segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Programa Calha Norte



Edu Silvestre de Albuquerque - UFRN
edusilvestre@ufrnet.br


O quadro internacional do pós Guerra Fria não era nada favorável para a continuidade das políticas de segurança e defesa dos países periféricos, onde chegava-se mesmo a afirmar a superação das fronteiras-limite e das estratégias de contenção pela intensificação do processo de fronteira-cooperação (ARROYO, 1995; RUCKERT, 2003). Assim, impressiona o fato de que os militares brasileiros tenham alcançado preservar a logística militar nas fronteiras meridionais, e ainda convencido aos governos civis da necessidade de políticas de defesa e segurança voltadas para a Região Amazônica2.
Desenvolvido no âmbito do Conselho de Segurança Nacional (SG/CSN) e do Serviço Nacional de Informações (SNI), o Programa Calha Norte (PCN) é criado em 1985, no governo de José Sarney, implantando uma política integrada envolvendo defesa e vivificação das faixas de fronteira da Amazônia3. No âmbito do PCN são desenvolvidas ações cívico-socias em comunidades de fronteira e reservas
Entretanto, a racionalidade econômica e social da política de colonização e de defesa no Brasil Meridional a partir das faixas de fronteira decorria das condições amplamente favoráveis do relevo para o estabelecimento de linhas de comunicação eficientes tanto para militares (organização da defesa com apoio na retaguarda) quanto para civis (desenvolvimento da pecuária extensiva).
A vivificação das fronteiras meridionais brasileiras foi extremamente favorecida pelo relevo plano e vegetação de gramíneas que caracterizam fisiograficamente o Pampa Gaúcho, garantindo a ligação terrestre entre os militares-pecuaristas e postos militares estabelecidos na fronteira e a rede urbana e portuária da costa gaúcha, além das menos distâncias a serem percorridas entre aquelas duas subregiões. A inexistência destas facilidades geográficas na Amazônia dificultam sobremaneira a replicação dessa política de vivificação de fronteiras, especialmente na Calha Norte do Amazônas, e tendem a pressionar o orçamento dos projetos militares e civis do PCN.
É compreensível que os militares brasileiros estejam apreensívos com a manipulação dos povos indígenas amazônicos para fins de fragmentação do território nacional, especialmente nas reservas indígenas que se projetam para regiões de países vizinhos, como os yanomamis na fronteira Brasil-Venezuela6. Também é compreensível que os militares estejam preocupados em manter uma agenda de segurança e defesa nos governos civis7. Entretanto, é preciso observar que o PCN representa um retrocesso mesmo em relação ao próprio conceito de Segurança e Desenvolvimento, que nasce no segundo mandato do governo nacionalista de Getúlio Vargas e se consolida com a criação da Escola Superior de Guerra (ESG) e implantação do regime militar de 1964.
Essa redução do desenvolvimento a escala local presente no PCN reflete a própria mudança de curso das políticas públicas brasileiras nas últimas décadas. De Vargas até o Regime Militar de 64, a meta do desenvolvimento estava associada ao projeto integrado nacional (industrializando a nação e a integrando territorialmente com redes de energia, comunicação e de transportes), e este era considerado essencial para a ampliação da segurança nacional8. Com o PCN ao contrário, o próprio Grupo de Trabalho Interministerial formado para lançar suas diretrizes reconhecia no relatório final apresentado ao presidente José Sarney que seria difícil avançar em termos de ampliação da infraestrutura viária e de energia hidrelétrica; na interiorização dos polos de desenvolvimento econômico; e mesmo na ampliação da oferta de recursos sociais básicos, alegando a urgência de implementação do programa. A questão, entretanto, não era a urgência do programa, mas não considerar os condicionantes geográficos do isolamento relativo das fronteiras na imensa faixa da Calha Norte.
A Amazônia Legal representa 59% do território nacional, onde vivem hoje mais de 24 milhões de brasileiros e cuja taxa de crescimento demográfico é o dobro da média nacional. Por conta desses milhões de amazônidas, o professor Milton Santos dizia que “a Amazônia não era uma coleção de árvores”. O renomado mestre enfatizava que a Amazônia representa um espaço já humanizado, embora os amazônidas sejam costumeiramente esquecidos no discurso acadêmico e, ultimamente, também no discurso político. Com efeito, esses milhões de amazônidas querem o mesmo que os demais brasileiros: energia elétrica, alimentos, bens de consumo, postos de saúde, escolas, estradas asfaltadas e cidades modernas.
O PCN já trás uma visão limitada de desenvolvimento amazônico, voltado para a criação de infraestruturas locais e o desenvolvimento de comunidades dispersas localizadas apenas na Faixa de Fronteira9. Mas a questão do desenvolvimento amazônico é atualmente ainda mais limitada pelo conceito ongueiro de sustentabilidade, bloqueando a expansão das infraestruturas físicas necessárias para uma economia regional moderna e intregrada ao restante do país.
A partir da conquista da opinião pública e da mídia, o onguismo ambiental logrou influenciar as políticas públicas no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, de modo a representar uma crescente intromissão da agenda ambiental nas esferas econômica e social. As diretrizes do PCN indicam os riscos do uso do discurso ambiental internacional contra a soberania nacional nas áreas de fronteira, mas nem mesmo os militares foram capazes de reverter esse novo contexto político de congelamento das políticas desenvolvimentistas para a região.
A pesquisadora Nazira Correia Camely (2011) estudou a situação econômica e social dos camponeses das Reservas Extrativistas do Acre, consideradas modelo de desenvolvimento sustentável. Expulsos pelo IBAMA por abrirem pequenos roçados em meio a floresta para o cultivo de subsistência, esses camponeses acabam engrossando as periferias de Rio Branco. Curiosamente, a correlação de forças políticas é hoje amplamente favorável aos grupos de pressão ambientalistas, apesar da origem classista do partido governista federal. Esse discurso internacionalista de classe média fala mais alto que os interesses da maioria dos amazônidas, impondo inclusive uma legislação ambiental severá para a prática agropecuária no espaço amazônico.


2 O fim da Guerra Fria e a redemocratização brasileira impactaram negativamente o orçamento de defesa do país e o investimento público na indústria bélica nacional (RACY e SIBERFELD, 2003).
3 O PCN juntamente com o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) integram o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), com sede em Manaus, ao qual estão subordinados.
4Em sua dissertação de mestrado, Diniz (1994, p. 155-156). entende que “o PCN surge na esteira de uma competição intragovernamental entre duas concepções alternativas de política indigenista”, uma “formada, no plano interno, grosso modo, pelos indigenistas, sejam antropólogos ou parte da Igreja Católica, representada, no caso, pelo Conselho Indigenista Missionário - CIMI e grupos próximos ou simpatizantes; os índios e sua organização, basicamente a União das Nações Indígenas - UNI; e, no plano externo, amplos setores da opinião pública que vinham crescentemente influenciando os governos de seus países quanto à atuação do governo brasileiro no que se referia à política indigenista, o que repercutiria nos programas de ajuda financeira ao país, particularmente por parte do Banco Mundial”, e a outra “oposta a esta, era representada basicamente por setores das Forças Armadas, principalmente dentro do Exército (largamente coincidente com a Coalizão de Segurança Nacional), garimpeiros, mineradoras e políticos amazônidas nas esferas municipal, estadual e federal.” As articulações internacionais da primeira pseudocoalizão tornaram-na bastante expressivas junto a opinião pública, influenciando governos a implementarem políticas ambientais mais rigorosas: “Contudo, esse seu caráter internacional é também uma faca de dois gumes: ela faz recrudescer, nos setores nacionalistas brasileiros, o temor quanto à internacionalização da Amazônia. ” (DINIZ, 1994, p. 156).
5Segundo Diniz (1994, p. 159-160), “uma reformulação da Funai ocorrida em fevereiro de 1986 incorporou todas as propostas mencionadas no PCN. Essa reestruturação tornou a Funai antes um organismo subsidiário do Calha Norte do que propriamente uma agência de assistência às populações indígenas(...) O objetivo, de qualquer modo, continua sendo a vivificação das fronteiras, mas a mudança é significativa: a presença de índios na fronteira, que até ainda a década de 30, pelo menos, era considerada necessária para a guarda das fronteiras do Brasil, passa agora a ser considerada como óbice à consecução dos Objetivos Nacionais Permanentes, particularmente o de desenvolvimento e o de integridade territorial.(...) Com a única exceção da área do Alto Solimões, todas as outras áreas selecionadas para o PCN estavam, em 1987, tomadas por esta atividade, seja extraindo ouro, estanho ou outros minérios.”
6 Na origem do PCN, os militares temiam a projeção do antagonismo Leste-Oeste na região, através do Suriname, cujo ditador demonstrava sinais de inclinação à órbita de Moscou, conforme citação da Exposição de Motivos 18/85: “a conhecida possibilidade de conflitos fronteiriços entre alguns países vizinhos aliada à presente conjuntura no Caribe podem tornar possível a projeção do antagonismo Leste-Oeste na parte Norte da América do Sul.” (EM 18/85 de 19 de junho de 1985). Nessa perspectiva, de alguma forma, os militares acreditavam que a questão indígena poderia ser mobilizada segundo interesses externos no contexto da Guerra Fria. Em verdade, esse temor da cobiça internacional sobre a Amazônia remonta a quase 150 anos, não se reduzindo à Doutrina de Segurança Nacional (DINIZ, 1994).
7 Mais crítica em sua análise sobre o pensamento e a presença dos militares brasileiros na Amazônia, Marques (2007, p. 35) observa que: “não são as ameaças externas nem os interesses paroquiais que determinam a priori as opções estratégicas dos militares”, e sim crenças de que seriam os grandes “avalistas da integração nacional” ou a continuidade da missão colonizadora levada a cabo pelos portugueses.
8O binômio Segurança e Desenvolvimento emerge do período entre as duas guerras mundiais, a partir do conceito de guerra total adotado pelas potências centrais. Segundo o general alemão Ludendorff derrotado na Primeira Guerra, a guerra deixava de ser um instrumento da política; doravante, a política tornava-se a continuação da guerra por outros meios (DINIZ, 1994).
9 Para alguns autores, essa vivificação das fronteiras amazônicas no âmbito do PCN se ampara na atividade predatória da mineração: “A expansão da atividade econômica para a faixa fronteiriça norte do Brasil só seria realizada pela mineração, basicamente pelo garimpo.” (DINIZ, 1994, p. 85). Entretanto, “A expansão do garimpo atingiria regiões habitadas por indígenas, principalmente, em 1984, a área yanomami. Chame-se a atenção para o fato de que se estava então às vésperas do Projeto Calha Norte.” (DINIZ, 1994, p. 86).

