Este artigo tem o objetivo de analisar a política internacional da China neste início do século XXI. Por Michael Wallace Ataíde.
08/12/08
Por Michael Wallace Ataíde(1)
INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de analisar a política internacional da China neste início do século XXI. A hipótese básica deste artigo sustenta que a política internacional de uma grande potência, como é o caso da China, é pautada por orientações realistas levando em consideração que esse Estado busca a maximização do poder, tanto no plano militar como no plano econômico, e que naturalmente essa busca pelo poder pressupõe uma busca incessante pela segurança e sobrevivência na cena internacional.
Este paper está dividido em três partes, onde na primeira parte faz-se uma breve análise e discussão sobre o realismo político como escola de pensamento e formulação de política internacional. Na segunda parte analisa-se a China como futura grande potência e que esse Estado usará a sua força e influência política e econômica para atingir os seus mais imediatos objetivos. A última parte é uma conclusão onde faz-se uma breve discussão sobre a política do poder de grandes potências a partir da análise de influentes estudiosos das relações internacionais e que esses pressupostos podem ser aplicados à China como grande potência. Mesmo havendo outras importantes variáveis como comércio, etc., a conclusão é que a política de poder se sobressai em relações internacionais.
O REALISMO POLÍTICO ESTÁ EM CRISE?
Muitos intelectuais escreveram imediatamente a queda da União Soviética que o realismo político não tinha mais razão de existir como orientação política para os Estados, em especial para as grandes potências(2). O argumento desses autores era baseado no fato de que com a queda da União Soviética, os Estados Unidos regeria hegemônico o sistema internacional, e que, portanto, a paz, o comércio e a democracia seria o fio norteador da política internacional.
Para muitos autores, o fim da Guerra-Fria significaria a existência do mundo ideal onde a cooperação era a grande característica nas relações internacionais, e não a competição pela segurança e o conflito(3), e que naturalmente observaríamos a ascensão de Estados outrora autoritários aderindo ao modelo de democracia liberal como o modelo político ideal, pois assim as guerras e os conflitos cessariam já que Estados democráticos não travam guerras entre si. Assim, o realismo político, segundo os analistas que defendem essa visão otimista das relações internacionais, não tinha mais poder explicativo e que essa escola de pensamento apenas serviria para explicar as relações internacionais até o fim do embate ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Para eles, o pensamento realista estava obsoleto e fundamentalmente irrelevante para as novas realidades da política internacional(4). No entanto, a dinâmica do plano internacional mostrou que esses autores estavam equivocados, forçando muitos deles a reverem os seus conceitos(5) sobre política internacional. O realismo político ainda é uma influente escola de pensamento e de formulação de política externa, e é a partir dos pressupostos dessa escola que os Estados atuam num sistema internacional pautado pela anarquia(6) entre os Estados.
O COLOSSO CHINÊS: COMPETIÇÃO E BUSCA PELA SEGURANÇA E HEGEMONIA NO SISTEMA INTERNACIONAL
Hoje, olhando com mais pragmatismo para a cena internacional, em especial para o continente asiático, percebemos que está surgindo ou ressurgindo, um “colosso” militar e econômico chamado China. Segundo muitos influentes autores de política internacional(7), a China aparecerá no teatro internacional como um grande problema para outras grandes potências como os Estados Unidos, a Rússia e o Japão.
Mearsheimer, em seu célebre estudo sobre as grandes potências(8), argumenta que muitos americanos poderão considerar que o realismo como uma orientação política está obsoleta e que não mais serve para analisar as relações internacionais, como colocado acima, mas que essa percepção não tem lugar comum no pensamento dos líderes chineses, pelo contrário, esses líderes e pensadores chineses enfatizam que a China será “o expoente máximo da Realpolitik no mundo pós Guerra-Fria(9)”. O autor chama a atenção para uma análise da China nos últimos 150 anos e o seu presente de ameaça, e argumenta que o Estado chinês partilha fronteiras com treze Estados nos quais algumas dessas fronteiras ainda se encontram em disputa, como por exemplo, na Índia, na Rússia, e no Vietnã. A China também reclama a posse de Taiwan, das Ilhas Senkaku/Diaoyutai, além de vários grupos de ilhas no mar da China Meridional(10). Portanto, essas “pendências” territoriais é um pressuposto para num futuro próximo a China usar a diplomacia dos canhões para reaver esses territórios, mas com algumas ressalvas, é claro, pois três Estados (Rússia, Índia e Paquistão) com os quais a China tem contenciosos territoriais dispõe de arsenal nuclear, o que teoricamente poderia conter a China, mas que numa análise realista, isso não impede que a China considere todas as opções, inclusive a militar, para dissuadir esses Estados e atingir o seu fim, ou os seus objetivos mais imediatos.
