segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A abertura econômica cubana




A abertura econômica cubana

carlos pio
professor de Economia Política Internacional, no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). É mestre e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).


Cuba é um país pequeno se analisarmos, por exemplo, suas dimensões geográfica, populacional e econômica. Tem área de 111 mil km² (um pouco maior do que Pernambuco), população de 12 milhões de pessoas (inferior à da Bahia) e PIB de US$ 46 bilhões (4,3% do PIB brasileiro, metade do PIB do Paraná). No entanto, na política internacional, Cuba é gigantesca. Desde que o regime inaugurado por Fidel Castro e Che Guevara alinhou-se à União Soviética no auge da Guerra Fria, seu modelo tem sido capaz de mobilizar forte debate entre socialistas, liberais e social-democratas. Os principais aspectos do debate são: a impossibilidade prática de o Estado garantir a todos os cidadãos graus plenos de liberdade político-econômica e de igualdade de renda; e o mix desejável entre esses dois elementos na definição das regras e das políticas governamentais.

Desde que caiu o Muro de Berlim (1989) e foi extinta a União Soviética (1991), o modelo socialista cubano perdeu as bases de sua legitimidade política e viabilidade econômica. Com o socialismo mundial, também morreu parte importante do apelo exercido pelos ideais de Fidel e Che sobre intelectuais e políticos latino-americanos e brasileiros. Hoje, reconhece-se facilmente que o regime cubano é anacrônico e perverso. Por isso, desde o início da Revolução saíram de Cuba mais de 900 mil pessoas, e não há registro de grandes fluxos de pobres, militantes, políticos ou intelectuais comunistas demandando vistos de entrada para desfrutar das maravilhas proclamadas pela retórica oficial.

Qual o destino de Cuba, agora que parece claro que Fidel não mais retornará ao poder? Uma provável abertura econômica apresenta oportunidades reais para empresas brasileiras que investirem em Cuba? Que papel deve desempenhar o nosso governo ao longo da dupla transição que se espera para os próximos meses e anos (do socialismo para o capitalismo e da ditadura para a democracia)?

O destino de Cuba será construído pela interação entre: os movimentos sociais internos espontâneos – formados em torno de demandas por mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais mais profundas e mais rápidas –; as principais lideranças do novo governo comandado por Raúl Castro e um grupo de jovens conselheiros pragmáticos e reformistas escolhidos por Fidel e já instalados em posições-chaves no Estado; as organizações anticastristas estabelecidas nos Estados Unidos – que se têm tornado mais moderadas em razão da emergência de novas lideranças nascida nos Estados Unidos –; e o governo (e o Congresso) dos Estados Unidos.

Desse intrincado jogo de interesses e forças, emergirá uma nova Cuba. Se mais parecida com a República Tcheca e o Chile – casos exitosos de transição –, ou com a Moldóvia e a Nicarágua – fracassados –, só o tempo dirá. Esse é um processo definido pelo jogo político, mas que não será controlado por nenhum ator ou grupo em particular. Cabe-nos, diante desse quadro, indagar sobre os riscos e as oportunidades para as empresas brasileiras, e sobre o papel mais aconselhável a ser desempenhado por nosso governo.

Em relação às empresas privadas, recomenda-se avaliação realista e suficientemente dinâmica do potencial econômico da nova Cuba. Quais são os setores mais atraentes da pequena economia cubana? Como seus principais concorrentes globais/regionais estão se posicionando em relação à abertura econômica do país? Quais são os riscos econômicos e políticos potenciais de investir em Cuba? Para responder a essas questões, será preciso observar atentamente o desenrolar dos acontecimentos políticos que vão fundar o novo país. De todo modo, é bom ter em mente que a economia cubana é demasiado pequena para representar grande oportunidade de negócios para a maior parte das empresas brasileiras, multinacionais ou meramente exportadoras.

Já o governo brasileiro precisa olhar com mais realismo para o que está acontecendo em Cuba. A saúde de Fidel não está “impecável”, como disse o presidente Lula em sua recente visita ao país. Cuba não é uma democracia, como ele nos afirmou não muitos meses atrás. Não há alternativa sustentável para o futuro de Cuba fora do modelo capitalista-democrático ocidental, por mais que isso venha a afrontar a visão idealizada dos petistas e esquerdistas incrustados em todos os escalões do governo brasileiro. E, por mais que isso pareça perverso do ponto de vista humanitário, é preciso avaliar as oportunidades de investimento a serem feitos com recursos públicos brasileiros – por exemplo, pela Petrobras e pelo BNDES –, levando em conta os riscos e as incertezas do processo de transição política e econômica que ocorrerá nos próximos anos.

http://www.secom.unb.br/artigos/at0108-06.htm

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