Parte integrante do artigo  A GEOPOLÍTICA DA AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI

REVISTA GEONORTE, Edição Especial 3, V.7, N.1, p.945-964, 2013.

Notícias Geografia Hoje

Economia americana já sente efeitos de mudanças climáticas
Prejuízos causados pelo clima nos Estados Unidos podem atingir US$35 bilhões

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A elevação dos níveis dos mares, maiores danos de ondas de tempestades e ondas mais frequentes de calor extremo terão “impactos específicos, mensuráveis, sobre os atuais bens de nossa nação e sua atual atividade econômica”.


Catástrofes induzidas por mudanças climáticas, inclusive o aumento do nível do mar, ondas de calor extremo e quebras de safras custarão ao país bilhões de dólares por ano nas próximas décadas.

Essa é a previsão de um relatório divulgado em 24 de junho, que foi patrocinado pelo investidor bilionário e ativista ambiental Tom Steyer, pelo ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg (I) e pelo ex-secretário do Tesouro, Henry Paulson.

“Risky Business: The Economic Risks of Climate Change to the United States” (“Negócio Arriscado: Os riscos econômicos das alterações climáticas para os Estados Unidos”), uma análise que se estendeu por mais de um ano, projeta perdas por setores e regiões do país. Seu objetivo é fornecer o que chama a primeira “avaliação abrangente já feita dos riscos econômicos que nossa nação enfrenta em decorrência das mudanças climáticas”.

De acordo com o documento, haverá perda de produtividade devido ao calor extremo. Mais usinas de energia terão de ser construídas para fornecer energia elétrica para aparelhos de ar condicionado. E, enquanto isso, a elevação do nível do mar ameaça a infra-estrutura, particularmente ao longo da costa leste e da região do Golfo.

“Se permanecermos em nossa atual rota climática, algumas residências e propriedades comerciais com hipotecas de 30 anos, em lugares como a Virgínia, Carolina do Norte, Nova Jersey, Alabama, Flórida, Louisiana e outros estados poderiam literalmente estar embaixo da água antes que as dívidas estejam quitadas”, adverte o relatório.

Existe uma chance em 20 “de que até o final desse século mais de US$ 701 bilhões em propriedades costeiras existentes estarão abaixo do nível médio do mar; além de mais de US$ 730 bilhões em propriedades em risco durante a maré alta maré”, prevê a análise.

O documento, de 56 páginas (pdf, em inglês), que tem como alvo o público empresarial, foi divulgado formalmente na manhã de 24 de junho em Nova York e publicado on-line em riskybusiness.org. O site de ClimateWire obteve uma cópia antecipada do relatório.

Além de Steyer, Paulson e Bloomberg participaram do evento em Nova York vários membros do comitê consultivo de “Risky Business”, entre eles: Henry Cisneros, ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro e Donna Shalala, ex-secretária de Saúde e Serviços Humanos — todos do governo Bill Clinton; além de Alfred Sommer, da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e Gregory Page, ex-CEO e atual presidente do conselho da Cargill Inc.

Impactos de curto e longo prazos

A economia americana já está começando a sentir os efeitos das mudanças climáticas, afirma o relatório e “esses impactos provavelmente aumentarão substancialmente nos próximos 5 a 25 anos, afetando o desempenho futuro dos negócios e as decisões de investimento de hoje”.

A elevação dos mares, o aumento de danos decorrentes de ondas gigantes de tempestades e ondas mais frequentes de calor extremo terão “impactos específicos, mensuráveis, nos atuais bens de nossa nação e sua atual atividade econômica”, alerta o documento.

A análise se concentra em três importantes áreas em que há riscos resultantes de “mudanças climáticas induzidas pelo homem”: propriedades costeiras e infraestrutura, agricultura e energia.

É provável que ocorram mais tempestades extremas, como a supertempestade Sandy, de 2012, prevê a avaliação.

“Nos próximos 15 anos, os níveis mais elevados dos mares, combinados com ondas de tempestades, provavelmente aumentarão o custo médio anual de tempestades ao longo da costa leste e do golfo do México em entre US$ 2 bilhões e US$ 3,5 bilhões”, estima diz o relatório. Somando-se isso às potenciais mudanças na atividade de furacões, “o provável aumento em perdas médias anuais subirá para algo em torno de US$ 7,3 bilhões, elevando o custo anual total de furacões e outras tempestades costeiras para US$ 35 bilhões”.

O aumento da temperatura ao longo dos próximos cinco a 25 anos também deverá resultar em uma demanda maior de energia, uma quantidade igual à gerada por aproximadamente 200 usinas médias movidas a carvão ou a gás natural. Isso custará aos contribuintes residenciais e comerciais até US$ 12 bilhões por ano, de acordo com a análise.

Em longo prazo, haverá muito mais dias com temperaturas desconfortáveis e perigosas, prossegue o documento. Esse calor extremo, especialmente no sudoeste, sudeste e centro-oeste superior, ameaça “a produtividade do trabalhador, a saúde humana, e os sistemas de energia”.

“Em meados desse século, o americano médio provavelmente verá de 27 a 50 dias com mais de 35ºC por ano — de duas a mais de três vezes o número médio de dias com 35ºC que experimentamos durante os últimos 30 anos”, prevê o relatório, e prossegue: “até o fim do século, esse número provavelmente chegará, em média, a entre 45 e 96 dias com 35ºC por ano”.

Temperaturas mais altas trarão sérios desafios para a agroindústria, especialmente em certas regiões.

Sem adaptação, alguns municípios do centro-oeste e do sul poderiam ver sua produtividade cair mais de 10% nos próximos cinco a 25 anos se eles continuarem a semear milho, trigo, soja e algodão, diz o relatório. Há uma chance em 20 de que as perdas de rendimento dessas culturas cheguem a mais de 20%. A análise não coloca um valor em dólares nesses prejuízos potenciais, porque seria impossível projetar preços futuros, explicou Matt Lewis, diretor de comunicações do relatório “Risky Business”.

O documento baseou suas conclusões em dados de relatórios da Avaliação Nacional do Clima (NCA, na sigla em inglês) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além de em material revisado por pares sobre impactos climáticos extremos em culturas, produtividade do trabalhador e desempenho do sistema de energia. Ele também utilizou modelos proprietários sobre o impacto de ondas de tempestade costeiras da Risk Management Solutions (RMS), que modela catástrofes para o setor de seguros e instituições financeiras.

