BBC Mundo, Havana - ÁFRICA - dezembro de 2008
Apesar das promessas iniciais da Revolução, os seus críticos e opositores asseguram que o processo político que começou há 50 anos tem as suas principais carências nas áreas dos direitos civis e políticos da cidadania, na falta de liberdade de organização política, económica, de expressão e de imprensa.
A grande maioria da sociedade civil agrupa-se em organizações controladas pelo governo, que são dirigidas por líderes do Partido Comunista, como os Comités de Defesa da Revolução, a Federação das Mulheres ou a Central dos Trabalhadores de Cuba.
Se é verdade que em Cuba alguns grupos religiosos e os mações gozam de estatuto legal, a posição oficial pode ser tão radical ao ponto do clube de motos Harley Davidson não conseguiu das autoridades o seu reconhecimento legal.
A oposição política é ilegal. Os grupos dissidentes são tolerados mas carecem de protecção jurídica. Qualquer tipo de actividade pública pode ser reprimida e os que insistam em desalinhar podem acabar na cadeia.
Mesmo os comunistas críticos, que procuram mudanças dentro do sistema, não têm espaço para o debate e são oficialmente acusados de promover a divisão e de dar munições aos inimigos da Revolução.
O escritor Lisandro Otero sugeriu há vários anos num artigo que, em Cuba, tudo o que não é obrigatório está proibido. Pode parecer exagerado, mas a verdade é que, para a população, tampouco há muito espaço para debate.
Controlo dos média
Os meios de comunicação são controlados pelo Partido Comunista, que dita a linha editorial de cada jornal, revista, emissora de rádio ou canal de televisão. Por essa razão, as vozes discordantes não são bem-vindas.
A principal tarefa de um jornalista cubano é defender a Revolução"
Juan Marrero, o vice-presidente da União de Jornalistas de Cuba, disse à BBC que a principal tarefa de um jornalista cubano é defender a Revolução e reconheceu que "há temas intocáveis porque podem beneficiar o inimigo".
A imprensa nacional só aborda temas como a prostituição, a delinquência, o racismo, os salários ou a corrupção depois de Fidel ou Raúl Castro terem falado deles publicamente, estabelecendo o que muitos chamam de "linha oficial".
Por essa razão, oficialmente, durante muitos anos as prostitutas não existiram para os jornalistas cubanos. Não se mencionou a corrupção até que Fidel Castro disse que esta "constituía um perigo para a Revolução". E começou-se a falar da existência de drogas quando Fidel Castro as denunciou num discurso.
Da mesma forma, os jornalistas cubanos sempre defenderam que os salários mensais equivalentes a US$15 eram suficientes para viver, até que a 26 de Julho de 2007 Raúl Castro desmentiu esse ponto de vista.
Na área económica a Revolução cubana também não conseguiu muitos êxitos. Meio século depois, é agora oficialmente reconhecida a existência de corrupção, são feitas referências ao facto de os salários serem insuficientes para se viver e as possibilidades de consumo do cidadão são mínimas.
Para além disso, o governo cubano limita a liberdade económica dos cidadãos, impedindo o desenvolvimento do trabalho por conta própria - uma actividade que necessita de uma autorização oficial das autoridades, que não é concedida há mais de uma década.
Erros económicos
Os cubanos querem mais empregos e melhores salários
Não se pode esquecer que os EUA impuseram um embargo em 1962 que custou a Cuba, segundo dados oficiais, quase US$100 mil milhões e afectou todas as áreas económicas, incluindo o turismo, a produção de açúcar e de tabaco e até mesmo a extracção de níquel.
Contudo, os críticos referem que o governo cubano também cometeu erros económicos, como por exemplo quando arrasou todas as árvores de fruta na capital nos anos 60, quando paralisou o país em 1970 para efectuar uma safra de cana-de-açúcar ou quando transferiu a agricultura para fazendas estatais, que se mostraram improdutivas, como o reconhece o próprio Gabinete Nacional de Estatísticas.
Nos anos 80 Cuba deixou de pagar aos seus credores ocidentais e acabou por passar a comprar a países socialistas quase 100% dos seus produtos importados. É que, graças ao então Conselho de Ajuda Mútua Económica, CAME, tinha acesso a créditos e podia trocar vantajosamente os seus produtos exportáveis.
No século XIX, o pai da independência cubana, José Marti, advertiu para a necessidade de se equilibrar o comércio para se assegurar a liberdade. "O povo que quer morrer vende a um único povo, e o que quer salvar-se vende a mais do que um povo. O influxo excessivo de comércio de um país para outro converte-se em influxo político."
José Marti foi um visionário. Cuba não só copiou o modelo político e económico da União Soviética como acabou por ter a maior crise de toda a sua história quando o bloco soviético desapareceu - uma crise que se arrasta aos nossos dias.
Ainda assim, os cubanos têm esperança num futuro melhor
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