carregava quatro caixas cheias de alfaces para o lixo, no fim da feira. Ninguém quis comprar porque o produto murchou demais. Sobre a perda, ele deu de ombros. Está acostumado, já entra na conta. E, como ele, muitos outros fazem do alto índice de descarte parte do cotidiano.

— Dez anos atrás, fizemos um cálculo da cadeia de alimentos, e concluímos que havia 37 quilos de hortaliças não consumidas por cada habitante do país. Ainda não refizemos as contas, mas acompanhamos o cenário e já sabemos que o número quase não se alterou. Não é à toa que na Ceasa do Rio há, até hoje, uma comunidade do entorno que se alimenta do lixo que é descartado — analisa Gomes.

Banco de alimentos

A Ceasa do Rio alega dispor de um programa de Banco de Alimentos, em Irajá. A instituição doa, mensalmente, de 40 a 50 toneladas do que não pode mais ser vendido nos boxes para 60 instituições cadastradas. Os estoques próprios para consumo, mas sem valor comercial, vão para o banco, onde são selecionados e separados. Dentro do projeto do Banco de Alimentos, a central de distribuição também oferece cursos de reaproveitamento integral do alimento para os responsáveis pelas cozinhas. A empresa reconheceu, no entanto, que nem todos os comerciantes da Ceasa buscam rotineiramente o Banco de Alimentos para doar.

Como parte da tentativa de erradicação da fome, Bancos de Alimentos proliferaram por todo o país. Mas há uma série de entraves para as doações, que amedrontam empresas. Segundo a legislação brasileira vigente hoje, as companhias respondem judicialmente se o alimento causar algum mal à pessoa que o consumir. Sendo assim, há estabelecimentos, como restaurantes e supermercados, que preferem descartar produtos em bom estado no lixo a doá-los. Por outro lado, nutricionistas criticam possíveis mudanças na legislação atual, já que há empresas dispostas a se livrar do lixo.

O professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Renato Maluf, está convencido de que é preciso separar o joio do trigo para entender a complexidade do problema. No caso, distinguir as perdas do desperdício. As primeiras se referem ao cultivo, à colheita, manipulação dos alimentos, embalagem, distribuição etc. Ou seja, acontecem em algum momento da cadeia produtiva. Já o desperdício acontece em casa. O especialista acaba de deixar a presidência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea):

— As perdas podem ser reduzidas com investimentos em técnicas. Há agricultores que perdem alface por não saberem manejar o pé da forma correta. Tem também a aparência, o cuidado na hora de expor o alimento. Outra coisa é o desperdício. Ele é questão de educação alimentar, tem a ver com excesso de compra, má gestão dos alimentos em casa, não aproveitamento integral dos talos, cascas, entre outros. E isso não se muda da noite para o dia. Há muito preconceito envolvido.

Mal do século

Maluf não concorda com a relação direta feita pelo estudo de Aalto entre desperdício e redução da fome, pois ressalta que o problema não é relacionado à quantidade de alimentos disponíveis, mas ao acesso. A grande pergunta para ele é: se houvesse mais alimento disponível, ele iria parar nas mãos das camadas pobres? Nesse ponto, como o professor ressaltou, é necessário pensar em muito mais do que doação de alimentos, mas também na possibilidade de compra de cada habitante do planeta sustentar sua dieta alimentar.

Em pleno século XXI, 870 milhões de pessoas vão dormir diariamente com fome. Isso significa que 12,5% da população mundial estão subnutridas, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês). A propósito da divulgação dos novos números, seu diretor-geral, o brasileiro José Graziano da Silva, escreveu: “não há escassez de oferta ou deficiência tecnológica que justifique esses indicadores”.

Há de se ressaltar, ainda de acordo com o relatório da FAO, intitulado “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, que o número total de pessoas famintas no mundo diminuiu em 132 milhões entre 1990 e 2012. E o Brasil aparece no documento como exemplo, já que o percentual no país caiu de 14,9%, no período de 1990 a 1992, para 6,9%, nos anos de 2010 a 2012.

Se o país viu a fome diminuir quase à metade nos últimos anos, o fenômeno teve pouco a ver com a redução do desperdício e mudanças na cadeia produtiva em solo brasileiro. E, quando elas ocorrem, segundo especialistas, é, na maior parte das vezes, por exigências feitas pelo mercado externo. São condicionantes que passam por exigências fitossanitárias, regras de embalagem, formas de acesso a mercados. Há casos em que os mesmos produtores de agronegócio têm uma cadeia de embalagem e de distribuição mais cuidadosa para a exportação, e um padrão menos exigente para os produtos vendidos no mercado interno.

Uso incorreto dos recursos

Além do consumidor pagar o preço da ineficiência do mercado, o desperdício se traduz em mau uso dos recursos naturais do país, como ressaltou o professor Maluf:

— A grande questão do desperdício e das perdas é que temos sobreuso dos recursos naturais para uma produção que se perde. Poderíamos ter uma produção maior, pressionando menos o meio ambiente, gastando menos energia, com áreas menores.

O pesquisador defende a ideia do circuito curto, no qual pequenos produtores fazem a distribuição voltada para uma área mais próxima. O modelo encurta distâncias e diminui as perdas. A opinião é compartilhada por uma das mais respeitadas autoras da área de Segurança Alimentar no mundo, a indiana Vandana Shiva.

— As longas distâncias e a distribuição centralizada também contribuem para o desperdício. O modelo industrial que destrói ecossistemas e impõe a monocultura só agrava o problema. Além disso, é preciso lembrar que apenas 2% da soja produzida nos Estados Unidos é para fins alimentares. Fenômeno parecido acontece no Brasil — afirma Shiva. — O primeiro passo para acabar com o problema é trazer de volta a diversidade de produção para as fazendas. Assim, também se garante geração de renda para os agricultores, reduzindo a fome.

Há, por um lado, mudanças que dependem de empresas, políticas públicas e mais cobrança do poder público. Por outro, há atitudes que dependem da sociedade. Pensando nisso, a ONG internacional Oxfam acaba de lançar um manual sobre o desperdício para os consumidores. Entre as dicas, estão ações como aproveitar ao máximo os alimentos, pensar em receitas específicas para usar os que estão prestes a estragar na geladeira e consumir produtos de acordo com a estação. Segundo um dos coordenadores da campanha no Brasil, Rafael Georges, o objetivo é conscientizar as pessoas de que um terço dos alimentos se perde em toda a cadeia:

— O consumidor precisa pensar na origem do produto. Alimentos distribuídos por pequenos produtores, frescos e não processados, exigem muito menos energia, fertilizantes e são mais diversos.