“Evitando explicitamente” prescrições de políticas

A análise Risky Business foi ansiosamente aguardada por alguns grupos ambientalistas, empresas e ativistas democratas devido à poderosa equipe por trás do documento. Além disso, Steyer tem estado politicamente ativo, usando sua fortuna pessoal para apoiar candidatos que, em sua opinião, apóiam suas metas climáticas, e para atingir outros com pontos de vista contrários.

Mas o documento não defende quaisquer ações para enfrentar as mudanças climáticas. Lewis enfatizou que Steyer é apenas uma de 10 pessoas envolvidas, depois de contar os sete membros do Comitê de Risco.

“Não estamos construindo uma lista de empresas que estão participando do conselho para forçar a adoção de políticas. Esse não é o objetivo de “Risky Business”, argumentou Lewis. “Estamos evitando explicitamente uma discussão sobre política em todo o projeto”.

Membros do Comitê de Risco do grupo não concordam sobre a melhor política para lidar com o aquecimento, acrescentou.

“Sobre o que eles estão plenamente de acordo é que as mudanças climáticas representam muitos riscos para muitos setores da economia americana, e que não deveríamos, em sã consciência, deixar de discuti-los”, salientou Lewis.

O principal objetivo da análise é ajudar empresas a entender esses riscos, acrescentou. Isso poderia ajudá-las a tomar decisões informadas.

“Você poderia mudar a forma como fluxos de capital funcionam para o setor imobiliário, se elas (as seguradoras) começarem a entender que há propriedades nas quais estão investindo agora, mas que, daqui a 20 anos, poderiam ser inaseguráveis”, sugeriu Lewis. Poderia haver investimentos diferentes na agricultura “para lidar com os padrões de crescimento mutantes que esperamos”, exemplificou.

Empresas poderiam estar envolvidas na moldagem de ações governamentais, mas elas terão que decidir por conta própria se isso é no seu melhor interesse, salientou, acrescentando: “A comunidade empresarial americana tem um papel fundamental a desempenhar, tanto em se preparar para mudanças climáticas, como para informar a resposta política”, disse Lewis

Alguns prevêem pressões para regulamentos

Críticos do projeto Risky Business, no entanto, admitiram estar preocupados com a possibilidade de ele ser usado para defender medidas corretivas caras.

O relatório provavelmente “soará alarmes”, argumentou Chris Neefus, porta-voz da Americans for Prosperity, um grupo de defesa conservador ligado aos barões da energia Charles e David Koch.

“Em geral constatamos que na esteira de algo desse tipo as pessoas procuram meios de aumentar os impostos”, seja diretamente, através de um imposto sobre o carbono, ou através de mudanças de normas que aumentam os preços da energia, observou.

Tom Pyle, presidente da American Energy Alliance, uma organização sem fins lucrativos focada em defesa do livre mercado e parcialmente financiada por empresas de energia, criticou que restrições de emissões de carbono seriam caras e não muito eficientes.

Reduzir a poluição de gases de efeito estufa a zero até 2100 resultaria em uma queda de temperatura de 0,17ºC, observou ele, e acrescentou que estava citando informações de relatórios preparados para análise do IPCC.

“Desperdiçar a enorme quantidade de recursos para fazer qualquer coisa além do que o mercado já está fazendo não faz muito sentido para mim”, resumiu Pyle.

Lewis observou que uma das principais conclusões do relatório “Risky Business” é que os aumentos de temperatura variarão por regiões. Segundo ele, a queda da temperatura média global citada por Pyle, ou o fato de que foi evitado que ela aumentasse, não é muito útil.

“Embora seja fácil apontar médias de temperatura; para lugares como o Alasca ou como o sudeste, que verão mudanças extremas, isso não ajuda”, criticou Lewis.

Médias mascaram a variabilidade e não exprimem o verdadeiro impacto, salientou. E existe o mesmo problema com as médias de aumento do nível do mar e das inundações, disse ele.

“Em média, os Estados Unidos não submergirão”, ironizou Lewis, “mas não contem isso para o povo de Miami”.

Um estrategista democrata manifestou esperança de que fatos do relatório serão usados como defesa política, em anúncios de TV e outros tipos de publicidade voltada para o público eleitor antes da eleição.

“O estudo pode ser potencialmente uma peça do quebra-cabeça para reverter a estrutura básica dessa questão”, observou Mark Longabaugh, um sócio da empresa de consultoria de mídia democrata Devine Mulvey Longabaugh. “Ele (o relatório) ajuda o público a aceitar a ideia de que a mudança climática afetará drasticamente nossa economia”.

Interesses petrolíferos e carvoeiros promoveram a ideia de que reduzir as emissões de carbono é caro, mas o dano em longo prazo do aquecimento “é muito maior”, salientou.

“Uma vez que isso seja revertido, acredito que as pessoas que se opõem a uma legislação climática séria estarão em apuros”, concluiu Longabaugh.

Questionado sobre se Steyer planeja qualquer ativismo climático usando o relatório, Lewis repassou as perguntas à NextGen Climate, o braço de defesa político de Steyer. Uma porta-voz da organização não respondeu imediatamente às indagações.
Scientific American Brasil

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A ÁFRICA E A GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO: NIGÉRIA UM ATOR ESTRATÉGICO




Alexandre Tito dos Santos Xavier

1 INTRODUÇÃO

Após a II Guerra Mundial (1945) houve o fim dos impérios coloniais e iniciaram as guerras de libertação nacional no continente africano (1952 – 1975). Surgiram, dessa forma, vários Estados africanos, porém com grande instabilidade política interna, principalmente devido aos aspectos étnicos, religiosos, bem como em relação à formação desses Estados. Vários deles foram criados de cima para baixo, ou seja, os antigos Estados colonizadores cederam à independência as suas colônias sem observar os aspectos étnicos, pois as mesmas eram compostas em sua maioria por povos de diferentes etnias com a respectiva diversidade cultural, servindo para separar nações (tribos) e não para criar nações independentes.

Com isso, na formação desses Estados não se observou a autodeterminação dos povos pregada por Woodrow Wilson (1856 – 1924). Nesse processo traçaram-se linhas divisórias que cortavam territórios de uma tribo, ficando uma parte pertencendo a outro Estado (em algumas vezes de tribos rivais), tornando tênue o sentimento de nacionalismo nos Estados, ocasionando o surgimento de Estados plurinacionais. Tal fato deu origem a inúmeros conflitos civis no interior desses Estados, ocasionando em alguns deles a sua fragmentação, bem como em certas ocasiões a realização de genocídio, resultando em conflitos que até hoje se perpetuam.

A busca por energia pelos Estados tornou-se uma atividade imprescindível para a sustentação de suas economias. E neste contexto, o petróleo e o gás possuem um papel vital, pois conforme relata Larson (2004) , embora haja esforços para incrementar a eficiência energética e dos investimentos em desenvolvimento de novas tecnologias nessa área, o petróleo e o gás natural continuarão decisivos por muitos anos. Verifica-se que um maior desenvolvimento econômico mundial acarreta maior consumo desses recursos energéticos em curto prazo. O crescimento econômico de alguns Estados como a China, a Índia e o Brasil faz com que haja uma maior demanda de energia, impactando em tal mercado energético. Verifica-se como conseqüência disso a necessidade dos Estados em ter ou controlar fontes de petróleo, bem como as rotas por onde ele é transportado. 

Neste artigo faremos uma pequena análise sobre a importância da Nigéria na atual busca energética, na África, por alguns Estados resultando na Geopolítica do Petróleo no continente africano. Sendo assim, pretende-se fomentar uma reflexão sobre o aumento da importância do continente africano na disputa energética, principalmente devido à proximidade do Brasil.


2 A NIGÉRIA E SUA IMPORTÂNCIA NA GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO

A Nigéria por ocasião de sua independência em (1960) teve em sua formação inúmeras etnias (em torno de 250, sendo algumas delas adversárias), e durante a sua existência como país independente e soberano passou por inúmeros conflitos internos devido a tal diversidade étnica e religiosa, ou seja, tornara-se um Estado plurinacional, possuindo um tênue sentimento de nacionalismo, seguindo o processo citado anteriormente. Historicamente tais conflitos são correlacionados com as referidas disputas étnicas, porém ao se analisar profundamente a questão verifica-se que a exploração do petróleo , mais precisamente a relação da aplicação dos dividendos resultantes da referida exploração energética, torna-se uma das principais causas dos referidos conflitos. A partir de 1991, os mesmos são potencializados pelas novas ameaças (dentre elas destacamos o terrorismo e a pirataria) e pela globalização intensificada no início do século XXI - marcada pela instantaneidade das informações, dos transportes e das transações econômicas, fazendo com que essas ameaças se reproduzissem entre os Estados de forma acelerada, tornando-as transnacionais - afetando a segurança e a defesa do Estado nigeriano. Surgem, então, a partir desse período grupos militares separatistas (MEND, dentre outros) aumentando a instabilidade política interna da Nigéria.

