sábado, 27 de agosto de 2011

Reciclar óleo de cozinha pode contribuir para diminuir aquecimento global


Agência Brasil

Transformá-lo em sabão é uma alternativa, mas é preciso cuidado no manejo dos produtos.
Brasília, DF - A simples atitude de não jogar o óleo de cozinha usado direto no lixo ou no ralo da pia pode contribuir para diminuir o aquecimento global. O professor do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Alexandre D'Avignon, explica que a decomposição do óleo de cozinha emite metano na atmosfera.
O metano é um dos principais gases que causam o efeito estufa, que contribui para o aquecimento da terra. Segundo ele, o óleo de cozinha que muitas vezes vai para o ralo pia acaba chegando no oceano pelas redes de esgoto.
Em contato com a água do mar, esse resíduo líquido passa por reações químicas que resultam em emissão de metano. "Você acaba tendo a decomposição e a geração de metano, através de uma ação anaeróbica [sem ar] de bactérias".
Catadores de óleo
Mas o que fazer com o óleo vegetal que não será mais usado? A maioria dos ambientalistas concorda que não existe um modelo de descarte ideal do produto. Uma das alternativas é reaproveitar o óleo de cozinha para fazer sabão. A receita é simples e está no final desta matéria.
D'Avignon defende que quanto mais o cidadão evitar o descarte do óleo no lixo comum, mais estará contribuindo para preservar o meio ambiente. Segundo ele, uma das soluções é entregar o óleo usado a um catador de material reciclável ou diretamente a associações que façam a reciclagem do produto.
"Se nós conseguirmos dar algum valor de compra desse óleo para o catador, para que ele seja usado na produção de biodiesel, a gente vai fazer com que haja um ciclo de vida desse produto, para que ele volte para o sistema produtivo e produza biodiesel e isso substitua o consumo de óleo diesel", sugere o professor.
Receita para fazer sabão a partir do óleo de cozinha
Material
5 litros de óleo de cozinha usado
2 litros de água
200 mililitros de amaciante
1 quilo de soda cáustica em escama
Preparo
Coloque a soda em escamas no fundo de um balde cuidadosamente
Coloque, com cuidado, a água fervendo
Mexa até diluir todas as escamas da soda
Adicione o óleo e mexa
Adicione o amaciante e mexa novamente
Jogue a mistura numa fôrma e espere secar
Corte o sabão em barras
ATENÇÃO: A soda cáustica pode causar queimaduras na pele. O ideal é usar luvas e utensílios de madeira ou plástico para preparar a mistura
http://www.uniagua.org.br

O PETRÓLEO POTÁVEL

Desde a descoberta da utilização do petróleo como combustível e como matéria prima para a indústria pudemos assistir centenas de conflitos bélicos e comerciais pela disputa do chamado “Ouro Negro”. Atualmente estamos vivenciando a busca por novas fontes de energia, já que a previsão para as reservas mundiais não ultrapassa trinta anos. Porém, as guerras não deverão acabar por esse motivo, muito pelo contrário, a tendência é que elas mudem seu foco para outro líquido precioso, o “petróleo potável”, isto é, a água.

Em muitos países, a guerra já começou há séculos com é o caso do Oriente Médio e Norte da África. Suas populações continuam crescendo e seus reservatórios continuam diminuindo. Com menor valor econômico mas não de menor importância, a água é essencial para a sobrevivência humana, animal e vegetal. Sem ela, todo o planeta corre risco, toda vida existente na Terra nasceu da água e poderá desaparecer pela falta da mesma.

Arte Online/Folha Imagem
Fonte: IWMI (International Water Management Institute)

No Brasil, temos concentrada na bacia Amazônica 16% de toda a água doce disponível no planeta além da maior reserva de água subterrânea do mundo: o Aqüífero Guarani No total, utilizamos apenas cerca de 1% de nossas reservas enquanto a China acompanha seu lençol freático baixar 1,5 metro por ano, já somando 59 metro a menos nos últimos 35 anos. Eles também enfrentam junto com os Estado Unidos, Chile, Argentina e Índia a presença de pequenas quantidades de arsênico na água que levam todos os anos milhares de pessoas à morte com câncer de pele, diabetes, doenças vasculares, digestivas, hepáticas, nervosas e renais. A natureza se encarrega de evaporar a água dos oceanos, transformá-las em água doce e entrega-las a terra, porém, antes de chegar a superfície ela passa por gases tóxicos emitidos por indústrias e automóveis, depois encontra solos saturados de agrotóxicos, cidades e rios poluídos.
A ação não significa recuperação imediata, quando ela é apenas localizada e não geral os resultados são ainda menores. Precisamos urgentemente mudar nossas atitudes pois apenas com uma reversão global de valores conseguiremos evitar uma catástrofe mesmo que a longo prazo. No Brasil ainda temos muita água, mas ela não servirá de nada se estiver completamente poluída. http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
Matéria completa

VAI FALTAR ÁGUA!


A vida começou com a água e a falta dela pode nos extinguir. Segundo a ONU, até 2025, dois bilhões e setecentos milhões de pessoas vão sofrer severamente com a falta de água. O homem é o grande consumidor de água doce, em média são utilizados 200 litros de água/dia/pessoa, em números aproximados.
Sabe-se que o consumo de uma família na cidade é seis vezes maior que de outra família no campo, porém, o consumo de água na agricultura é responsável por 70% do total mundial. Uma descarga sanitária equivale a doze litros, e para se lavar uma quantidade de roupas na máquina, o consumo aproximado é de 120 litros. Um quilo de carne corresponde a 18.000 litros de água que foram fornecidos direta ou indiretamente ao animal que lhe deu origem, até a carne estar pronta para o consumo.
Graças a esse consumo exagerado, rios famosos como o Nilo ou o Colorado já não conseguem alcançar sua foz na estação seca. Até mesmo o Mar de Aral na Rússia teve seu volume diminuído pela metade devido a utilização de sua água na agricultura. Todos os setores da economia necessitam de grandes quantidades de água, por isso a preservação dos nossos recursos hídricos devem tornar-se prioridade imediata no que se refere à sua qualidade, pois direta ou indiretamente todos dependemos deles.

Um litro de esgoto lançado em um rio deixa centenas litros de água impróprios para consumo. Esse tipo de poluição é responsável por 5 milhões de mortes por ano, causadas por doenças como a cólera e a disenteria. A degradação de nossos recursos hídricos também está diretamente ligada com os desmatamentos, causados pela mineração e pela urbanização. Isso tudo é resultado da irresponsabilidade dos governos, das indústrias e até mesmo da sociedade, que durante anos não respeitaram as legislações ambientais, por desconhecimento ou mesmo pela constante busca do lucro fácil, resultando na diminuição de investimentos no tratamento de seus resíduos.
Através da lei 9.433/97 o uso e a poluição da água começarão a ser cobrados com a intenção de reduzir o consumo e punir quem não se preocupa com a sustentabilidade de nossos recursos hídricos, mas é preciso que a população participe deste processo, tanto na fiscalização, como com denúncias e mesmo com a mudança de seus próprios hábitos, ou não conseguiremos reverter estas tristes estatísticas que podem nos levar a uma catástrofe irreversível. http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior

Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
Matéria completa

PERIGO NO PLANETA ÁGUA


Nos últimos 50 anos a população mundial passou de 2,5 bilhões de pessoas para 6,1 bilhões. Estima-se que até 2050 nosso palneta tenha entre 9 e 11 bilhões de habitantes. Com este crescimento populacional, cresce também a demanda por alimentos, por energia, água e recursos minerais, aumentando também a poluição e a degradação ambiental.
Atualmente a proporção de área cultivada por pessoa caiu de 0,24ha/pessoa em 1950 para 0,12ha/pessoa em 2000. Calcula-se que em 2050 a proporção será de 0,08ha/pessoa. A terra agriculturável é cada vez mais escassa e a biotecnologia já provou não ser eficiente no aumento da produtividade.
Dentro deste contexto, nos resta uma grande esperança nos oceanos e nos mares. Dois terços da superfície do planeta estão cobertos por águas salgadas, caracterizando-se como uma fonte importantíssima de riquezas, de energia e principalmente, de alimentos. Se forem explorados de maneira sustentável, os oceanos e os mares podem contribuir em muito com a solução de nossos principais problemas.
Todos os anos são capturados no mundo cerca de 90 milhões de toneladas de peixes, que além de gerar renda para milhares de famílias de pescadores e de comerciantes, ainda ajudam a amenizar a fome e a melhorar a dieta de muitos. Os oceanos também ajudam a estabilizar o clima mundial, são fonte de água potável, após tratamento especial, em muitos países onde a água doce é escassa, e também são considerados uma importante fonte alternativa de energia elétrica e de combustíveis fósseis. Trinta por cento da produção mundial de petróleo provém dos mares, sendo que o Brasil é líder mundial na exploração em grandes profundidades. O transporte marítimo é responsável hoje por oitenta por cento do comércio mundial.
Com todos estes argumentos, fica fácil perceber que a vida e o futuro na Terra dependem também da utilização correta dos mares e dos oceanos, porém, não estamos tomando todos os cuidados que deveríamos. O litoral brasileiro, por exemplo, é famoso por bons e maus motivos. Com suas praias exuberantes e seus portos indispensáveis para o escoamento de nossos produtos, também enfrenta o despejo de esgotos de cidades inteiras além da falta de consciência de muitos turistas e empresas que colaboram diretamente no aumento da poluição. Acidentes com petroleiros também tem colocado em risco nossas águas salgadas. Exemplo disso foram os dois petroleiros, o Erika, ao largo da costa de França, e o Prestige, ao largo da costa da Galiza, que juntos causaram um dos mais graves acidentes ambientais da história.
Alguns poucos homens, na ganância de satisfazer seus desejos capitalistas, já destruíram grande parte dos ambientes naturais de nossos continentes, colocando em risco todos os demais seres humanos, agora, estão acabando com os Oceanos, antes mesmo que possamos conhece-los melhor. Precisamos fazer algo imediatamente, pois é o nosso futuro e o de todas os formas de vida que está em jogo.
http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br

