segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Notícias Geografia Hoje

Estrangeiro no Brasil envia mais dólares ao exterior
De mero receptor de remessas há cerca de 20 anos, Brasil passou a enviar US$ 1 para cada US$ 2,43 que entra no País



Foto: Reprodução Estrangeiros no Brasil enviaram maior quantidade de dólares para o exterior em 2011


A recente evolução da economia brasileira pode ser medida de muitas maneiras. Dos grandes números da produção aos bilhões do comércio exterior, muitos dados têm mostrado avanço, fato que chama atenção do mundo. Mas uma cifra pequena, que muitas vezes não chega à casa do milhar, revela uma mudança econômica radical: as remessas feitas por trabalhadores mostram que o Brasil deixou de ser um mero receptor de dólares enviados por brasileiros espalhados pelo mundo. Agora, o País também é fonte de dinheiro para milhares de famílias estrangeiras no exterior.

Há menos de 20 anos, em 1995, o Brasil era um típico receptor de remessas: a entrada de dólares era quase 25 vezes maior que o envio de dinheiro feito por estrangeiros que trabalhavam no País.

Dados do Banco Central mostram que a diferença diminuiu gradualmente ao longo do tempo. Em 2008, com o estouro da crise nos Estados Unidos, o movimento se acelerou. Até que no ano passado estrangeiros que trabalham no Brasil enviaram US$ 1 para cada US$ 2,43 que entraram no País, a menor diferença da história.

O recente crescimento da economia brasileira e a pior crise sofrida pelos países ricos nas últimas décadas explicam o fenômeno. Em bairros paulistanos como o Bom Retiro e o Brás, é possível ver o poder de atração de um país em crescimento: nessas regiões, existem muitos empregos considerados bons por trabalhadores de países vizinhos como a Bolívia, Peru e Paraguai. Muitas dessas vagas são precárias e ilegais.

Já os brasileiros que trabalham ao redor do mundo perdem a capacidade de enviar dinheiro. No ano passado, as remessas vindas dos Estados Unidos somaram US$ 603 milhões, valor 53% menor que o visto em 2008, ano do estouro da crise passada, e o pior resultado desde 2001. Do Japão, a queda é ainda mais expressiva: 60% em três anos. Em 2011, dekasseguis enviaram US$ 289 milhões ao Brasil, menor valor da série histórica iniciada em 1995. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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A infraestrutura ainda é o calcanhar de Aquiles do Brasil

Para presidente do Bid, Luís Alberto Moreno, país precisa investir bem mais do que 2,5% do PIB para sanar sua carências
AFP


Foto: AE Portos brasileiros, como o do Rio, ainda são gargalo para as exportações


A infraestrutura do Brasil é vista como o ponto fraco do país a partir de seu modelo econômico de sucesso, que criou 14 milhões de empregos em menos de uma década. "A infraestrutura é ainda um dos principais desafios para o Brasil", disse o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, para quem toda a América Latina vive o mesmo problema.

Leia mais: China investirá dez vezes mais que Brasil em infraestrutura

O Brasil, disse, "provavelmente investe 2,5% do PIB no setor, mas isso não é suficiente", disse Moreno, lembrando que é mais caro transportar um contêiner da Colômbia para o Brasil do que para o Canadá.
O secretário-executivo do ministério brasileiro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alessandro Teixera, recordou que durante mais de duas décadas o Brasil vive um 'apagão' neste setor, tendo sido obrigado a reconstruir estradas, aeroportos e portos.

Outros desafios são a questão dos impostos cobrados no país e a reforma da Previdência Social, admitiu Teixeira. No entanto, a sexta economia mundial, apresenta uma folha memorável: um desemprego de 4% que poderá chegar ao final de 2012 em 3,5% (13% há dez anos), uma previsão de crescimento de 4% para este ano - superior ao do ano passado, apesar da crise na Europa, que se faz sentir em outras partes do mundo -, uma inflação abaixo de 5%, dívida reduzida e exportações de 256,041 bilhões de dólares no ano passado.

O país possui um sistema econômico que soube conjugar crescimento com inclusão social, elogiam os esecialistas. Muitos criticam o fato de ainda ser um exportador de commodities, mas não se pode esquecer, recordou Teixera, que é o terceiro produtor mundial, atrás da China, com quem mantém superávit comercial.

"A qualidade do comércio com a China não é a ideal, porque estamos exportando sobretudo commodities e importando produtos acabados", disse o chanceler Antonio Patriota. "Por isso estamos insistindo na agenda internacionalPatriotaaparceiros que nos possam trazer benefícios nos setores científico, tecnológico, além de novas oportunidades econômicas", disse Patriota.

O chanceler voltou a afirmar que o país não tem vocação para se transformar em potência militar, nem nuclear, advogando, ao contrário, a diplomacia e o diálogo. "Estamos num momento em que o Brasil se afirma como força no campo econômico mundial", disse Patriota, considerando que "talvez não haja tanta necessidade mais, como no passado, de tentar convencer os líderes mundiais" da solidez da economia brasileira e da importância que assumiu no panorama geopolítico mundial.
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Entenda os fatores envolvidos na independência do Sudão do Sul

Separação do novo país com o Sudão foi definida em janeiro, em um referendo no qual 99% das pessoas que votaram apoiaram a divisão
BBC Brasil


Foto: AP
Com a bandeira do novo país, homem comemora a independência do Sudão do Sul pelas ruas de Juba


O Sudão do Sul é o mais novo país do mundo, após ter oficializado sua independência em relação ao Sudão. A separação foi definida em um referendo realizado em janeiro, quando 99% dos votantes apoiaram a divisão do país, marcado por conflitos sectários. Entenda os fatores envolvidos na separação:

Por que a maioria dos cidadãos do sul quer um país independente?

Assim como no restante da África, as fronteiras do Sudão foram desenhadas por potências coloniais pouco preocupadas com as realidades étnicas e culturais da região. Enquanto o Sudão do Sul tem uma paisagem repleta de selvas e pântanos, o norte é mais desértico.

A maioria da população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos étnicos, de maioria cristã ou animista. Com o governo centralizado no norte, em Cartum, a população no sul se dizia discriminada e rejeitava tentativas de imposição da lei islâmica no país. Os dois lados lutaram entre si durante a maior parte de sua história.

O que acontece após a independência?

Agora é que começa o trabalho duro. Norte e sul ainda têm de chegar a um acordo em relação a temas como:

- Traçado da nova fronteira e como ela será controlada
- Como dividir a dívida do Sudão e os royalties do petróleo do novo país
- Que moeda será adotada pelo novo país
- Que direitos os sulistas terão no norte, e vice-versa

A verdade nua e crua é: não. Após viver anos em guerra e desdenhado pelo governo central, o novo país - que é maior do que Espanha e Portugal juntos - quase não tem estradas; também faltam escolas e serviços de saúde para a população de cerca de 8 milhões.

Apesar de seu potencial para a agricultura, 95% das receitas do novo país vêm do petróleo. "A vida no Sudão do Sul provavelmente será precária nos anos futuros", disse à BBC o analista especializado em Sudão Douglas Johnson.

Os ex-rebeldes do grupo SPLM, que têm controlado a região desde 2005, ganharam alguma experiência em governabilidade e lucram com os poços de petróleo do sul sudanês. Também elaboraram planos ambiciosos para desenvolver suas cidades e realizaram um concurso para a composição do hino nacional.

Mas críticos dizem que, até agora, o grupo desperdiçou muito desse lucro em gastos militares, e pouco em medidas que aumentem o padrão de vida em uma das regiões mais pobres do mundo.

Também há acusações de corrupção, autocracia e favorecimento tribal. Alguns dizem que o SPLM é dominado por membros do maior grupo étnico do Sudão do Sul, os dinkas, acusados de ignorar as demandas de outras comunidades - em especial da segunda maior etnia da região, os nuer.

Um observador da situação sudanesa disse à BBC, em condição de anonimato, que "não me surpreenderia se o Sudão do Sul se tornasse uma nova Eritreia". Em 1993, os eritreus votaram maciçamente em favor da independência da Etiópia. Atualmente, a Eritreia é considerada uma das nações mais opressivas do continente.

Como Cartum vê a independência do sul?

Nesta sexta-feira, o governo do presidente sudanês, Omar al-Bashir, reconheceu formalmente a independência da parte sul de seu país. Mas, desde o referendo de janeiro, regiões na fronteira entre sul e norte, como Abyei e Kordofan do Sul, têm vivido uma onda de confrontos, levantando temores de uma nova guerra.

Os dois lados assinaram diversos acordos de paz, mas as tensões permanecem. O SPLM acusa o governo sudanês de financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul, mas Cartum nega as acusações. Ainda que o novo país esteja tentando forjar laços com países como Uganda e Quênia, manter boas relações com o vizinho do norte será crucial.

O que acontecerá com o norte?

A prioridade para Cartum, agora, é tentar manter para si o máximo de lucros originados da produção de petróleo do país. Ao mesmo tempo em que a maioria dos poços fica no Sudão do Sul, o norte tem a maioria dos oleodutos que escoam o combustível para o mar Vermelho. A fronteira entre o sul e o norte, rica em petróleo, ainda não foi demarcada, então existe a possibilidade de que ocorram disputas pelo controle dos poços.

No que diz respeito à vida dos cidadãos comuns, ambos os lados concordaram em permitir que todos os sudaneses - em especial os sulistas radicados em Cartum - escolham qual nacionalidade terão. Mas os planos de Bashir de implementar uma rígida versão da sharia (a lei islâmica) no norte do país pode afugentar os sulistas da região.

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África e da Ásia são mais vulneráveis às mudanças climáticas

Estudo britânico analisou a exposição a eventos climáticos extremos, tais como secas, ciclones, incêndios florestais e tempestades
AFP



Foto: The New York Times
Seca: Somalis chegam a acampamento para refugiados no Quênia


Um terço da população, a maioria na África e no sul da Ásia, é mais vulnerável aos riscos das mudanças climáticas, enquanto os habitantes dos países ricos no norte da Europa são os menos expostos, segundo um relatório de uma empresa britânica especializada em análise de riscos.

Bangladesh, Índia e República Democrática do Congo (RDC) estão entre os 30 países em risco "extremo" frente às alterações no clima, segundo um ranking de 193 países feito pela companhia Maplecroft, divulgado na quarta-feira.

Cinco países do sudeste asiático - Indonésia, Mianmar, Vietnã, Filipinas e Camboja - também estão nesta categoria, em parte por causa da elevação do nível dos mares e do aumento dos eventos de tempestades tropicais severas.