As instituições e os estamentos políticos e sociais do Estado nigeriano (forças armadas, polícia, justiça etc) encontram-se enfraquecidos e desestabilizados não sendo capazes de manter a estabilidade no interior do Estado, comprometendo a sua soberania . O mesmo, devido à sua endêmica corrupção apontada pela Transparency International , uma organização internacional não-governamental, não aplicou os recursos provenientes na melhoria do nível de vida de sua população, especialmente na região sul (principal produtora), acarretando grande descontentamento por parte das etnias locais , originando inúmeros grupos armados que buscavam maior participação nos lucros e no controle da exploração petrolífera, contribuindo para a instabilidade na política interna do Estado.

Neste sentido, a Nigéria tornou-se um Estado Fraco tendo início ao expansionismo islâmico da região norte com a adoção da sharia (existe um aumento da violência contra a população não-muçulmana), aumento das ações dos grupos miltares separatistas, aumento da pirataria em suas águas jurisdicionais, aumento da insatisfação popular, principalmente do sul, com o governo e diminuição do estímulo à entrada de investimento direto estrangeiro no país, afetando, particularmente, o setor de petróleo e gás (devido ao contexto de desaceleração do crescimento, associado à restrição de liquidez internacional e à insegurança na região do Delta do Níger).

Neste cenário, começa a assumir importância estratégica mundial o continente africano devido às recentes descobertas de petróleo (1995 – 2005) de excelente qualidade (baixo teor de enxofre), principalmente em sua costa ocidental (região marítima). Tal fato acarretou uma acirrada disputa por Estados de fora daquele continente pelos referidos recursos energéticos, destacando-se os Estados Unidos da América - EUA (atualmente 12% de seu petróleo bruto é importado da África , havendo perspectiva de chegar a 25%, parcela maior que a da Arábia Saudita) e a China (atualmente 25% de seu petróleo bruto é importado da África, e procura aumentar cada vez mais as suas importações desse continente), resultando em uma geopolítica do petróleo. Onde a China vale-se do seu soft-power para atender a sua demanda por petróleo, sendo bastante eficaz com os Estados africanos. Do outro lado os EUA possuem uma tendência intervencionista em assuntos internos dos Estados, seguindo essa linha ativou o The United States African Command (USAFRICOM) (poderio militar – exemplo típico de hard-power). Nesta disputa, despontou a Nigéria como um ator estratégico devido a ser um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, além de possuir as maiores reservas petrolíferas do continente.


3 CONCLUSÃO

Vimos que o continente africano possui Estados com problemas de instabilidade interna fruto da formação dos mesmos. Concluimos que devido a crescente demanda por energia, no qual o petróleo e o gás ainda possuem papel fundamental, por Estados possuidores de economias robustas, bem como em franca ascensão, as recentes descobertas de reservas de energia petrolífera no continente africano fizeram com que este continente tivesse a sua importância aumentada no cenário internacional. E inserido nele destaca-se a Nigéria tornado-se um ator estratégico na geopolítica do petróleo.

XAVIER, Alexandre Tito dos Santos. África e a Geopolítica do Petróleo: Nigéria um ator estratégico Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 4, Nº10, Rio, 2009 [ISSN 1981-3384]
Revista Tempo Presente

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fuga de cérebros em charges







“Fuga de cérebros” é quando os mais especializados profissionais de um país são atraídos por trabalhos no estrangeiro, tendo melhor remuneração, benefícios e reconhecimento, em troca de desenvolver pesquisas, tecnologias e outras coisas para o país que o contratou. Vejam bem como é: uma organização, até mesmo o governo, contratar profissionais altamente especializados de outros países é sinal de que há um cenário econômico bastante particular: ou não há qualificação suficiente no país de origem ou se deseja “raptar” os cérebros que têm o poder de promover inovações no mercado. Os Estados Unidos, por exemplo, são grandes atratores de cérebros, mas não é por falta de bons profissionais em seu território; eles desejam os melhores pesquisadores do mundo para que possam desenvolver suas tecnologias e então patenteá-las, tendo quase que monopólio inicial no mercado. É por isso que as inovações “começam” nos EUA; na verdade, muitas delas foram concebidas por indianos, árabes, europeus, que são destacadamente especializados e capacitados. O Vale do Silício é um dos mais famosos centros de tecnologia, localizado na Califórnia, e se estende por várias cidades, como Campbell, Saratoga e Fremont (são 16 no total). Grande parte dos pesquisadores de lá não são americanos. Muitas das empresas que hoje são as maiores do mundo foram desenvolvidas no Silicum Valley, como a Google, a Apple, a NVIDIA Corporation, Hewlet-Packard e nada menos que a Microsoft. 

O que isso significa para o país que perde esses cérebros? Ele perde um grande potencial de inovações, que serão desenvolvidas por seus trabalhadores, mas para uma outra nação. Calcular o que a economia desse país perde por isso é bastante difícil. O Brasil, embora não seja um grande lançador de cérebros, tem alguns exemplos “cabulosos” para mostrar. Um destaque muito interessante é no setor de cinematografia e produção gráfica. Alguns dos grandes fenômenos de bilheteria tiveram em sua produção brasileiros. Talvez o maior deles: o filme Matrix, considerado uma revolução cinematográfica e copiado pelos filmes que o seguiram. Matrix trouxe muitos produtores brasileiros. Outro exemplo é o desenho computadorizado A Era do Gelo I e II, sucessos de público. Agora pensem: o que essas mentes não seriam capazes de fazer em prol do nosso país? O Brasil pode se lançar como top na disputa internacional em diversas áreas, bastam investimentos e projetos. 
https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080511152736AAuHwLr

Chapada (Tableland)



Chapada constitui a designação dada a um planalto sedimentar com camadas horizontais ou suborizontais estratificadas, topos aplainados, com topografia acima de 600 metros.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Como cinco países definem o terrorismo

Luciana Alvarez 

Termo hoje é usado para justificar abusos e exceções às leis; especialistas criticam planos de tipificação no Brasil

Classificar um ato como “terrorista” confere a ele uma carga pesada, como se fosse algo ainda mais vil do que os outros tipos de delito. No entanto, não existe um consenso sobre a definição do termo, que vem sendo empregado de formas variadas desde a Revolução Francesa (1789-1799).

AFP
Fumaça sai do World Trade Center depois de ser atingido por dois aviões no 11 de Setembro de 2001


Diferenças históricas, geográficas e ideológicas marcam o uso da palavra, que atualmente se tornou um artifício retórico de governos para justificar perigosas exceções a direitos individuais normalmente garantidos por lei, afirmam especialistas.

O conceito de terrorismo, diz o conselheiro de políticas de defesa Jeffrey Record em seu estudo "Bounding the Global War on Terrorism" (Delimitando a Guerra Global contra o Terrorismo, em tradução livre), está hoje fortemente associado ao “discurso dos EUA e de Israel sobre formas de violência contra o Estado que seriam tão criminosas a ponto de tornar aceitáveis quaisquer métodos de retaliação. Seria uma palavra a serviço do status quo. E os Estados, portanto, jamais são vistos como agentes que praticam o terrorismo". Mas nem sempre foi assim.

Os primeiros registros do uso da palavra datam do período do Terror na Revolução Francesa (1792-1794), quando os jacobinos assumiram o poder e levaram à guilhotina dezenas de milhares de adversários. “Veja o paradoxo: o Estado era terrorista, o termo era usado pelos próprios jacobinos e não era pejorativo. Para eles, o terror poderia trazer a liberdade”, afirma o professor Reginaldo Nasser, chefe do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Mesmo mais recentemente, lembra Nasser, regimes como o nazismo e o governo de Stalin, na Rússia, foram considerados terroristas. “Mas nas definições dadas pelos agentes políticos hoje, não se menciona a possibilidade de um Estado praticar o terrorismo”, diz. Essa mudança de paradigma tem como marco os ataques do 11 de Setembro , quando a grande potência ocidental foi atacada pela Al-Qaeda, um grupo subnacional, espalhado por diversos países.

AP
Segunda bomba explode perto de linha de chegada da Maratona de Boston (15/4)

Uma das característas que costumam definir o ato terrorista é a consequência psicológica que traz, o fato de provocar um temor difuso entre a população ou parte dela. “No ataque em Boston , para citar um exemplo recente, foram só três mortos , mas ele teve um impacto de medo bem maior. As pessoas ficam pensando que poderia ter acontecido com elas”, afirma Nasser. O terror têm, portanto, um peso muito mais simbólico do que a capacidade real de enfraquecer o inimigo.