A ÁGUA EM NOSSAS VIDAS


A água, como todos sabemos, é um elemento essencial para que a vida exista na Terra. Nenhum ser, animal ou vegetal sobrevive sem ela. Mas esse não é seu único papel na natureza. Como agente intempérico ela molda rochas, modifica paisagens, forma rios, mares e lagos. Sem sua ação intempérica não teríamos o solo que nos dá alimento e é sustentação de grande parte da vida vegetal existente.
A água também enfeita nossos céus. Quem nunca brincou de descobrir a forma das nuvens quando era criança, quem nunca parou para observar as nuvens no horizonte durante o crepúsculo. Na imensidão branca do Alaska, ou no deserto de gelo da Antártida, assim como nos cumes das montanhas a água se apresenta em estado sólido, formando paisagens exuberantes que atraem a curiosidade de milhares de aventureiros.
No ambiente urbano a água tem um papel fundamental, podendo ser fonte de vida ao saciar nossa sede e ajudar em nossa higiene, ou fonte de graves doenças, quando é poluída por nossos próprios dejetos transformando-se em um veículo para micro e macro organismos maléficos.
Ela também é essencial para regular o clima da cidade, pois como tem capacidade de armazenar calor pode colaborar com o arrefecimento da mesma. Em cidades onde a água e a vegetação aparecem com menor freqüência, o micro clima urbano pode variar em até 9ºC a mais do que em ambientes naturais.
A chuva faz parte do ciclo da água, e é graças a ela que muitos de nossos mananciais se mantém abastecidos, que nossas lavouras continuam produzindo alimentos para nossa mesa, porém, ao encontrar o solo impermeabilizado da cidade, o que é uma dádiva para a agricultura pode se tornar um pesadelo para muitos.
A ocupação irregular em áreas de alagamento (várzeas), a poluição excessiva, a retirada indiscriminada das matas ciliares e a própria impermeabilização do solo urbano são responsáveis por enchentes que deixam milhares de pessoas desabrigadas todos os anos. É a natureza dando sua resposta pelos ataques que sofre.
A água no ambiente urbano também pode ter sua função estética e de lazer. Enfeitando praças e chafarizes, formando lagos, ou sendo utilizada em parques aquáticos e clubes, ela também ajuda a melhorar nossa qualidade de vida.
A água é uma grande aliada da vida, mas muitas vezes nós mesmos a transformamos em uma arma por não respeitá-la da forma devida. O futuro de todo o planeta depende dela, e está em nossas mãos encontrar meios para preservá-la.
http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
Matéria completa

Consciência sobre a Água


Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil, morrem atualmente 29 pessoas/dia por doenças decorrentes da qualidade da água e do não tratamento de esgotos e estima-se que cerca de 70% dos leitos dos hospitais estão ocupados por pessoas que contraíram doenças transmitidas pela água.
A superfície de nosso planeta é constituída por apenas 30% de terra firme, os 70% restantes são de água, mas nem toda essa água está disponível para uso humano, 97% são águas salgadas e apenas 3% são doces. Destes, apenas 0,6% são águas doces superficiais sendo que um pouco mais da metade está disponível nos lagos e nos rios. Nosso corpo também é em sua maior parte constituído por água e por isso nossa vida depende diretamente dela.

Cada vez mais vemos crescer a consciência sobre sua importância vital, porém, mesmo sabendo da incomensurável importância para nossas vidas e do risco eminente da falta da mesma, muitos ainda continuam poluindo rios e reservatórios com esgotos domésticos e industriais, retirando vegetação protetora das margens e mananciais, o que apressa seu assoreamento, envenenando com metais pesados e agrotóxicos, construindo em suas margens e modificando seus cursos, além de muitas outras agressões. Ao mesmo tempo, empresas multinacionais, que já entenderam o valor vital da água, resolveram agora embutir um valor econômico, transformando o que deveria ser direito de todos em mais um bem de consumo, um produto para enriquecer ainda mais quem já tem bastante dinheiro.
Imagem: www.educarede.org.br

A natureza, o homem e até mesmo as cidades estão interligados e dependem de um equilíbrio do ciclo da água. Apenas quando tivermos um destino adequado para todo o lixo e todo esgoto produzido nas áreas urbanas, poderemos garantir a conservação de nossos rios e mananciais. Por isso é preciso combater a poluição dos rios, impedir a ocupação irregular de seus leitos e, principalmente, investir em na recomposição das matas ciliares e dos mananciais. A vegetação ciliar, ou matas de galeria, atuam como um amortecedor das chuvas, ajudando o solo a absorver cerca de 99,5% das suas águas, que são posteriormente liberadas lentamente para o lençol freático, mantendo desde mananciais e rios até olhos d’água e nascentes. http://www.uniagua.org.br

Olimpio Araujo Junior
Geógrafo-ambientalista; Diretor de Comunicação da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil
oaj@ecoterrabrasil.com.br
Matéria completa

Geoengenharia Plano B contra o aquecimento global

Enquanto o mundo (quase não) se esforça para reduzir as emissões de gases-estufa, alguns cientistas já trabalham com alternativas mais radicais caso o aquecimento global se agrave. Jogar no oceano imensas quantidades de micropartículas de ferro, aspirar o ar para filtrá-lo ou lançar na atmosfera um milhão de toneladas de enxofre são algumas das opções em estudo

Simulação artística da alternativa de desviar raios solares com guarda-sóis gigantes:
custo alto e eficácia limitada.

A geoengenharia é um tema quente na comunidade científica. Tentar limitar o aquecimento global manipulando o meio ambiente é uma ideia com diversas ramificações, atualmente sob análise de um número crescente de químicos e de físicos, entre os quais estão Klaus Lackner (Estados Unidos), Ian Jones (Austrália), James Lovelock (Grã-Bretanha) e Paul Crutzen (Holanda).

Nesse "Plano B" para salvar a Terra do aquecimento global, há duas alternativas preferenciais: capturar dióxido de carbono (CO2) a fim de reduzir a concentração de gases-estufa (por exemplo, fazendo árvores sintéticas, "semeando" os oceanos com ferro ou cobrindo o fundo do mar com cálcio); e desviar a radiação solar usando guarda-sóis gigantes compostos de bilhões de discos de vidro escuro ou revestidos por camadas de partículas de sal ou de sulfato. A primeira opção envolve menos risco do que a segunda, mas é bem mais lenta. Nos dois casos, os custos são altos e a eficácia das soluções permanece limitada.

Ferro contra a anemia do oceano
Oferro é um dos principais elementos absorvidos pelo fitoplâncton - os microrganismos que vivem na superfície dos oceanos. Ele estimula essas microalgas a proliferar, assimilando CO2 dissolvido por meio da fotossíntese conforme crescem. Quando elas morrem, uma porção pequena, mas significativa do carbono permanece no mar, afundando rumo ao leito marinho, onde é efetivamente retirada de circulação. Esse processo natural é chamado de "bomba biológica" de carbono.

Uma ideia para limitar o aquecimento global é usar essas bombas a fim de prender parte do CO2 que o homem liberou na atmosfera desde a Revolução Industrial, "semeando" o oceano com quantidades maciças de micropartículas de ferro. Por quê? Porque o fitoplâncton é anêmico. Embora seja o quarto elemento mais abundante na crosta terrestre, o ferro é escasso na maior parte do oceano remoto. Em cerca de um terço dessas águas, o fitoplâncton é anêmico e, tal como os humanos, não vive bem quando está fraco. Esses seres são encontrados em vastas áreas do oceano, de modo que sua anemia coletiva exerce influência global, principalmente sobre o clima. Quando saudável, o fitoplâncton produz mais oxigênio do que todas as florestas do planeta juntas.

Isso gerou a ideia de "fertilizar" artificialmente partes do oceano com partículas de ferro para estimular o crescimento de algas. Hoje, porém, um número crescente de cientistas é cético quanto a isso e alerta para a possibilidade de se criar efeitos colaterais indesejados. A "semeadura" pode levar grandes áreas submarinas a serem privadas de oxigênio (pois as algas absorvem o oxigênio, que deixa de ficar disponível para outras espécies marinhas) e, portanto, mais ácidas, afora incentivar a difusão de algas tóxicas.