Filme verdade

O documento ganhou o título de “A transformação do sistema alimentar: utilizando o poder do consumidor para criar um futuro alimentar justo” e pode ser baixado na internet, pelo endereço eletrônico http://issuu.com/campanhacresca. A pesquisa ressalta também o excesso de consumo, que acontece nos países desenvolvidos. A maioria dos alimentos do mundo está no Norte e no Ocidente, sendo insuficiente em outros lugares. Na Europa, os mercados e estabelecimentos comerciais têm alimentos em quantidades suficientes para oferecer mais de 3 mil calorias por dia a toda e qualquer pessoa. Nos Estados Unidos, esse número gira em torno de 3.600 calorias. Em média, uma pessoa precisa ingerir por volta de 2 mil calorias por dia.

No Brasil, os excessos são menores, os maiores problemas são de fato as perdas da produção até o consumo. E não é recente. Há 17 anos, uma produção cinematográfica, de 1989, que fez a cadeia produtiva de um tomate se tornar protagonista de um curta-metragem, foi eleito, pela crítica europeia, como um dos cem mais importantes do século.

O documentário “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, mostrava a problemática da sociedade de consumo, a riqueza e a desigualdade. O filme ajudou a refletir sobre o estágio em que chegou o ser humano em busca de alimento, e diante da abundância que há nas prateleiras dos supermercados. E ainda mostrava as perdas na cadeia de produção de alimentos, da colheita até chegar ao supermercado, e o desperdício que ocorre na hora do consumo. Por fim, o tomate apodrece e acaba no lixão, onde pessoas disputam os restos de comida, mas só depois de rejeitados pelos porcos criados no local.
Jornal O Globlo

Notícias Geografia Hoje


O Sandy em ação, em imagem da Nasa divulgada esta terça-feiraDIVULGAÇÃO
Aquecimento global aumenta potência de furacão
Encontro com frente fria e pressão baixa fizeram de Sandy a ‘tempestade perfeita’

Os ventos e chuvas que paralisaram Nova York, chegando mesmo a provocar nevascas em partes da Costa Leste americana devem parte de sua intensidade ao aquecimento global. Segundo o Centro Nacional para a Investigação Atmosférica dos EUA o aumento da temperatura do planeta contribui para que um furacão como o Sandy veja sua força crescer em até 10% — o suficiente para ampliar os estragos em 60%. E ainda há fatores atípicos para que o Sandy ganhe a alcunha de “tempestade perfeita” (ou “perfect storm”).

Outro levantamento americano, este assinado pelo Instituto de Estudos Oceanos e Atmosféricos (Noaa), já mostrava como o aquecimento global pode alimentar os furacões. Estes fenômenos climáticos serão mais escassos, embora mais intensos. Os remanescentes serão, na maioria das vezes, justamente os furacões de categoria 4 e 5, como o Katrina, que deixou cerca de 1.800 mortos em Nova Orleans (EUA) em 2005. A explicação está na temperatura da água, mais quente, no maior volume de chuvas e nas ondas maiores.

Ao lado do Katrina, o Sandy parece tímido — era um furacão de categoria 1, rebaixado a tempestade tropical. Mas há uma série de fatores que farão o novo furacão ser estudado nos próximos anos. Para além da questão do aquecimento global, Sandy é uma “tempestade perfeita”, fenômeno só visto anteriormente uma vez, exatamente há 21 anos, quando o termo foi cunhado, também no Atlântico Norte.

Dessa vez, no entanto, a tempestade avançou para uma área muito maior.

— A região afetada, além do litoral de Massachussetts a Maryland, avança até o interior do país, chegando a Illinois, no Centro-Oeste — descreve a astrônoma Duilia de Mello, do Goddard Space Flight Center, da Nasa. — O Sandy é interessante porque, ao vir pelo Atlântico e se aproximar do continente, ele bateu de frente com uma frente fria. A pressão atmosférica baixou, aumentando a precipitação e deixando os ventos mais fortes. Uma conjunção como essa só havia sido vista antes em 1991, e sobre o oceano. É algo totalmente atípico.

A frente fria, que vem do Canadá, é ainda mais intensa em regiões ao norte de Nova York, onde já neva intensamente, no local em que a tempestade se encontrou com a frente fria. A passagem do Sandy por estes locais, se ele não se dissipar, poderia causar mais inundações e neve.

— A temporada de furacões vai até 30 de novembro, mas este ano, à exceção do Sandy, não foi intenso — pondera Duilia. — No Sul, onde passou o Katrina em 2005, nada demais até agora.

O Katrina, quando chegou a Louisiana, principal cenário da tragédia, passou pela Flórida ainda como um furacão de categoria 1. Ele se alimentou das águas quentes do Golfo para tornar-se um fenômeno 5. É para que casos como esse não se repitam que meteorologistas pedem urgência na redução das emissões de CO2 na atmosfera. A água mais quente evapora mais, aumentando o volume das tempestades.

A Noaa previu, em 2010, que as tempestades serão 20% maiores a até 100 quilômetros do olho de um furacão, considerando um cenário em que a temperatura da Terra aumentará em 2,8 graus Celsius — o que já é dado como certo até o fim do século pelos climatologistas. Se o Sandy tornar-se regra, em vez de exceção, este cálculo será atingido bem antes.
Jornal O Globo

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Notícias Geografia Hoje

Nasa/AFP 
Imagem do gelo antártico tirada pelo satélite Aqua, da NASA
Setembro tem recorde de calor e de gelo na Antártida

DA REUTERS

O mês passado foi o setembro mais quente já registrado na Terra, dizem cientistas de uma agência governamental americana que estuda o clima e o oceano.

A média da temperatura global dos continentes e dos oceanos no mês passado foi de 15,67º C ou 0,67º C acima da média geral do século 20.

A temperatura média global só dos continentes em setembro foi a terceira mais quente já registrada para esse mês.

A Rússia central, o Japão, o oeste da Austrália, o norte da Argentina, o Paraguai, o oeste do Canadá e o sul da Groenlândia tiveram temperaturas maiores que a média em setembro, enquanto o leste da Rússia, o oeste do Alasca, a África do Sul, grande parte da China e partes do Centro-Oeste superior e sudeste dos Estados Unidos registraram temperaturas notavelmente abaixo da média.


POLOS OPOSTOS

A cobertura de gelo no Ártico atingiu seu menor nível histórico no último mês, enquanto a Antártida registrou sua maior cobertura de gelo na história.

"A magnitude dos recordes em cada região (ártica e antártica) é muito diferente", diz Deke Arndt chefe do monitoramento climático da agência americana. "O Ártico está deixando todos os recordes para trás, não existem superlativos suficientes para descrever o que vem acontecendo lá nos últimos cinco ou seis anos".

Para contextualizar o atual recorde negativo de gelo no Ártico, basta comparar com o último recorde, registrado em 2007, quando especialistas disseram que a queda na cobertura de gelo no Polo Norte era "assombrosa" e um sinal claro da aceleração do aquecimento global.