E é exatamente por essas características que Nasser defende que o terrorismo não deve ser tipificado no Código Penal. “Vai virar uma questão jurídica em vez de política”, afirma.

O professor de Direito Internacional da Universidade de São Paulo (USP) Geraldo Miniuci também considera perigoso incluir o crime de terrorismo na lei . “Rotular alguma ação de terrorista significa abrir a possibilidade de flexibilizar os direitos fundamentais daquelas pessoas envolvidas na ação”, afirma.

Miniuci lembra que no Brasil não existe até agora nenhuma lei que qualifique certos atos violentos como ação terrorista – e as avaliações são, portanto, pessoais. “Assalto a banco; bomba em estádio de futebol; ataque a postos policiais (por exemplo o que fez o PCC em São Paulo em 2006). Qualquer uma delas pode ser considerada crime comum ou crime de terrorismo”, diz.

Segundo ele, introduzir o tipo "crime de terrorismo" na legislação é uma decisão política com graves implicações. “Quem faz semelhante proposta deve esclarecer por que a faz: para agravar a pena ou para suspender direitos e garantias fundamentais dos acusados? Ou as duas coisas?”, questiona. 


Vários países tipificam o terrorismo. Veja como é a lei de alguns deles:

EUA: País ilustra bem a dificuldade de estabelecer uma definição única sobre o que é terrorismo. Há diferenças sobre o que é considerado ato terrorista entre as próprias agências de segurança do Executivo. Independentemente disso, depois dos ataques do 11 de Setembro de 2011 os EUA diminuíram diversas liberdades civis em nome da defesa contra o terror. Em sua atual estratégia de segurança nacional, os EUA definem terrorismo simplesmente como “violência premeditada e politicamente motivada contra inocentes perpetrada por grupos subnacionais ou agentes clandestinos”, um conceito que muitos dizem ser propositalmente vago e amplo para poder ser aplicado em diferentes crimes, de acordo com a conveniência do governo. Já para o Departamento de Defesa, para ser terrorismo a violência também deve ter sido pensada como forma de “provocar medo, coagir governos ou intimidar a sociedade”. O FBI (polícia federal dos EUA) inclui atos contra propriedades (e não apenas pessoas) na lista de ações terroristas.

Getty Images
Homem socorre mulher ferida após explosões em Londres em 2005

Reino Unido: Durante muito tempo, foram as ações do grupo separatista IRA (Exército Republicano Irlandês), que executou diversos atentados em nome da reintegração da região da Irlanda do Norte à República da Irlanda, que pautaram a classificação sobre o que era terrorismo e suas punições. Depois dos ataques nos EUA em 2001 e dos atentados contra o sistema de transporte de Londres em 2005, o Parlamento aprovou uma série de novas definições de atos terroristas, muito mais amplas, que incluem por exemplo “sérios danos a propriedades”. Também cresceu a lista de possíveis ação contraterroristas, entre elas deixar suspeitos britânicos detidos por até 28 dias sem acusações formais; os estrangeiros podem ficar detidos indefinidamente.

Getty Images
Trem destruído é visto após ataque que deixou 191 mortos em Madri, Espanha, em 2004

Espanha: País tem lei antiterrorista desde 1894, mas foi durante o regime de Francisco Franco (1939-1975) que a questão ganhou relevância. O ditador aumentou o espectro da lei para punir até com morte participantes de “grupos ou organizações comunistas, anarquistas, separatistas e outros que preconizem ou empreguem a violência como instrumento de ação política e social”. Ironicamente, hoje a lei espanhola reconhece como “vítimas de terrorismo” as pessoas perseguidas e mortas por Franco, ou seja, os antigos terroristas. Após Franco, o principal agente terrorista segundo o governo espanhol passou a ser o grupo separatista ETA (Pátria Basca e Liberdade), com alguns de seus membros condenados a mais de 3 mil anos de cadeia. Após os atentados da Al-Qaeda em Madri em 2004, a lei do país passou a classificar como terrorismo atos como “ameaça á ordem e paz públicos” e prever prisões preventivas e interceptação de telefonemas sem autorização judicial como ações antiterrorismo legítimas.

Reuters
Policiais observam danos causados por explosão de ônibus em Tel Aviv (21/11)

Israel: Cercado por países inimigos, a questão do terrorismo preocupa o Estado de Israel desde sua fundação, em 1945. Já em 1948 o legislativo aprovou a primeira Portaria de Prevenção ao Terrorismo, que foi diversas vezes expandida desde então – e há uma lei específica apenas contra o financiamento do terrorismo. Em 1980, por exemplo, inclui-se o ato de “manifestar identificação ou simpatia com uma organização terrorista” como crime passível de punição. Entre as cláusulas consideradas abusivas por alguns está o fato de a publicação em Diário Oficial – portanto, promovida pelo governo – de que uma pessoa ou organização é terrorista serve de prova em julgamentos. Nesses casos, cabe ao réu provar que não é culpado de terrorismo.

AP
Agentes da polícia caminham perto de ônibus danificado próximo de local da explosão de carro-bomba em Bogotá, Colômbia (12/08/2010)

Colômbia: Há 50 anos enfrentando as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o governo colombiano incluiu em sua legislação uma ampla gama de atos que podem ser considerados terroristas. Na prática, a lei torna equivalente o terrorismo e delitos contra a segurança pública. Na lista de ações terroristas constam coisas como “provocar estado de terror na população”, “colocar em perigo a vida, a integridade física ou a liberdade de pessoas”, “perturbar os sistemas de transporte coletivo, energia ou comunicações”, “propagar epidemias”, “contaminar águas” e até “provocar inundações”. Oficialmente, o governo diz que as Farc são uma organização terrorista, mas nem todos os países veem dessa forma; a Venezuela, por exemplo, chegou a defender que a Farc fossem consideradas internacionalmente uma “força beligerante”.
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Notícias Geografia Hoje

ONU avalia que ações contra mudanças climáticas ainda são insuficientes

Segundo relatório divulgado pela ONU, extrair gás de efeito estufa do ar pode ser necessário se não houver ação rápida

Uma ação mais rápida é necessária para limitar o aquecimento global a limites estabelecidos e atrasos até 2030 podem levar à dependência de tecnologias para extrair gases de efeito estufa do ar, afirmou um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

National Geographic/Brian Skerry
Durante o El Niño de 2002-2003, o aquecimento de mais de 1.8 graus no mar provocou o embranquecimento dos corais

O estudo, com base na obra de mais de mil especialistas, disse que uma substituição de combustíveis fósseis por energia de baixo carbono como a eólica, solar ou nuclear é acessível e implicaria a redução de apenas cerca de 0,06 ponto percentual por ano do crescimento econômico mundial.

"Temos uma janela de oportunidade na próxima década, e, no máximo, nas próximas duas décadas" para agir a custos moderados, disse Ottmar Edenhofer, co-presidente de uma reunião em Berlim do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

"Eu não estou dizendo que é sem custo. Eu não estou dizendo que a política do clima é um almoço grátis. Mas é um almoço que vale a pena comprar", disse Edenhofer.

O relatório, endossado por governos, tem como objetivo ser o principal guia científico para as nações que trabalham em um acordo das Nações Unidas que deve ser assinado no final de 2015 para conter as emissões globais de gases de efeito estufa, que atingiram repetidamente novos recordes, guiadas pelo crescimento industrial da China.

Governos se comprometeram a limitar o avanço da temperatura a no máximo 2 graus Celsius acima dos níveis da era pré-industrial para evitar cada vez mais ondas de calor, inundações, secas e elevação do nível do mar, que, segundo o IPCC, estão ligados ao aquecimento artificial provocado pelo homem.

Cenários do IPCC mostraram que as emissões globais de gases de efeito estufa devem atingir o pico em breve e ser reduzidas em 40% a 70% dos níveis de 2010 até 2050. Em seguida, devem ficar próximas de zero até 2100 para manter a alta das temperaturas abaixo de 2º C.

Tais cortes são muito mais profundos do que a maioria dos governos está planejando.

