Márcia Bizzotto
Acordo de Moldávia, Geórgia e Ucrânia com União Europeia irritou Rússia
A União Europeia (UE) assinou nesta sexta-feira acordos de associação e livre comércio com a Ucrânia, Moldávia e Geórgia, provocando uma reação imediata da Rússia, que alertou, em tom de ameaça, as ex-repúblicas soviéticas sobre a tentativa de aproximação com o Ocidente.
O presidente da Ucrânia, por outro lado, classificou o pacto como histórico e "o dia mais importante" desde a independência do país, em 1991.
Já o governo russo afirmou que o acordo teria "traria sérias consequências" para as economias das três ex-repúblicas soviéticas.
A aproximação da Ucrânia com o Ocidente foi um dos estopins para a atual crise que assola o país.
De acordo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, forçar a Ucrânia a escolher entre a Rússia e a União Europeia dividiria o país ao meio.
Na avaliação de analistas ouvidos pela BBC Brasil, a iniciativa das três ex-repúblicas soviéticas poderá agravar a crise que já enfrentam com a Rússia.
"A Rússia vê a assinatura dos pactos como uma intrusão massiva no que considera sua esfera especial de influência e está determinada a fazer o que for necessário para destruir o processo com a UE. Comércio, energia e mercado laboral são algumas das cartas que usará", afirmou Amanda Paul, dothink tank Centro de Política Europeia (EPC, do inglês).
Antes mesmo da conclusão dos acordos, Moscou advertiu às ex-repúblicas soviéticas de que uma associação com a UE teria "sérias consequências" para suas economias.
"Não há dúvida de que é um direito soberano de cada Estado. Mas eles têm que entender que isso terá sérias consequências sobre as relações com seus outros sócios, entre eles Rússia, com a que tanto Moldávia como Ucrânia têm acordos comerciais", disse o vice-chanceler russo, Grigori Karasin.
Mais impostos e menos vistos
Em represália, Moscou poderia impor novas tarifas para as importações de produtos dos três países e revogar os vistos de milhares de seus cidadãos que trabalham na Rússia, explicou à BBC Brasil Paul Quinn-Judge, diretor para Europa e Ásia Central do International Crisis Group, organização independente dedicada à análise de conflitos globais.
"Teremos que ver se (o presidente russo, Vladimir) Putin realmente tomará medidas desse tipo ou se ficará só nas ameaças. A resposta deve aparecer nas próximas duas semanas", disse.
O analista não quis especular entre as duas opções por considerar que, quando de trata de Rússia, "o imprevisível pode acontecer".
"Esses acordos são um teste interessante para o humor de Moscou, que tem dado sinais de que está se acalmando e buscando um diálogo com o Ocidente", destacou.
Prejuízo
Para neutralizar o risco que a imposição de barreiras comerciais russas representaria para a economia ucraniana, Amanda Paul, do EPC, defende que a UE deve assegurar ao país "o maior acesso possível a seu mercado" de 500 milhões de consumidores.
Também deveria oferecer tanto à Ucrânia como à Geórgia e à Moldávia, "uma perspectiva de integração", claramente descartada nos três acordos.
Ainda assim, acredita que a sociedade ucraniana "está disposta" a enfrentar eventuais prejuízos econômicos.
"A Ucrânia tem uma luta difícil em suas mãos, mas os ucranianos são lutadores e sobreviventes. Deram suas vidas para mudar de futuro e continuarão a lutar por isso, apesar da contínua intransigência russa", afirma Paul.
O acordo entre Ucrânia e UE foi negociado durante sete anos e finalizado pelo presidente deposto Viktor Yanukovich.
Em novembro, sucumbindo à pressão de Moscou, ele desistiu de ratificar o documento, desencadeando os violentos protestos que levaram à sua queda, em fevereiro.
Benefícios
Os três acordos contemplam a abertura gradual dos mercados, a harmonização de normas e padrões e uma ampla cooperação bilateral para a realização de reformas estruturais nas ex-repúblicas soviéticas, com ênfase para a luta contra a corrupção e a independência do setor judiciário.
A UE afirma que o pacto contribuirá para aumentar em 1,2 bilhão de euros (R$ 3,6 bilhões) anuais os ingressos da Ucrânia, cujas exportações para os países europeus cresceriam em 1 bilhão de euros (R$ 3 bilhões), beneficiando principalmente os setores têxtil, alimentar, de óleos vegetais e de minerais (excluído o ferro).
O acordo com a Geórgia dará ao país um crescimento de 292 milhões de euros (R$ 877 milhões) anuais e o com a Moldávia melhorará em 5,4% o produto interno bruto (PIB) "caso se completem as reformas" exigidas.
Durante as assinaturas, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, assegurou a Moscou que "não há nada nos acordos, nem na postura da UE, que possa prejudicar a Rússia de alguma maneira".
Também o presidente da Comissão Europeia (o braço Executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, afirmou que o bloco "não está buscando uma relação exclusiva" com Ucrânia, Moldávia e Geórgia e que o objetivo dos acordos "não é competir ou interferir em suas relações com qualquer outro vizinho".
No entanto, tanto o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, como o georgiano, Irakli Garibashvili, declararam em Bruxelas que a iniciativa faz parte de um plano de europeização de seus países, que esperam fazer parte da UE no futuro.
BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário