Devido à grande diversidade étnica, a África do Sul é conhecida como a nação arcoíris. Sua população é formada por aproximadamente 12% de brancos (descendentes de holandesese ingleses); 8,5% de mestiços; 2,5% de asiáticos (chineses, indianos); e majoritariamente por negros (Zulu, Sotho, Tswana, Xhosa, Tsonga, Swazi, Venda, Ndebele), que correspondem a 77% dos 44,2 milhões de habitantes.
A História da construção do espaço geográfico sul-africano estevemarcada pela política de segregação racial denominada apartheid. Instituído oficialmente em 1948 pela minoria branca, esse conjunto de leis visava controlar a maioria negra e favorecer o modelo econômico baseado na exploração dessa mão-de-obra.
Embora o apartheid tenha sido extinto em 1992, a paisagem da África do Sul está repleta de elementos que perpetuam sua lembrança. Homenagens aos homens brancos ainda são vistas em todos os cantos do país. Por exemplo, a capital administrativa, Pretória, recebeu o nome em homenagem a Andries Pretorius, líder dos bôeres, os sul-africanos de origem holandesa. Johannesburgo, por sua vez, é um tributo a dois agrimensores que trabalhavam para o Governo sul-africano: Johannes Meyer e Johannes Rissik. Já a cidade de Durban recebeu o nome de um governador britânico, Sir Benjamin d´Urban.
Hoje há um forte movimento para alterar a toponímia sul-africana. A iniciativa pretende substituir o tributo geográfico a um passado racista pela adoção ou recuperação de nomes, personagens ou elementos da cultura africana representativos da herança e da História da população nativa.
Um corpo consultivo criado pelo Parlamento elaborou um projeto que permitirá às áreas metropolitanas alterar seus nomes. Assim, Pretória poderá ser renomeada Tshwane, e a metropolitana Johannesburgo poderá ficar conhecida como Egoli, palavra Zulu para designar “cidade do ouro”. Alguns sul-africanos, porém, argumentam que os recursos gastos com essa medida poderiam ser destinados a obras mais importantes. A proposta também enfurece muitos brancos conservadores.
Economia diversificada
A economia da África do Sul é a maior e mais avançada do continente africano. Rico em recursos minerais, o país é o maior produtor e exportador de ouro e platina – minério que desde 2000 tem sido a maior fonte de riqueza para o país. Quantidades significativas de carvão, diamante, bauxita entre outros minérios também são exportadas para os Estados Unidos, Japão, Alemanha e Reino Unido.
Diferentemente do restante das nações africanas – que têm suas economias sustentadas pelo setor primário – a África do Sul apresenta os setores secundário e terciário desenvolvidos. Na atividade industrial, o país possui um diversificado parque e lidera a produção em vários setores especializados, entre eles, ferro, sintéticos, equipamento para minas e maquinaria.
Outra característica da economia sul-africana é a livre-iniciativa, embora o Estado participe diretamente de uma ampla faixa de atividades industriais – tais como produção de óleo e armas – e indiretamente por meio das várias agências de desenvolvimento.
No setor agrícola, o elevado grau de mecanização das monoculturas coexiste com agriculturas de subsistência. Entre os principais produtos estão as frutas – incluindo os cítricos e o vinho –, o milho, o trigo, o açúcar de cana, o tabaco e os laticínios. A África do Sul é um grande exportador de produtos agrícolas, mas, como todo o continente, enfrenta grandes variações na produção por causa das secas periódicas.
Apesar da diversificação da economia sul-africana, a indústria de mineração permanece como o setor principal, respondendo por um terço do Produto Interno Bruto (PIB). O segmento utiliza cerca de 50% do capital estrangeiro e emprega, diretamente, 12% da força de trabalho.É um importante mercado para os fornecedores nacionais, e também uma fonte de matérias-primas para as indústrias locais.
Quanto à energia, a Eskom – concessionária de recursos próprios – fornece quase 95% da eletricidade da África do Sul. A empresa, que opera algumas das maiores usinas termoelétricas à base de carvão do mundo, está se expandindo no subcontinente para oferecer energia em escala regional.
A atual política econômica pretende livrar a África do Sul do protecionismo, liberar o comércio e promover as exportações. Mas, à medida que a economia se expande, as demandas por importações pressionam tanto a balança comercial – normalmente positiva – quanto a limitada participação do capital estrangeiro. Os principais produtos importados são, sobretudo, máquinas e equipamentos, peças automotivas, óleo cru, vestuário e produtos têxteis.
O fim do apartheid
A oposição ao regime segregacionista tomou corpo na década de 50, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização de maioria negra fundada em 1912, promoveu uma campanha de desobediência civil.
Em 1960, a polícia sul-africana assassinou 69 pessoas durante uma das manifestações lideradas pelo CNA em Sharpeville, favela a 80 quilômetros de Johannesburgo. O episódio ficou conhecido como “ massacre de Sharpeville” e provocou marchas de protesto no país e no mundo. Em represália, o Governo sul-africano decretou a ilegalidade do CNA e seu principal líder, o advogado Nelson Mandela, foi preso em 1962 e posteriomente condenado à prisão perpétua.
Mas a resistência contra o apartheid persistia. Em 1976, alunos de um colégio em Soweto saíram às ruas para protestar contra a imposição do Afrikaans como idioma oficial. Centenas de crianças foram mortas por policiais, e mais de 600 pessoas morreram quando protestavam contra a chacina. Em 1977, Steve Biko, líder do Movimento da Consciência Negra, foi detido em uma barricada.
Após 26 dias preso, o líder negro morreu em decorrência dos ferimentos sofridos nas sessões de tortura. Seu legado, porém, serviu de inspiração aos que lutavam contra o regime desumano instaurado no país.
No fim dos anos 70, a ONU aprovou uma série de sanções à África do Sul, com a intenção de forçá-la a revogar o regime segregacionista. Mas, na contramão das reinvindicações, o Governo sul-africano decretou em 1984 a lei marcial, a fim de conter as manifestações populares. Paralelamente, o Governo intensificou a violência nos distritos onde a população negra se encontrava.
Nesse período, Mandela, havia 20 anos na prisão, tornou-se símbolo da resistência contra o apartheid. Outras figuras como Winnie Mandela e o bispo Desmond Tutu incorporararam a luta pelo fim do regime racista. Somente a partir do fim da década de 80 surgiram perspectivas de mudanças. Em 1990, o então presidente Fredrik W. de Klerk em discurso diante do Parlamento, “repudiou” o apartheid. Ainda naquele ano, Nelson Mandela foi libertado, e o CNA voltou à legalidade.
No contexto internacional, a situação da África do Sul era incômoda, principalmente para os Estados Unidos, pois se de um lado, Washington tinha o apoio do exército sul-africano na luta contra os comunistas em toda a região, por outro, o apartheid provocava uma crescente indignação mundial, tornando difícil a manutenção do apoio ao regime racista.
Enquanto isso, Mandela e o arcebispo Desmond Tutu trabalhavam com o então presidente De Klerk para remover a mancha política e social que marcou o país até então. Finalmente,em 1992, as leis segregacionistas foram revogadas pelo Governo.
O CNA no poder
No embalo das mudanças, o país promoveu eleições diretas multirraciais, movimento que provocou quilômetros de filas de eleitores de Nelson Mandela. Como presidente do CNA e primeiro presidente negro daÁfrica do Sul (1994 a 1999), Mandela recebeu a incubência de comandar a transição do regime segregacionista.
Durante seu mandato, Mandela lançou o programa Estratégia de Redistribuição e Crescimento de Empregos (Gear), com o objetivo de criar uma economia competitiva, crescente e de geração de empregos. O programa também pretendia redistribuir os recursos e as oportunidades para os pobres e facilitar o acesso à Saúde, à Educação e à Habitação. O Gear englobava reformas orçamentárias, redução do déficit, liberação do comércio, alteração de tarifas alfandegárias, criação de um mercado de trabalho flexível, investimento em infra-estrutura e incentivos fiscais.
Na segunda eleição multirracial da África do Sul, em 1999, o candidato Thabo Mbeki, do CNA, foi eleito presidente e reeleito em 2004. Em seu discurso, Mbeki prometeu solenemente lutar contra a miséria, e que esse seria o principal projeto de esforço nacional para a construção de uma nova África do Sul.
Durante os 12 anos em que o CNA esteve no comando da política do país, a condição de vida da maior parte da população negra melhorou; mas, segundo o presidente reeleito, esse compromisso ainda continua.
Atualmente, um dos principais problemas enfrentados pelo Governo federal é a assustadora quantidade de sul-africanos portadores do vírus HIV. Dos 45 milhões de habitantes, cerca de 5 milhões estão contaminados com o vírus da Aids. Uma catástrofe se anuncia, caso o setor público não forneça os anti-retrovirais, importantes medicamentos para os que contraíram a doença. Questões de caráter socioeconômico e cultural impedem que a população mais pobre e contaminada pelo vírus tenha acesso às informações e ao tratamento.É mais uma luta a ser vencida na nação arco-íris.
José Francisco Bigotto é bacharel e licenciado em Geografia pela USP, professor do Colégio Giordano Bruno e autor da coleção de livros didáticos Geografia: Sociedade e Cotidiano, da Editora Escala Educacional.
Revista Discutindo Geografia
domingo, 11 de janeiro de 2009
Do apartheid à luta contra a Aids
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