Assim, a "semeadura" dos oceanos com ferro é um empreendimento de alto risco e aparentemente tão caro quanto vários outros sistemas de geoengenharia cujo risco para os recursos marinhos é bem menor, como o das árvores artificiais.

Philip W. Boyd

* Philip W. Boyd é professor de biogeoquímica do oceano no Instituto Nacional da Água e do Ambiente/ Centro de Química e Física Oceanográfica da Universidade de Otago, baseado em Dunedin (Nova Zelândia).

O exemplo de Vênus
Vênus tem a chave para nos libertar do aquecimento global? Em um comunicado à imprensa em 5 de novembro de 2010, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, anunciou que cientistas haviam localizado uma camada de dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera superior do planeta. "O SO2 é de particular interesse já que o gás poderia ser usado para resfriar a Terra através de um processo de geoengenharia apresentado pelo Nobel de Química Paul Crutzen [1995]", explica o comunicado.]

Cinco anos atrás, Crutzen imaginou uma solução de emergência para o aquecimento acelerado: liberar um milhão de toneladas de enxofre na estratosfera. Através de uma reação química natural, isso se transformaria em SO2 e, a seguir, em partículas de sulfato. Ao refletirem os raios do Sol, as partículas reduziriam a temperatura média da Terra. A ideia foi inspirada na pesquisa feita nos anos 1970 pelo climatologista russo Mikhail Budyko e também pela erupção do vulcão Pinatubo (Filipinas), que lançou 10 milhões de toneladas de enxofre no ar em 1991, levando a uma queda de 0,5ºC na temperatura média da Terra no ano seguinte.

Para Xi Zhang, responsável pelas simulações de computador que confirmaram a presença de SO2 na atmosfera de Vênus, as aplicações da descoberta no controle do clima estão fora de sua área de competência. Mesmo assim, o artigo que ele e sua equipe do Instituto Californiano de Tecnologia (Cal Tech) publicaram na revista Nature Geoscience não exclui tal possibilidade. Ele conclui que, "como há um alto grau de similaridade entre a camada de névoa superior em Vênus e a camada de sulfato terrestre na estratosfera (camada Junge), importante regulador do clima da Terra e da quantidade de ozônio, esses resultados experimentais e modelares podem ser relevantes para a química dos aerossóis estratosféricos e as aplicações da geoengenharia para o clima da Terra".

Mas é preciso cautela. Em altas concentrações, o dióxido de enxofre pode causar doenças pulmonares e cardiovasculares, afora tornar os oceanos mais ácidos, corroer metais, etc. Para os pesquisadores, ainda existe um longo caminho a percorrer antes de aplicar o "protetor solar" na Terra.

Jasmina Sopova

Fitoplâncton em florescência ao largo da costa Argentina. O ferro fortaleceria a saúde dessas microalgas, que, assim, produziriam mais oxigênio. Acima, o papel do baobá e de outras árvores na purificação de gás carbônico inspirou Klaus Lackner a desenvolver suas árvores sintéticas.
Árvores sintéticas
No topo da lista de soluções para capturar CO2 e reduzir a concentração de gases-estufa estão as árvores sintéticas, propostas pelo geofísico Klaus Lackner, da Universidade de Columbia (EUA). Ainda em testes, esse "purificador de CO2" deverá filtrar o ar um pouco como uma árvore natural faz, mas com uma capacidade muito maior.

Lackner teve a ideia em 1998, percebendo quanto CO2 existe no ar. "Minha filha, Clare, fez um projeto de ciências e demonstrou que pode tirar CO2 do ar. Em uma noite, ela captou metade do CO2 presente no ar."

Ampliando esse experimento, Lackner construiu um "aspirador" que, quando colocado em uma área de muito vento, absorve ar carregado de CO2 e o filtra, antes de liberá-lo novamente purificado. A soda cáustica é a chave para o êxito do método. Em contato com o CO2, ela produz uma solução de bicarbonato de sódio. Esse líquido é então comprimido até formar um gás altamente concentrado que pode ser armazenado em rochas porosas no fundo do mar. Como é mais denso do que a água do mar, ele não consegue escapar e pode ser sequestrado por milhões de anos.

Para Lackner, "o primeiro passo é remover algum CO2 do ar. Se a captura de ar se provar economicamente viável, poderá equilibrar as emissões dos automóveis e aviões. Se a técnica, ao lado de outras tecnologias de redução de CO2, conseguir parar o aumento de CO2 na atmosfera, poderemos então começar a usá-la de forma adicional".

Os purificadores-árvores sintéticas fornecem outra peça no quebracabeça para as negociações internacionais sobre as emissões de CO2, pois possibilitam a coleta do gás em nome de outro país. "A captação do ar pode separar as fontes [de CO2] dos sumidouros", diz Lackner. "Isso torna possível importar e exportar as reduções de carbono. Também torna possível lutar por um mundo em que todas as emissões de CO2 possam ser abordadas. Os automóveis e aviões não precisam ficar de fora dos limites da discussão."

Atualmente, esse processo ainda é caro, mas Lackner está certo de que os custos cairão. Ele lembra, porém, que as árvores artificiais não são uma cura milagrosa: "O principal custo da energia está na compressão, que, se usar eletricidade, causará a liberação do equivalente a cerca de 20% do CO2 capturado no local de uma usina distante. Podemos reduzir o CO2 na atmosfera, mas isso não nos dá uma desculpa para continuar a emiti-lo."

Katerina Markelova
Revista Planeta

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Notícias Geografia Hoje


Terras raras, questão estratégica

Rubens Barbosa - Jornal O Estado de S.Paulo
As grandes transformações por que passa o mundo globalizado estão propiciando algumas oportunidades que o Brasil não pode deixar passar. A abertura do mercado global para terras raras brasileiras é uma delas.

Terras raras são um grupo de 17 tipos de metais não ferrosos de nomes estranhos: lantânio, neodímio, ítrio, promécio, cério, praseodímio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio escândio e lutécio. Relativamente abundantes na natureza, têm propriedades químicas semelhantes e misturados a outras substanciais são utilizados na fabricação desde produtos simples como isqueiros até supercomputadores, iPods, painéis solares e em aplicações militares em virtude de sua força magnética, que permite grande miniaturização dos componentes.

A produção desses minerais está concentrada (97%) na China, que detém um terço das reservas mundiais. China, Rússia, EUA e Austrália, juntos, têm cerca de 70% das reservas globais. Índia, Rússia, Brasil, Malásia e EUA são outros produtores, marginais.

Segundo estudos do Congresso dos EUA, a demanda global está crescendo significativamente, passando de 134 mil toneladas em 2010 para 180 mil toneladas em 2012, representando um mercado de cerca de US$ 10 bilhões.

A questão das terras raras ganhou dimensão política e estratégica quando a China, depois de incidente pesqueiro com o Japão, ameaçou reduzir as cotas de exportação para esse país. Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas deixaram saber que haveria uma redução de 40% das cotas de exportação para o mercado mundial para proteger o meio ambiente.

A notificação feita ao Japão e a gradual redução das cotas nos últimos cinco anos repercutiram imediatamente no mercado e o preço desses metais disparou. Em vista da reação internacional, Pequim desmentiu a redução das cotas, com pouco efeito para estabilizar o mercado, mas recentemente aumentou a taxação sobre o produto.

EUA e Europa denunciaram a China por prejudicar a produção de produtos sensíveis ocidentais. A atitude do governo chinês, caso mantida no futuro, poderá desencadear uma guerra comercial de grande repercussão, dada a natureza estratégica desses metais. O controle sobre as terras raras pode dar à China, no futuro, forte vantagem tecnológica e aumentar sua capacitação militar em relação aos EUA.

O domínio chinês sobre produtos de que os países industrializados, em especial os EUA, dependem de maneira tão vital, sem fontes alternativas no curto prazo, fez o governo de Washington se movimentar para esclarecer os objetivos da China. O Departamento de Defesa e o Congresso produziram documentos para identificar possíveis riscos para a segurança nacional norte-americana.

Os países da Europa, a Coreia do Sul e os EUA começaram a buscar fontes alternativas para diminuir a dependência da China. O Japão, o maior consumidor mundial, iniciou negociações com a Mongólia e o Casaquistão para começar a exploração de novas jazidas desses minérios.

O Brasil é um dos poucos países com reservas confirmadas de tais minérios. Recentemente se anunciou a descoberta de jazidas de tálio. Ocupando a terceira posição, depois da China e da Índia, segundo o US Geological Survey, o País teria uma das maiores reservas do mundo.

A importância estratégica desses produtos torna urgente a definição de uma política de produção e de comercialização para atender ao interesse nacional. Grupo de trabalho interministerial, integrado pelos Ministérios das Minas e Energia e da Ciência e Tecnologia, está examinando o assunto e deverá proximamente propor uma política de fomento à produção e à capacitação tecnológica para tornar viável a exploração desses minérios.

Sinalizando políticas corretas e coerentes com o interesse do País, o relatório sugere a conveniência da negociação de acordos bilaterais comerciais e científico-tecnológicos. Empresas detentoras de know how para a fabricação de produtos de alta tecnologia, na base de terras raras, poderiam associar-se, por meio de parcerias público-privadas, para a implantação no Brasil de uma cadeia produtiva, competitiva e ambientalmente correta, que poderia tornar viável, no longo prazo, a exploração das jazidas até aqui inexploradas, em razão do pouco interesse demonstrado pela indústria nacional.