A ferramenta usada pela Maplecroft, o Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas (CCVI), analisa a exposição a eventos climáticos extremos, tais como secas, ciclones, incêndios florestais e tempestades, que se traduzem em estresse hídrico, perda de colheitas e avanço do mar sobre a terra.

A vulnerabilidade da sociedade a estes eventos também é medida, juntamente com o potencial do país a se adaptar aos riscos vinculados às mudanças climáticas.

Dos 30 países identificados no relatório como em risco "extremo" pelas mudanças no clima, dois terços ficam na África e todos estão em países em desenvolvimento.

Segundo o documento, a África é especialmente vulnerável a secas, cheias severas e incêndios florestais.

"Há muitos países vulneráveis mesmo com uma exposição relativamente baixa a eventos climáticos", comentou Charlie Beldon, co-autor do estudo.

Economias frágeis, serviços de saúde inadequados e governos corruptos diminuem a margem de absorção de impactos climáticos.

No outro extremo da tabela, Islândia, Finlândia, Irlanda, Suécia e Estônia ocupam o topo da lista dos países considerados em menor risco.

Com a exceção de Israel e dos petrolíferos Qatar e Bahrein, os 20 países menos vulneráveis ficam no norte e no centro da Europa.

A China e os Estados Unidos - o primeiro e o segundo maiores emissores de carbono do planeta - ocupam, respectivamente, as categorias "média" e "baixa" de risco.

Em uma análise paralela sobre as cidades mais vulneráveis, a Maplecroft citou Daca, Adis Abeba, Manila, Calcutá e a cidade bengalesa de Chittagong como as mais expostas.

Outras três metrópoles indianas - Chennai, Mumbai e Nova Délhi - foram listadas na categoria de risco "elevado".

"A vulnerabilidade às mudanças climáticas tem o potencial de minar o desenvolvimento futuro, particularmente na Índia", alertou Beldon.

Estudos recentes - revistos em um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), com publicação prevista para o próximo mês - apontam para evidências que reforçam os vínculos entre o aquecimento global e eventos climáticos extremos.

Segundo alguns especialistas, as secas recorde registradas na Austrália e na África, as inundações no Paquistão e na América Central, bem como os incêndios na Rússia e nos Estados Unidos podem ter sido, em parte, provocados pelas mudanças climáticas.

De acordo com algumas previsões, as tendências atuais de aquecimento se encaminham para uma elevação global da temperatura do planeta em 3 graus Celsius.

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Notícias Geografia Hoje



Cientistas pedem inclusão de agricultura em negociações climáticas
Artigo publicado na Science pede que políticos e governos elaborem rapidamente sistemas sustentáveis de produção de alimentos
EFE

Um grupo de especialistas em agricultura pediu, em artigo publicado pela revista "Science", que os cientistas promovam as bases para uma ação "mais decisiva" sobre a segurança alimentar mundial nas negociações sobre mudança climática.

"A agricultura mundial está sendo afetada pela mudança climática e, em menos de 15 anos, a população mundial aumentará em 1 bilhão de pessoas", adverte o cientista John Beddington, um dos autores do trabalho e assessor do governo britânico.

O artigo intitulado "What Next for Agriculture After Durban" enfatiza a necessidade de que os políticos e governos trabalhem juntos e "com rapidez" na elaboração de um sistema alimentar mundial sustentável.

Os autores reivindicam a integração da agricultura no processo de negociação da mudança climática, que, para eles, ocorreu de forma lenta e afeta principalmente a população dos países em vias de desenvolvimento.

Seu objetivo é ressaltar a urgência de ações para enfrentar a mudança climática, que representa uma ameaça para a agricultura - fonte de subsistência de muitos desses países - e para a segurança alimentar do planeta.

Neste sentido, eles destacam a necessidade de uma "pesquisa mais integrada" focada nas práticas agrícolas sustentáveis, que sejam adequadas para as "diferentes regiões, sistemas de cultivo e paisagens", especialmente nos países em desenvolvimento, onde se espera que a mudança climática imponha os maiores desafios.

O objetivo, segundo o trabalho, é criar um "espaço operacional seguro" em que os agricultores possam produzir alimentos suficientes para satisfazer as necessidades mundiais, ao mesmo tempo em que se adaptam às distintas tensões climáticas e minimizam o impacto ambiental na produção de alimentos.

A plataforma de Durban é o nome do conjunto de acordos obtidos na 17ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-17), realizada entre 28 de novembro e 11 de dezembro do ano passado na cidade sul-africana de Durban. Ela inclui um segundo período do Protocolo de Kioto, mecanismo que deve reger o Fundo Verde para o Clima e um roteiro para um novo acordo global

A COP-17 inicia um roteiro, proposto pela União Europeia (UE), para a adoção de um novo acordo global vinculante de redução de emissões de gases do efeito estufa, aplicável a todos os países, ao contrário de Kioto, que só inclui os países desenvolvidos.

Durban fixa a data de início do segundo período de compromisso para 2013, com o que se evita um vazio na luta contra a mudança climática, mas deixa para reuniões posteriores sua data de finalização, 2017 ou 2020.

O aumento de metas de redução de emissões que devem ser realizadas pelos países desenvolvidos se posterga para 21 de junho de 2012 e será avaliado na COP-18, no Catar.

Notícias Geografia Hoje



Poluição de rio na China faz população estocar água
Rio que abastece cidade no sul do País tem três vezes mais cádmio que o limite permitido
Reuters

Residentes de uma cidade no sul da China correram para comprar água potável depois que níveis excessivos de cádmio carcinogênico foram encontrados na fonte de um rio que abastece o local, relatou a mídia estatal nesta quinta-feira, no mais recente escândalo de saúde a atingir o país.

A poluição dos córregos por resíduos tóxicos de fábricas e fazendas é um problema grave na China, levando as autoridades a clamar por políticas que exijam a eliminação da poluição por metais pesados, embora o problema não mostre sinais de estar sendo solucionado.

Os níveis de cádmio no rio Longjiang, na região autônoma de Guangxi Zhuang, chegaram a três vezes o limite oficial na quarta-feira, afirma a agência estatal de notícias Xinhua, apontando como responsável uma mineradora.

Níveis excessivos de cádmio foram detectados no último domingo, disse a agência, acrescentando que as autoridades injetaram 80 toneladas de cloreto de alumínio, um agente neutralizante, no rio em uma tentativa de eliminar o fator de risco.

A China fechou uma indústria química na província central de Hunan em 2009 depois que os moradores protestaram contra a poluição de cádmio, que matou duas pessoas e afetou centenas de outras.

Apesar das promessas frequentes de Pequim de reduzir a poluição, autoridades locais com frequência colocam o crescimento econômico, a renda e a criação de empregos acima das preocupações ambientais.
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Oceano apresenta sintomas de grandes extinções em massa

De acordo estudo internacional, espécies marinhas estão em risco de entrar numa fase de extinção sem precedentes
BBC Brasil

Um novo estudo indica que os ecossistemas marinhos enfrentam perigos ainda maiores do que os estimados até agora pelos cientistas e que correm o risco de entrar em uma fase de extinção de espécies sem precedentes na história da humanidade.


Foto: Getty Images
Cientistas afirmam que corais podem desaparecer com a acidificação dos oceanos


O levantamento foi feito realizado por especialistas que integram o Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO, na sigla em inglês), uma entidade formada por cientistas e outros especialistas no assunto.

Eles concluíram que fatores como a pesca excessiva, a poluição e as mudanças climáticas estão agindo em conjunto de uma forma que não havia sido antecipada.

A pesquisa reuniu especialistas de diferentes disciplinas, incluindo ambientalistas com especialização em recifes de corais, toxicologistas e cientistas especializados em pesca.

‘‘As conclusões são chocantes. Estamos vendo mudanças que estão acontecendo mais rápido do que estávamos esperando e de formas que não esperávamos que fossem acontecer por centenas de anos’’, disse Alex Rogers, diretor científico do IPSO e professor da Universidade de Oxford.

Plástico
Entre as mudanças que estão ocorrendo antes do esperado estão o derretimento da camada de gelo no Ártico, na Groenlândia e na Antártida, o aumento do nível dos oceanos e liberação de metano no leito do mar.

O estudo observou também que existem efeitos em cadeia provocados pela ação de diferentes poluentes.

A pesquisa observou, por exemplo, que alguns poluentes permanecem nos oceanos por estarem presos a pequenas partículas de plástico que foram parar no leito do oceano.

Com isso, há um aumento também do poluentes que são consumidos por peixes que vivem no fundo do mar.

Partículas de plástico são responsáveis também por transportar algas de parte a parte, contribuindo para a proliferação de algas tóxicas, o que também é provocado pelo influxo para os oceanos de nutrientes e poluentes provenientes de áreas agrícolas.

O estudo descreveu ainda como a acidificação do oceano, o aquecimento global e a poluição estando agindo de forma conjunta para aumentar as ameaças aos recifes de corais, tanto que 75% dos corais mundiais correm o risco de sofrer um severo declínio.

Ciclos
A vida na Terra já enfrentou cinco ''ciclos de extinção em massa'' causados por eventos como o impacto de asteróides e muitos cientistas que o impacto de diferentes ações exercidas pelo homem poderá contribuir para um sexto ciclo.

''Ainda contamos com boa parte da biodiversidade mundial, mas o ritmo atual da extinção é muito mais alto (do que no passado) e o que estamos enfrentando é, certamente, um evento de extinção global significativa'', afirma o professor Alex Rogers.

O relatório observa ainda que eventos anteriores de extinção em massa tiveram ligação com tendências que estão ocorrendo atualmente, como distúrbios no ciclo de carbono, acidificação e baixa concentração de oxigênio na água.

Os níveis de CO2 que estão sendo absorvidos pelos oceanos já são bem mais altos que aqueles registrados durante a grande extinção de espécies marinhas que ocorreu há 55 milhões de anos, afirma a pesquisa.

Entre as medidas que o estudo aconselha sejam tomadas imediatamente estão o fim da pesca predatória, especialmente em alto mar, onde, atualmente há pouca regulamentação; mapear e depois reduzir a quantidade de poluentes, como plásticos, fertilizantes agrícolas e detritos humanos; e reduzir de forma acentuada os gases do efeito estufa.

As conclusões do relatório serão apresentadas na sede da ONU, em Nova York, nesta semana, durante um encontro de representantes governamentais sobre reformas na maneira de gerenciar os oceanos.
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Saiba as consequências do 11 de Setembro para a China

Ataques abriram terreno para que Pequim, já fadado ao crescimento econômico, também ascendesse sua posição política no mundo
Marsílea Gombata

Foto: AP
Chefe do Estado-Maior Conjunto americano, Mike Mullen (D), passa por guarda de honra ao lado do general Chen Bingde, durante visita a Pequim



Os ataques terroristas do 11 de Setembro mudaram a última década e os anos que virão ao ter como consequência decisões de Washington que debilitaram o país política, econômica e militarmente - criando uma janela de oportunidades para outras nações.

Saiba as consequência para a China:

Com o desmantelamento da União Soviética (URSS), o governo de George W. Bush (2001-2009) passaria a ter a China comunista como um de seus principais inimigos. A intenção seria enfatizar os laços com os aliados Japão, Coreia do Sul e Taiwan - planos que foram interrompidos pelo 11 de Setembro.



A política externa americana foi levada para outra direção, o que acabou deixando terreno livre para a China ascender em regiões como África, América Latina e até mesmo em ex-satélites da extinta URSS, como Quirguistão e Usbequistão.

Como definiu o jornalista americano de ascendência chinesa Frank Ching, que em 1979 abriu a sede do Wall Street Journal em Pequim, o 11 de Setembro distraiu os EUA da China, que “sem os ataques não estaria onde está hoje”.

Em artigo publicado em maio, o professor emérito da Universidade de Washington argumenta que, com o fim da império soviético, Pequim seria o próximo inimigo de Washington, mas os ataques mudaram o curso da política externa americana.

A opinião é compartilhada pela especialista em China Anna Han, da Universidade Santa Clara, na Califórnia. “O crescimento econômico da China teria acontecido independentemente do 11 de Setembro, mas sua posição política não”, disse. “Os ataques impactaram a posição política da China. Houve um enfraquecimento perceptível dos EUA, que certamente não são insubstituíveis.”

Em vez de figurar como o próximo inimigo declarado dos EUA, a China mostrou-se aliada dos EUA na Guerra ao Terror, com “o intuito de garantir seus próprios interesses em lutar contra dissidentes islâmicos dentro de seu próprio território”, como muçulmanos uigures que reclamam da repressão da etnia han, majoritária no país. “Desse modo, onde os EUA antes se apressariam em condenar a China, passaram a ficar quietos”, disse Anna.
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Globalização: Desafios para uma economia de rosto humano?

Miguel Rocha de Sousa
A globalização tem sido analisada desde tempos imemoriais. No entanto, a globalização tornou-se uma “buzzword” cada vez mais corrente. A globalização tornou-se ela mesmo um fenómeno em si mesmo. Abundam os textos académicos e não académicos sobre esta temática. Com esta pequena nota pretendo apenas salientar o carácter difuso e cada vez mais interdependente da globalização.

Mas afinal o que é a globalização? Será apenas um epifenómeno? Será apenas uma moda?

A meu ver a globalização sempre existiu. Na antiguidade clássica grega e romana, o comércio ligava o Mediterrâneo entre si. Mais tarde, a rota da seda ligou ainda mais as cidades estado italianas. O comércio como fonte de inter-ligação entre as economias parece-me a medida mais viável do grau de globalização; seja ela económica, política e social. Globalização, passe o truísmo, significa tornar-se global.

Hoje em dia, o mundo após o 11 de Setembro deparou-se com o terrorismo à escala global. Madrid, também não foi poupada a esta tragédia. Os mass media tornaram-se os meios privilegiados da acção da própria globalização. A Internet dispõe e predispõe tudo à velocidade de um simples click. A economia tornou-se uma economia do tempo, do custo de oportunidade do excesso de informação. Passámos da massificação da era industrial para a segmentação da era informática. O sistema capitalista renovou-se, as dot com transformaram o mundo, deram origem a gigantescas capitalizações bolsistas, mas de igual modo a crises financeiras.

Um dos desafios mais importantes da sociedade global de hoje é o de conciliar a economia capitalista assente no pilar de mercado, com a distribuição justa, ou pelo menos mais justa do rendimento. O grande desafio a meu ver, é o de como garantir eficiência e simultaneamente mais equidade. Como sabemos este trade-off, eficiência versus equidade tem dominado o pensamento económico moderno, especialmente na vertente neoclássica.

Tem havido economistas menos ortodoxos que advogam soluções para este problema. Nomeadamente o falecido Nobel James Tobin advogava uma taxa sobre os fluxos de capitais de modo a introduzir alguma inércia no fluir do sistema capitalista. As receitas dessa mesma taxa reverteriam para o desenvolvimento dos países mais carenciados.

Ha-Joon Chang , recorrendo a uma análise histórica, demonstrou que o comércio livre tem sido utilizado como panaceia para o sub-desenvolvimento. Mas, de facto, a história descreve-nos que países como os EUA, Inglaterra, França, Alemanha, todos eles de facto cresceram à custa da imposição de tarifas e quotas. Surge assim o célebre argumento de Chang: kicking away the ladder (KAL) – ou seja, os países hoje desenvolvidos cresceram e atingiram a maturidade através do comércio protegido (subiram a escada), e uma vez lá chegados, rejeitam essa via de desenvolvimento aos países em vias de desenvolvimento – o tal pontapé na escada.

Branko Milanovic, investigador do Banco Mundial, num livro também recente procedeu pela primeira vez a uma análise da distribuição mundial do rendimento, através de agregados familiares mundiais. Ou seja, não interessa tanto, nesta análise, a distribuição de riqueza do país, mas sim como cada agregado familiar se posiciona no ranking mundial. Este é também, de novo, um sintoma da globalização, os cidadãos, não são apenas cidadãos dos países, são cidadãos à escala planetária económica. Vivemos, de facto, para utilizar uma expressão mais liberal, à maneira de Pedro Arroja, numa cataláxia. Ou seja, uma verdadeira galáxia das trocas.

Nesta cataláxia para termos uma economia verdadeiramente inclusiva e justa, temos de assegurar que os mais pobres têm de facto oportunidades de crescer e evoluir. Sintomático foi a invenção do micro-crédito por Muhamad Yunus, esse sim um instrumento prático e ao alcance dos mais pobres que promove verdadeira inclusão.

Um dos conceitos teóricos da ciência política mais interessantes é o do critério de análise de bem-estar de acordo com John Rawls. Este critério diz-nos que o bem-estar de todos melhorará, se melhorarmos o bem-estar, como diz a literatura sobre o assunto do underdog, i.e. o que está em pior situação. Se este critério fosse operacionalizável de um modo sequencial, de facto a sociedade melhoraria. Assim um dos desafios da globalização é o de incluir os agentes, isso poderá ser feito utilizando as contribuições de Rawls e Yunus.

Outro ponto interessante é o comércio justo. Até que ponto a teoria neoclássica do comércio livre (partindo dos pressupostos dos modelos de Ricardo, Hecksher-Ohlin, e os mais recentes de comércio intra-industrial de Krugman e Obstfeld) se coaduna com a realidade dos países em vias de desenvolvimento. Não será o comércio justo, ao assegurar às crianças escolas e formação, remuneração justas aos pais, mais eficiente? Não será que a pobreza é uma falha de mercado? Deste modo não nos resta nada mais do que lutar pela inclusão dos mais pobres na cataláxia global.

Não se trata aqui do discurso do “desgraçadinho” ou do “pobre coitado”, mas sim de uma questão de princípios de que todo o ser humano, tal como vem expresso na Carta dos Direitos Humanos da ONU, tem direito a uma vida digna e justa. Já Adam Smith em 1776, ano seminal da economia em que publicou a Riqueza das Nações e em que os EUA se emanciparam do seu estatuto de colónia, advogava que todo o individuo tinha direito a vestir-se condignamente e a ter uma ocupação (direito ao trabalho). O desemprego, seja ele resultante da rigidez do mercado de trabalho ou de falha informativas, é de facto uma falha de mercado tal como a pobreza.

Em suma, a globalização deu origem a uma resposta, a dita alter-mundialista, em que as preocupações éticas e do sentido da vida, puseram em causa o sistema capitalista tradicional neoclássico: através do combate à pobreza, do comércio justo, do desenvolvimento sustentável e da verdadeira inclusão social à maneira Rawlsiana.

Como diria Fernando Pessoa: “I know not what tomorrow will bring.” Mas, que há amanhã é um facto, e que o amanhã poderá ser melhor, e é esta a nossa responsabilidade na cataláxia global: torná-lo melhor e mais inclusivo.
Revista Autor

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Muito além dos mapas tradicionais

Geógrafa defende que a cartografia adote novos padrões para confecção de mapas
Eliana Pegorim

O mapa acima traz uma anamorfose que representa uma projeção da população do mundo para o ano 2025, em que o tamanho de cada país é proporcional à população (fonte: Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento Humano/1990)

A cartografia pode mostrar outros aspectos do espaço geográfico além das distâncias medidas em metros e quilômetros. É o que propõe a geógrafa Fernanda Padovesi Fonseca. Em sua tese de doutorado, defendida em setembro na Universidade de São Paulo, ela questiona a cartografia tradicional euclidiana como a linguagem ideal para representar a geografia.

"Entre os pesquisadores dessa área, a cartografia está naturalizada como linguagem exclusiva da geografia, mas ela não consegue representar o espaço de modo adequado da forma como é feita hoje", explica Fonseca. "Nos mapas atuais, as distâncias são representadas de modo absoluto e as diferenças sociais são esquecidas. Um condomínio fechado pode estar ao lado de uma favela em um mapa que só verifique a distância em quilômetros, mas as distâncias sociais são enormes", exemplifica.

A renovação da geografia
O movimento de renovação da geografia, iniciado na metade década de 1970, procura tornar a geografia uma ciência social. "O ponto de partida é considerar que o espaço produzido pelas sociedades contribui para o entendimento delas", explica Fonseca.

A idéia de renovar a geografia clássica tem grande força nos países anglo-saxões e na França. No Brasil, o principal defensor do movimento foi o geógrafo Milton Santos (1926-2001). Seus defensores queriam acabar com ambigüidade epistemológica da geografia, situada entre ciências naturais e humanas embora, na prática, tratasse as questões humanas como uma ciência da natureza.

"As ciências da natureza não oferecem elementos para analisarmos o complexo espaço geográfico, construído pelas ações e relações humanas", compara Fonseca. Além disso, os críticos da geografia clássica condenavam o excesso de descrição e a ausência de rigor científico, sobretudo na forma como ela era ensinada nas escolas.

Na opinião de Fonseca, é preciso pensar uma cartografia que represente o novo modo de entender o espaço geográfico defendido pelo movimento de renovação da geografia.