Portanto se o recorde de gelo na Antártida é o "rei do pedaço", diz Arndt, "o recorde que o Ártico vem construindo é totalmente diferente. A mudança é maior, mais rápida e está estabelecendo novas características na região".

As condições do Ártico são importantes, já que a região é às vezes chamada de "ar condicionado da Terra" por sua capacidade de influenciar a temperatura no planeta.

O aumento do gelo antártico, apesar de contraintuitivo, é devido a mudanças no padrão dos ventos, o acaba que empurrando o gelo do mar para fora, aumentando a sua extensão.

"Um mundo mais quente pode ter consequências complexas e às vezes surpreendente ", disse pesquisador Ted Maksym, de um navio de pesquisa australiano cercado por gelo marinho da Antártida.

David Vaughan, da Pesquisa Antártica Britânica diz que "sim, o que está acontecendo na Antártica tem as impressões digitais da atuação humana nas mudanças climáticas."
Folha de S.Paulo

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fontes de Energia no ENEM - parte 1



1. A economia moderna depende da disponibilidade de muita energia em diferentes formas, para funcionar e crescer. No Brasil, o consumo total de energia pelas indústrias cresceu mais de quatro vezes no período entre 1970 e 2005. Enquanto os investimentos em energias limpas e renováveis, como solar e eólica, ainda são incipientes, ao se avaliar a possibilidade de instalação de usinas geradoras de energia elétrica, diversos fatores devem ser levados em consideração, tais como os impactos causados ao ambiente e às populações locais.
RICARDO, B.; CAMPANILI, M. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2007 (adaptado).
Em uma situação hipotética, optou-se por construir uma usina hidrelétrica em região que abrange diversas quedas d’água em rios cercados por mata, alegando-se que causaria impacto ambiental muito menor que uma usina termelétrica. Entre os possíveis impactos da instalação de uma usina hidrelétrica nessa região inclui-se
a) a poluição da água por metais da usina. 
b) a destruição do habitat de animais terrestres. 
c) o aumento expressivo na liberação de CO2 para a atmosfera.
d) o consumo não renovável de toda água que passa pelas turbinas.
e) o aprofundamento no leito do rio, com a menor deposição de resíduos no trecho de rio anterior à represa


2. A eficiência de um processo de conversão de energia é definida como a razão entre a produção de energia ou trabalho útil e o total de entrada de energia no processo. A figura mostra um processo com diversas etapas. Nesse caso, a eficiência geral será igual ao produto das eficiências das etapas individuais. A entrada de energia que não se transforma em trabalho útil é perdida sob formas não utilizáveis (como resíduos de calor).

HINRICHS, R. A. Energia e Meio Ambiente. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003 (adaptado).
Aumentar a eficiência dos processos de conversão de energia implica economizar recursos e combustíveis. Das propostas seguintes, qual resultará em maior aumento da eficiência geral do processo?
a) Aumentar a quantidade de combustível para queima na usina de força.
b) Utilizar lâmpadas incandescentes, que geram pouco calor e muita luminosidade.
c) Manter o menor número possível de aparelhos elétricos em funcionamento nas moradias.
d) Utilizar cabos com menor diâmetro nas linhas de transmissão a fim de economizar o material condutor.
e) Utilizar materiais com melhores propriedades condutoras nas linhas de transmissão e lâmpadas fluorescentes nas moradias.


3. A usina hidrelétrica de Belo Monte será construída no rio Xingu, no município de Vitória de Xingu, no Pará. A usina será a terceira maior do mundo e a maior totalmente brasileira, com capacidade de 11,2 mil megawatts.
Os índios do Xingu tomam a paisagem com seus cocares, arcos e flechas. Em Altamira, no Pará, agricultores fecharam estradas de uma região que será inundada pelas águas da usina.
BACOCCINA, D.; QUEIROZ. G.; BORGES, R. Fim do leilão, começo da confusão. Istoé Dinheiro. Ano 13, no 655,28 abr. 2010 (adaptado).
Os impasses, resistências e desafios associados à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte estão relacionados
A) ao potencial hidrelétrico dos rios no norte e nordeste quando comparados às bacias hidrográficas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
B) à necessidade de equilibrar e compatibilizar o investimento no crescimento do país com os esforços para a conservação ambiental.
C) à grande quantidade de recursos disponíveis para as obras e à escassez dos recursos direcionados para o pagamento pela desapropriação das terras.
D) ao direito histórico dos indígenas à posse dessas terras e à ausência de reconhecimento desse direito por parte das empreiteiras.
E) ao aproveitamento da mão de obra especializada disponível na região Norte e o interesse das construtoras na vinda de profissionais do Sudeste do país.


4. 
ZIEGLER, M. F. Energia Sustentável. Revista IstoÉ. 28 abr. 2010.
A fonte de energia representada na figura, considerada uma das mais limpas e sustentáveis do mundo, é extraída do calor gerado
A) pela circulação do magma no subsolo.
B) pelas erupções constantes dos vulcões.
C) pelo sol que aquece as águas com radição ultravioleta.
D) pela queima do carvão e combustíveis fósseis.
E) pelos detritos e cinzas vulcânicas.

5. Deseja-se instalar uma estação de geração de energia elétrica em um município localizado no interior de um pequeno vale cercado de altas montanhas de difícil acesso. A cidade é cruzada por um rio, que é fonte de água para consumo, irrigação das lavouras de subsistência e pesca. Na região, que possui pequena extensão territorial, a incidência solar é alta o ano todo. A estação em questão irá abastecer apenas o município apresentado.
Qual forma de obtenção de energia, entre as apresentadas, é a mais indicada para ser implantada nesse município de modo a causar o menor impacto ambiental?
A) Termelétrica, pois é possível utilizar a água do rio no sistema de refrigeração.
B) Eólica, pois a geografia do local é própria para a captação desse tipo de energia.
C) Nuclear, pois o modo de resfriamento de seus sistemas não afetaria a população.
D) Fotovoltaica, pois é possível aproveitar a energia solar que chega à superfície do local.
E) Hidrelétrica, pois o rio que corta o município é suficiente para abastecer a usina construída.

6. O acidente nuclear de Chernobyl revela brutalmente os limites dos poderes técnico-científicos da humanidade e as ”marchas-à-ré“ que a ”natureza“ nos pode reservar. É evidente que uma gestão mais coletiva se impõe para orientar as ciências e as técnicas em direção a finalidades mais humanas.
GUATTARI, F. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 1995 (adaptado).
O texto trata do aparato técnico-científico e suas consequências para a humanidade, propondo que esse desenvolvimento
A) defina seus projetos a partir dos interesses coletivos.
B) guie-se por interesses econômicos, prescritos pela lógica do mercado.
C) priorize a evolução da tecnologia, se apropriando da natureza.
D) promova a separação entre natureza e sociedade tecnológica.
E) tenha gestão própria, com o objetivo de melhor apropriação da natureza.