O alto custo da exploração, associado às complexidades técnicas, explica a reticência do setor privado em investir e as dificuldades da empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), a estatal responsável pela política de lavra e comercialização das terras raras.

O Ministério da Ciência e Tecnologia está procurando atrair a companhia Vale para explorar as terras raras e utilizar o minério em produtos de maior valor agregado. Estão sendo mantidos igualmente entendimentos com a Alemanha para desenvolver programa de cooperação nessa área.

O Brasil tem uma oportunidade excepcional de negócio e terá uma posição estratégica se aproveitar essa janela de mercado.

Assim como ocorre com o urânio, os minerais raros radioativos são monopólio estatal, exercido pela INB. Uma política racional tanto dos minerais radioativos quanto dos raros deveria passar pela abertura, como se dá com o petróleo, da exploração pelo setor privado, com todas as cautelas e os controles que existem hoje na área petrolífera.

A demanda global para diversificar as fontes de suprimento das terras raras coloca o Brasil em posição privilegiada para não só atrair novas tecnologias, como também participar de um promissor mercado externo. O interesse externo sobre as reservas brasileiras é grande. Impõe-se a aprovação de regras claras de longo prazo que defendam o interesse nacional e possam atrair investimento para a exploração dessa riqueza.

PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

Notícias Geografia Hoje


Descoberta de minerais raros por Japão pode ameaçar domínio da China
Exploradores encontraram cerca de 100 toneladas de minérios usados em equipamentos de alta tecnologia

A descoberta por pesquisadores japoneses de uma vasta descoberta de minerais de terras raras no solo do Oceano Pacifico poderá ameaçar a hegemonia da China no setor.

Atualmente, a China responde por 97% da produção de 17 metais provenientes de terras raras, muitas vezes chamados de ''ouro do século 21'', por serem raros e valiosos.

Entre eles figuram, por exemplo, materiais como neodímio, utilizado em discos rígidos de computador; lantânio, usado em lentes de câmeras e telescópios; e praseodímio, utilizado para criar materiais de alta resistência usados em motores de aviões.

Os pesquisadores japoneses estimam ter encontrado entre 80 e 100 toneladas de minerais raros; a proporção de elementos raros estimada como sendo a existente atualmente no Pacífico é de 110 bilhões de toneladas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados.

Notícias Geografia Hoje


Segurança e terra de estrangeiros

Denis Lerrer Rosenfield - Jornal O Estado de S.Paulo
É salutar que o governo esteja pensando em levar ao Legislativo projeto de lei relativo à compra de terras por estrangeiros, pois o País não pode conviver com pareceres distintos da Advocacia-Geral da União que alteram o que se entende por empresa nacional de capital estrangeiro: ora é equiparada à empresa nacionais de capital brasileiro, como na legislação anterior, ora é objeto de tratamento diferente. A insegurança jurídica torna-se, assim, a regra, travando o investimento dessas empresas e, certamente, prejudicando o desenvolvimento nacional.

O capital estrangeiro tem contribuído, e muito, para o crescimento do País, não apenas no setor rural, mas também no industrial e no de serviços. É notório que o Brasil carece desses capitais e seu investimento produtivo tem sido decisivo nos últimos anos. Mas agora empresas que estavam em pleno processo de investimento nele põem freio, pois não mais sabem o que pode acontecer. De repente, devem dar uma marcha à ré, no aguardo de maior esclarecimento do que podem ou não fazer. Projetos ficam inconclusos, prejudicando, na verdade, todos nós.

Nesse contexto, a elaboração e a aprovação de uma lei que estabeleça parâmetros claros podem ser uma contribuição decisiva a esse processo. Essa é, ressaltemos, a própria função da Câmara e do Senado.

No imediato, porém, devemos ter claro que o Brasil de hoje - e o mundo - é globalizado, não cabendo nenhum preconceito contra o capital estrangeiro, em defesa de um nacionalismo estreito, que produziu efeitos tão nocivos no passado. Eis a nova realidade. A discussão a respeito deve ser técnica, não ideológica, voltada para o enfrentamento de alguns problemas reais. O País, frise-se, necessita de capitais e tecnologia estrangeiros.

Nesse sentido, a soberania nacional não pode ser confundida com uma defesa do capital nacional como se houvesse oposição irredutível ao capital externo, pois o que importa, de empresas nacionais ou internacionais, é que as leis sejam cumpridas. Aqui vale a soberania das leis. Se uma empresa nacional de capital estrangeiro cumpre as leis do País, só deve ser bem-vinda e, mesmo, apoiada.

É bem verdade que nos últimos anos a opinião pública nacional e internacional veio a perceber os recursos do planeta e dos países como finitos. Mesmo que se possa questionar se essa percepção da finitude corresponde ou não à realidade, o fato é que ela, hoje, é predominante e os governantes devem certamente levá-la em consideração. Surgem, a partir dela, formas de defesa de interesses nacionais que devem ser levados em conta.

Vejamos alguns pontos que, em nosso entender, deveriam (ou não) ser contemplados nesse novo projeto de lei:

O País carece de um sistema de informações confiável sobre sua base fundiária, principalmente, no caso, no que diz respeito à propriedade de terras por estrangeiros. Trata-se de uma base cadastral que ofereça transparência a essas propriedades, sem nenhum preconceito, por exemplo, contra empresas brasileiras de capital estrangeiro. Isso vale para minérios, silvicultura, agricultura e pecuária. A regra aqui é a transparência, a predominância do público.

Os investimentos estrangeiros devem ser distinguidos entre interesses propriamente produtivos e interesses especulativos, apostando estes últimos apenas no preço das terras, sem nenhuma preocupação quanto ao seu uso. Uns devem ser incentivados, os outros, restringidos.

Empresas brasileiras de capital estrangeiro devem ser distinguidas de empresas estrangeiras de propriedade estatal, pois, neste caso, elas tendem a fazer o jogo dos interesses de seus países de origem, investindo de acordo com os interesses de outros Estados. Aqui poderia surgir um problema de soberania nacional.

Talvez se deva igualmente pensar num tratamento diferenciado para empresas dos países do Mercosul e, de modo mais geral, da América do Sul, favorecendo a integração do continente, dada a natural liderança do País, por sua extensão territorial e sua pujança. Se o País aspira a uma grande cooperação sul-americana, mecanismos devem ser criados de favorecimento aos investimentos empresariais, sem distinção da origem dos capitais.

Deve ser descartada a ideia, como teria sido cogitado, de o Estado brasileiro ter uma golden share, uma participação acionária nessas empresas com direito a veto, pois tal mecanismo seria uma ingerência governamental no funcionamento delas, podendo ditar seus rumos. O Estado invadiria esse setor privado, burocratizando suas decisões. Imaginem o tipo de negociação que poderia ter lugar.

Poderia ser estabelecido o princípio da reciprocidade, aliás, vigente nas relações internacionais. O Brasil daria a empresas estrangeiras o mesmo tratamento que as empresas brasileiras recebem nos países onde investem. Por exemplo, um país que imponha restrições ao investimento estrangeiro receberia o mesmo tratamento aqui, não podendo ter a expectativa de tratamento diferente. Exceções seriam tratadas como tais, em função do interesse nacional.

A proposta de criação de um Conselho Nacional de Terras (Conater), que estaria sendo cogitado pelo governo. Seria o órgão encarregado de implementar essa política, segundo critérios claros, técnicos, sem nenhuma conotação ideológica contra o capital estrangeiro. É fundamental, por exemplo, que vários Ministérios nele estejam representados, como Casa Civil, Agricultura, Desenvolvimento Agrário, Defesa, Planejamento, Desenvolvimento econômico e Justiça. Agilidade e rapidez são fundamentais, pois uma empresa não pode ficar esperando indefinidamente uma resposta, o que pode ser um sério entrave para o desenvolvimento nacional.

Regras e mecanismos claros devem tomar o lugar da insegurança jurídica.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.
E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Notícias Geografia Hoje


O Brasil e a América Latina


Rubens Barbosa
- Jornal O Estado de S.Paulo
Em recente mesa-redonda organizada pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso para discutir o papel do Brasil na América do Sul foram ressaltadas, entre outros aspectos, a inexistência de uma estratégia mais clara e ambiciosa do País e a perspectiva de que uma evolução inercial do relacionamento leve à redução gradual do peso da região na agenda de política externa.

Os países da América Latina vivem um momento muito positivo em sua história de desacertos políticos e econômicos. Eles conseguiram manter a estabilidade econômica, dispõem de uma variedade de produtos agrícolas e de minérios com forte demanda no exterior e têm um mercado interno em franco desenvolvimento pela emergência de uma vigorosa classe média. Segundo análise da Cepal, a América Latina e o Caribe cresceram 6% em 2010, quase o dobro da média global. Em 2011 a América do Sul se manterá acima da média, com uma expansão projetada de 4,5%.