A pesquisadora destaca o exemplo das redes de transportes e comunicações, que mudaram a relação entre as pessoas e espaços. Cidades que linearmente podem ser mais distantes ficaram mais próximas devido à sua posição nessas redes. No entanto, a geografia ensinada na escola ainda se preocupa apenas em investigar e detalhar as paisagens de cada região. Para esse tipo de estudo, a cartografia atual satisfaz.

"Nos mapas-múndi, os oceanos estão em posição de destaque e ocupam muito mais espaço, mas as pessoas vivem nos continentes", diz Fonseca. "Outra base além dos tradicionais metros – da cartografia euclidiana – poderia permitir que, nesse caso, os continentes fossem representados de outra forma que mostrasse a importância relativa de cada um."

Uma nova maneira de representar essas mudanças – ainda pouco explorada no Brasil – é o uso de outros elementos para a confecção dos mapas, como dimensão da população e medidas temporais. Esses procedimentos são conhecidos como anamorfoses.

Embora essa discussão mobilize muitos teóricos da geografia, não se sabe quando ela modificará os mapas usados no dia-a-dia. Segundo Fonseca, ainda há muita resistência a uma nova cartografia entre os próprios geógrafos, o que tem atrasado o desenvolvimento teórico e prático da disciplina. "Além disso, os mapas geométricos estão tão consagrados que a criação de novos mapas concebidos em outras bases terá imensas dificuldades para ganhar espaço e visibilidade", prevê.

Eliana Pegorim
Revista Ciência Hoje

Anamorfose Geográfica


Anamorfose - Distribuição do número de habitantes entre os países

Anamorfose indicando o PIB dos países


Tipo de mapa temático em que as áreas dos países são mostradas proporcionais ao fenômeno representado. Os elementos representados não aparecem em escala cartográfica e não há fidelidade nas formas.

O que é a recessão? Como ela afeta a população em geral?

No Brasil, a queda no emprego e a
recessão ainda são considerados
brandos. Foto: Lia Lubambo

Paula Sato
"Recessão é quando a crise está chegando. É um momento em que alguns setores da economia vão bem, outros vão muito mal e, na média, o resultado é negativo. Em termos gerais, é uma piora no quadro de empregos", explica Manuel Enriquez Garcia, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração da USP. Ou seja, também pode ser um dos sinônimos para crise, mas está ligada mais estritamente a um fenômeno econômico. Para determinar quando um país está em recessão, os economistas convencionaram que ele deve passar por dois trimestres consecutivos de queda na produção. Essa piora pode ser medida em termos físicos - por exemplo quantos carros deixaram de ser produzidos - ou então em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que é a riqueza produzida pela nação. "Se o PIB diminui em um trimestre em relação ao anterior e continua baixando, diz-se que a economia está em recessão técnica. É mais fácil olhar para a produção porque o emprego demora a cair, mas cai. Em um primeiro momento, o empresário reduz as horas extras. Se a demanda diminui mais ainda, ele começa a cortar o quadro de funcionários", diz Enriquez. Por causa dessa relação com o emprego é que a recessão está diretamente ligada à população em geral.

Como funciona o pedido de concordata?
O economista também afirma que, quando uma recessão é branda, as pessoas ficam desempregadas, mas por pouco tempo. Se é longa, pode-se ficar sem trabalho por longos períodos. "É o que aconteceu na Espanha. Em dois meses, dois milhões de pessoas perderam seus empregos. E o pessoal continua na mesma situação. Isso é uma recessão forte", afirma Enriquez. Apesar de dados tão alarmantes, considera-se que a nação espanhola ainda está longe de se ver em uma depressão, que é caracterizada por um longo período de desemprego em massa, com baixíssimos níveis de produção e investimento. No Brasil, a recessão técnica anunciada no começo de junho ainda é branda e as previsões não são ruins. "Vamos ter um período de crescimento baixo nos próximos meses, mas ganharemos impulso na medida em que os Estados Unidos saírem da recessão - os índices dizem que a melhora deve acontecer no último trimestre. Vamos sair da crise mais cedo que os ricos", aposta Enriquez.
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Globalização

Foto: Gustavo Lourenção

Arthur Guimarães

O mundo está cada vez menor
Na Idade Média, cada exemplar de um livro era escrito manualmente, havia pouquíssimos volumes, lidos por um seleto grupo de pessoas. Com a invenção da prensa, no século XVI, o número de leitores cresceu, mas ainda de forma tímida. Hoje, com o advento da informática, textos, imagens e áudio estão disponíveis a um clique do mouse. Um e-mail atravessa oceanos em segundos. E a informação chega em tempo real. "O encurtamento de distâncias e a diminuição do tempo que levamos para executar determinadas tarefas são os principais motores da globalização, um movimento apoiado em ferramentas modernas, como a comunicação via satélite e a internet", explica Francisco Carlos Teixeira, professor de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Hoje podemos falar de uma cidadania global, uma nova sensação de entrar no mundo. E isso é bom e ruim."

Soluções e problemas
Do lado positivo, além da troca instantânea de conteúdos e bens, há várias outras ações, nos mais diversos campos do conhecimento. "Se institutos de pesquisa dos quatro cantos do mundo trocam informações sobre as pesquisas para a cura da Aids, o custo das experiências cai muito e a probabilidade de sucesso aumenta", exemplifica Teixeira. Ao mesmo tempo, o crescimento do sistema financeiro global - impulsionado pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicação - tem se mostrado perigoso. "As instituições que deveriam controlar o cumprimento das regras do comércio internacional, como a Organização Mundial do Comércio, ainda não têm poder para combater o `vale-tudo` do mercado." Os países quebram normas pré-definidas e os mais pobres acabam prejudicados.

O que é globalização?
A resposta para essa pergunta divide os especialistas. Para o professor Flávio Trovão, o movimento foi desencadeado no final da década de 1970, quando a então primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher e o então presidente americano Ronald Reagan puseram seus governos para combater a crise econômica nos dois países. Empresas passaram a se instalar em nações em desenvolvimento, atrás de mão-de-obra barata, carga tributária menor e novos mercados consumidores. Com isso, o dinheiro começou a circular pelo globo, atrás do melhor lugar para se multiplicar. "O capital transnacional nasceu assim, incentivando a modernização da tecnologia e a disseminação de produtos `made in USA`, explica Trovão.

Outra linha teórica defende que a globalização tem mais de 400 anos. Para o professor e consultor econômico Antônio Luiz da Costa, os acontecimentos iniciados na década de 1980 só aceleraram um processo que começou a ser formado no final do século XV, quando Cristóvão Colombo e Vasco da Gama conectaram as Américas e a Ásia ao mercado europeu. "Ainda não era a mesma globalização que vivemos hoje", diz. "O mundo das bolsas de valores, das sociedades anônimas e das transnacionais nasceu em 20 de março de 1602, com a fundação da Companhia Unida das Índias Orientais. Ao juntar 65 navios de mercadores holandeses, ela tinha participação pública e privada e um objetivo claro: conquistar territórios produtores de especiarias, a base do comércio mundial no século XVII, exatamente como fazem os globalizados do século XXI."
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Alerta e esperança: duas palavras para pensar os novos rumos do mundo

Alerta e esperança: duas palavras para pensar os novos rumos do mundo
"Teremos um documento ousado, com um alerta para os riscos à humanidade inteira? Ou esse risco será esquecido, falando apenas da economia verde?", questiona o senador Cristovam Buarque, sobre o possível resultado da Rio+20
Por: Graziela Wolfart
Na visão do senador Cristovam Buarque, presidente da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas, o que não pode deixar de ser tocado na Rio+20 “é justamente o que, lamentavelmente, deixará de ser tocado”. Ele explica, na entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, que a Conferência a ser realizada no próximo ano no Rio de Janeiro é importante para a ONU, mas não é prioridade “porque, com a crise atual, ela tem que se preocupar com o Irã – se vai fazer bomba atômica ou não –, tem que se preocupar com Israel e Palestina, tem que se preocupar com a Europa, em função da crise que está vivendo, além de se preocupar com os desastres naturais da seca e com a fome em tantos países. Assim, a ONU termina deixando de lado tudo o que tem a ver com o longo prazo. A Organização das Nações Unidas fica muito prisioneira no imediato, nos problemas de hoje e não tem tempo de pensar nos problemas do futuro”. Para o senador, “o melhor caminho para erradicar a pobreza chama-se educação e ela depende menos de crescimento econômico do que do bom uso do dinheiro que já temos. O Brasil já tem renda suficiente para poder ter uma boa educação para todos”.

Cristovam Buarque é engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político brasileiro, membro do PDT. Atualmente é senador pelo Distrito Federal. Foi Ministro da Educação entre 2003 e 2004, no primeiro mandato de Lula. Nas eleições de 2010, foi reeleito para o cargo de senador pelo Distrito Federal, com mandato até 2018. É autor, entre outros, de A Desordem do Progresso - o fim da era dos economistas e a construção do futuro (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991); O que é educacionismo (São Paulo: Brasiliense, 2008); e A Borboleta Azul (Rio de Janeiro: Editora Record, 2008).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que esperar da Rio+20? O senhor ainda acha que ela corre o risco de ser um fracasso?


Cristovam Buarque – Ela corre o risco de ser um fracasso, sim, por duas razões: caso não compareçam aqui os principais chefes de estado e de governo (é preciso fazer com que eles venham); e, segundo, se o documento que sair não for satisfatório – para isso não acontecer é preciso que ele traga esperança nova para o mundo inteiro. Mas eu ainda espero que isso seja superado, que se consiga que todos os chefes de estado venham e que, no final, chegue-se a um documento que passe para o mundo inteiro a clareza do risco que corremos e da esperança que podemos ter mudando o rumo seguido nos últimos anos. Da Rio+20, além disso, eu espero que a sociedade civil, os movimentos sociais, as ONGs e todos que vão participar do encontro paralelo, terminem os debates com um documento pronto. Não importa o que for feito pelos chefes de estado. Façamos o nosso documento. E espero que se crie lá o que eu tenho chamado de “tribunal” para julgar os crimes do desenvolvimento, para manifestar a posição de grandes personalidades mundiais sobre os projetos que a economia vem fazendo. Posso dizer de antemão que uma coisa já está praticamente certa: vai sair da reunião a criação de um instituto para pensar o futuro, que fará parte da Universidade das Nações Unidas, e que ficará no Rio de Janeiro. Isso já está decidido e o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante , está fazendo o possível para que vire realidade.