7. Os biocombustíveis de primeira geração são derivados da soja, milho e cana-de-açúcar e sua produção ocorre através da fermentação. Biocombustíveis derivados de material celulósico ou bicombustíveis de segunda geração — coloquialmente chamados de “gasolina de capim” — são aqueles produzidos a partir de resíduos de madeira (serragem, por exemplo), talos de milho, palha de trigo ou capim de crescimento rápido e se apresentam como uma alternativa para os problemas enfrentados pelos de primeira geração, já que as matérias-primas são baratas e abundantes.
DALE, B. E.; HUBER, G. W. Gasolina de capim e outros vegetais. Scientific American Brasil. Ago. 2009, no 87 (adaptado).
O texto mostra um dos pontos de vista a respeito do uso dos biocombustíveis na atualidade, os quais
A) são matrizes energéticas com menor carga de poluição para o ambiente e podem propiciar a geração de novos empregos, entretanto, para serem oferecidos com baixo custo, a tecnologia da degradação da celulose nos biocombustíveis de segunda geração deve ser extremamente eficiente.
B) oferecem múltiplas dificuldades, pois a produção é de alto custo, sua implantação não gera empregos, e deve-se ter cuidado com o risco ambiental, pois eles oferecem os mesmos riscos que o uso de combustíveis fósseis.
C) sendo de segunda geração, são produzidos por uma tecnologia que acarreta problemas sociais, sobretudo decorrente do fato de a matéria-prima ser abundante e facilmente encontrada, o que impede a geração de novos empregos.
D) sendo de primeira e segunda geração, são produzidos por tecnologias que devem passar por uma avaliação criteriosa quanto ao uso, pois uma enfrenta o problema da falta de espaço para plantio da matéria-prima e a outra impede a geração de novas fontes de emprego.
E) podem acarretar sérios problemas econômicos e sociais, pois a substituição do uso de petróleo afeta negativamente toda uma cadeia produtiva na medida em que exclui diversas fontes de emprego nas refinarias, postos de gasolina e no transporte de petróleo e gasolina.
8. Segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2008, do Ministério das Minas e Energia, a matriz energética brasileira é composta por hidrelétrica (80%), termelétrica (19,9%) e eólica (0,1%). Nas termelétricas, esse percentual é dividido conforme o combustível usado, sendo: gás natural (6,6%), biomassa (5,3%), derivados de petróleo (3,3%), energia nuclear (3,1%) e carvão mineral (1,6%). Com a geração de eletricidade da biomassa, pode-se considerar que ocorre uma compensação do carbono liberado na queima do material vegetal pela absorção desse elemento no crescimento das plantas. Entretanto, estudos indicam que as emissões de metano (CH4) das hidrelétricas podem ser comparáveis às emissões de CO2 das termelétricas.
MORET, A. S.; FERREIRA, I. A. As hidrelétricas do Rio Madeira e os impactos socioambientais da eletrificação no Brasil. Revista Ciência Hoje. V. 45, no 265, 2009 (adaptado).
No Brasil, em termos do impacto das fontes de energia no crescimento do efeito estufa, quanto à emissão de gases, as hidrelétricas seriam consideradas como uma fonte.
A) limpa de energia, contribuindo para minimizar os efeitos deste fenômeno.
B) eficaz de energia, tomando-se o percentual de oferta e os benefícios verificados.
C) limpa de energia, não afetando ou alterando os níveis dos gases do efeito estufa.
D) poluidora, colaborando com níveis altos de gases de efeito estufa em função de seu potencial de oferta.
E) alternativa, tomando-se por referência a grande emissão de gases de efeito estufa das demais fontes geradoras.
9. A energia geotérmica tem sua origem no núcleo derretido da Terra, onde as temperaturas atingem 4.000 ºC. Essa energia é primeiramente produzida pela decomposição de materiais radiativos dentro do planeta. Em fontes geotérmicas, a água, aprisionada em um reservatório subterrâneo, é aquecida pelas rochas ao redor e fica submetida a altas pressões, podendo atingir temperaturas de até 370 ºC sem entrar em ebulição. Ao ser liberada na superfície, à pressão ambiente, ela se vaporiza e se resfria, formando fontes ou gêiseres. O vapor de poços geotérmicos é separado da água e é utilizado no funcionamento de turbinas para gerar eletricidade. A água quente pode ser utilizada para aquecimento direto ou em usinas de dessalinização. Roger A. Hinrichs e Merlin Kleinbach. Energia e meio ambiente. Ed. ABDR (com adaptações).
Depreende-se das informações acima que as usinas geotérmicas
a) utilizam a mesma fonte primária de energia que as usinas nucleares, sendo, portanto, semelhantes os
riscos decorrentes de ambas.
b) funcionam com base na conversão de energia potencial gravitacional em energia térmica.
c) podem aproveitar a energia química transformada em térmica no processo de dessalinização.
d) assemelham-se às usinas nucleares no que diz respeito à conversão de energia térmica em cinética e,
depois, em elétrica.
e) transformam inicialmente a energia solar em energia cinética e, depois, em energia térmica.
10. O potencial brasileiro para gerar energia a partir da biomassa não se limita a uma ampliação do Pró-álcool.
O país pode substituir o óleo diesel de petróleo por grande variedade de óleos vegetais e explorar a alta produtividade das florestas tropicais plantadas. Além da produção de celulose, a utilização da biomassa permite a geração de energia elétrica por meio de termelétricas a lenha, carvão vegetal ou gás de madeira, com elevado rendimento e baixo custo.
Cerca de 30% do território brasileiro é constituído por terras impróprias para a agricultura, mas aptas à
exploração florestal. A utilização de metade dessa área, ou seja, de 120 milhões de hectares, para a formação de florestas energéticas, permitiria produção sustentada do equivalente a cerca de 5 bilhões de barris de petróleo por ano, mais que o dobro do que produz a Arábia Saudita atualmente. José Walter Bautista Vidal. Desafios Internacionais para o século XXI. Seminário da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, ago./2002 (com adaptações).
Para o Brasil, as vantagens da produção de energia a partir da biomassa incluem
a) implantação de florestas energéticas em todas as regiões brasileiras com igual custo ambiental e econômico.
b) substituição integral, por biodiesel, de todos os combustíveis fósseis derivados do petróleo.
c) formação de florestas energéticas em terras impróprias para a agricultura.
d) importação de biodiesel de países tropicais, em que a produtividade das florestas seja mais alta.
e) regeneração das florestas nativas em biomas modificados pelo homem, como o Cerrado e a Mata Atlântica.
11. O gráfico a seguir ilustra a evolução do consumo de eletricidade no Brasil, em GWh, em quatro setores de consumo, no período de 1975 a 2005.