Não se pode examinar a relação do Brasil com a América do Sul sem levar em conta a crescente presença econômica e comercial da China (o principal parceiro comercial do Brasil e de diversos outros países) e seu impacto sobre as ações políticas e econômicas do País na região.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento recentemente divulgou estudo sobre as relações América Latina-China na primeira década do século 21. O trabalho mostrou que os países latino-americanos tiveram uma visão romântica das vantagens do intercâmbio com o país asiático. Apenas soja, ligas e minério de ferro respondem por 57,8% de tudo o que é vendido à China e o Brasil, em particular, apresentou nos últimos anos alguns déficits na balança comercial e um altíssimo déficit na balança industrial. Por outro lado, com reservas de mais de US$ 3 trilhões, a China transformou-se no quinto investidor do mundo. Em 2010 foram investidos mais de US$ 50 bilhões na compra de minas de minério de ferro, poços de petróleo, empresas e terras, sobretudo na América Latina e na África.

Os investimentos e as exportações chineses na região passaram a competir com empresas brasileiras e começam a ganhar mercados até aqui explorados pelo Brasil. Dessa forma, o País não terá alternativa senão focalizar a China como competidora, no mercado interno e no regional, deixando de lado a visão ingênua do começo da década, exemplificada pela concessão do status de economia de mercado à China. A defesa dos nossos interesses passa pela melhoria da competitividade dos nossos produtos, mas também por mecanismos ágeis de defesa comercial contra práticas agressivas de concorrência desleal e mesmo de triangulação no próprio Mercosul.

Embora a América do Sul seja a principal prioridade da política externa e a integração regional nela ocupe papel central, o Brasil não está aproveitando o bom momento por que passa a economia da região para ampliar sua presença econômica e comercial. A Ásia e a Europa estão à frente da América do Sul como os principais parceiros comerciais do Brasil. Em termos de investimento, as empresas brasileiras estão reduzindo sua presença no mercado regional, de 5,9% do total investido em 2006 para 1,7% em 2010.

A estagnação do processo de integração, inclusive com as dificuldades institucionais do Mercosul e a instabilidade das regras em muitos países da região, além das oportunidades abertas pela crise econômica na Europa e nos EUA, explicam, em grande parte, a relativa perda de interesse do Brasil nos últimos anos, apesar da retórica oficial em sentido contrário. O País pouco fez para estancar a fragilidade institucional do bloco em decorrência do seguido descumprimento do Tratado de Assunção e as propostas que apresentou para tentar revitalizar o Mercosul terão poucas chances de êxito.

No complexo quadro de transição que a região atravessa, impõe-se, como interesse brasileiro, uma visão estratégica de médio e longo prazos que poderia incluir:

Negociar a ampliação dos acordos bilaterais com todos os países sul-americanos, garantindo aos nossos vizinhos ampla abertura do mercado brasileiro.

Negociar acordos de garantia de investimentos, para proteger as empresas nacionais, e de bitributação, para facilitar nossa penetração nos mercados da região.

Manter a prioridade do processo de integração regional, com atenção especial para a infraestrutura, a energia e o intercâmbio comercial, e retomar projetos de construção de rodovias e ferrovias, estratégicos para permitir que as exportações de produtos brasileiros para a Ásia saiam a partir de portos do Peru e do Chile.

Manter o apoio ao Mercosul, como um processo que a longo prazo levará a uma crescente integração comercial dos países do Cone Sul. Para benefício de todos os países-membros, a decisão que determina que os membros do Mercosul negociem acordos comerciais com uma única voz deveria ser flexibilizada para permitir que cada país possa negociar individualmente sua lista de produtos. A equivocada entrada da Venezuela é uma questão de tempo e uma avaliação objetiva sobre seus efeitos é muito difícil de ser feita hoje.

O crescente peso econômico do Brasil na América do Sul (mais de 55% do PIB regional) e no contexto global, além da intensa participação nas discussões sobre temas globais e no grupo dos Brics exigirão do Brasil definição clara de nosso interesse e respostas rápidas e transparentes aos desafios apresentados pelo novo quadro político na região.

Mesmo que a economia continue a crescer a altas taxas de maneira sustentável nos próximos anos, a expansão do Brasil para além da América do Sul não deveria reduzir o nosso interesse - em novas bases, é verdade - pelo mercado regional, que representa mais de 350 milhões de consumidores.

PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

Notícias Geografia Hoje


Mão-de-obra estrangeira desembarca no País

Número desses profissionais no Brasil subiu 20% no 1º semestre; crescimento é maior nas Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte

Luiz Guilherme Gerbelli
- Jornal O Estado de S.Paulo
Em abril, a engenheira civil Almudena Olivares Piñera, de 25 anos, trocou a Espanha por Salvador. O motivo foi uma vaga de emprego na empresa responsável pela construção da Arena Fonte Nova, estádio que vai abrigar os jogos da Copa de 2014 na Bahia.

As perspectivas para a economia brasileira - principalmente se comparadas ao cenário de crise em países da União Europeia e nos Estados Unidos - tornaram trajetórias como a da jovem engenheira cada vez mais frequentes no País.

No primeiro semestre deste ano, o número de profissionais estrangeiros aumentou quase 20% em relação ao mesmo período de 2010. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre janeiro e junho foram concedidas 26.545 autorizações para que profissionais de outras nacionalidades possam trabalhar no País, contra 22.188 nos mesmos meses do ano passado. "O Brasil se tornou um mercado com muitas oportunidades para um profissional qualificado", diz a engenheira Almudena, que chegou ao País por meio da Aiesec, uma organização que promove o intercâmbio entre profissionais.

De acordo com Celso Grisi, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), a "invasão" dos estrangeiros está apenas no início. "Como nos países de origem a situação econômica está muito difícil, a chegada de novos trabalhadores internacionais tende a aumentar nos próximos anos", afirma Grisi. Ao contrário dos países desenvolvidos, a economia brasileira deve avançar neste ano pelo menos 3,5%, nas estimativas da maior parte dos analistas.

Os estrangeiros são atraídos, principalmente, pelas oportunidades nas áreas de engenharia e de segmentos relacionados ao pré-sal. "Não tem muito o que fazer por enquanto, porque as empresas são as primeiras a buscarem profissionais estrangeiros", afirma Grisi, referindo-se à baixa qualificação do brasileiro.

Regiões. A presença de estrangeiros tem crescido em especial fora do tradicional eixo Rio-São Paulo. O Nordeste e o Centro-Oeste, por exemplo, inverteram a tendência dos dois últimos anos e voltaram a atrair mão de obra internacional. Nessas regiões, a presença de trabalhadores "importados" cresceu 134% e 48%, respectivamente.

No Nordeste, nos primeiros seis meses do ano, a quantidade de mão de obra importada já supera a de 2010. Há dados curiosos quando se analisa a presença de estrangeiros por Estados. O Rio Grande do Norte, por exemplo, apresentou alta de 791% no número de profissionais do exterior no primeiro semestre. A capital do Estado, Natal, é uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, o que motiva o aumento de estrangeiros na economia.

Na avaliação de Ricardo Lacerda de Melo, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o aumento de estrangeiros na economia do Nordeste ocorre por conta dos "investimentos estruturantes". Ele destaca que o emprego regional cresce acima da média brasileira nos últimos anos: "A região recebe investimentos com a implantação de grandes empreendimentos em petroquímica, estaleiros, siderurgia e minérios".

No Centro-Oeste, somente o Distrito Federal teve redução na contratação de estrangeiros - queda de 8% -, enquanto os demais Estados apresentaram alta no período. Ao contrário de anos anteriores, a migração para a região tem sido de profissionais qualificados, diminuindo o espaço de trabalhadores menos qualificados de países fronteiriços, como Bolívia e Paraguai. "Esses trabalhadores que estão chegando são mais capacitados", diz Luiza Ribeiro, presidente da Fundação Social do Trabalho de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Ritmo forte. Entre as cinco regiões brasileiras, o crescimento de trabalhadores estrangeiros é maior no Norte. Nos primeiros seis meses de 2011, a alta foi de 248% ante o mesmo período do ano passado. Em 2010, o número de trabalhadores estrangeiros por lá já havia dobrado. A região tem recebido muitos trabalhadores com baixa qualificação e que vêm de países mais pobres. Somente no Acre, foram concedidos 162 vistos para haitianos.

Em números absolutos, o Sudeste ainda é a região que mais atrai trabalhadores internacionais. Puxada pelos Estados do Rio e São Paulo, a região teve crescimento de 11% neste primeiro semestre. No ano passado, a alta foi de 68%. "Escolhi São Paulo porque queria morar numa cidade cosmopolita, aprender outro idioma e conhecer a cultura brasileira", diz a colombiana Ana Maria Dominguez, de 24 anos, que desde março trabalha em uma empresa especializada em promover negócios sociais.