Além dessas questões colocadas acima, a China está começando a olhar para o Japão e para os Estados Unidos com certo desprezo, ou se preferir como inimigos potenciais. No caso do primeiro, em especial, porque as lembranças das agressões anteriores ainda estão vivas na memória dos líderes chineses(11). Segundo Mearsheimer(12) os líderes políticos chineses receiam que o Japão se torne novamente uma potência militarista como foi antes de 1945. Essa análise deve ser seriamente considerada, tendo em vista que os guardiões do território japonês, a saber, os Estados Unidos, estão passando por um momento delicado na sua história, com graves crises do seu sistema financeiro, duas guerras sem legitimidade, uma no Iraque e outra no Afeganistão, além dos problemas internos como saúde, educação, sistema previdenciário, etc. Tudo isso são elementos para fazer com que os Estados Unidos retirem o seu guarda chuvas de cima do território japonês, obrigando assim os líderes japoneses a reativarem a sua indústria e política bélica. Essa análise vale para todos os Estados que confia aos Estados Unidos a sua defesa e soberania, como Israel, por exemplo.
Igualmente sérias são as relações futuras com os Estados Unidos. Os formuladores de política externa chineses têm a preocupação de que os Estados Unidos estejam empenhados em impedir que China o supere, economicamente e militarmente, vindo a se tornar uma superpotência mundial, ou mesmo regional, e acabe por dominar Estados asiáticos que estão sob zona de influencia estadunidense, como a Coréia do Sul e o Japão, por exemplo. Além disso, analistas de segurança internacional e defesa chineses “estão convencidos de que as alianças norte-americanas com países asiáticos, particularmente com o Japão, representam um desafio sério e de longo prazo, se não mesmo uma ameaça, à segurança nacional, unificação e modernização da China(13)”.
Para sustentar a sua política dissuasória, a China está investindo pesadamente em tecnologia militar. Em 2001 esse Estado aumentou o seu orçamento de defesa em 17,7%(14), o que representa a maior expansão em termos de recursos destinados à defesa nas últimas décadas. Esse aumento pode ser considerado reflexo da magnificação da sua economia e do excedente financeiro. A maior parte desses recursos está sendo empregados na construção de mísseis balísticos e de tecnologia nuclear, com o claro objetivo de modernizar o seu arsenal atômico.
Essa estrondosa ascensão política e econômica da China está incomodando muitos formuladores de política externa estadunidense, pois observam que uma China ainda mais poderosa do que se encontra hoje pode ser uma séria ameaça para a hegemonia dos Estados Unidos no cenário internacional, podendo minar a influência norte-americana ao redor do planeta. Mearsheimer observa que “o cenário mais perigoso que os Estados Unidos poderão vir a enfrentar no início do século XXI é a China tornar-se um potencial Estado hegemônico no Nordeste Asiático(15)”. O autor segue argumentando que um fator determinante para a China se tornar um Estado hegemônico em nível mundial vai depender de sua economia continuar crescendo ao ritmo de 10% a.a. Se isso acontecer, provavelmente a China se tornará não só um produtor importante de tecnologias de grande complexidade, como passará a usar esses recursos tecnológicos para desenvolver e modernizar o seu arsenal militar(16).
CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que a política de poder(17) ainda é uma variável determinante nas relações internacionais, e os Estados não cessarão em buscá-lo com o intuito de atingir os seus objetivos individuais mais imediatos. Como afirma categoricamente Martin Wight em A Política do Poder, “as potências, continuarão a buscar a segurança sem se referirem à justiça, bem como perseguir os seus interesses vitais sem levar em consideração interesses comuns(18)”. Na mesma linha argumenta Hans Morgenthau em A política entre as Nações que “a política internacional, como toda a política, consiste em uma luta pelo poder. Sejam quais forem os fins da política internacional, o poder constitui sempre o objetivo imediato(19)”. Assim, pode-se dizer que a China se tornando uma potência internacional com poder econômico e militar ainda maior, não hesitará em usar sua força para atingir os seus mais imediatos objetivos. Evidentemente que esse país faz parte de um sistema internacional onde às trocas comerciais, a economia e a interdependência são variáveis importantes e que fazem parte do jogo dos Estados, mas ainda assim quando o que estiver em disputa nesse jogo forem os interesses imediatos, a política de poder prevalecerá.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CHRISTENSEN, Thomas J. Chinese Realpolitik. Foreign Affairs 75, nº5, Setembro-Outubro de 1996.