A racionalização do uso da eletricidade faz parte dos programas oficiais do governo brasileiro desde 1980. No entanto, houve um período crítico, conhecido como “apagão”, que exigiu mudanças de hábitos da população brasileira e resultou na maior, mais rápida e significativa economia de energia. De acordo com o gráfico, conclui-se que o “apagão” ocorreu no biênio

a) 1998-1999.
b) 1999-2000.
c) 2000-2001.
d) 2001-2002.
e) 2002-2003.

12. Uma fonte de energia que não agride o ambiente, é totalmente segura e usa um tipo de matéria-prima infinita é a energia eólica, que gera eletricidade a partir da força dos ventos. O Brasil é um país privilegiado por ter o tipo de ventilação necessária para produzi-la. Todavia, ela é a menos usada na matriz energética brasileira. O Ministério de Minas e Energia estima que as turbinas eólicas produzam apenas 0,25% da energia consumida no país. Isso ocorre porque ela compete com uma usina mais barata e eficiente: a hidrelétrica, que responde por 80% da energia do Brasil. O investimento para se construir uma hidrelétrica é de aproximadamente US$ 100 por quilowatt. Os parques eólicos exigem investimento de cerca de US$ 2 mil por quilowatt e a construção de uma usina nuclear, de aproximadamente US$ 6 mil por quilowatt. Instalados os parques, a energia dos ventos é bastante competitiva, custando R$ 200,00 por megawatt-hora frente a R$ 150,00 por megawatt-hora das hidrelétricas e a R$ 600,00 por megawatt-hora das termelétricas. Época. 21/4/2008 (com adaptações).
De acordo com o texto, entre as razões que contribuem para a menor participação da energia eólica na matriz energética brasileira, inclui-se o fato de
a)A haver, no país, baixa disponibilidade de ventos que podem gerar energia elétrica.
b) o investimento por quilowatt exigido para a construção de parques eólicos ser de aproximadamente 20 vezes o necessário para a construção de hidrelétricas. 
c) o investimento por quilowatt exigido para a construção de parques eólicos ser igual a 1/3 do necessário para a construção de usinas nucleares.
d) o custo médio por megawatt-hora de energia obtida após instalação de parques eólicos ser igual a
1,2 multiplicado pelo custo médio do megawatt-hora obtido das hidrelétricas.
e) o custo médio por megawatt-hora de energia obtida após instalação de parques eólicos ser igual a 1/3 do
custo médio do megawatt-hora obtido das termelétricas.
13. Hinrichs e M. Kleinbach. Energia e meio ambiente. São Paulo: Thompson, 3.ª ed., 2004, p. 529 (com adaptações).


Nesse sistema de aquecimento,
a) os tanques, por serem de cor preta, são maus absorvedores de calor e reduzem as perdas de energia.
b) a cobertura de vidro deixa passar a energia luminosa e reduz a perda de energia térmica utilizada para o aquecimento.
c) a água circula devido à variação de energia luminosa existente entre os pontos X e Y.
d) a camada refletiva tem como função armazenar energia luminosa.
e) o vidro, por ser bom condutor de calor, permite que se mantenha constante a temperatura no interior da caixa.
 Texto para as questões 14 e 15.
As pressões ambientais pela redução na emissão de gás estufa, somadas ao anseio pela diminuição da dependência do petróleo, fizeram os olhos do mundo se voltarem para os combustíveis renováveis, principalmente
para o etanol. Líderes na produção e no consumo de etanol, Brasil e Estados Unidos da América (EUA) produziram, juntos, cerca de 35 bilhões de litros do produto em 2006. Os EUA utilizam o milho como matéria-prima para a produção desse álcool, ao passo que o Brasil utiliza a cana-de-açúcar. O quadro abaixo apresenta alguns índices relativos ao processo de obtenção de álcool nesses dois países.


14. Se comparado com o uso do milho como matéria-prima na obtenção do etanol, o uso da cana-de-açúcar é
a) mais eficiente, pois a produtividade do canavial é maior que a do milharal, superando-a em mais do dobro de litros de álcool produzido por hectare.
b) mais eficiente, pois gasta-se menos energia fóssil para se produzir 1 litro de álcool a partir do milho do que para produzi-lo a partir da cana.
c) igualmente eficiente, pois, nas duas situações, as diferenças entre o preço de venda do litro do álcool e o custo de sua produção se equiparam.
d) menos eficiente, pois o balanço energético para se produzir o etanol a partir da cana é menor que o balanço energético para produzi-lo a partir do milho.
e) menos eficiente, pois o custo de produção do litro de álcool a partir da cana é menor que o custo de produção a partir do milho.
15. Considerando-se as informações do texto, é correto afirmar que
a) o cultivo de milho ou de cana-de-açúcar favorece o aumento da biodiversidade.
b) o impacto ambiental da produção estadunidense de etanol é o mesmo da produção brasileira.
c) a substituição da gasolina pelo etanol em veículos automotores pode atenuar a tendência atual de aumento do efeito estufa.
d) a economia obtida com o uso de etanol como combustível, especialmente nos EUA, vem sendo utilizada para a conservação do meio ambiente.
e) a utilização de milho e de cana-de-açúcar para a produção de combustíveis renováveis favorece a preservação das características originais do solo.
24. Qual das seguintes fontes de produção de energia é a mais recomendável para a diminuição dos gases causadores do aquecimento global?
a) Óleo diesel.
b) Gasolina.
c) Carvão mineral.
d) Gás natural.
e) Vento.

Questão da Terra, Solo e Agropecuária no ENEM - parte 1

1. Uma empresa norte-americana de bioenergia está expandindo suas operações para o Brasil para explorar o mercado de pinhão manso. Com sede na Califórnia, a empresa desenvolveu sementes híbridas de pinhão manso, oleaginosa utilizada hoje na produção de biodiesel e de querosene de aviação.
MAGOSSI, E. O Estado de São Paulo. 19 maio 2011 (adaptado).
A partir do texto, a melhoria agronômica das sementes de pinhão manso abre para o Brasil a oportunidade econômica de

A) ampliar as regiões produtoras pela adaptação do cultivo a diferentes condições climáticas.

B) beneficiar os pequenos produtores camponeses de óleo pela venda direta ao varejo.
C) abandonar a energia automotiva derivada do petróleo em favor de fontes alternativas.
D) baratear cultivos alimentares substituídos pelas culturas energéticas de valor econômico superior.
E) reduzir o impacto ambiental pela não emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera.
2. Um dos principais objetivos de se dar continuidade às pesquisas em erosão dos solos é o de procurar resolver os problemas oriundos desse processo, que, em última análise, geram uma série de impactos ambientais. Além disso, para a adoção de técnicas de conservação dos solos, é preciso conhecer como a água executa seu trabalho de remoção, transporte e deposição de sedimentos. A erosão causa, quase sempre, uma série de problemas ambientais, em nível local ou até mesmo em grandes áreas.
GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007 (adaptado).
A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas, pode ser uma solução para evitar catástrofes em função da intensidade de fluxo hídrico. A prática humana que segue no caminho contrário a essa solução é
A) a aração.
B) o terraceamento.
C) o pousio.
D) a drenagem.