Como o ocidente foi perfurado


Areias canadenses


Em 1999, o Canadá ultrapassou a Arábia Saudita como a maior fonte de importações de petróleo dos Estados Unidos e, atualmente, metade da produção de petróleo do país provém das chamadas areias petrolíferas ou betuminosas de Alberta: uma forma de petróleo encontrada numa mistura de areia, argila e betume que é explorada em minas ou extraída pelo bombeamento de vapor em poços. A Agência de Informações Energéticas do Departamento de Energia dos EUA prevê que a produção das areias petrolíferas do Canadá dobrará nos próximos cinco anos, acrescentando 1,3 milhão de barris por dia ao total. Mas a produção de petróleo de areias betuminosas é um negócio complexo e poluente; segundo a Agência de Proteção Ambiental americana, o processo de extração produz 82% mais emissões que a extração de petróleo convencional. Autoridades e executivos de companhias petrolíferas canadenses argumentaram que esses temores são exagerados - e, de fato, cálculos externos confiáveis encontraram impactos bem menores, mais próximos de 17% maiores que os do petróleo convencional. Os defensores das areias petrolíferas viram uma abertura, porém, no perpétuo nervosismo dos americanos sobre sua dependência de regimes autocráticos (bem como do Oriente Médio) e têm defendido cada vez mais o petróleo canadense como uma alternativa ao "petróleo de conflito". A proposta de construção do oleoduto Keystone XL, de 2,7 mil quilômetros, ligando as areias betuminosas de Alberta às refinarias do Golfo do México tornou-se o tema de uma batalha indireta sobre a sabedoria do desenvolvimento das areias betuminosas. Em junho, o Departamento dos Transportes dos EUA ordenou que um oleoduto irmão menor suspendesse as operações após uma série de vazamentos. Mas as companhias envolvidas no projeto dizem que vão exportar o petróleo, com ou sem o oleoduto.

Pré-sal brasileiro

Em agosto de 2005, geólogos brasileiros descobriram os primeiros traços de petróleo na Bacia de Santos. O petróleo está no que se conhece como uma reserva de pré-sal: um depósito localizado a uma profundidade de até 7 quilômetros, diretamente abaixo de uma camada de sal comprimido. Isso significa perfuração de petróleo no que ela tem de mais complexa, só executável na última década e graças a avanços na tecnologia, e somente com a expertise das maiores companhias petrolíferas do mundo (que mostraram muito interesse). Mas a recompensa potencial é imensa. O maior campo conhecido na Bacia de Santos - batizado como Lula em 2010 - é a descoberta de petróleo mais significativa na América Latina em muitas décadas. Geólogos acreditam que a bacia como um todo - ela própria apenas uma de várias perspectivas promissoras no pré-sal - poderia conter até 50 bilhões de barris de petróleo e gás, o suficiente para situar firmemente o Brasil entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo. A produção atual (que ainda está no estágio de teste) é uma relativa bagatela - 36 mil barris por dia -, mas a Petrobrás vai investir quase US$ 33 bilhões em projetos do pré-sal nos próximos cinco anos, em antecipação da fartura que virá.

Golfo do México

Acredita-se que haja uma fartura de hidrocarbonetos igual a todo o petróleo da Noruega e o gás natural do Canadá juntos embaixo das águas americanas no Golfo do México - e o desastre catastrófico com a plataforma Deepwater Horizon no ano passado provavelmente não será mais que um pequeno empecilho na corrida para explorá-la. O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, impôs uma moratória à perfuração em águas profundas depois que a explosão da plataforma provocou um vazamento de três meses e 4,9 milhões de barris - o pior da história americana -, mas a proibição foi levantada nesta primavera americana após a criação de novos regulamentos. Embora algumas áreas permaneçam interditadas, novas permissões começaram a ser concedidas em fevereiro. Até a BP, a companhia responsável pelo vazamento, está voltando ao jogo.

Petróleo de xisto

Foi o gás natural que originalmente provocou o interesse das empresas de petróleo pela formação de xisto de Eagle Ford, no sul do Texas. Mas, nos dois últimos anos, à medida que os preços do petróleo subiam gradualmente aos picos do começo de 2008, os produtores voltaram sua atenção para as reservas de petróleo de xisto no Estado da Estrela Solitária (Texas), que é extraído de formações rochosas com a polêmica técnica do fraturamento hidráulico. O Eagle Ford está produzindo atualmente 71 mil barris diários, mas a produção deve quintuplicar até 2015. Ainda mais extraordinária é a formação de xisto de Bakken, no subsolo de Dakota do Norte, Montana e Saskatchewan, que a US Geological Survey acredita que contenha entre 3 bilhões e 4,3 bilhões de barris de petróleo recuperável - 25 vezes o que geólogos acreditavam há uma década e meia. Há também o xisto de Niobrara, no Wyoming, que contém estimados 2 bilhões de barris de petróleo.

Xisto betuminoso

Geólogos sabem como extrair petróleo de xisto betuminoso (curiosamente, não é a mesma coisa que petróleo de xisto; o primeiro é o petróleo retido nas formações de rocha densas, mas porosas; o segundo é o petróleo realmente encontrado na própria rocha) desde 1830. O problema tem sido o custo. As companhias de petróleo tentaram fazê-lo no Colorado nos anos 70 e 80, mas o esforço terminou num desperdício multibilionário. Os preços do petróleo intermitentemente altos da última década, porém, trouxeram gigantes do petróleo, como a Shell, de volta ao que seria a maior reserva de petróleo do mundo, se ela puder descobrir como explorá-la lucrativamente. Os recursos de xisto betuminoso de Mountain West são três vezes maiores que as reservas de petróleo provadas da Arábia Saudita. Os esforços passados para obter o xisto betuminoso da região envolveram a mineração a céu aberto, uma técnica que se mostrou ambientalmente destrutiva e proibitivamente cara. Desta vez, o plano ambicioso da Shell envolve realmente aquecer a própria terra para transformar o querogênio - um composto químico incrustado na rocha - em petróleo e gás passíveis de extração. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Jornal O Estado de S.Paulo

sábado, 20 de agosto de 2011

A era pós nuclear

Ilustração: Luciano Feijão

Fukushima marca, em matéria de energia atômica, o fim de uma ilusão e o começo da era pós-nuclear. Agora classificado como de nível sete, o mais alto na escala de acidentes nucleares, o desastre japonês já é comparável ao de Chernobyl, por seus “efeitos radioativos consideráveis na saúde das pessoas e no meio ambiente

por Ignacio Ramonet

O tremor de magnitude nove e o descomunal maremoto que castigaram o Noroeste do Japão com inaudita brutalidade no dia 11 de março deste ano não só originaram o desastre na central de Fukushima como dinamitaram todas as certezas dos partidários da energia nuclear civil.

A indústria nuclear, com a construção de dezenas de centrais atômicas prevista em inúmeros países, vivia curiosamente sua época mais idílica, essencialmente por duas razões. Primeiro, porque a perspectiva de “esgotamento do petróleo” antes do fim deste século e o crescimento exponencial da demanda energética por parte dos gigantes emergentes (China, Índia, Brasil) a convertiam em energia de substituição por excelência.1 Segundo, porque a tomada de consciência coletiva diante dos perigos das mudanças climáticas, causadas pelos gases do efeito estufa, conduzia paradoxalmente à opção por uma energia considerada “limpa”, não geradora de CO2.

A esses argumentos recentes, somavam-se os já conhecidos: o da soberania energética e menor dependência em relação aos países produtores de hidrocarbonetos; o baixo custo da eletricidade forjada nas usinas nucleares; e, por mais insólito que pareça no contexto atual, o da segurança, com o pretexto de que, das 441 centrais nucleares espalhadas pelo mundo (a metade na Europa ocidental), apenas três foram cenário de acidentes graves nos últimos cinquenta anos. Todos esses argumentos – não forçosamente absurdos – foram por água abaixo depois da descomunal dimensão do desastre de Fukushima. O novo pânico, de alcance mundial, fundamenta-se em várias constatações.

Em primeiro lugar, e contrariamente à catástrofe de Chernobyl – atribuída, em parte por razões ideológicas, ao descalabro de uma vilipendiada tecnologia soviética –, essa nova calamidade ocorreu no centro hipertecnológico do mundo e onde se supõe (pelo Japão ter sido, em 1945, o único país vítima do inferno atômico militar) que os técnicos tomaram todas as precauções possíveis para evitar um cataclismo nuclear civil. Logo, se os mais aptos não conseguiram evitar o desastre, seria razoável permitir que os demais sigam brincando com fogo atômico?

Em segundo lugar, as consequências temporais e espaciais do desastre de Fukushima são aterrorizantes. Em razão da elevada radioatividade, as áreas que circundam a central ficarão desabitadas por milênios. As zonas mais afastadas, por séculos. Milhões de pessoas serão definitivamente deslocadas em direção a territórios menos contaminados e terão de abandonar para sempre suas propriedades e explorações industriais, agrícolas ou pesqueiras. Para além da própria região mártir, os efeitos radioativos terão repercussão na saúde de dezenas de milhões de japoneses. E, sem dúvida, de numerosos vizinhos coreanos, russos e chineses. Sem mencionar outros habitantes do hemisfério boreal2 – o que confirma que um acidente nuclear nunca é local, mas sempre planetário.