IHU On-Line – Quais as principais demandas e desafios da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20?


Cristovam Buarque – O maior desafio da subcomissão é elaborar linhas – já que a resposta concreta não vamos ter – que permitam o progresso sustentável, equilibrado, diferente daquele das últimas décadas, baseado apenas na produção material da economia, e que termina sendo um progresso que destrói a natureza, que concentra a renda, que se baseia no consumo e não no bem-estar. E essa é a grande demanda: mudar a mentalidade como olhamos e definimos o que é progresso.

IHU On-Line – Além da falta de representatividade, quais são os outros principais problemas da conferência?


Cristovam Buarque – Vejo um problema a mais, que é qual será a proposta que vai sair da reunião. Teremos um documento ousado, com um alerta para os riscos à humanidade inteira? Ou se vai esquecer-se desse risco, falando apenas da economia verde? O outro problema, como sugere a pergunta, é o da representatividade. Quanto à infraestrutura, acho que não vai haver riscos. O governo está trabalhando muito bem para criar todas as condições materiais, tanto de hospedagem como de transporte e segurança, para que o encontro aconteça com muita tranquilidade.

IHU On-Line – Por que o senhor pensa que a Rio+20 não é uma prioridade da ONU?

Cristovam Buarque – A Rio+20 é importante para a ONU, mas não é prioridade porque, com a crise atual, ela tem que se preocupar com o Irã – se vai fazer bomba atômica ou não –, tem que se preocupar com Israel e Palestina, tem que se preocupar com a Europa, em função da crise que está vivendo, além de se preocupar com os desastres naturais da seca e com a fome em tantos países. Assim, a ONU termina deixando de lado tudo o que tem a ver com o longo prazo. Ela fica muito prisioneira no imediato, nos problemas de hoje e não tem tempo de pensar nos problemas do futuro.

IHU On-Line – Quais as propostas que deveriam ser debatidas na Rio+20?


Cristovam Buarque – O que não pode deixar de ser tocado é justamente o que, lamentavelmente, deixará de ser tocado. O conceito de progresso é o primeiro ponto: qual é o progresso que queremos para o futuro? É o progresso de mais gente trabalhando ainda mais, se endividando para consumir mais, ou o progresso de mais gente incluída socialmente, destruindo menos a natureza? Nós podemos definir a maneira de progredir no sentido de que as pessoas tenham mais tempo livre, possam usufruir mais das atividades culturais e não só o consumo dos bens materiais.

IHU On-Line – Quais os caminhos para se eliminar a pobreza sem depender de crescimento econômico?


Cristovam Buarque – Em primeiro lugar, redefinir os conceitos. Se dissermos que progresso é crescimento, então, sem crescimento econômico não há progresso. Mas podemos definir que progresso é ter o que comer, ter escola, ter saúde e que o crescimento econômico é uma necessidade, mas não é o suficiente. O Brasil tem uma população muito pobre ainda, e é preciso produzir para eles. Isso dará um crescimento pela base. E há produtos de alta renda que não precisam continuar crescendo, até porque eles produzem a crise ecológica. É preciso produzir o que é necessário para as populações mais pobres. Para as classes mais altas, está na hora de começar a reduzir o nível de consumo daqui para a frente. O melhor caminho para erradicar a pobreza chama-se educação e ela depende menos de crescimento econômico do que do bom uso do dinheiro que já temos. O Brasil já tem renda suficiente para poder ter uma boa educação para todos.

IHU On-Line – Como o senhor vê a expressão “desenvolvimento sustentável”? É possível imaginar um desenvolvimento, no sentido do crescimento econômico, de forma ambientalmente sustentável?


Cristovam Buarque – O atual crescimento econômico é impossível de ser sustentável. Veja o caso do automóvel. Suponhamos que se consiga substituir totalmente o petróleo por etanol, que é sustentável. Mesmo assim, não dá para continuar aumentando o número de automóveis, porque eles não cabem mais nas estradas. É uma questão de aritmética. Cada automóvel tem um número de metros quadrados, que vão ocupando cada vez mais espaço.

IHU On-Line – Como a sociedade brasileira pode se preparar para a Rio+20, no sentido de contribuir para sucesso da Conferência?


Cristovam Buarque – Deve se preparar debatendo os temas no trabalho, nas escolas. Para isso criamos o Dia Nacional da Consciência das Mudanças Climáticas, sancionado na semana passada pelo deputado Marco Maia , quando estava substituindo a presidente Dilma e seu vice. Será no dia 16 de março do próximo ano, quando teremos um dia de debates sobre as mudanças climáticas. Outra forma é ajudando o governo a criar uma cidade capaz de receber bem todos que virão para o Rio de Janeiro em junho do próximo ano.

IHU On-Line – Como imagina que os temas propostos pelo senhor (água; energia; pobreza; padrão de consumo; novo indicador de progresso; biodiversidade; aquecimento global; padrão de produção e distribuição; economia verde; cidades; ciência e tecnologia; e decrescimento) serão discutidos na Rio+20?


Cristovam Buarque – Esses temas serão muito pouco discutidos entre os chefes de Estado. Mas creio que poderão ser bem discutidos na reunião paralela, da sociedade civil. O problema é que hoje não temos estadistas mundiais. Eles vêm para esses encontros como presidentes, cada um do seu país. Ninguém vem ali para falar dos interesses do planeta. Cada um falará dos interesses do seu respectivo país. O resultado é que não se tocarão nos problemas planetários, civilizatórios da humanidade. Ninguém vai se preocupar com os problemas de longo prazo, porque são candidatos e o candidato deve falar para atender às necessidades imediatas da população, já que a política se faz no curto prazo, mesmo que os problemas sejam de longo prazo.

IHU On-Line – Por isso que se fala tanto da questão da governança internacional...


Cristovam Buarque – Exatamente. Para um simples problema financeiro na Europa não foi encontrada a solução facilmente, pois se reúnem para pensar, cada um, nos votos que terão. Sarkozy está agindo pensando na eleição do próximo ano. O eleitor dele não quer que ele ajude a Grécia, mas que resolva o problema do desemprego no seu próprio país.

IHU On-Line – O que não poderia faltar na “Carta do Rio ao Mundo”, em conclusão à Rio+20?


Cristovam Buarque – Duas coisas: alerta e esperança. Não pode faltar no documento final uma palavra que faça o alerta de que o rumo que estamos seguindo não pode continuar; e a outra palavra é de que o próximo rumo exige um novo conceito de progresso no mundo.

IHU On-Line – E o que faria parte deste novo conceito de progresso?


Cristovam Buarque – Conseguir tempo livre, garantir educação e saúde de qualidade igual para todos. Além disso, é preciso trabalhar para que o país e o mundo não tenham pobreza.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Não existe uso seguro de agrotóxicos


Não existe uso seguro de agrotóxicos
Mais de 30 tipos de pesticidas proibidos na União Europeia continuam a ser usados no Brasil, como o endosulfan, clorado que se aloja na gordura e, por isso, pode ser encontrado inclusive no leite materno. Mesmo com o uso de EPIs, é impossível estar imune a esses produtos, acentua Wanderlei Pignati
Por: Graziela Wolfart e Márcia Junges
Intoxicações crônicas que, em longo prazo, resultam em câncer, descontrole da tireoide, do sistema neurológico em geral, surdez, diminuição da acuidade visual e até mesmo Mal de Parkinson são possíveis problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. De acordo com o médico sanitarista Wanderlei Pignati, quem trabalha com saúde pública não deixa de se perguntar onde foram parar os conteúdos dos temíveis frascos de agrotóxicos. Produtos banidos pela União Europeia continuam a ser usados no Brasil, país do mundo que mais emprega pesticidas em suas lavouras. Por que razão isso continua a ser permitido, questiona Pignati. Onde está o comprometimento com o ambiente, como um todo? A situação é tão grave que, além de serem encontradas nos alimentos, na água, no solo, no ar, essas substâncias foram detectadas, inclusive, no leite materno. Conforme Pignati, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line, “vários tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos deles, como os clorados, nunca mais saem dela. É o caso do endosulfan.
Quando a mulher produz o leite para amamentar seu filho, esse líquido terá agrotóxico em sua composição. Isso porque o leite é composto por 2 a 3% de gordura”. Como se isso não fosse assustador o bastante, o médico é categórico ao afirmar que é impossível um uso totalmente seguro dos agrotóxicos. Mesmo que sejam usados equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores que fazem as aplicações nas lavouras, “esses produtos penetram pela mucosa de pele, do olho, da orelha das pessoas, e inclusive pela respiração”.

Wanderlei Pignati é graduado pela Universidade de Brasília – UnB, especialista em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz com a tese Os riscos, agravos e vigilância em saúde no espaço de desenvolvimento do agronegócio no Mato Grosso. Estuda a contaminação das águas e as bacias, além de participar de uma pesquisa no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso do Sul, onde há cinco anos houve um grande acidente de contaminação por agrotóxicos por pulverização. Atualmente, leciona na UFMT.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Quais são as principais consequências do uso de agrotóxicos para as águas, no caso, os rios e suas nascentes, bacias e os lençóis d’água?

Wanderlei Pignati – A água é um dos componentes ambientais para onde os resíduos de agrotóxicos vão. Com o uso intensivo de agrotóxicos na agricultura brasileira isso vem se agravando. No ano passado, foram usados cerca de um bilhão de litros de agrotóxicos em nosso país, do tipo que se compra em agropecuárias. Não estou falando do agrotóxico diluído. Um litro de herbicida comprado nesses estabelecimentos é diluído em 100 litros de água para fazer a calda e pulverizar. Isso tem um destino, e parte vai para combater aquilo que se costuma chamar de “pragas da lavoura”. São insetos e ervas classificadas como daninhas, como os fungos. Uma parte vai para o solo, outra evapora e vai para o ar. Uma outra condensa e vai para a chuva, e outra ainda vai para o lençol freático. Essa ida dos agrotóxicos para o lençol freático é o que irá deixar resíduos na água potável ou na água dos rios, córregos e do Pantanal , inclusive. Isso terá impactos na saúde dos animais e dos seres humanos.