E) o desmatamento.
3. O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à Europa pelos árabes no século VIII, durante a Idade Média, mas foi principalmente a partir das Cruzadas (séculos XI e XIII) que a sua procura foi aumentando.Nessa época passou a ser importado do Oriente Médio e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro, chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras.
CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996.
Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o açúcar foi o produto escolhido por Portugal para dar início à colonização brasileira, em virtude de

No Estado de São Paulo, a mecanização da colheita da cana-de-açúcar tem sido induzida também pela legislação ambiental, que proíbe a realização de queimadas em áreas próximas aos centros urbanos. Na região de Ribeirão Preto, principal polo sucroalcooleiro do país, a mecanização da colheita já é realizada em 516 mil dos 1,3 milhão de hectares cultivados com cana-de-açúcar.
BALSADI, O. et al. Transformações Tecnológicas e a força de trabalho na agricultura brasileira no período de 1990-2000. Revista de economia agrícola. V. 49 (1), 2002.
O texto aborda duas questões, uma ambiental e outra socioeconômica, que integram o processo de modernização da produção canavieira. Em torno da associação entre elas, uma mudança decorrente desse processo é a
A) perda de nutrientes do solo devido à utilização constante de máquinas.

B) eficiência e racionalidade no plantio com maior produtividade na colheita.

C) ampliação da oferta de empregos nesse tipo de ambiente produtivo.
D) menor compactação do solo pelo uso de maquinário agrícola de porte.
E) poluição do ar pelo consumo de combustíveis fósseis pelas máquinas.) o lucro obtido com o seu comércio ser muito vantajoso.

4. O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente receptivo aos novos fenômenos da urbanização, já que era praticamente virgem, não possuindo infraestrutura de monta, nem outros investimentos fixos vindos do passado. Pôde, assim, receber uma infraestrutura nova, totalmente a serviço de uma economia moderna.
SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo: EdUSP, 2005 (adaptado).
O texto trata da ocupação de uma parcela do território brasileiro. O processo econômico diretamente associado a essa ocupação foi o avanço da
A) industrialização voltada para o setor de base.
B) economia da borracha no sul da Amazônia.

C) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado.

D) exploração mineral na Chapada dos Guimarães.
E) extrativismo na região pantaneira.
5. A Floresta Amazônica, com toda a sua imensidão, não vai estar aí para sempre. Foi preciso alcançar toda essa taxa de desmatamento de quase 20 mil quilômetros quadrados ao ano, na última década do século XX, para que uma pequena parcela de brasileiros se desse conta de que o maior patrimônio natural do país está sendo torrado.
AB’SABER, A. Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: EdUSP, 1996. 
Um processo econômico que tem contribuído na atualidade para acelerar o problema ambiental descrito é:
A) Expansão do Projeto Grande Carajás, com incentivos à chegada de novas empresas mineradoras.

B) Difusão do cultivo da soja com a implantação de monoculturas mecanizadas.

C) Construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de interligar a região Norte ao restante do país.
D) Criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para os chamados povos da floresta.
E) Ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus, visando atrair empresas nacionais e estrangeiras.
6. Antes, eram apenas as grandes cidades que se apresentavam como o império de técnica, objeto de modificações, suspensões, acréscimos, cada vez mais sofisticadas e carregadas de artifício. Esse mundo artificial inclui, hoje, o mundo rural.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.
Considerando a transformação mencionada no texto, uma consequência socioespacial que caracteriza o atual mundo rural brasileiro é
A) a redução do processo de concentração de terras.

B) o aumento do aproveitamento de solos menos férteis.

C) a ampliação do isolamento do espaço rural.
D) a estagnação da fronteira agrícola do pais.
E) a diminuição do nível de emprego formal.
7. A maioria das pessoas daqui era do campo. Vila Maria é hoje exportadora de trabalhadores. Empresários de Primavera do Leste, Estado de Mato Grosso, procuram o bairro de Vila Maria para conseguir mão de obra. É gente indo distante daqui 300, 400 quilômetros para ir trabalhar, para ganhar sete conto por dia. (Carlito, 43 anos, maranhense, entrevistado em 22/03/98).
Ribeiro, H. S. O migrante e a cidade: dilemas e conflitos. Araraquara: Wunderlich, 2001 (adaptado).
O texto retrata um fenômeno vivenciado pela agricultura brasileira nas últimas décadas do século XX, consequência

A) dos impactos sociais da modernização da agricultura.

B) da recomposição dos salários do trabalhador rural.
C) da exigência de qualificação do trabalhador rural.
D) da diminuição da importância da agricultura.
E) dos processos de desvalorização de áreas rurais.
8. Figura para as duas próximas questões.


TEIXEIRA. W. et al. (Orgs). Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.
O esquema representa um processo de erosão em encosta. Que prática realizada por um agricultor pode resultar em aceleração desse processo?
A) Plantio direto.
B) Associação de culturas.
C) Implantação de curvas de nível.

D) Aração do solo, do topo ao vale.

E) Terraceamento na propriedade.
9. Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas do Cerrado, um recente e marcante gesto simbólico: a realização de sua tradicional corrida de toras (de buriti) em plena Avenida Paulista (SP), para denunciar o cerco de suas terras e a degradação de seus entornos pelo avanço do agronegócio.

RICARDO, B.; RICARDO, F. Povos Indígenas do Brasil: 2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006 (adaptado).

A questão indígena contemporânea no Brasil evidencia a relação dos usos socioculturais da terra com os atuais problemas socioambientais, caracterizados pelas tensões entre


A) a expansão territorial do agronegócio, em especial nas regiões Centro-Oeste e Norte, e as leis de proteção indígena e ambiental.

