quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Risco de seca ameaça planícies americanas

A única fonte de água das planícies altas pode esgotar se não houver mudança nas práticas agrícolas

Steve Scott/Shutterstock
Se não houver mudança nas tendências atuais de irrigação nas planícies altas dos Estados Unidos, cerca de 70% da água disponível poderá estar esgotado nos próximos 50 anos.

Por Erin Brodwin

Os fazendeiros do centro-oeste têm dependido do sistema aquífero das planícies altas (High Plains Aquifer System) desde que descobriram a solução para seus severos problemas de seca há quase seis décadas.

O gigantesco reservatório de água subterrânea transformou uma vasta faixa das Grandes Planícies da Dakota do Norte ao Texas em terras cultiváveis.

Nos últimos anos, porém, a exploração do aquífero disparou, levando os cientistas a prever que, salvo se houver uma mudança nas tendências atuais de irrigação, cerca de 70% do recurso hídrico poderá estar esgotado nos próximos 50 anos.

Os cientistas que estudaram o declínio das águas subterrâneas publicaram suas conclusões em 26 de agosto na edição on-line da Proceedings of the National Academy of Sciences. Eles constataram que os agricultores haviam gastado perto de 3% da capacidade do aquífero até 1960 e mais 30% até 2010. No atual ritmo de utilização, estimam eles, outros 39% da água desaparecerão até 2060.

Uma vez esgotado, o aquífero pode levar de500 a 1.300 anos para se reabastecer.

O aprimoramento das tecnologias de irrigação nas próximas duas décadas poderá permitir que os agricultores produzam mais com menos, possivelmente levando a uma redução da exploração das águas subterrâneas. No entanto, o número de lavouras de milho e pastos, que atualmente são responsáveis pelo maior consumo de água nos Estados Unidos, também deverá se multiplicar além de 2040.

Se os fazendeiros concordassem em usar menos água agora eles poderiam garantir o abastecimento futuro, diz o principal autor do estudo David Steward, um professor de engenharia civil na Kansas State University. Isso exigiria um esforço conjunto.

Os pesquisadores calcularam que os agricultores teriam que reduzir o bombeamento do aquífero em cerca de 80% para extrair água a um ritmo que permita o reabastecimento naturalmente pela chuva.

Usando dados coletados pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos, Steward e seus colegas mediram a variação do nível de água em todos os 3.025 poços do aquífero no início e no final dos quinquênios entre 1960 e 2010.

Em seguida, eles se basearam nesses padrões para prever o gasto futuro para os períodos de cinco anos entre 2060 e 2110 e compararam esses resultados com os dados da produção de milho e gado compilados anualmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Os pesquisadores descobriram que, embora os fazendeiros estejam utilizando a água de forma mais eficiente, eles também estão destinando cada vez mais terras para essas duas atividades.

Como o milho é uma cultura que envolve um consumo altíssimo de água e o gado se alimenta intensivamente de milho, aumentar as duas produções nessa região constitui um sério risco de esgotamento para o aquífero.

Os americanos e os europeus só começaram a praticar a agricultura nas Grandes Planícies nos anos de 1890, quando o encarecimento das terras associado aos temores de escassez de alimentos e incentivos atraentes do governo, os levou a se instalarem no árido “Grande Deserto Americano”, como era conhecido então. (Hoje a região é denominada High Plains, ou planícies altas.)

Embora soubessem que havia água subterrânea bem embaixo de seus pés, eles não tinham a tecnologia para bombear quantidades significativas para a superfície. Em vez disso, aqueles primeiros agricultores praticavam a aração profunda, que permitia que as raízes dos cereais acessassem a umidade no solo possibilitando o cultivo de plantas capazes de sobreviver às condições áridas.

Mas como a técnica removeu a cobertura de gramíneas nativas que dava sustentação ao solo, a terra ficou vulnerável aos ventos muito fortes da região. Na década de 1930 uma estiagem prolongada levou à formação de enormes tempestades de areia que deixaram as planícies estéreis.

No final dos anos 1950, com o advento do bombeamento de águas subterrâneas e da irrigação por aspersão, os fazendeiros retornaram àquelas terras para cultivar milho e trigo usando o suprimento aparentemente inesgotável do aquífero.

Hoje, sessenta anos depois, essa riqueza está em perigo, diz o professor de ciências agrárias e do solo Harold Mathijs van Es da Cornell University, que não esteve envolvido no estudo. “Precisamos refletir sobre o que está sendo cultivado ali e como está sendo cultivado. Estamo falando do dust bowl” (nome dado à região depois do longo período de tempestades de areia que viveu durante a década de 300, observa ele.

O problema do sobreuso de água não é exclusivo da região das High Plains.

No Vale Central da Califórnia, onde os fazendeiros usam a água que flui da Bacia do Rio Colorado para a irrigação, eles estão aprendendo a produzir mais com menos, porque a água salina da costa oeste começou a infiltrar nas águas subterrâneas em consequência da extração excessiva.

Se os agricultores que utilizam métodos de irrigação eficientes pudessem ser incentivados a plantar culturas menos exigentes em água, a situação poderia ser salva, afirma Samuel Sandoval Solis, professor assistente e especialista em recursos ambientais e hídricos, da University of California em Davis. “A comunidade agrícola está se adaptando”, observa Solis, que também não esteve ligado ao estudo. “De modo geral eles estão mais informados sobre o meio ambiente e isso é bom. As pessoas estão começando a pensar no futuro e a agir de modo proativo”.

Em vez de sugerir que os agricultores se abstenham completamente de acessar o aquífero das High Plains, Steward espera que o estudo incentive as pessoas a encontrar formas mais adequadas de utilizar esse recurso limitado. “Realizamos esse estudo para ajudar as pessoas a planejar o futuro”, declara. “Nós o escrevemos para o agricultor familiar que quer repassar a sua fazenda para as gerações futuras”.
Scientific American Brasil

Nenhum comentário:

Geografia e a Arte

Geografia e a Arte
Currais Novos