O grande problema, na verdade, não são as embalagens vazias de agrotóxicos. Claro que o ideal é que elas sejam recolhidas, pois em sua maioria são feitas de plástico. Mas quem se preocupa com a saúde pública e ambiente como um todo se pergunta onde foi parar o que estava dentro desses frascos. Esses produtos vão parar nesses componentes ambientais, inclusive nos alimentos. Resíduos de agrotóxicos podem ser encontrados não só na água, mas nos alimentos, na chuva, ar, solo. Quando falo de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, refiro-me inclusive ao leite materno.
Fizemos uma pesquisa e constatamos a presença de agrotóxicos no leite materno de mulheres matogrossenses. Na cidade de Lucas do Rio Verde, interior do Mato Grosso, é usada larga quantidade de agrotóxicos nas culturas da soja, milho e algodão. Isso se reflete nos alimentos produzidos e, inclusive, no leite materno. Vários tipos de agrotóxicos se depositam na gordura e muitos, como os clorados, nunca mais saem dela. É o caso do endosulfan . Quando a mulher produz o leite para amamentar seu filho, esse líquido terá agrotóxico em sua composição. Isso porque o leite é composto por 2 a 3% de gordura. Assim, inclusive a própria criança pode ser prejudicada. A análise de resíduos de agrotóxicos no leite materno é, portanto, muito importante. Foi o que fizemos, analisando dez tipos diferentes desses produtos. Todos eles estavam presentes no leite de 62 mulheres dessa cidade. Isso é muito problemático, pois o alimento que deveria ser o mais puro da nossa vida está também contaminado. Espero que sejam tomadas medidas para que isso não continue a ocorrer.


IHU On-Line – Quais as principais sequelas para a saúde humana provocadas pelos agrotóxicos?

Wanderlei Pignati – Essa discussão é bastante ampla. Primeiramente, falo sobre as intoxicações agudas por agrotóxicos, que têm aumentado muito no Brasil. Dessas intoxicações, salvamos 99% das pessoas intoxicadas. Exceções ocorrem em casos de que tenha sido ingerida uma quantidade muito grande de produtos tóxicos, como em caso de tentativas de suicídio ou envenenamento proposital de terceiros. Também há os casos extremos em que uma pessoa que aplicou ou preparou os agrotóxicos não fez o uso dos Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, intoxicando-se fatalmente.
Mas o grande problema são as intoxicações crônicas, cuja exposição ocorre a baixas doses durante meses e anos. Após um período mais longo de tempo, podem surgir problemas como câncer, descontrole da tireoide e do sistema neurológico, além de diabetes. Especula-se, ainda, que uma das causas do Mal de Parkinson esteja associada ao efeito cumulativo de agrotóxicos. Surdez, diminuição da acuidade visual e outros distúrbios neurológicos também são frequentes. Quando uma mulher está em seus primeiros três meses de gestação e entra em contato com agrotóxicos, pode ocorrer má formação fetal. Portanto, são várias as consequências para a saúde causadas por esses produtos, desde intoxicações agudas até aquelas de caráter crônico. Saliento que os problemas dependem igualmente do tipo de agrotóxico utilizado.


IHU On-Line – Qual é a especificidade do caso de Lucas do Rio Verde em relação ao uso de agrotóxicos?

Wanderlei Pignati – Não sei se o Mato Grosso é o estado mais crítico do Brasil em termos de uso de agrotóxicos. Dos quase um bilhão de litros desses produtos usados no ano passado no Brasil, o Mato Grosso é o maior consumidor porque é o maior produtor de soja, milho e gado. É preciso lembrar de que, inclusive nas pastagens para o gado, são usados agrotóxicos. Nesse estado se cultiva 50% do algodão brasileiro, produto que utiliza mais agrotóxicos por hectare. O uso intensivo, em média, no Brasil, é de dez litros de agrotóxicos por hectare de soja plantado. Isso abrange fungicidas, herbicidas, inseticidas e dissecante para secar a soja para a colheita. O milho usa em torno de 5 litros de agrotóxico por hectare, enquanto a cana usa em torno de quatro litros. Já o algodão emprega aproximadamente 20 litros dessa substância por hectare. Esse problema é grande no país inteiro, mas no Mato Grosso a dimensão é maior em função de este estado ter a maior produtividade nacional. Em segundo está São Paulo, seguido pelo Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Tocantins e Minas Gerais. Temos uma equipe com a qual fazemos diversas pesquisas, junto da Fiocruz do Rio de Janeiro e divulgamos esses dados.


IHU On-Line – Quais os riscos de contaminação por agrotóxicos na água que bebemos?

Wanderlei Pignati – Se você tem um grande consumo do princípio ativo glifosato na região, que é o agrotóxico mais consumido no Brasil, você irá encontrá-lo na água. Há os clorados, que são mais “persistentes” em se desfazerem, como o endosulfan, que ainda não foi banido. A previsão é que isso aconteça somente em julho de 2013. Há, ainda, a atrazina , um herbicida bastante persistente e liberado para uso nas lavouras. Ambos aparecerão na água. É preciso lembrar também dos fungicidas que, se forem usados para combater a ferrugem da soja, irão ser encontrados na água da forma mesma que os outros.
Há, contudo, uma legislação dos agrotóxicos que delimita máximo de contaminação permitida na água. Na verdade, isso nem deveria acontecer. É um absurdo! Como é que se pode permitir algum tipo de agrotóxico na água? Temos que fazer uma análise dos agrotóxicos mais consumidos na região para vermos qual é o tipo de contaminação que vamos supor. Tudo depende da solubilidade do agrotóxico, da sua persistência, se foi usado perto de rios ou córregos, se o lençol freático é profundo ou superficial. Na maioria das vezes há a contaminação desses componentes ambientais em suas mais variadas formas.
O mesmo pode-se dizer dos alimentos que irão conter esses produtos. Todos os tipos de agrotóxicos usados nos alimentos serão posteriormente encontrados neles. A isso chamamos de resíduos nos alimentos. Eles podem ser encontrados no tomate, pimentão, abobrinha, arroz, soja ou milho.


IHU On-Line – Como poderia se constituir um movimento social de vigilância sanitária e ambiental que envolvesse não só entidades do governo, mas a sociedade civil de forma organizada e participativa?

Wanderlei Pignati – A vigilância em torno dos agrotóxicos existe, de certa forma. Ela limita inclusive o registro, a venda e aplicação dos produtos. A lei regulamenta isso. A maioria dos estados tem suas leis próprias quanto a isso. Contudo, grande parte dessas legislações não são cumpridas. Então, a primeira questão é o cumprimento dessas leis, como no que diz respeito à pulverização perto de rios, córregos, e a pulverização aérea, que nós, médicos sanitaristas, lutamos para proibir. Mesmo assim, existe hoje uma legislação do Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA, a Instrução Normativa n. 2, de 2008, que permite pulverizar agrotóxicos de avião a, no mínimo, 500 metros de distância das nascentes de águas, onde moram populações e em que há criação de animais. Isso, na maioria das vezes, não é respeitado, como ocorre no Mato Grosso. As legislações estaduais quanto à pulverização terrestre constam que o limite é de, no mínimo, 250 metros afastados dessas nascentes, de criação de animais e moradia humana. Mesmo assim, não são respeitadas. Planta-se e pulveriza-se até encostado nas residências, sobretudo em comunidades rurais e nas pequenas cidades do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul e no Sul do Paraná. As pulverizações aéreas e terrestres são feitas sem nenhum respeito.

Em segundo lugar, há toda uma discussão a ser feita pela vigilância sanitária nacional e dos estados para tentar proibir os agrotóxicos que já são banidos na União Europeia. Por que estamos consumindo, ainda, o endosulfan, o metamidofós , o 2,4-D e paraquat ? Esses são os produtos mais consumidos no Mato Grosso.

São mais de 30 tipos de agrotóxicos bastante consumidos no Brasil que são proibidos na União Europeia. Alguns já têm legislação que irá proibi-los, como o endosulfan, que a partir de julho de 2013 será tirado do mercado. O metamidofós sai de circulação a partir de julho de 2012. Mas e os outros? A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa está fazendo a revisão de 14 tipos de agrotóxicos, mas não consegue avançar porque os produtores dessas substâncias entraram com uma ação na justiça. Um juiz federal concedeu liminar exigindo que a Anvisa suspendesse a revisão. Veja o absurdo. O processo iniciado em 2008 ficou mais de um ano parado e foi retomado somente agora. Com toda a dificuldade, a Anvisa vem insistindo no processo.

É preciso haver uma consciência dos grandes produtores de que se está proibido lá fora, aqui deve ocorrer o mesmo. Por que continuar a usar agrotóxicos dessa natureza? Por que é mais barato? Ou por que é mais eficiente? Mas qual é o custo em termos de saúde humana, animal e vegetal, do ambiente como um todo? Precisamos pensar na saúde da água, porque o nosso organismo é composto de 70% de água, e se aquela que consumimos estiver contaminada com agrotóxicos, isso irá prejudicar nosso corpo. Então, repito: é preciso respeitar a legislação e proibir no Brasil os agrotóxicos que já são proibidos lá fora. Também é preciso que a população se conscientize e não consuma produtos que têm agrotóxicos no seu desenvolvimento. Todos os anos o Ministério da Saúde coloca no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos e vê os resultados dos últimos anos. Desde o ano 2000, dos vinte tipos de alimentos analisados, a maioria contém agrotóxicos. Tem que haver uma divulgação mais ampla para a sociedade. A vigilância sanitária só irá funciona se a população se conscientizar e mobilizar para isso. Há uma campanha nacional contra o uso de agrotóxicos lançada no I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental, em Belém, em dezembro de 2010, com o apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. A iniciativa chama-se Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida . A primeira audiência pública aconteceu dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, no Congresso Nacional.


IHU On-Line – Podemos falar em “uso seguro dos agrotóxicos”?

Wanderlei Pignati – Não. Essa é outra discussão que precisa ser desmistificada. O uso totalmente seguro dos agrotóxicos é impossível. Os agrotóxicos penetram pela mucosa de pele, do olho, da orelha das pessoas, inclusive pela respiração. Se o trabalhador que aplicar esse produto estiver vestido como um astronauta (porque é assim que se parecem os EPIs criados para proteger os trabalhadores da contaminação por esses produtos), ele quase não será atingido ou contaminado. Isso porque a eficiência do filtro químico é de 80 a 90%, e com as moléculas dos novos agrotóxicos essa eficiência diminui mais ainda, pois há algumas delas que penetram no filtro de agrotóxicos da máscara e prejudicarão quem está realizando a aplicação. O efeito pode levar de cinco a dez anos para ser sentido. Pode não haver um impacto imediato. Mas e a segurança do ambiente, como fica? Será colocado EPI nos peixes, bois, cachorros e plantas que não se quer afetar? Não existe, portanto, uso seguro de agrotóxicos. O ambiente será poluído com substâncias cujo objetivo é matar as “pragas” da lavoura mas, com isso, cria-se todo um ônus ambiental.
http://www.ihuonline.unisinos.br

Cerrado: o grande potencial agrícola do Brasil?