B) os grileiros articuladores do agronegócio e os povos indígenas pouco organizados no Cerrado.
C) as leis mais brandas sobre o uso tradicional do meio ambiente e as severas leis sobre o uso capitalista do meio ambiente.
D) os povos indígenas do Cerrado e os polos econômicos representados pelas elites industriais paulistas.
E) o campo e a cidade no Cerrado, que faz com que as terras indígenas dali sejam alvo de invasões urbanas.
10. Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir da Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da revolução tecnológica, houve um desenvolvimento contínuo do setor agropecuário. São, portanto, observadas consequências econômicas, sociais e ambientais inter-relacionadas no período posterior à Revolução Industrial, as quais incluem
a) a erradicação da fome no mundo.
b) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas.

c) C a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os recursos energéticos.

d) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos na agricultura.
e) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário da economia, em face da mecanização.
11. O suíço Thomas Davatz chegou a São Paulo em 1855 para trabalhar como colono na fazenda de café Ibicaba, em Campinas. A perspectiva de prosperidade que o atraiu para o Brasil deu lugar a insatisfação e revolta, que
ele registrou em livro. Sobre o percurso entre o porto de Santos e o planalto paulista, escreveu Davatz: “As
estradas do Brasil, salvo em alguns trechos, são péssimas. Em quase toda parte, falta qualquer espécie de
calçamento ou mesmo de saibro. Constam apenas de terra simples, sem nenhum benefício. É fácil prever que nessas estradas não se encontram estalagens e hospedarias como as da Europa. Nas cidades maiores, o viajante pode naturalmente encontrar aposento sofrível; nunca, porém, qualquer coisa de comparável à comodidade que proporciona na Europa qualquer estalagem rural. Tais cidades são, porém, muito poucas na distância que vai de Santos a Ibicaba e que se percorre em cinquenta horas no mínimo”.
Em 1867 foi inaugurada a ferrovia ligando Santos a Jundiaí, o que abreviou o tempo de viagem entre o litoral e o planalto para menos de um dia. Nos anos seguintes, foram construídos outros ramais ferroviários que articularam o interior cafeeiro ao porto de exportação, Santos.
DAVATZ, T. Memórias de um colono no Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1941 (adaptado).
O impacto das ferrovias na promoção de projetos de colonização com base em imigrantes europeus foi importante, porque 
a) o percurso dos imigrantes até o interior, antes das ferrovias, era feito a pé ou em muares; no entanto, o tempo de viagem era aceitável, uma vez que o café era plantado nas proximidades da capital, São Paulo. 

b) a expansão da malha ferroviária pelo interior de São Paulo permitiu que mão-de-obra estrangeira fosse contratada para trabalhar em cafezais de regiões cada vez mais distantes do porto de Santos.

c) o escoamento da produção de café se viu beneficiado pelos aportes de capital, principalmente de colonos italianos, que desejavam melhorar sua situação econômica.
d) os fazendeiros puderam prescindir da mão-de-obra europeia e contrataram trabalhadores brasileiros provenientes de outras regiões para trabalhar em suas plantações.
e) as notícias de terras acessíveis atraíram para São Paulo grande quantidade de imigrantes, que adquiriram vastas propriedades produtivas.
12. Apesar do aumento da produção no campo e da integração entre a indústria e a agricultura, parte da população da América do Sul ainda sofre com a subalimentação, o que gera conflitos pela posse de terra que podem ser verificados em várias áreas e que frequentemente chegam a provocar mortes. Um dos fatores que explica a subalimentação na América do Sul é
a) a baixa inserção de sua agricultura no comércio mundial.
b) a quantidade insuficiente de mão-de-obra para o trabalho agrícola.

c) a presença de estruturas agrárias arcaicas formadas por latifúndios improdutivos.

d) a situação conflituosa vivida no campo, que impede o crescimento da produção agrícola.
e) os sistemas de cultivo mecanizado voltados para o abastecimento do mercado interno.
13. A luta pela terra no Brasil é marcada por diversos aspectos que chamam a atenção. Entre os aspectos positivos, destaca-se a perseverança dos movimentos do campesinato e, entre os aspectos negativos, a violência que manchou de sangue essa história. Os movimentos pela reforma agrária articularam-se por todo o território nacional, principalmente entre 1985 e 1996, e conseguiram de maneira expressiva a inserção desse tema nas discussões pelo acesso à terra. O mapa seguinte apresenta a distribuição dos conflitos agrários em todas as regiões do Brasil nesse período, e o número de mortes ocorridas nessas lutas.

OLIVEIRA, A. U. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e reforma agrária. Revista Estudos Avançados. Vol. 15 n. 43, São Paulo, set./dez. 2001.
Com base nas informações do mapa acerca dos conflitos pela posse de terra no Brasil, a região
a) conhecida historicamente como das Missões Jesuíticas é a de maior violência.

b) do Bico do Papagaio apresenta os números mais expressivos.

c) conhecida como oeste baiano tem o maior número de mortes.
d) do norte do Mato Grosso, área de expansão da agricultura mecanizada, é a mais violenta do país.
e) da Zona da Mata mineira teve o maior registro de mortes.
14. O gráfico mostra o percentual de áreas ocupadas, segundo o tipo de propriedade rural no Brasil, no ano de 2006.
Área ocupada pelos imóveis rurais



MDA/INCRA (DIEESE, 2006)

Disponível em: http://www.sober.org.br. Acesso em: 6 ago. 2009.
De acordo com o gráfico e com referência à distribuição das áreas rurais no Brasil, conclui-se que

a) imóveis improdutivos são predominantes em relação às demais formas de ocupação da terra no âmbito nacional e na maioria das regiões.

b) o índice de 63,8% de imóveis improdutivos demonstra que grande parte do solo brasileiro é de baixa fertilidade, impróprio para a atividade agrícola.
c) o percentual de imóveis improdutivos iguala-se ao de imóveis produtivos somados aos minifúndios, o que justifica a existência de conflitos por terra.
d) a região Norte apresenta o segundo menor percentual de imóveis produtivos, possivelmente em razão da presença de densa cobertura florestal, protegida por legislação ambiental.
e) a região Centro-Oeste apresenta o menor percentual de área ocupada por minifúndios, o que inviabiliza políticas de reforma agrária nesta região.
15. Entre 2004 e 2008, pelo menos 8 mil brasileiros foram libertados de fazendas onde trabalhavam como se fossem escravos. O governo criou uma lista em que ficaram expostos os nomes dos fazendeiros flagrados pela fiscalização. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, regiões que mais sofrem com a fraqueza do poder público, o bloqueio dos canais de financiamento agrícola para tais fazendeiros tem sido a principal arma de combate a esse problema, mas os governos ainda sofrem com a falta de informações, provocada pelas distâncias e pelo poder intimidador dos proprietários. Organizações não governamentais e grupos como a Pastoral da Terra têm agido corajosamente acionando as autoridades públicas e ministrando aulas sobre direitos sociais e trabalhistas.
“Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo”. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 17 mar. 2009 (adaptado).
Nos lugares mencionados no texto, o papel dos grupos de defesa dos direitos humanos tem sido fundamental, porque eles
a) negociam com os fazendeiros o reajuste dos honorários e a redução da carga horária de trabalho.
b) defendem os direitos dos consumidores junto aos armazéns e mercados das fazendas e carvoarias.
c) substituem as autoridades policiais e jurídicas na resolução dos conflitos entre patrões e empregados.

d) encaminham denúncias ao Ministério Público e promovem ações de conscientização dos trabalhadores.

e) fortalecem a administração pública ao ministrarem aulas aos seus servidores.

domingo, 14 de outubro de 2012

Terra estrangeira

Pressionados a obter terras agriculturáveis, países desenvolvidos e emergentes, como China, Índia e produtores de petróleo do Golfo Pérsico, estão adquirindo ou arrendando vastas áreas em nações pobres, sobretudo na África

Por Madiodio Niasse, Praveen Jha, Rudolph Cleveringa e Michael Taylor
Técnico chinês examina cultivos em Cartum, no Sudão


Vários países estão investindo em terras agrícolas no Exterior, no esforço para garantir sua segurança alimentar nacional. O relatório Managing Water under Uncertainty and Risk (Gestão da Água sob Incerteza e Risco) do Programa Mundial de Avaliação da Água (WWAP, na sigla em inglês), define "aquisição de terras" como a conquista de direitos de posse sobre grandes áreas de terra por meio de compra, locação, concessão ou outros meios.