FUKUYAMA, Francis. The end of History end the Last Man. New York: Free Press, 1992.
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Elsevier, 1989, 17 ed.
MEARSHEIMER, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Tradução: Tiago Araújo. Lisboa: Ed. Gradiva, 2007.
MORGENTHAU, Hans J. A política entre as Nações. Tradução Oswaldo Biato. Brasília: Ed. UNB, 2002.
POMFRET, John. China Plans Major Boost in Defense Spending for Military. Washington Post, 6 de Março de 2001.
WIGHT, Martin. A Política do Poder. Tradução Carlos Sérgio de Oliveira. Brasília: Ed. UNB, 2002.
NOTAS
(1) Mestrando como aluno especial no programa de pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo.
(2)Ver Francis Fukuyama in The end of History end the Last Man.
(3) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001.
(4) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 337.
(5) Ver Francis Fukuyama in America at the Crossroads: Democracy, Power and Neoconservative Legacy.
2006
(6) Anarquia internacional é aqui entendida como a falta de um governo mundial, ou seja, um Estado acima dos Estados.
(7) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 350.
(8) Ibidem, 350.
(9) Thomas J. Christensen. Chinese Realpolitik. Foreign Affairs 75, nº5, Setembro-Outubro de 1996, p. 37.
(10) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 350.
(11) Ver Paul Kennedy in Ascensão e Queda das Grandes Potências. Ed. Campus, 1989.
(12) Ibidem, 350.
(13) Ibidem, 351.
(14) Ver John Pomfret. China Plans Major Boost in Defense Spending for Military. Washington Post, 6 de Março de 2001.
(15) Ver Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 373.
(16) Ibidem, 373.
(17) Para um estudo aprofundado sobre a política de poder ver Hans Morgenthau in A Política entre as Nações. Ed. UNB, 2003. Martin wight in A Política do Poder. Ed. UNB, 2002.
(18) Martin wight in A Política do Poder. Ed. UNB, 2002, pág. 310.
(19) Hans Morgenthau in A Política entre as Nações. Ed. UNB, 2003, pág. 49.
http://www.cenariointernacional.com.br
08/12/08
Por Michael Wallace Ataíde(1)
INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de analisar a política internacional da China neste início do século XXI. A hipótese básica deste artigo sustenta que a política internacional de uma grande potência, como é o caso da China, é pautada por orientações realistas levando em consideração que esse Estado busca a maximização do poder, tanto no plano militar como no plano econômico, e que naturalmente essa busca pelo poder pressupõe uma busca incessante pela segurança e sobrevivência na cena internacional.
Este paper está dividido em três partes, onde na primeira parte faz-se uma breve análise e discussão sobre o realismo político como escola de pensamento e formulação de política internacional. Na segunda parte analisa-se a China como futura grande potência e que esse Estado usará a sua força e influência política e econômica para atingir os seus mais imediatos objetivos. A última parte é uma conclusão onde faz-se uma breve discussão sobre a política do poder de grandes potências a partir da análise de influentes estudiosos das relações internacionais e que esses pressupostos podem ser aplicados à China como grande potência. Mesmo havendo outras importantes variáveis como comércio, etc., a conclusão é que a política de poder se sobressai em relações internacionais.
O REALISMO POLÍTICO ESTÁ EM CRISE?
Muitos intelectuais escreveram imediatamente a queda da União Soviética que o realismo político não tinha mais razão de existir como orientação política para os Estados, em especial para as grandes potências(2). O argumento desses autores era baseado no fato de que com a queda da União Soviética, os Estados Unidos regeria hegemônico o sistema internacional, e que, portanto, a paz, o comércio e a democracia seria o fio norteador da política internacional.
Para muitos autores, o fim da Guerra-Fria significaria a existência do mundo ideal onde a cooperação era a grande característica nas relações internacionais, e não a competição pela segurança e o conflito(3), e que naturalmente observaríamos a ascensão de Estados outrora autoritários aderindo ao modelo de democracia liberal como o modelo político ideal, pois assim as guerras e os conflitos cessariam já que Estados democráticos não travam guerras entre si. Assim, o realismo político, segundo os analistas que defendem essa visão otimista das relações internacionais, não tinha mais poder explicativo e que essa escola de pensamento apenas serviria para explicar as relações internacionais até o fim do embate ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Para eles, o pensamento realista estava obsoleto e fundamentalmente irrelevante para as novas realidades da política internacional(4). No entanto, a dinâmica do plano internacional mostrou que esses autores estavam equivocados, forçando muitos deles a reverem os seus conceitos(5) sobre política internacional. O realismo político ainda é uma influente escola de pensamento e de formulação de política externa, e é a partir dos pressupostos dessa escola que os Estados atuam num sistema internacional pautado pela anarquia(6) entre os Estados.
O COLOSSO CHINÊS: COMPETIÇÃO E BUSCA PELA SEGURANÇA E HEGEMONIA NO SISTEMA INTERNACIONAL
Hoje, olhando com mais pragmatismo para a cena internacional, em especial para o continente asiático, percebemos que está surgindo ou ressurgindo, um “colosso” militar e econômico chamado China. Segundo muitos influentes autores de política internacional(7), a China aparecerá no teatro internacional como um grande problema para outras grandes potências como os Estados Unidos, a Rússia e o Japão.
Mearsheimer, em seu célebre estudo sobre as grandes potências(8), argumenta que muitos americanos poderão considerar que o realismo como uma orientação política está obsoleta e que não mais serve para analisar as relações internacionais, como colocado acima, mas que essa percepção não tem lugar comum no pensamento dos líderes chineses, pelo contrário, esses líderes e pensadores chineses enfatizam que a China será “o expoente máximo da Realpolitik no mundo pós Guerra-Fria(9)”. O autor chama a atenção para uma análise da China nos últimos 150 anos e o seu presente de ameaça, e argumenta que o Estado chinês partilha fronteiras com treze Estados nos quais algumas dessas fronteiras ainda se encontram em disputa, como por exemplo, na Índia, na Rússia, e no Vietnã. A China também reclama a posse de Taiwan, das Ilhas Senkaku/Diaoyutai, além de vários grupos de ilhas no mar da China Meridional(10). Portanto, essas “pendências” territoriais é um pressuposto para num futuro próximo a China usar a diplomacia dos canhões para reaver esses territórios, mas com algumas ressalvas, é claro, pois três Estados (Rússia, Índia e Paquistão) com os quais a China tem contenciosos territoriais dispõe de arsenal nuclear, o que teoricamente poderia conter a China, mas que numa análise realista, isso não impede que a China considere todas as opções, inclusive a militar, para dissuadir esses Estados e atingir o seu fim, ou os seus objetivos mais imediatos.
Além dessas questões colocadas acima, a China está começando a olhar para o Japão e para os Estados Unidos com certo desprezo, ou se preferir como inimigos potenciais. No caso do primeiro, em especial, porque as lembranças das agressões anteriores ainda estão vivas na memória dos líderes chineses(11). Segundo Mearsheimer(12) os líderes políticos chineses receiam que o Japão se torne novamente uma potência militarista como foi antes de 1945. Essa análise deve ser seriamente considerada, tendo em vista que os guardiões do território japonês, a saber, os Estados Unidos, estão passando por um momento delicado na sua história, com graves crises do seu sistema financeiro, duas guerras sem legitimidade, uma no Iraque e outra no Afeganistão, além dos problemas internos como saúde, educação, sistema previdenciário, etc. Tudo isso são elementos para fazer com que os Estados Unidos retirem o seu guarda chuvas de cima do território japonês, obrigando assim os líderes japoneses a reativarem a sua indústria e política bélica. Essa análise vale para todos os Estados que confia aos Estados Unidos a sua defesa e soberania, como Israel, por exemplo.
Igualmente sérias são as relações futuras com os Estados Unidos. Os formuladores de política externa chineses têm a preocupação de que os Estados Unidos estejam empenhados em impedir que China o supere, economicamente e militarmente, vindo a se tornar uma superpotência mundial, ou mesmo regional, e acabe por dominar Estados asiáticos que estão sob zona de influencia estadunidense, como a Coréia do Sul e o Japão, por exemplo. Além disso, analistas de segurança internacional e defesa chineses “estão convencidos de que as alianças norte-americanas com países asiáticos, particularmente com o Japão, representam um desafio sério e de longo prazo, se não mesmo uma ameaça, à segurança nacional, unificação e modernização da China(13)”.
Para sustentar a sua política dissuasória, a China está investindo pesadamente em tecnologia militar. Em 2001 esse Estado aumentou o seu orçamento de defesa em 17,7%(14), o que representa a maior expansão em termos de recursos destinados à defesa nas últimas décadas. Esse aumento pode ser considerado reflexo da magnificação da sua economia e do excedente financeiro. A maior parte desses recursos está sendo empregados na construção de mísseis balísticos e de tecnologia nuclear, com o claro objetivo de modernizar o seu arsenal atômico.
Essa estrondosa ascensão política e econômica da China está incomodando muitos formuladores de política externa estadunidense, pois observam que uma China ainda mais poderosa do que se encontra hoje pode ser uma séria ameaça para a hegemonia dos Estados Unidos no cenário internacional, podendo minar a influência norte-americana ao redor do planeta. Mearsheimer observa que “o cenário mais perigoso que os Estados Unidos poderão vir a enfrentar no início do século XXI é a China tornar-se um potencial Estado hegemônico no Nordeste Asiático(15)”. O autor segue argumentando que um fator determinante para a China se tornar um Estado hegemônico em nível mundial vai depender de sua economia continuar crescendo ao ritmo de 10% a.a. Se isso acontecer, provavelmente a China se tornará não só um produtor importante de tecnologias de grande complexidade, como passará a usar esses recursos tecnológicos para desenvolver e modernizar o seu arsenal militar(16).
CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que a política de poder(17) ainda é uma variável determinante nas relações internacionais, e os Estados não cessarão em buscá-lo com o intuito de atingir os seus objetivos individuais mais imediatos. Como afirma categoricamente Martin Wight em A Política do Poder, “as potências, continuarão a buscar a segurança sem se referirem à justiça, bem como perseguir os seus interesses vitais sem levar em consideração interesses comuns(18)”. Na mesma linha argumenta Hans Morgenthau em A política entre as Nações que “a política internacional, como toda a política, consiste em uma luta pelo poder. Sejam quais forem os fins da política internacional, o poder constitui sempre o objetivo imediato(19)”. Assim, pode-se dizer que a China se tornando uma potência internacional com poder econômico e militar ainda maior, não hesitará em usar sua força para atingir os seus mais imediatos objetivos. Evidentemente que esse país faz parte de um sistema internacional onde às trocas comerciais, a economia e a interdependência são variáveis importantes e que fazem parte do jogo dos Estados, mas ainda assim quando o que estiver em disputa nesse jogo forem os interesses imediatos, a política de poder prevalecerá.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CHRISTENSEN, Thomas J. Chinese Realpolitik. Foreign Affairs 75, nº5, Setembro-Outubro de 1996.
FUKUYAMA, Francis. The end of History end the Last Man. New York: Free Press, 1992.
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Elsevier, 1989, 17 ed.
MEARSHEIMER, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Tradução: Tiago Araújo. Lisboa: Ed. Gradiva, 2007.
MORGENTHAU, Hans J. A política entre as Nações. Tradução Oswaldo Biato. Brasília: Ed. UNB, 2002.
POMFRET, John. China Plans Major Boost in Defense Spending for Military. Washington Post, 6 de Março de 2001.
WIGHT, Martin. A Política do Poder. Tradução Carlos Sérgio de Oliveira. Brasília: Ed. UNB, 2002.
NOTAS
(1) Mestrando como aluno especial no programa de pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo.
(2)Ver Francis Fukuyama in The end of History end the Last Man.
(3) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001.
(4) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 337.
(5) Ver Francis Fukuyama in America at the Crossroads: Democracy, Power and Neoconservative Legacy.
2006
(6) Anarquia internacional é aqui entendida como a falta de um governo mundial, ou seja, um Estado acima dos Estados.
(7) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 350.
(8) Ibidem, 350.
(9) Thomas J. Christensen. Chinese Realpolitik. Foreign Affairs 75, nº5, Setembro-Outubro de 1996, p. 37.
(10) Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 350.
(11) Ver Paul Kennedy in Ascensão e Queda das Grandes Potências. Ed. Campus, 1989.
(12) Ibidem, 350.
(13) Ibidem, 351.
(14) Ver John Pomfret. China Plans Major Boost in Defense Spending for Military. Washington Post, 6 de Março de 2001.
(15) Ver Mearsheimer, John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Gradiva, 2001. Pág. 373.
(16) Ibidem, 373.
(17) Para um estudo aprofundado sobre a política de poder ver Hans Morgenthau in A Política entre as Nações. Ed. UNB, 2003. Martin wight in A Política do Poder. Ed. UNB, 2002.
(18) Martin wight in A Política do Poder. Ed. UNB, 2002, pág. 310.
(19) Hans Morgenthau in A Política entre as Nações. Ed. UNB, 2003, pág. 49.
http://www.cenariointernacional.com.br
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