sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Moscou nunca dorme - parte 8


De repente, os alto-falantes silenciam e se ouve um "I love Moscow!", em inglês. É uma cantora americana de microfone na mão. Negra – como poucos na cidade –, ela canta blues. A turma da área vip continua a conversar aos berros, despejando conhaque nos cálices uns dos outros. A turba se une num refrão em inglês: "What are we supposed to do after all that we’ve been through?" ("O que devemos fazer, agora que passamos por tudo isso?") Não conheço a canção. Eles seguem repetindo o mesmo refrão muitas vezes.

(Pouco tempo depois disso tudo, seguindo uma veneranda tradição das boates russas, o Diaghilev foi consumido pelas chamas. Agora, mais que um night club quente, ele é uma lenda.)

LUZES Na minha última noite em Moscou, Yegor me apresenta ao futuro. Rodamos de carro para além do Anel do Jardim, acompanhando o curso do rio até uma área industrial, onde paramos e seguimos a pé ao longo de uma cerca de tela de arame. Se isso é o futuro, não me parece nada excepcional. "Olhe pra cima", diz Yegor. "Não vejo nada", respondo. "Olhe mais pra cima!"

Contra o negror da noite, ergue-se uma escada de luzes tão alta que não dá para ver onde termina. Mas eis que um facho de luz vermelha assoma à beira de um patamar aberto não longe de Marte. "É o Centro Internacional de Negócios, também conhecido como Moscow City", diz ele. "Uma cidade dentro da cidade."

Parece aquele pé de feijão do conto de fadas que sobe aos céus – um complexo de 14 edifícios, entre eles a Russia Tower, de 113 andares, projetada para ser o prédio mais alto da Europa. Um guindaste gigante descreve uma pirueta no topo do que será a Moscow Tower, de "apenas" 72 andares.

O trabalho prossegue dia e noite. Um holofote revela figuras de capa amarela encarapitadas na carga que o guindaste transporta. Ouvimos o estampido seqüenciado de uma pistola de rebites, o choque de chapas de metal e até mesmo vozes, criando uma curiosa sensação de intimidade.

Os prédios se acham em estágios variados de construção. Os que já foram terminados se assemelham a naves espaciais prontas para partir.

A escala é colossal. A escavação no terreno, por si só, seria capaz de engolir as pirâmides de Gizé, no Egito. O complexo deverá abrigar a prefeitura, mais escritórios e apartamentos de luxo com vista até meio caminho para a Finlândia.

Essa é a vantagem de estar em Moscou à noite. Durante o dia, só se enxerga a arquitetura. À noite, dá para ver a ambição flamejante.

Por: Martin Cruz Smith Foto: Gerd Ludwig
Matéria publicada na Revista National Geographic

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