"Uma mitigação ambiciosa pode até exigir a remoção de dióxido de carbono da atmosfera", disse o IPCC. Atrasos em medidas para reduzir as emissões até 2030 forçariam um uso muito maior dessas tecnologias, mostrou o resumo de 33 páginas do documento divulgado para formuladores de políticas públicas.
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quinta-feira, 19 de junho de 2014

EXISTIR COMO NATUREZA, VIVER NUMA CULTURA: pensar e habitar com novas territorialidades

EXISTIR COMO NATUREZA, VIVER NUMA CULTURA: pensar e habitar com novas territorialidades

EXISTIR COMO NATUREZA, VIVER NUMA CULTURA: pensar e habitar com novas territorialidades

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O Brasil para o mundo português: 1875-1889

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CAMPO E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

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A PETROBRAS NA NOVA CONFIGURAÇÃO ENERGÉTICA GLOBAL

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Cultura e Memória: percepções das lembranças re-existentes no tempo

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A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL E OS NOVOS USOS DO TERRITÓRIO

A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL E OS NOVOS USOS DO TERRITÓRIO

ESPAÇO E SOCIEDADE NO BRASIL: GLOBALIZAÇÃO E PROJETO NACIONAL.

ESPAÇO E SOCIEDADE NO BRASIL: GLOBALIZAÇÃO E PROJETO NACIONAL.

A PRODUÇÃO TURÍSTICA DAS CIDADES ATUAIS: IMAGENS E REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DE ESPAÇOS E LUGARES

A PRODUÇÃO TURÍSTICA DAS CIDADES ATUAIS: IMAGENS E REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DE ESPAÇOS E LUGARES

PAUL VIDAL DE LA BLACHE E A FORMAÇÃO DO CAMPO HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

PAUL VIDAL DE LA BLACHE E A FORMAÇÃO DO CAMPO HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

GEOGRAFIA E PESQUISA QUALITATIVA: um olhar sobre o processo investigativo

GEOGRAFIA E PESQUISA QUALITATIVA: um olhar sobre o processo investigativo

Vera Lúcia Salazar Pessôa


Resumo


A geografia, ao longo de sua trajetória, tem contribuído para desvendar a realidade. Conceitos e categorias ora são resgatados e colocados em discussão, ora formulados para que a realidade geográfica deixe de ser vista apenas pelo lado da observação e descrição e passe a ser interpretada por outras técnicas de pesquisa, transportadas, muitas vezes, de outras áreas do conhecimento. Tanto a pesquisa quantitativa quanto a qualitativa têm sido importantes recursos para esta análise. E uma não exclui a outra. O importante é a definição, pelo pesquisador, dos instrumentos (as técnicas) a serem utilizados para responder às indagações propostas em consonância com o método de interpretação. Assim, o objetivo desse texto é estabelecer uma relação entre a geografia e a pesquisa qualitativa, considerando sua importância e retomada, mais especificamente, após a década de 1980.

CONTRASTES ENTRE A METRÓPOLE E O INTERIOR FLUMINENSE A PARTIR DA DINÂMICA POPULACIONAL

CONTRASTES ENTRE A METRÓPOLE E O INTERIOR FLUMINENSE A PARTIR DA DINÂMICA POPULACIONAL

Miguel Angelo Ribeiro, Maria Monica Vieira Caetano O'Neill


Resumo


O artigo em tela procura, a partir dos resultados do Censo Demográfico – 2010 (IBGE), segundo alguns dados demográficos selecionados, tais como: população residente total, taxa média geométrica de crescimento, população urbana e rural e população da sede municipal, analisar e compreender a dinâmica populacional fluminense. Para tanto, as questões norteadoras da pesquisa são: (i) Como se apresenta distribuída a população em território fluminense?; (ii) Que comparações podem ser estabelecidas entre os dados censitários atuais, com os resultados do Censo Demográfico - 2000?; (iii) Que fatores explicam estes resultados estatísticos? Traços marcantes de desequilíbrios são visíveis ao retratar a dinâmica populacional em território fluminense. Verificam-se expressivos descompassos entre a metrópole do Rio de Janeiro e sua hinterlândia, entre o núcleo e a periferia metropolitanos e entre o urbano e o rural tendo como resultado um quadro de concentração populacional. Este processo resulta de taxas de crescimento anual diferenciadas em alguns municípios e que ao longo dos anos privilegiaram o núcleo metropolitano e sua periferia, reforçado pela localização maciça da população estadual em áreas urbanas (cidades e vilas), segundo critério oficial adotado pelo IBGE.

INTERLIGAÇÕES TERRITORIAIS: PODER PÚBLICO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MEIO RURAL

INTERLIGAÇÕES TERRITORIAIS: PODER PÚBLICO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MEIO RURAL

Vitoria R. F. Gehlen, Gilvana Pessoa de Oliveira


Resumo


Neste estudo pretende-se analisar as relações entre poder público e os movimentos sociais rurais, a partir do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. O programa possui linhas de ação que representam o papel do Estado como promotor de políticas intervencionistas que precisam dialogar, de forma integrada, com as particularidades do mundo rural e atender à diversidade representada neste espaço. Nessa perspectiva, o Estado constrói, através da participação dos atores sociais, relações de interlocução e poder, num processo de interdependência conflituosa. O presente estudo teve por base empírica o Território Rural da Mata Sul de Pernambuco, tendo como meio de coleta de dados entrevistas com representantes do poder público e dos movimentos sociais rurais da região. Objetivou-se elaborar um quadro que possibilitasse compreender as articulações entre o Estado e sociedade civil, procurando identificar estratégias de gestão compartilhada do Território. Buscou-se verificar a composição dos espaços de participação social e as relações conflituosas neles existentes referentes ao uso dos recursos naturais, a saber: a posse da terra, o acesso aos recursos hídricos, o escoamento da produção. Os resultados obtidos apontam os avanços, as reformulações e resultados da proposta de gestão compartilhada do PRONAF no território. Nas interligações que neste cenário se forjam pode-se destacar a agricultura familiar, a tensão entre rural e urbano, as desigualdades de gênero, os conflitos pela terra, relação mercado e produção local.

DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA Conceitos e realidades opostas ou complementares?

DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA Conceitos e realidades opostas ou complementares?

Mabel Manzanal


Resumo


Este artigo questiona a reconhecida e difundida diferença entre o desenvolvimento e o crescimento. Consideramos que esta não é uma antinomia significativa, está vinculada à colonialidade do poder e age restringindo o pensamento independente sobre estas questões.Postulamos que, no longo prazo, o desenvolvimento (conceito-termo usado para se referir tanto a uma proposta ou realidade) não ajuda a reduzir a polarização e desigualdade, mas, ao contrário, de gera-la. Naturalmente, este resultado é desenvolvido segundo práticas veladas que escondem as ações do poder hegemônico, entretanto e simultaneamente seestabelecempropostas idealistas de gestão.Esta análise é feita a partir de uma perspectiva crítica e empírica, usa documentação e informações sobre o crescimento e a desigualdade na América Latina e abrange a década perdida (1980-1990) e o período de tempo entre a crise e orecente boom de produtividade (1990-2012).Esta discussão visa contribuir com a difícil tarefa de desmistificar a cultura instalada e estruturada em torno do desenvolvimento.

O TERRITÓRIO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA

O TERRITÓRIO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA



Marcos Aurelio Saquet


Resumo


O conceito de território tem assumido cada vez mais centralidade e relevância na Geografia brasileira, no ensino, na pesquisa e em projetos de desenvolvimento. Assim, há necessidade de conhecer como esse conceito é trabalhado, identificando concepções utilizadas, temas estudados, recortes (espacial e temporal) e possíveis imprecisões. Neste texto, analisamos como o território é concebido e utilizado numa coleção de livros didáticos de Geografia direcionada para o Ensino Fundamental do 1o. ao 4o. ano, mostrando qualidades dos livros e possibilidades para ampliar e aprofundar o estudo dos temas da ciência geográfica a partir de uma abordagem territorial histórico-crítica, relacional, reticular e múltipla. A pesquisa revelou que há qualidade na coleção analisada, porém, esta pode ser ainda melhor, conforme sugerimos no decorrer do texto.

SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

João Baptista Ferreira de Mello


Resumo


O texto explora a devoção ao padroeiro da cidade do Rio de Janeiro no âmbito das toponímias, no universo das canções e no campo dedicado aos templos sebastiano desde os primeiros séculos de colonização até os dias atuais. Trata-se de outro esforço de compreensão da alma carioca e de sua geografia.

GEOÉTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

GEOÉTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Alberto Pereira dos Santos


Resumo


Este artigo é fruto de nossos estudos de doutorado em geografia política/humana na Universidade de São Paulo. A primeira parte do artigo tenta discutir o embate entre dois conceitos que estão no bojo da geografia política e das relações internacionais “segurança ambiental” e “realismo político”, buscando dialogar com as ideias de alguns autores contemporâneos que defendem o paradigma ambiental como alternativo neste século XXI. A segunda parte do artigo trata-se de uma introdução à “Geoética do apoio mútuo” que defendemos como uma nova epistemologia ontológica engendrada a partir da pesquisa que constatou, de um lado, a existência das geopolíticas das igrejas no território brasileiro e, de outro lado, a ausência de governo das igrejas sobre o processo de mutação das religiosidades, sobretudo um processo de emancipação espiritual através do crescimento da população sem religião que desenvolve a religiosidade com autonomia e tem preocupação em “salvação” ou conservação do mesmo e único templo da humanidade, a Terra.