Em países desenvolvidos, o direito constitucional protege o mercado interno e os governos estabelecem obrigações para os investidores. Quando esse não é o caso, como em países pobres com base jurídica interna fraca ou incompleta em questões sociais, econômicas ou ambientais, os contratos e tratados internacionais podem gozar de direitos bem mais amplos.

Isso é particularmente relevante no caso de investimentos estrangeiros na agricultura, em que os direitos relativos a fatores como posse de terras nacionais, condições de trabalho em fazendas, água, gestão ambiental e produtos químicos podem ser fracos ou inexistentes.

Alguns dos investidores mais ativos em aquisições de terras transnacionais são os Estados do Golfo Pérsico, ricos em petróleo mas em situação de insegurança alimentar. Outros são empresas de países asiáticos populosos que sofrem escassez de terra cultivável. Também investidores de países desenvolvidos podem estar interessados. Em geral, os investidores privados são empresas ocidentais de produção e processamento de alimentos ou empresários atraídos pela demanda de biocombustíveis e por oportunidades relacionadas a fundos de investimento.
*Madiodio Niasse e Michael Taylor são, respectivamente, diretor e gerente de programas da International Land Coalition. Praveen Jha é professor da Universidade de Délhi e Rudolph Cleveringa é conselheiro do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Ifad).

Em 2007, a Arábia Saudita - um dos maiores produtores agrícolas do Oriente Médio - anunciou que cortaria a produção de cereais em 12% ao ano para reduzir o uso insustentável da sua água subterrânea. A fim de proteger a sua água e segurança alimentar, em 2008 o governo distribuiu incentivos a empresas sauditas para arrendar grandes extensões de terra na África, destinadas à produção agrícola. Investidores sauditas já alugaram terras no Egito, Sudão, na Etiópia e no Quênia.
 
À esquerda, técnicos chineses carregam vegetais produzidos em terras do Sudão que irão para o mercado de Pequim, abaixo. A China precisa de muita terra agrícola para alimentar a sua população.

Terras baratas
Empresas da Índia estão cultivando lentilhas, milho, cana-de-açúcar e arroz no Quênia, Senegal, Madagascar, Moçambique e Etiópia para alimentar seu mercado interno. Empresas europeias procuram 3,9 milhões de hectares de terras baratas da África para comprar, plantar e cumprir a meta de produzir 10% da demanda de biocombustíveis até o ano de 2015. Pode haver consequências negativas imprevistas em muitos países onde essas operações estão ocorrendo.

A Índia, por exemplo, comprou 1 milhão de hectares de terra na Etiópia, um dos países com maior insegurança alimentar no mundo. Investimentos estrangeiros mal regulados em terras que poderiam ser usadas para alimentar populações locais podem ter efeitos devastadores sobre o frágil estado da segurança alimentar nacional.

Outros riscos são o deslocamento de populações, a desapropriação de terras, os conflitos e a instabilidade à medida que vários grupos são tirados de locais onde criaram raízes. Há também efeitos ambientais negativos, à medida que a agricultura em proporção industrial requer fertilizantes, pesticidas, herbicidas e transporte, armazenamento e distribuição em grande escala. Muitos dos Estados onde a aquisição e o arrendamento de terras estão ocorrendo também têm estruturas de governança fracas, com pouca proteção legal e ambiental para as comunidades locais e ausência de mecanismos de partilha de benefícios.
Moradora de Cartum passa por cartazes à venda do xeque Zayed Al-Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos, e do presidente Hu Jintao, da China, os maiores compradores de terras do país africano.

Para implementar sua política agrícola e de biocombustíveis, a China já investiu em terras na Indonésia, Tailândia, Malásia, República Democrática do Congo e Moçambique, entre outros países - e também nos Estados brasileiros da Bahia e do Piauí. Em 2020, o governo chinês prevê que 15% das necessidades energéticas de transporte do país serão atendidas pelos biocombustíveis. Como parte de seu plano maciço para reduzir gases de efeito estufa, a China substituirá anualmente 12 milhões de toneladas de óleo por dois milhões de toneladas de biodiesel e dez milhões de toneladas de bioetanol.

Riscos ambientais
A despeito da meta positiva de investir em energia "verde e limpa", as intervenções da China também causam desmatamento, ameaçam a biodiversidade por meio de monoculturas, aumentam os preços e reduzem os estoques de alimentos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a ampliação da demanda por biocombustíveis respondeu por 70% do aumento dos preços do milho e 40% da subida dos preços da soja entre 2006 e 2008.

As intervenções também causaram o deslocamento de populações, depois que a terra foi convertida em plantações, e escassez de água. A quantidade de água necessária para plantações de biocombustível é devastadora para regiões onde o líquido já é escasso, como a África Ocidental. Um litro de etanol obtido a partir da cana-deaçúcar requer 18,4 litros de água e 1,52 metros quadrados de terra.

A falta de um mecanismo de monitoramento ou de regulação supranacional para aquisição de terras cultiváveis possibilitou que o tamanho dessas áreas subisse de 15 a 20 milhões de hectares em 2009 para mais de 70 milhões de hectares em 2012. A África aparece de forma recorrente como o principal alvo desses negócios, com a África Subsaariana respondendo por dois terços das áreas em questão.

É típico desses negócios não envolver qualquer menção expressa à água. Nos poucos casos onde ela é abordada, não se especifica a quantidade de captações de água permitida. O especialista Alex Evans, autor de Managing Scarcity, cita uma declaração do presidente executivo da fabricante de alimentos Nestlé: "Com a terra vem o direito de retirar a água ligada a ela, na maioria dos países essencialmente um brinde que a cada vez pode ser a parte mais valiosa do negócio. E, porque essa água não tem preço, os investidores podem levá-la virtualmente de graça.

As consequências dessa tendência são nocivas para moradores pobres de áreas rurais forçados a competir por água escassa com agentes financeiros mais poderosos e tecnicamente mais bem equipados. Na África, o ritmo atual de aquisição de terras e as concessões relacionadas aos direitos de água para investidores criam ameaças concretas para a cooperação transfronteiriça em muitos sistemas fluviais, como as bacias dos rios Nilo, Níger e Senegal.
REVISTA PLANETA

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