No reino da mota
As questões do tráfico de drogas nesta região do México
Matéria publicada na edição 198 (Outubro/2008) de Terra
As questões do tráfico de drogas nesta região do México
Matéria publicada na edição 198 (Outubro/2008) de Terra
"Creel sempre esteve fora dessa briga do tráfico. Os narcos sempre foram gente muito boa por aqui. Não sabemos o que aconteceu", diz uma senhora, que pede para não ser identificada, referindo-se ao assassinato de 13 pessoas em agosto último. A chacina foi um choque para a cidade, que há 26 anos não registrava um homicídio. Nessa parte do México, o tráfico não é segredo para ninguém. Narcotraficante é respeitado como um quitandeiro, um contador, um médico. A maconha é tão familiar por aqui que tem um apelido carinhoso: mota.Desde o fatídico 11 de setembro de 2001, porém, o mercado de drogas no país sofreu uma reviravolta. O pente-fino na fronteira com os Estados Unidos - de longe o maior consumidor da maconha mexicana - fez com que boa parte da droga encalhasse. Com excesso de oferta, a mota caiu para menos de 50 ou 60 dólares o quilo. A crise de consumo detonou uma guerra entre os traficantes, levando o governo mexicano a finalmente combater o plantio e a venda de maconha.No final de 2006, com a eleição do presidente Felipe Calderón, a repressão aumentou ainda mais e começou a produzir mortes. O grande comandante do tráfico é Joaquín "El Chapo" Gusman, chefe do cartel do estado de Sinaloa, que em 2001 fugiu da cadeia - ao que tudo indica, com a conivência de autoridades. As conexões dos traficantes mexicanos são mesmo surpreendentes e incompreensíveis para os forasteiros. Para aumentar a confusão, a edição de 4 de setembro de 2008 do jornal El Universal trazia na capa a notícia de que o avião acidentado há um ano no México com 4 toneladas de cocaína, utilizado diversas vezes por El Chapo, já havia pertencido à CIA.Quando saíamos de Creel para conhecer seus arredores, nosso motorista não teve o menor constrangimento em sacar uma trouxinha de cocaína do bolso e fazê-la desaparecer em suas narinas em segundos. Depois, colocou para tocar músicas do ritmo local conhecido como corrido, com títulos assustadores do tipo Massacre em Guadalajara, Maldito Cárcere e 100 kg da Soberana. As letras são homenagens descaradas ao narcotráfico e ao próprio El Chapo. Mais ou menos como o funk carioca, no qual o subgênero proibidão dá o recado do submundo das drogas.
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