domingo, 14 de dezembro de 2008

Proposta para superar a insegurança energética dos EUA



T. Boone Pickens
Empresário da área do petróleo no Texas, Estados Unidos

Um dos benefícios de atuar tanto tempo num mesmo meio é que se aprendem algumas coisas.
Tenho 80 anos de idade, 60 dos quais dediquei exclusivamente ao petróleo. Perfurei mais poços – muitos deles vazios, não nego – e encontrei mais petróleo que praticamente todos da indústria. E como muitos de nós, durante um tempo, ignorei solenemente o que se passava com meu país, os Estados Unidos. Mas a experiência agora me serve de aliada, pois confesso: nunca estive tão preocupado com a segurança das nossas fontes de energia quanto agora.
Nosso país está diante do que acredito ser a situação mais grave desde a Segunda Guerra Mundial. O problema, obviamente, é a crescente dependência estadunidense do petróleo estrangeiro – um fator extremamente perigoso e ameaçador ao futuro da nossa nação.
Partilharei com o leitor apenas alguns dos dados que tenho conhecimento: a cada ano importamos mais e mais petróleo. Em 1973, o desafortunado ano do Choque do Petróleo, os EUA importavam cerca de 24 por cento de todo seu petróleo. Em 1990, no início da Guerra do Golfo, as importações se elevaram a 43 por cento. Hoje, importamos quase 70 por cento de todo o nosso combustível fóssil.
Esses dados são ainda mais assombrosos se considerarmos a magnitude do consumo estadunidense de petróleo. Os Estados Unidos, que correspondem a 3 por cento da população do Planeta, consomem praticamente um quarto da produção petrolífera mundial. Sua produção doméstica corresponde a apenas 4 por cento do seu suprimento. Este ano, nós, estadunidenses, importaremos aproximadamente 700 bilhões de dólares em petróleo, um custo quatro vezes maior do que a manutenção atual da guerra no Iraque.
O fato é que, se não solucionarmos este problema agora, em dez anos estaremos gastando cerca de dez trilhões de dólares em importações como essas. O que significa dez trilhões de dólares deixando os Estados unidos e indo a parar nas mãos de nações estrangeiras. Tornando-se, no que acredito ser, a maior transação em dinheiro na História da Humanidade.
Por que acreditar que a dependência estadunidense do petróleo estrangeiro é uma ameaça ao nosso país? Simples: porque se 70 por cento do nosso motor econômico depender de recursos estrangeiros de energia, o funcionamento do nosso país estará sempre a mercê do julgamento e, acima de tudo, da benevolência de outra nação para conosco. É importante destacar que a questão da dependência nacional de petróleo estrangeiro está no cerne das três discussões mais relevantes no momento: a da questão econômica, a do meio ambiente e a da segurança nacional. Precisamos de um plano de energia que nos livre do buraco que cavamos para nós mesmos. Confesso ter um plano.
Considere isto: O mundo produz cerca de 85 milhões de barris de petróleo por dia, mas a demanda global hoje é de 86 milhões de barris. E apesar de o barril ter atingido valores recordes nos últimos três anos, a produção de petróleo está em queda desde 2005. Enquanto isso, a demanda só tende a aumentar devido ao crescimento atual de países como Índia e China, que consomem combustível cada vez mais. Adicione ainda o fato de governos como a China exercerem grande influência sobre as indústrias de energia de seus países, permitindo assim que estabeleçam com agilidade estratégias de adaptação às variações constantes de custo do barril no mercado internacional.
Os Estados Unidos não possuem uma política semelhante a essa graças à independência das indústrias privadas de energia do país, o que não deveria significar a falta de um objetivo comum para superar nosso vício em combustível fóssil estrangeiro. Tenho um plano claro em mente: nos próximos cinco a dez anos, pretendo reduzir pelo menos um terço das importações de petróleo do nosso país.
Como é que faremos isso? Simples: Implantaremos energia eólica. A energia eólica é 100% doméstica, 100% renovável e 100% limpa. Por um acaso você leitor sabia que no interior dos Estados Unidos, numa área que vai do Oeste do Texas até a fronteira do Canadá, há um corredor conhecido como a “Arábia Saudita dos ventos”? Chama-se assim, pois lá se encontra a maior reserva de ventos do Planeta. Em 2008, o Departamento Americano de Energia revelou um estudo apontando que os EUA têm a capacidade de gerar 20% do seu suprimento de energia até 2030 utilizando-se exclusivamente de energia eólica. Acredito que podemos atingir metas ainda mais otimistas, mas precisamos agir rápido.
Meu plano visa substituir o uso de gás natural, utilizado para abastecer uma percentagem significativa de usinas elétricas, por energia eólica e redirecioná-lo ao abastecimento de veículos. Hoje, o gás natural proporciona 22% da energia gerada nos EUA e é a única fonte de energia capaz de substituir com eficiência o petróleo, como também se revelou abundante no nosso território, além de limpo e barato. Se convertêssemos o gás em combustível, abastecendo ônibus, caminhões e inclusive carros, poderíamos utilizar nossa capacidade eólica para alimentar as usinas elétricas, o que resultaria na diminuição de um terço das importações de petróleo do país. Hoje, nos EUA, apenas 150.000 automóveis de um total de oito milhões funcionam com esse tipo de tecnologia. Nós devemos e podemos, para o futuro do nosso país, construir uma frota inteira de veículos movidos a gás natural.
Acredito que este plano servirá como uma ponte, dando-nos um tempo valioso para analisar e descobrir novas frentes de energia que condizem com as exigências e padrões da atualidade, conduzindo-nos com consciência e eficiência em direção ao futuro.
Simultaneamente ao plano que proponho, espero que haja também a exploração de todos os recursos imagináveis de energias alternativas, pesquisando e desenvolvendo baterias renováveis, energia solar, biodiesel, assim como estratégias de conservação e preservação de energia. Perfurações na superfície da placa continental do planeta também devem ser analisadas já que precisamos considerar todas e quaisquer opções.
Se o Governo agir imediatamente, tomando as decisões necessárias ao desenvolvimento do nosso país, acredito que o projeto esteja a pleno vigor num período de dez anos. Meu plano não só reduziria drasticamente nossa dependência em petróleo estrangeiro, como também reduziria custos em transporte; investiria no interior do nosso país, criando milhares de empregos; reduziria substancialmente nossos índices de emissões de carbono – tecnologia comprovada cientificamente –, tudo isso através de investimentos exclusivos de empresas privadas, sem afetar o bolso do cidadão estadunidense com a criação de novos impostos aos consumidores, corporações, ou regulamentações governamentais.
O futuro começa assim que o Congresso e o Presidente dos EUA decidirem agir. Nosso governo precisa ordenar, o quanto antes, a formação de corredores destinados a geração de energia solar e parques eólicos, assim como renovar os subsídios econômicos de energias alternativas em áreas onde há abundância de sol e vento. Também sugiro a criação de relatórios mensais sobre a redução de nossas importações de petróleo e outro ainda sobre o desenvolvimento de veículos movidos a gás natural no país.
Neste importante ano de eleição presidencial, vejo que finalmente temos uma oportunidade de ouro para unir os partidos em prol de um só objetivo. A História já nos provou repetitivamente: quando mais uma vez vemos o futuro do nosso país ameaçado, unidos, mostraremos a capacidade de encarar – com coragem e força – a responsabilidade imediata de mudança. Só é preciso agir. Rápido.


Tradução: João Philippe Inada
Revista ECO 21 - outubro de 2008

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