As águas tóxicas acomodadas na cratera de um vulcão: a qualquer momento, uma emissão de gases venenosos pode causar novo desastre
É o Lago Nyos, em Camarões, na África, cujos gases letais já levaram a vida de mais de 2 mil pessoas
Thiago Medaglia
Matéria publicada na edição 197 (Setembro/2008) de Terra
Normalmente azul, a superfície do Lago Nyos, em Camarões, no centro-oeste africano, ganhou um sinistro tom avermelhado. O nível de suas águas baixou 1 metro, mas elas, ainda assim, transbordaram, fruto de uma bizarra efervescência. Então, uma densa nuvem cinzenta se formou, composta pelos gases tóxicos emanados do Nyos, deixando um rastro de destruição por onde passava. A mortífera massa gasosa desceu velozmente pelo vale adiante, espalhando-se por 20 quilômetros e matando por asfixia mais de 1700 pessoas.O dobro disso foi perdido em cabeças de gado. Outras 4 mil pessoas escaparam a tempo, mas desenvolveram sérios problemas respiratórios. A vegetação ficou devastada. O mais criativo dos autores de ficção científica talvez tivesse dificuldade para compor um enredo tão assustador. Mas, infelizmente, a tragédia do Lago Nyos aconteceu de fato. Foi em 1986, num dos piores acidentes naturais da história, ocasionado por uma série de eventos sem a menor participação humana.Acomodado na cratera do Monte Oku, um vulcão adormecido, o Lago Nyos, com aproximadamente 1,8 quilômetro de diâmetro e 200 metros de profundidade, é uma evidência das forças pulsantes sob o solo do planeta. Abaixo da cratera, um bolsão de magma incandescente satura permanentemente de gases o fundo do lago - calcula-se em 90 milhões de toneladas a quantidade média de CO2, o dióxido de carbono, contida em suas águas. Quando essa concentração aumenta subitamente, os gases sobem à superfície e envenenam a atmosfera. Em 1986, isso aconteceu numa proporção jamais vista ou imaginada.Outros dois lagos africanos podem apresentar fenômenos semelhantes: o Kivu, em Ruanda, e o Monoum, também em Camarões, cuja maior emissão conhecida de CO2 ocorreu em 1984, matando 37 pessoas. Os cientistas não sabem se essas grandes emissões de gases tóxicos se devem a tremores de terra ou a alguma pequena erupção. Para minimizar novos desastres, as autoridades locais espalharam tubos dispersores de CO2 no Lago Nyos. As ameaças, no entanto, estão longe de acabar.Naturalmente frágil, o muro de rochas vulcânicas que cerca o lago a uma altura de 45 metros pode ceder a qualquer momento - e, nesse caso, as águas do lago, carregadas de veneno, contaminariam rios e vilarejos próximos. O desastre anunciado do Lago Nyos não se encaixa bem nem em enredos de ficção científica. Parece mais um filme de terror.
Nenhum comentário:
Postar um comentário