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“Hoje, da porcentagem que naturalmente o Cerrado abrangia, percebemos que, pela ocupação humana, a natureza perdeu cerca de 40 a quase 50% de seu território”, constata José Felipe Ribeiro
Por: Thamiris Magalhães e Graziela Wolfart
“Existe um mito de que o Cerrado é seco. E não é verdade. O que acontece concretamente é que nós temos seis meses de época seca chuvosa. Durante esse período praticamente não cai qualquer chuva e a umidade relativa é extremamente baixa. Então, esse mito de que o Cerrado é seco acontece porque normalmente as pessoas que vêm para a região em junho acabam sofrendo com esta secura do ar. No entanto, na época chuvosa temos praticamente 1.500 mm (1,5 metros) o que é muito, só que é tudo em um período de seis meses (a época chuvosa). Depois, de maio a setembro, a chuva é praticamente zero no bioma”. A explicação é do biólogo José Felipe Ribeiro, em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line. De forma bem didática, ele descreve o bioma Cerrado em detalhes. E afirma: “por conta da distribuição de chuvas, boa pluviosidade, terrenos praticamente planos, favoráveis para a mecanização, o Cerrado tem contribuído hoje como o local onde praticamente boa parte da agricultura e pecuária nacionais está se desenvolvendo”.

José Felipe Ribeiro possui graduação em Biologia, pela Universidade Estadual de Campinas, mestrado em Ecologia, pela Universidade de Brasília, e doutorado em Ecologia, pela University of California – DAVIS. É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária atuando no momento na Embrapa Cerrados e é professor credenciado no programa de Botânica da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Biodiversidade, atuando principalmente nos seguintes temas: biodiversidade, fitossociologia, florística, propagação e recuperação de ambientes ripários e de Cerrado.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – No que consiste o bioma Cerrado? Quais áreas ele abrange?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado está localizado essencialmente no Planalto Central do Brasil e é o segundo maior bioma do país em área, apenas superado pela Floresta Amazônica. Trata-se de um complexo vegetacional que possui relações ecológicas e fisionômicas com outras savanas da América tropical e de outras regiões como África, sudeste da Ásia e Austrália. O Cerrado ocupa mais de 2.000.000 km², o que representa quase 25% do território brasileiro. Ocorre em altitudes que variam de cerca de 300 metros, a exemplo da Baixada Cuiabana (MT), a mais de 1.600 metros, na Chapada dos Veadeiros (GO). No bioma, predominam os Latossolos , tanto em áreas sedimentares como em terrenos cristalinos, ocorrendo ainda solos concrecionários em grandes extensões.
O Cerrado abrange como área contínua os estados de Goiás, Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, ocorrendo também em áreas disjuntas ao norte nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul, em pequenas “ilhas” no Paraná. No território brasileiro, portanto, as disjunções acontecem na Floresta Amazônica, região em que a vegetação tem sido tratada por outros termos ou expressões, como “savanas amazônicas”; na Floresta Atlântica, especialmente na região sudeste, nos estados de São Paulo e Minas Gerais; na Caatinga, como manchas isoladas no Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia; e também no Pantanal, onde se mescla fisionomicamente com esse bioma. Fora do Brasil ocupa áreas na Bolívia e no Paraguai, enquanto paisagens semelhantes são encontradas no norte da América do Sul, como na Venezuela e na Guiana. Com o desenvolvimento da ocupação humana, ele vem sendo ocupado pela agricultura e pelas populações urbanas.

Cerrado além das savanas

É bom deixar claro que o Cerrado é muito mais que savanas, com árvores tortas, como as pessoas normalmente enxergam. Existe uma série de florestas secas no bioma, que possui uma vegetação que não fica na área do rio e sim entre os rios. Depois disso, tem o outro extremo, que são os campos, áreas com solo raso ou as várzeas que acontecem na forma de vegetação campestre. Então, a paisagem do Cerrado tem floresta, savana e os campos. Hoje, da porcentagem que naturalmente o Cerrado abrangia, percebemos que, pela ocupação humana, a natureza perdeu cerca de 40 a quase 50% de seu território.

IHU On-Line – Como pode ser caracterizado o clima no bioma?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado caracteriza-se pela presença de invernos secos e verões chuvosos, um clima classificado tecnicamente como Aw de Köppen (tropical chuvoso). Possui média anual de precipitação da ordem de 1.500 mm, variando de 750 quando mais próximo da Caatinga a 2.000 mm, nas cercanias do bioma Amazônico. As chuvas são praticamente concentradas de outubro a março (estação chuvosa), e a temperatura média do mês mais frio é superior a 18°C. O contraste entre as superfícies mais baixas (inferiores a 300 metros), as longas chapadas entre 900 e 1.600 metros e a extensa distribuição em latitude, conferem ao Cerrado uma diversificação térmica bastante grande. Por outro lado, o mecanismo atmosférico geral determina uma marcha estacional de precipitação semelhante em toda a região, criando nela uma tendência de uniformidade pluviométrica: há uma estação seca e outra chuvosa bem definidas.

Mito

Existe um mito de que o Cerrado é seco. E não é verdade. O que acontece concretamente é que nós temos seis meses de época seca chuvosa. Durante esse período praticamente não cai qualquer chuva e a umidade relativa é extremamente baixa. Então, esse mito de que o Cerrado é seco acontece porque normalmente as pessoas que vêm para a região em junho acabam sofrendo com esta secura do ar, apresentando até sangramentos nasais, por exemplo. No entanto, na época chuvosa temos praticamente 1.500 mm (1,5 metros) o que é muito, só que é tudo em um período de seis meses (a época chuvosa). Depois, de maio a setembro, a chuva é praticamente zero no bioma.

IHU On-Line – Que contribuições o Cerrado oferece para a agropecuária?


José Felipe Ribeiro – Várias. Por conta da distribuição de chuvas, boa pluviosidade, terrenos praticamente planos, favoráveis para a mecanização, o Cerrado tem contribuído hoje como o local onde praticamente boa parte da agricultura e pecuária nacionais está se desenvolvendo. Destacam-se os grãos e, devido a eles, o Cerrado é frequentemente chamado de “celeiro do mundo” por algumas empresas. Mas isso, claro, tem um preço. Quando falamos em ambiente natural, temos uma troca, em que onde se planta não se pode manter vegetação nativa. Esse comportamento de ocupação humana tem causado o desaparecimento de enormes faixas do Cerrado, em função das atividades agrícolas e pecuárias. O grande desafio que temos na agricultura e na urbanização desse ambiente é entender até que ponto se pode plantar e conservar ao mesmo tempo, mas não no mesmo lugar.

IHU On-Line – O desenvolvimento econômico está mudando o bioma?


José Felipe Ribeiro – O fato de o Cerrado ter a percepção de ser o grande potencial agrícola do Brasil está mudando a paisagem. O desenvolvimento econômico tem uma matriz baseada principalmente no recurso financeiro, mas temos que perceber como a ciência pode ajudar na economia verde, onde se deve entender como se agrupa e se associa o desenvolvimento econômico com o social e ambiental. Nesse aspecto, o Brasil pode ocupar posição de destaque, por ainda ter muita área preservada. A partir dos recursos naturais disponíveis, temos que traçar estratégias de como ocupar a terra da melhor maneira possível. Existe um ganho econômico e, ao mesmo tempo em áreas próximas, podem ser conservados vários recursos naturais imprescindíveis ao desenvolvimento econômico, como a água. Se não se conservam a água e o solo por um mau manejo do uso da terra, perdendo-os por erosão, por exemplo, tem-se o desenvolvimento econômico do Cerrado comprometido.

IHU On-Line – Podemos dizer que todo o Cerrado está modificado pela degradação ambiental ou ainda há alguma parte intacta?


José Felipe Ribeiro – Temos praticamente em torno de 50 a 55% do Cerrado ainda remanescente. Esse número era de 60% até 2002, mas, a partir daí, a ocupação aumentou bastante. Esses são dados do Ministério do Meio Ambiente, de um trabalho em conjunto com a Embrapa. Estão desaparecendo alguns tipos de paisagens que competem com a agricultura. O pior é que muitas vezes o que fica remanescente é aquela vegetação que naturalmente acontece em solos mais rasos em que a agricultura não é possível de ser feita por máquina, e ai não estaríamos conservando o que é típico do bioma. Essa é uma situação concreta, na qual a biodiversidade representativa de algumas paisagens do Cerrado está sendo perdida.

IHU On-Line – Que tipos de biodiversidades o bioma oferece?


José Felipe Ribeiro – Podemos falar em dois tipos de biodiversidade: a que agrega as matas ciliares, de galeria, secas, o cerradão, savana, o cerrado típico, as veredas e até os campos, que é a biodiversidade de paisagem, e que associa a diversidade vegetal e animal. Depois, temos as espécies: são mais de 12 mil espécies de plantas nesses ambientes, onde algumas delas ainda estão se desenvolvendo em lugares em que a agricultura está acontecendo. Só no Cerrado o Brasil contribui para a biodiversidade mundial com 12 mil espécies vegetais. Isso é um número incrivelmente amplo. O nosso país é uma nação de megabiodiversidade por causa dessas espécies que têm na Amazônia, na Mata Atlântica e no Cerrado.

IHU On-Line – De que maneira o Cerrado contribui com a diversidade vegetal?


José Felipe Ribeiro – Se formos observar, em termos de América do Sul, geograficamente o Cerrado é uma ligação entre a Amazônia e a Mata Atlântica e entre a Caatinga e o Pantanal. Assim, ele apresenta uma distribuição de espécies que ajudam no fluxo gênico de sementes entre todos os grandes biomas nacionais. Por isso ele é muito importante para essa diversidade natural de todos os biomas presentes em nosso país.

IHU On-Line – Como pode ser definida a atual situação dos recursos hídricos no bioma?


José Felipe Ribeiro – O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em extensão, com cerca de 204 milhões de hectares (Embrapa Cerrados, 2004). Sua maior parte está localizada no Planalto Central que, conforme sua denominação, compreende regiões de elevadas altitudes, na porção central do país. Assim, o espaço geográfico ocupado pelo bioma desempenha papel fundamental no processo de captação e de distribuição dos recursos hídricos pelo país, sendo o local de origem das grandes bacias hidrográficas brasileiras e do continente sul-americano.