RESILIÊNCIA URBANA E COMERCIAL EM ÁREAS CENTRAIS

RESILIÊNCIA URBANA E COMERCIAL EM ÁREAS CENTRAIS



Susana Mara Miranda Pacheco


Resumo


Este artigo aborda as mudanças em áreas comerciais da cidade, focalizando o tema da resiliência urbana. Trata-se de uma reflexão de natureza teórico-conceitual que remete à produção do espaço urbano e à atuação de agentes sociais em áreas centrais. O conceito de resiliência é apresentado em suas inúmeras definições a partir de revisão de literatura. Os agentes produtores do espaço urbano em áreas centrais são identificados mediante sua participação nos processos de mudança que marcam o movimento do fenômeno urbano. O artigo evidencia a necessidade de política urbana voltada para a resiliência da área central das cidades.

GEOGRAFIA HUMANA E DETERMINAÇÃO

GEOGRAFIA HUMANA E DETERMINAÇÃO

Kevin R. Cox


Resumo


A noção de indeterminação e de geografias possíveis possui uma longa história na GeografiaHumana. Ela tem sido pensada em termos de um número de diferentes contrastes típicos,como os de indeterminação/determinação; contingência/necessidade; agenciamento/estrutura;composição/contexto. Este artigo provê, primeiro, uma revisão sobre como a questão foienquadrado desde a revolução quantitativa espacial. Ela procede com os trabalhos iniciais deautores como Hagerstrand e Curry até chegar a trabalhos mais recentes, como sobre odesenvolvimento encaminhado, ou sobre as justaposições de chance de Massey. Ascontinuidades e complementaridades entre estas diferentes abordagens são focalizadas. Oartigo conclui discutindo como se pode pensar a indeterminancia na geografia humana deforma mais defensiva, e como o materialismo histórico geográfico permite nos movermospara além destes binômios.

INTERLIGAÇÕES TERRITORIAIS: PODER PÚBLICO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MEIO RURAL

INTERLIGAÇÕES TERRITORIAIS: PODER PÚBLICO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO MEIO RURAL

Gilvana Pessoa Oliveira


Resumo


Neste estudo pretende-se analisar as relações entre poder público e os movimentossociais rurais, a partir do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar –PRONAF. O programa possui linhas de ação que representam o papel do Estado comopromotor de políticas intervencionistas que precisam dialogar, de forma integrada, comas particularidades do mundo rural e atender à diversidade representada neste espaço.Nessa perspectiva, o Estado constrói, através da participação dos atores sociais, relaçõesde interlocução e poder, num processo de interdependência conflituosa. O presenteestudo teve por base empírica o Território Rural da Mata Sul de Pernambuco, tendocomo meio de coleta de dados entrevistas com representantes do poder público e dosmovimentos sociais rurais da região. Objetivou-se elaborar um quadro que possibilitassecompreender as articulações entre o Estado e sociedade civil, procurando identificarestratégias de gestão compartilhada do Território. Buscou-se verificar a composição dosespaços de participação social e as relações conflituosas neles existentes referentes aouso dos recursos naturais, a saber: a posse da terra, o acesso aos recursos hídricos, oescoamento da produção. Os resultados obtidos apontam os avanços, as reformulações eresultados da proposta de gestão compartilhada do PRONAF no território. Nasinterligações que neste cenário se forjam pode-se destacar a agricultura familiar, atensão entre rural e urbano, as desigualdades de gênero, os conflitos pela terra, relaçãomercado e produção local.

GOVERNANÇA URBANA EMPREENDEDORISTA E MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

GOVERNANÇA URBANA EMPREENDEDORISTA E MEGAEVENTOS ESPORTIVOS



Demian Garcia Castro


Resumo

Este artigo busca compreender as relações existentes entre o modelo de governançaurbana empreendedorista, que possui como uma das principais características arealização de grandes projetos de intervenção urbana, e os megaeventos esportivos.Neste contexto, é desenvolvida uma análise da nova governança urbanaempreendedorista; a seguir, os megaeventos esportivos são apresentados como umaestratégia desse modelo de governança; por fim, é feita uma recuperação da trajetóriados Jogos Olímpicos, a partir da qual procura-se destacar sua transformação em umagrande marca, objeto de interesse de grandes empresas e de disputa de governantes dasprincipais cidades do mundo.

O Problema Habitacional na América Latina: Exemplos do Brasil e Chile

O Problema Habitacional na América Latina: Exemplos do Brasil e Chile

Graziela Rubin


Resumo

O presente artigo faz um resgate histórico da problemática habitacional na América Latinae traz como exemplos o Brasil e o Chile, países que apresentaram políticas interessantes para tentarresolver o problema da habitação. A partir do século XIX, com a industrialização e,consequentemente,o aumento da urbanização, as cidades da América Latina passaram a sofrer com osproblemas urbanos. Entre eles, a questão habitacional se destaca por ser um problema que afeta nossascidades até os dias de hoje.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Notícias Geografia Hoje

Peixes amenizam mudanças climáticas
Predador marinho permite economia de bilhões de dólares ao reter gases de efeito estufa no oceano

Shuterstock
Baseando-se em pesquisas anteriores com populações de peixes das profundezas, pesquisadores estimam que esses animais capturam e armazenam um milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono das águas de superfície da Irlanda e do Reino Unido todos os anos.

Elizabeth Harball e ClimateWire

Da próxima vez que você for jantar peixe, considere que sua refeição provavelmente te mais valor financeiro como dispositivo de captura e armazenagem de carbono.

Ao atribuir valores em dinheiro ao carbono armazenado em ecossistemas oceânicos, dois relatórios científicos recentes estão tentando fazer países reconsiderar o verdadeiro valor de suas atividades de pesca.

O primeiro deles, uma nova avaliação apoiada pela Comissão Oceânica Global, estima de maneira aproximada que peixes e outras formas de vida aquática em alto mar absorvem dióxido de carbono suficiente para poupar entre US$74 e US$222 bilhões em danos climáticos anuais.

Um segundo estudo publicado recentemente descobriu que, todos os anos, peixes das profundezas do mar no litoral do Reino Unido e da Irlanda capturam e armazenam uma quantidade de emissões de gás carbõnico com valor estimado entre €8 e €14 milhões no mercado europeu de carbono, ou cerca de US$20 milhões. 

Cientistas responsáveis pelos dois relatórios alertaram que atividades de pesca e mineração põem em risco a capacidade oceânica de fornecer um recurso massivo e totalmente natural para armazenar carbono.

“Peixes são muitoimportantes para o ciclo global de carbono, mas eles são muito negligenciados”, declara Clive Trueman, da University of Southampton, principal autor do estudo sobre peixes das profundezas.

“Eu realmente acho que para usar nossos oceanos de maneira razoável, precisamos observar todos os serviços que eles fornecem e então identificar os que mais contribuem para o bem-estar humano, e tentar encorajá-los”, adiciona Rashid Sumaila, professor e diretor da unidade de pesquisa econômica de pescarias da University of British Columbia, coautor do relatório da Comissão Oceânica Global.

Sequestro nas salgadas profundezas

O primeiro estudo, conduzido pela University of Southampton no Reino Unido e no Instituto Marinho da Irlanda, traz pistas sobre como – e em que profundidade – peixes das profundezas contribuem para a capacidade oceânica de sequestro de carbono.

O fitoplâncton, constituído de minúsculos organismos que compõem a base da cadeia alimentar do ecosistema oceânico, absorve bilhões de toneladas de dióxido de carbono todos os anos. Mas Trueman explica que, como o fitoplâncton vive perto da superfície oceânica, grande parte dos gases de efeito estufa retorna para a atmosfera se eles não forem consumidos por outros organismos marinhos.

Todas as noites,populações imensas de peixes vão até a superfície para se alimentar de fitoplâncton, retornando para as profundezas mais frias do oceano durante o dia. Mas essas espécies não se aventuram fundo o bastante para manter o carbono nas profundezas oceânicas por longos períodos. É aí que entram espécies de peixes assustadores e difíceis de estudar que vivem milhares de metros abaixo do nível do mar.

Ao analisar amostras musculares de peixes das profundezas coletadas na encosta continental Reino Unido-Irlanda, Trueman e seus coautores descobriram evidências de que eles nadam até a superfície e consomem as espécies devoradoras de fitoplâncton que estão em migração com mais frequência do que se pensava.