Em terceiro lugar, Fukushima demonstrou que a questão da pretendida “soberania energética” é muito relativa, já que a produção de energia nuclear supõe uma nova sujeição: a “dependência tecnológica”. Apesar do enorme avanço técnico, o Japão precisou recorrer a especialistas estadunidenses, russos e franceses (além de especialistas da Agência Internacional da Energia Atômica) para controlar a situação. Por outro lado, os recursos do planeta ricos em urânio,3 combustível básico das centrais, são muito limitados. Calcula-se que, no ritmo atual de exploração, as reservas mundiais desse mineral se esgotarão em oitenta anos – ou seja, o mesmo tempo previsto para o desaparecimento do petróleo.

Por essas e outras razões, os defensores da opção nuclear devem admitir que Fukushima modificou radicalmente o enunciado do problema energético. Nesse cenário, quatro medidas urgentes impõem-se: parar de construir novas centrais; desmantelar as existentes no prazo máximo de trinta anos; ser extremamente econômico com o consumo de energia; e apostar a fundo em todas as energias renováveis. Só assim, talvez, salvaremos o planeta. E a humanidade.

Ignacio Ramonet é jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola de Le Monde Diplomatique.

1 Antes do acidente de Fukushima, estimava-se que o número de centrais nucleares no mundo aumentaria em 60% até 2030. A China, por exemplo, tem hoje treze centrais atômicas em atividade responsáveis pela produção de apenas 1,8% da eletricidade do país; em janeiro passado, decidiu-se construir, entre 2011 e 2015, 34 novas centrais, ou seja, uma a cada dois meses.

2 Partículas radioativas procedentes de Fukushima caíram sobre a Europa ocidental alguns dias depois da catástrofe. Apesar das autoridades terem declarado que “não constituíam uma ameaça à saúde”, vários especialistas ressaltaram que a radioatividade pode se acumular nas hortaliças, em particular nas folhas grandes, como as da alface, e o consumo desses alimentos apresenta riscos.

3 Um reator nuclear nada mais é do que um sistema de aquecer água. Para isso, utiliza a fissão do átomo de urânio 235 (U235), que, ao romper-se, ao fissionar-se mediante a denominada “desintegração nuclear”, produz uma enorme liberação de energia térmica. Vale lembrar que, para cada tonelada de mineral de urânio, é necessário explorar 156 toneladas de pedra. Dessa tonelada de mineral de urânio recolhida, faz-se apenas 1 quilo de urânio enriquecido. Desse quilo, apenas 0,7% é U235, o elemento usado nas centrais. Ou seja, para 7 gramas de U235, é preciso remover mil quilos de mineral e 156 toneladas de pedras! Ver Eduard Rodríguez Farré e Salvador López Arnal, Casi todo lo que usted desea saber sobre los efectos de la energía nuclear en la salud y en medio ambiente [Quase tudo o que você deseja saber sobre os efeitos da energia nuclear na saúde e no meio ambiente], El Viejo Topo, Barcelona, 2008. E também Paco Puche, “Adiós a la energía nuclear” [Adeus à energia nuclear], Rebelión (www.rebelion.org), 18 de abril de 2010.
Le Monde Diplomatique Brasil

ILHA DOS FRANCESES - ES - BRASIL



O Nascimento do Universo





Exoplanetas habitáveis podem existir em torno de anãs brancas

Astrônomos podem estar próximos da primeira descoberta de um novo planeta habitável

(University of British Columbia)
Foto de antigas anãs brancas no aglomerado globular M4:NASA e H.Richer
Por John Matson

A descoberta de planetas similares à Terra fora do Sistema Solar pode ser o primeiro passo para que seja encontrada vida extraterrestre. A Terra tem dado condições excepcionais aos seres vivos, dessa forma, um planeta similar, em princípio, também seria habitável.

A busca de um novo planeta habitável é uma atribuição específica do telescópio espacial Kepler, da agência espacial americana Nasa. Ele já detectou pistas de alguns planetas semelhantes à Terra. O telescópio espacial está observando mais de 150 mil estrelas para entender com que frequência planetas terrestres são formados ao redor de estrelas.

O fato de serem estrelas semelhantes ao Sol, no entanto, não é suficiente para abrigar planetas habitáveis. Em um estudo publicado recentemente no The Astrophysical Journal Letters, o astrônomo Eric Agol, da University of Washington, em Seattle, levanta a questão da habitabilidade em exoplanetas, sugerindo que esses corpos poderiam ser encontrados em torno de anãs brancas, abundantes no universo.

O telescópio Kepler que custou US$ 600 milhões procura pequenas e frequentes flutuações no brilho das estrelas que podem ser provocados pela passagem de um planeta com linha de visada a partir da Terra, num fenômeno chamado de eclipse de trânsito. Mas essas flutuações de brilho são extremamente sutis – o trânsito de um planeta similar à Terra diante de uma estrela similar ao Sol ofusca a estrela cerca de 0,01%. No caso de uma anã branca muito mais compacta, um planeta similar à Terra ocultaria muito mais de sua luz. Agol calcula que um planeta similar à Terra em uma órbita potencialmente habitável ocultaria cerca de 50% da luz emitida por uma anã branca durante o eclipse de trânsito. Uma mudança dessa magnitude seria detectável mesmo com um pequeno telescópio de superfície.
Scientific American Brasil

Notícias Geografia Hoje

A formação dos sistemas solares
Durante o surgimento de um sistema planetário, muitos processos são semelhantes

Nasa
Marte sempre foi considerado uma criança na família dos planetas rochosos. Com metade do raio da Terra e uma massa de pouco mais de um décimo do nosso planeta, é maior que o bebê Mercúrio, mas não tão crescido como a Terra e Vênus. Agora, parece que algum comportamento desregrado no sistema solar em torno de Júpiter pode ser a causa do atraso no crescimento do planeta vermelho.

Planetas nascem em discos protoplanetários. Esses discos rotativos são cheios de gás e poeira cósmica, e seu centro é marcado por uma proto-estrela, que começou a tomar forma quando parte do disco sofreu um colapso gravitacional. A maioria do material no disco faz parte de jovens estrelas, o restante torna-se eventualmente planetas, luas e asteróides. Isso se encaixa perfeitamente com o sistema solar hoje: o Sol contém 99,86% da massa total do sistema solar. Da fração minúscula da massa restante, os gigantes gasosos - Júpiter, Saturno, Urano e Netuno - são o maior contribuinte, que compõem 99% dos 0,14%.

Os gigantes gasosos foram formados antes dos planetas rochosos, levando alguns milhões de anos a partir do disco protoplanetário. Eles demoraram muito mais para parar de crescer - de 30-50 milhões de anos. A maioria dos modelos que os cientistas planetários já produziram, até agora, de Marte são muito maiores do que o que vemos hoje. Os trabalhos anteriores mostraram que um planeta vermelho menor faz sentido, mas apenas se o disco planetesimal - contendo pedras de gelo, e os começos de planetas - no início do Sistema Solar existia no espaço entre o Sol jovem e onde a Terra está agora. Se houvesse qualquer material sólido mais longe, a massa de Marte resultante estaria toda errada novamente. Isso não parece se encaixar com o cinturão de asteróides que existe além da Terra, não importa se os gigantes de gás que compreendem a maioria da massa total do planeta no sistema solar estão ainda mais longe.

Agora parece que a compreensão do movimento dos gigantes de gás, enquanto eles e os outros planetas ainda estavam se formando, pode ser a chave para resolver o mistério de um planeta subdimensionado. Em um artigo publicado na Nature , cientistas descrevem como fizeram simulações de computador do sistema solar que mostram como o movimento de Júpiter poderia ter cortado o disco planetesimal a partir do qual planetas rochosos como a Terra e Marte se formaram mais tarde. As simulações são capazes de produzir um disco de planetesimais que não se estende além da distância Terra-Sol, chamada de unidade astronômica (UA), e uma massa de Marte que se encaixa com o que vemos.

Nas simulações, realizadas por Kevin J. Walsh e Alessandro Morbidelli no Observatoire de la Cote d'Azur, em Nice, França, Júpiter se move a partir de onde se formou em 3,5 UA para apenas 1,5 AU de distância do sol. Essa é uma distância favorável do Sol para a formação dos gigantes de gás, porque é passada a "linha de neve" - a distância em que a amônia, gelo e metano podem se condensar em flocos de gelo. Como Júpiter move-se para dentro, Saturno permanece estável. Os gigantes de gás ainda estão crescendo nesse momento, e uma vez que Saturno atinge uma massa sessenta vezes a da Terra, ela também começa a migrar para o interior. Uma vez que Saturno alcança Júpiter, eles começam a migrar para fora novamente, e arrastam os jovens Urano e Netuno com eles. A migração dos gigantes de gás retarda a forma como o disco de gás se dissipa, e no final, chega na simulação correspondente ao que vemos hoje.

O movimento de Júpiter na simulação esvazia o cinturão de asteróides, mas, em seguida, o preenche. Ele também ajuda a explicar a diferença na composição de diferentes regiões do cinto de asteróides. O cinturão de asteróides ocupa o espaço entre Marte e Júpiter. O cinturão interno normalmente termina em cerca de 2-3 UA, e o cinturão externo vai para além dos gigantes de gás. O cinturão interno de asteróides contém mais silicato, enquanto os do cinturão externo provavelmente são ricos em carbono. Nas simulações, os cinturões interno e externo vêm de diferentes lugares do sistema solar; o lote interno começou muito mais próximo do Sol, e o grupo externo foi formado entre os planetas. A migração de Júpiter e Saturno balançou as duas populações e criou uma sobreposição, mas deixou-os ainda separados o suficiente para serem diferentes, apesar de estarem lado a lado.