Agricultura

Além da importância em termos hidrológicos, esse ecossistema possui enorme destaque nos cenários agrícolas nacional e mundial. Com pouco mais de 30 anos de ocupação agrícola, o Cerrado já conta com 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas; 13,5 milhões de hectares de culturas anuais e 2 milhões de hectares de culturas perenes e florestais. Apenas para citar algumas evidências da sua importância agrícola e econômica, na safra brasileira de 2002/2003, os percentuais da produção nacional, gerados em áreas de Cerrado, referentes às culturas de soja, algodão, milho, arroz e feijão foram de 58%, 76%, 27%, 18% e 17%, respectivamente. A região ainda responde por 41% dos 163 milhões de bovinos do rebanho brasileiro, sendo responsável por 55% da produção nacional de carne. A expansão agrícola do Cerrado continua. Culturas como a do girassol, a da cevada, a do trigo, a da seringueira e a dos hortifrutigranjeiros, bem como a prática da avicultura, desenvolvem-se rapidamente na região.

Agronegócio

Muito se tem falado sobre a importância do Cerrado para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sobre a sua condição de maior fronteira agrícola mundial. Entretanto, são poucas as oportunidades em que são considerados os aspectos ambientais e os impactos que esse desenvolvimento pode vir a gerar. Os benefícios advindos da ocupação agrícola do Cerrado são evidentes e incontestáveis, mas para que ele aconteça sob bases sustentáveis, gerando o máximo de benefícios com o mínimo de impactos, há informações que são fundamentais, porém, pouco conhecidas.

Sustentabilidade

Na verdade, nós cientistas agrícolas e ambientais devemos nos preocupar em entender qual o papel que o Cerrado pode ter em termos de Brasil e de mundo. Creio que não existem mais dúvidas de que esse bioma tem, hoje, um papel fundamental para a economia do país, principalmente pela produção de grãos e outras commodities. No entanto, devemos entender como melhorar a agricultura que podemos realizar nessa região. Temos que ter clara a ideia de que as commoditties agrícolas irão ser bem sucedidas se nós pudermos manejá-las compatibilizando com a conservação de algumas áreas dentro desse bioma. Essa atitude de conservação irá proporcionar uma agrobiodiversidade não só de espécies vegetais, mas também da fauna, e que inclui nós, da espécie humana. Na verdade, estamos falando ainda da conservação do solo e da água. Dependemos, como espécie, dessa água e desse solo para a agricultura, como qualquer outra espécie da natureza também depende. O ser humano deveria entender melhor essas regras do jogo infinito da natureza. Se nós não compatibilizarmos essas forças, iremos acabar perdendo esse jogo.



Rio+20: centrada no equilíbrio entre a sustentabilidade e a equidade

Rio+20: centrada no equilíbrio entre a sustentabilidade e a equidade
Enquanto a Rio-92 tratou de levantar objetivos e metas em relação ao planeta, a Rio+20 terá como missão pensar uma forma de implementá-los, compara Ladislau Dowbor
Por: Graziela Wolfart
Para o economista Ladislau Dowbor, um ponto central da Rio+20 é “entender a articulação positiva que tem a busca de se reduzir as duas principais ameaças que temos pela frente: uma é ambiental e a outra é da desigualdade, que estão literalmente destruindo o planeta. Esses são os dois eixos de mudança”. Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, Dowbor defende que “para materializar na Rio+20 propostas concretas e factíveis, precisamos gerar compromissos concretos de cada país, criar planos de desenvolvimento sustentável que tracem metas e objetivos tal como se fez com as metas do milênio, para que cada país calcule no sentido de ver se estão sendo alcançadas ou não”.

Ladislau Dowbor é graduado em Economia Política pela Université de Lausanne (Suíça), com especialização em Planificação Nacional pela Escola Superior de Estatística e Planejamento, onde fez o mestrado em Economia Social e doutorado em Ciências Econômicas. Atualmente é professor na PUC-SP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que relação pode ser estabelecida entre o PIB e o nível de satisfação das pessoas?

Ladislau Dowbor – Primeiro, devemos colocar “na mesa” o nosso objetivo geral: queremos viver melhor, ter mais qualidade de vida e de maneira sustentável, portanto, sem prejudicar as gerações futuras, mas também numa base de equidade, ou seja, que todos tenham direito a seu pão cotidiano, sempre de forma democrática, com liberdade de opções. Isso tem sido traduzido nos quatro pilares do processo, que são: um desenvolvimento que seja economicamente viável; socialmente justo; ambientalmente sustentável; e politicamente livre e participativo. Desses quatro pilares, o PIB mede apenas um, que é a questão econômica. Não estamos medindo, com o PIB, que tipo de impacto ambiental é provocado pela sociedade do petróleo, nem o grau democrático dos processos econômicos, coisa que está cada vez mais visível com as últimas pesquisas, que mostram o poder avassalador das grandes corporações transnacionais. O PIB não mede como se chega a resultados econômicos, em termos de possível truculência. Vejam o comportamento das grandes empresas farmacêuticas, ou das fábricas de agrotóxicos, por exemplo. O PIB não mede as dimensões social, ambiental e democrática dessa dinâmica.


IHU On-Line – Como esse debate deve aparecer na Rio+20?

Ladislau Dowbor – Essas diversas dimensões serão colocadas na Rio+20. O Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2011, que saiu recentemente, coloca com toda a clareza que a Rio+20 está centrada no equilíbrio entre a sustentabilidade e a equidade. As metodologias já estão praticamente disponíveis, por exemplo, a do cálculo de pegada ecológica ; as metodologias de segmento das mudanças climáticas e da medição dos casos de efeito estufa, por tipo de atividade, por país, etc.; a metodologia de segmento da concentração de renda, na linha do cálculo do coeficiente Gini . Mas também estão chegando as metodologias do cálculo da concentração de riqueza acumulada. Porque há uma grande diferença entre renda e riqueza. A riqueza está incomparavelmente mais concentrada do que a renda. Pela primeira vez, temos uma análise do poder corporativo planetário . Isso é importante para a dimensão da democratização dos processos econômicos. Temos um conjunto de metodologias que foram desenvolvidas para o segmento das Oito Metas do Milênio , que serve para medir o desenvolvimento, que se tornou complexo demais. Cada vez mais se trata de qualidade e menos de quantidade. A mudança nas medidas casa com a adequação do conjunto dos processos produtivos, não só produção fabril e agrícola, mas também educação, saúde e outros setores em função desses quatro pilares centrados na qualidade de vida das pessoas.


IHU On-Line – Quais os caminhos inovadores e desafiadores que a conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro precisa trilhar?

Ladislau Dowbor – Um ponto central é entender a articulação positiva que tem a busca de se reduzir as duas principais ameaças que temos pela frente: uma é ambiental e a outra é da desigualdade, que estão literalmente destruindo o planeta. Esses são os dois eixos de mudança. A articulação das medidas é que está se tornando interessante em função do seguinte mecanismo: distribuindo a renda, gera-se uma dinâmica de consumo na base da sociedade. Trata-se de um consumo necessário, pois são pessoas privadas do essencial. Isso tem um impacto social evidente, além do impacto econômico, pois gera tanto mercado interno como a multiplicação de empreendedorismo individual, de pequenas atividades locais. Ao dinamizar a economia, por redistribuir a renda e estimular a demanda, reduzem-se os impactos da crise financeira internacional. Esse processo envolve também os investimentos na área social: educação, saúde, cultura. É um tipo de consumo que melhora a qualidade de vida, torna as pessoas mais produtivas e não gera impactos ambientais negativos. Além disso, há outro impacto, cada vez mais aparente, que envolve a mudança tecnológica. Quando se passa de transporte individual, por meio de carro, para o transporte coletivo, por meio do metrô, à base de energia elétrica, reduzindo muito os impactos ambientais, gera-se um salto em termos de outra forma de utilizar a tecnologia. Isso estimula o desenvolvimento de novas tecnologias, o que nos obriga a dar uma guinada nas políticas tecnológicas. O problema das grandes cidades, como São Paulo, por exemplo, não é a falta de recurso, de dinheiro, mas é a falta de um processo decisório inteligente. O que diferencia a Eco-92 – o que apontamos como os grandes desafios climáticos do planeta (água, florestas, etc.) – em relação à Rio+20 é que esta vai estar mais centrada nas formas de governança. Nós temos problemas planetários, mas não temos instrumentos de governança que sejam planetários. Cada vez que aparece um problema juntamos um G-7, um G-8, um G-20 e daqui a pouco vamos inventar um G-194 para todos os países. Para materializar na Rio+20 propostas concretas e factíveis, precisamos gerar compromissos concretos de cada país, criar planos de desenvolvimento sustentável, que tracem metas e objetivos tal como se fez com as metas do milênio, para que cada país calcule no sentido de ver se estão sendo alcançadas ou não.


IHU On-Line – Que balanço o senhor faz do que foi feito durante duas décadas com a Convenção do Clima e a Convenção da Biodiversidade estabelecidas na Eco-92?

Ladislau Dowbor – A Eco-92, através da Agenda 21 , colocou em cena os objetivos gerais do planeta. Ela foi extremamente importante, essencialmente como um espaço de repercussão da problemática ambiental. Antes disso, as pessoas que falavam em meio ambiente eram categorizadas como “ecochatos”, como “ecofrescos”, e não se entendia o tamanho do drama que estamos enfrentando. Depois da Rio-92 as pessoas pararam de ver isso como algo ridículo. O meio ambiente ocupou seu espaço na consciência das pessoas. No entanto, não se geraram os mecanismos efetivos de implementação, porque se tentou fazer metas planetárias quando não há um governo planetário e o sistema multilateral existente (ONU, Banco Mundial...) não tem essa capacidade de pressionar pela implementação. Então, apesar de alguns avanços do IPCC e dos acordos de Kyoto, temos uma estagnação. Por isso afirmo que, enquanto a Rio-92 colocou os grandes objetivos, a Rio+20 será essencialmente a discussão de como eles serão implementados.


IHU On-Line – Em que sentido a Rio+20 pode ser um marco na economia verde que o mundo começa a perseguir? E como o Brasil pode se inserir na ideia de economia verde?

Ladislau Dowbor – Primeiro, o conceito de economia verde é escorregadio, porque puxa muito para o ambiental e insuficientemente para a dimensão social, de reorganização econômica. Há certa tensão, nesse sentido, e a visão progressista nesse processo está buscando que se defina claramente o equilíbrio entre o que é a problemática ambiental e o que é a problemática social, em particular a questão da desigualdade. Esse reequilibrar da dimensão social com a dimensão ambiental é muito forte, e nessa conferência vai estar muito mais presente. O verde sozinho é, francamente, insuficiente.

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