“Esses peixes predadores estão basicamente capturando animais em migração e armazenando esse carbono ao matá-los e mantê-los nas profundezas”, explica Trueman. “É só após o carbono fixado pelo fitoplâncton chegar a 100 ou 200 metros de profundidade que ele fica retido e impedido de retornar à atmosfera”.

Com base em pesquisas anteriores de populações de peixes das profundezas, os pesquisadores estimaram que esses peixes capturam e armazenam um milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono das águas superficiais da Irlanda e do Reino Unido todos os anos.

“Nós realmente não sabemos muito sobre eles, e mesmo assim eles fazem algo muito útil para nós”, apontou Trueman.

Serviços valem mais que peixes?

O relatório da Comissão Oceânica Global calcula que organismos oceânicos que vivem em alto mar – águas fora das zonas econômicas de nações específicas –absorvem 1,5 bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono da atmosfera todos os anos.

Sumaila e seus coautores usaram as estimativas para o custo social do carbono realizadas pelo Grupo de Trabalho Interagências do Governo Federal dos Estados Unidos para chegar ao valor médio de US$148 bilhões.

Com esse número, o relatório alega que pode fazer sentido proibir completamente a pesca em águas internacionais. O valor total de peixes capturados em alto mar todos os anos chega a US$16 bilhões.

O alto mar compõe cerca de 60% dos oceanos do planeta. Mesmo assim, o relatório afirma que essas vastas águas são adminsitradas por uma complexa e ineficaz rede de órgãos internacionais. Cardumes de peixes em águas internacionais são superexplorados e provavelmente prejudicam pescarias litorâneas, adiciona o documento.

Como resultado, nações que participaram da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, em 2012,encarregaram as Nações Unidas de desenvolver um melhor plano de administração para o alto mar. O relatório da Comissão Oceânica Global, que será formalmente lançado no fim do mês, deve influenciar esse processo.

Sumaila aponta que o valor de US$148 bilhões é apenas uma aproximação, e que a estimativa vai de US$74 a US$222 bilhões, uma diferença bastante vasta.

“Nossas estimativas de captura e armazenamento de carbono em alto mar são preliminares e estão necessariamente sujeitas a um grande nível de incerteza”, informa o relatório, principalmente porque os mecanismos por trás da transferência de carbono no oceano ainda não são completamente compreendidos.

Mas Sumaila adiciona: “a incerteza é grande, mas as consequências também podem ser muito grandes”.

Republicado de Climatewire com permissão de Environment & Energy Publishing, LLC. www.eenews.net, 202-628-6500
Scientific American Brasil

Emissões de veículos preocupam climatologistas

Setor de transporte é difícil de controlar e tende a estar entre as maiores fontes de gases de efeito estufa

Hung Chung Chih/Shutterstock
Demanda por veículos pessoais e bens de consumo em economias que crescem rapidamente, como China, Índia e Brasil está aumentando o uso de transportes motorizados de todos os tipos.

Gases estufa do setor de transportes podem se tornar um dos mais importantes fatores da mudança climática, de acordo com um rascunho do quinto relatório de avaliação da ONU sobre a mitigação da mudança climática

Julia Pyper e ClimateWire

Na trajetória atual, emissões de gases de estufa de carros, trens, navios e aviões podem se tornar um dos principais indutores da mudança climática provocada humanos, de acordo com um rascunho do quinto relatório de avaliação da ONU sobre a mitigação da mudança climática.

Autores projetam com grande confiança que o crescimento continuado de emissões da atividade de transporte global poderia “superar futuras medidas de mitigação”, de acordo com uma versão preliminar do estudo do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) obtido por ClimateWire.

Dada a falta de melhorias na eficiência de combustíveis e políticas abrangestes de mitigação, o relatório estima que as emissões do setor de transportes poderiam dobrar em 2050, a partir das 6,7 gigatoneladas de dióxido de carbono emitidas em 2010, o que representa 22% do total mundial.

A demanda por veículos pessoais e bens de consumo em economias que crescem rapidamente, como China, Índia e Brasil, está aumentando o uso de transportes motorizados de todos os tipos. O setor de transportes tem uma dependência quase total de combustíveis energeticamente densos de alto carbono, como gasolina e diesel, e isso torna a redução de emissões um desafio ainda maior.

“O setor de transportes poderia se tornar uma das maiores fontes de emissões... porque é possível mitigar os outros setores mais facilmente”, declarou um especialista que conhece o relatório.

O setor de eletricidade pode reduzir emissões com relativa facilidade se adotar fontes renováveis de energia como a solar e a eólica, enquanto carros e caminhões não conseguem fazer uso dessas fontes de energia que não produzem emissões sem tecnologias sofisticadas e custosas de armazenagem.

Mas o relatório adiciona que ainda existem oportunidades para mudar isso.

Cidades poderiam ser parte da solução

De acordo com o futuro relatório, melhorias técnicas e mudanças comportamentais combinadas com uma nova infraestrutura e investimentos em desenvolvimento urbano poderiam deixar a demanda energética do setor de transportes até 40% abaixo da linha de base em 2050, um potencial de redução maior que o exibido no quarto relatório de avaliação.

De acordo com especialistas em transportes, centros urbanos representam tanto a maior fonte potencial de emissões do setor de transporte quanto a maior oportunidade de mitigá-las.

“Nós estamos em um momento muito importante”, declarou Manish Bapna, vice-presidente executivo do Instituto de Recursos Mundiais, em uma recente conferência com jornalistas. “Será que as cidades serão parte da solução ou do problema?”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a população urbana dobrará de 2,5 bilhões em 2009 para quase 5,2 bilhões em 2050. Apenas na China, espera-se que 300 milhões de pessoas se mudem para cidades nos próximos 15 anos. 

A construção de cidades que reduzam a demanda por veículos e aumentem a acessibilidade poderia ser uma opção de baixo custo para reduzir emissões de gases estufa, e também uma solução para problemas locais urgentes, como a poluição do ar e más condições de saúde pública.

Abordar as emissões do setor de transportes de maneira mais compreensiva através do desenvolvimento urbano é um dos principais temas do Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas, que acontece esta semana em Medelin, na Colômbia.

“Nós já estamos tendo problemas com a quantidade de carros nas ruas de nossas cidades; congestionamento, poluição do ar, problemas de segurança, impactos sobre a saúde de pessoas que dirigem o tempo todo...”, apontou Luc Nadal, diretor técnico de desenvolvimento urbano do Instituto de Transporte e Política de Desenvolvimento (ITDP). “Esse é um modelo de desenvolvimento absolutamente insustentável”.

Hábitos e projetos insustentáveis

O transporte motorizado compõe quase um quarto das emissões globais produzidas pela humanidade, e a maioria delas vêm de veículos pessoais. De acordo com Nadal, seria um “desastre absoluto” se o modelo de desenvolvimento do século 20, focado em carros, que caracterizou muitas cidades dos Estados Unidos e da Europa, continuasse no século 21.

“Temos que levar em conta a maneira como construímos prédios e ruas:essas formas urbanas ficarão conosco durante muito, muito tempo –décadas, e até séculos. Nós temos ruas em alguns locais que já existem há vários milênios”, destacou ele. “Uma vez que esses padrões são construídos, é muito difícil mudá-los”.

Ontem o ITDP revelou um novo guia de políticas durante o Fórum Urbano para avaliar desenvolvimentos em imóveisque integram transporte sustentável e uso de terras para conectar pessoas de maneira conveniente e segura a empregos, educação, compras e outras oportunidades.

O Padrão TOD (Desenvolvimento Orientado ao Trânsito, em inglês) se baseia em oito elementos: caminhabilidade; adequação a bicicletas; uma rede conectada de ruas e rotas; um sistema robusto de trânsito; um conjunto balanceado de atividades; construções densas e verticais;desenvolvimento compacto; e um afastamento de transportes pessoais motorizados.

De acordo com Nadal, esses princípios são compreendidos por planejadores urbanos e arquitetos, mas políticos ainda não estão cientes deles. Em partes cada vez mais urbanizadas da África, Ásia e da América Latina, cidades ainda estão sendo construídas para acomodar motoristas, mesmo quando eles só representam uma fração da população urbana.

O rascunho do relatório do IPCC estima que barreiras institucionais, legais, financeiras e culturais podem limitar a adoção de tecnologias de transporte debaixo carbono e mudanças na demanda de transportes. Uma análise compreensiva sobre até que ponto essas barreiras podem ser superadas não faz parte do relatório.

Uma versão final do estudo completo do IPCC deve ser divulgada no domingo.
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