Os resultados também lançam luz sobre a vida dos planetas fora do sistema solar. Os cientistas sabem que sistemas planetários extra-solares parecem migrar. Os “Júpiters quentes" são gigantes gasosos semelhantes em tamanho e composição de Júpiter que são encontrados perto de sua estrela-mãe. Eles não podem ter se formado tão próximo da estrela, é possível que tenham migrado para o interior. Até agora os cientistas pensavam que esse comportamento era fora do comum, porque não era como a formação de nosso próprio sistema planetário. Agora, parece que nosso sistema solar pode não ser tão especial como se pensava.

Scientific American Brasil

Notícias Geografia Hoje

Hidrate-se com um iceberg
Empresário sugere usar os gigantes de gelo para acabar com a seca extrema em alguns locais do mundo

David Demer, NOAA / NMFS / SWFSC / PEAML
Recentemente, o empresário Georges Mougin virou notícia ao propor um plano de transporte de icebergs como fonte de água doce para regiões atingidas por secas.

Uma equipe de engenheiros de software da empresa Dassault Systèmes criou uma simulação de computador para Mougin. De acordo com os resultados, um rebocador pode transportar um iceberg de sete milhões de toneladas, envolto em uma saia de isolamento, de Newfoundland, no Canadá, para as Ilhas Canárias ─ que atualmente utilizam dessalinização para lidar com suas periódicas faltas de água ─ por cerca de US$ 9,8 milhões. A viagem de 5.500 km, durante a qual o iceberg perderia cerca de 38% de sua massa, demoraria de quatro a cinco meses.

Embora a simulação de computador mostre como seria possível transportar um iceberg sem ele derreter totalmente, o plano de Mougin não é a solução financeiramente mais acessível para aliviar a seca em áreas como o Texas ou Somália. A simulação produz 4,3 milhões toneladas de iceberg a um custo de quase US$ 10 milhões, o que corresponde a cerca de 23% de centavo de dólar por litro. Pode parecer um custo relativamente baixo, mas não em comparação com o método comum de dessanilização da água do mar, que rende um litro de água doce para 9% de centavo.

A água do mar dessalinizada custa menos da metade em relação à água derretida do iceberg. Um método em desenvolvimento abaixa o custo de um litro de água potável para até 4,6% de centavo de dólar.

A simulação não parece estimar a pegada de carbono de uma viagem de 5.500 km feita por um rebocador movido a óleo diesel. A dessalinização da água pode ser feita mais perto da área seca, exigindo menos transporte.

No entanto, se a seca do Texas ficar em situação muito crítica, a sugestão de Mougin pode ser plausível para um generoso milionário do petróleo. Talvez o filantropo pudesse trazer um pouco de gelo para alguma festa, como Faisal fez em 1977. Na conferência, ele tinha um mini-iceberg enviado do Alasca a Ames por avião, helicóptero e caminhão. Por um preço de US$ 5.000, um símbolo de majestade da natureza foi quebrado e levado para flutuar em cima de bebidas frescas no Iowa.
Scientific American Brasil

Por que a África está deixando a Europa para trás


WILLIAM WALLIS
DO "FINANCIAL TIMES"

Os africanos estão desfrutando uma espécie de inversão de papéis. As antigas potências coloniais europeias enfrentam crises de dívida, orçamentos de austeridade, desemprego crescente e turbulência social. Contrastando com isso, boa parte da África subsaariana pode apontar para seu crescimento robusto, situação financeira melhor e entradas crescentes de capital. Este cenário inusitado encerra uma oportunidade: para a África, a de afirmar-se no palco global; para os países europeus, aproveitar sua pegada história na África, estimulando a expansão comercial para o sul. Mas não está nem um pouco claro se qualquer um dos lados vai aproveitar essa oportunidade.

Os problemas enfrentados pelos governos ocidentais são fartamente conhecidos pelos países africanos. Também estes tiveram seus serviços públicos esvaziados nos anos 1980 e 1990 pelas condições rígidas impostas pelos pacotes de resgate do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Nos casos mais graves, a autoridade do Estado foi fatalmente enfraquecida, enquanto a insatisfação explodiu nas ruas.

Hoje, contrastando com isso, eles podem apontar para cifras econômicas melhores, uma classe média fortalecida e, em alguns lugares, um controle social possivelmente mais eficaz. Nem mesmo Lagos --uma capital muito maior, mais pobre, mais violenta e com disparidades de renda maiores que as de Londres-- já testemunhou saques na escala dos que aconteceram na semana passada na capital do antigo império, embora os habitantes da megacidade nigeriana com certeza já competiram com os de Londres em matéria de incêndios criminosos.

A África vem se comprazendo com essa inversão de papéis. Quando a violência se espalhou de Londres para outras cidades britânicas, o Ministério do Exterior sul-africano tomou a medida incomum de emitir um aviso de viagem, aconselhando seus cidadãos a não viajarem ao Reino Unido. Houve também retaliações por críticas anteriores à capacidade da África do Sul de organizar a Copa do Mundo de 2010, com questionamentos sobre a confiabilidade de Londres para sediar uma Olimpíada com segurança.

A resposta oferecida pelos políticos de Westminster tampouco foi vista como exemplar. Como me disse ironicamente um diplomata nigeriano veterano, o primeiro-ministro David Cameron pareceu ecoar o coronel Muammar Gaddafi, da Líbia --que atribuiu a insurgência que está chegando à sua porta a "terroristas"--, quando, de modo simplista, atribuiu a pior violência vista no Reino Unido em gerações a "criminosos".

Se a sociedade britânica está doente e o projeto europeu está em dificuldades sérias, é claro que existem na África pacientes em estado muito mais grave. Bastou a aparição improvável do secretário britânico do Desenvolvimento, Andrew Mitchell, esta semana em Mogadício --cidade que nenhum ministro britânico tinha visitado desde 1992-- para deixar isso bem claro.

A visita de Mitchell teria sido mais ousada se tivesse ocorrido no ano passado, quando as sementes da fome generalizada atual já tinham sido plantadas e a ausência de um Estado que funcionasse como tal estava assolando a região com pirataria e extremismo islâmico. Mas ela serviu como contraste com a abdicação da responsabilidade pela crise no Chifre da África por parte dos líderes regionais.

São governos e organizações humanitárias ocidentais, ao lado da ONU, que vêm ocupando o vazio africano, fornecendo os recursos financeiros e o trabalho especializado necessários para administrar uma crise que já deixou milhares de mortos e pode ter repercussões na região por anos ainda. Apesar de todos os fracassos da África, contudo, o Ocidente não deve tirar as conclusões erradas. É tentador enxergar nada mais que um quadro já familiar de fraqueza africana. Sob alguns aspectos, porém, a fome na região é um capítulo que destoa dos tempos atuais.

Nos dez anos ou mais passados desde que a China começou a esboçar os termos de seu novo engajamento com a África, o continente passou por uma transformação em suas relações com o mundo externo. Um palco antes dominado por doadores ocidentais cautelosos e ex-potências coloniais cansadas e descrentes hoje abrange brasileiros, indianos, russos, turcos e outros que fazem fila para agarrar as oportunidades dos recursos e mercados africanos. O relativo declínio da influência e do domínio comercial ocidentais faz parte dessa mesma narrativa.

Os contornos desta nova ordem ainda estão sendo definidos. Mas nem os governos europeus, nem os africanos parecem ter agarrado a oportunidade apresentada: para os governos africanos, a chance de definir um papel mais independente e conquistar voz maior nos assuntos mundiais, e, para os europeus, a chance de se desvincularem do paternalismo pouco saudável do passado e competir em termos mais equitativos pelas oportunidades de negócios trazidas pela expansão econômica acelerada que acontece na África.

David Cameron pareceu ter entendido isso pelo menos parcialmente em sua viagem recente à África do Sul e Nigéria. Ele abandonou seu tom geralmente crítico, fazendo uma avaliação otimista do potencial comercial da África. Mas, em comparação com a busca implacável pelas atenções africanas realizada por representantes da China e outras potências emergentes, sua visita representou um incidente que mal foi perceptível, entre uma crise doméstica e outra.

Muitos dos pares ocidentais de Cameron parecem ainda não ter consciência de quão irritante é, para africanos, ouvirem sermões sobre redução de pobreza, corrupção e probidade financeira, à luz dos fracassos recentes de governança em seu próprio território. Afinal, os africanos podem legitimamente indagar se não foi uma falha de governança que causou a crise financeira global de 2008, entre os muitos outros problemas que acometeram os governos ocidentais.

A Europa já perdeu a posição moral superior e o domínio comercial na África. Mas ainda não está tarde demais para reverter esse processo. Com relação ao primeiro quesito, pelo menos, europeus e americanos têm sido de longe os maiores doadores no combate à fome, uma área na qual as vozes africanas e de países emergentes têm silenciado. Com relação ao segundo, a recuperação econômica da África acaba de começar.

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos