Bill McKibben
Ambientalista, co-fundador de 350.org
Qual é o número mais importante no mundo? A temperatura do corpo humano? O ponto de congelamento da água? O comprimento do campo de futebol? Ou será 350? É um número novo – quase ninguém o conhece ainda. Mas é bem possível que meça a linha de separação entre uma civilização humana funcional e o caos interminável.
Um pouco de história. Antes da Revolução Industrial, o nível atmosférico de dióxido de carbono era 275 partes por milhão. Depois, os Britânicos, os Europeus e os Americanos começaram a queimar carvão, gás e petróleo. Alguns séculos depois, o ar tem 385 partes por milhão de dióxido de carbono.
Isso é demasiado. Como o Al Gore falou no seu histórico discurso em Julho apelando a um esforço americano a combater o aquecimento global com toda a energia, “A crise climática está piorando muito – muito mais rapidamente do que foi previsto”. No verão passado, o Ártico derreteu a uma velocidade incrível – a Passagem do Noroeste esteve aberta pela primeira vez na história.
Logo depois, os cientistas que investigam o aquecimento global deram-nos, pela primeira vez, um objetivo a alcançar: 350. Na verdade, o cientista estadunidense James Hansen, que emitiu os primeiros avisos púbicos sobre a mudança do clima, no já longínquo ano de 1988, publicou um estudo no verão passado no qual utilizou palavras cruas e nuas: “se a Humanidade deseja preservar um Planeta similar àquele no qual a civilização se desenvolveu e onde a vida existente no mundo está adaptada, – disse ele –, temos que reduzir o CO2 atmosférico para um máximo de 350 partes por milhão”. Hoje já estamos muito além dessa linha, ou seja, somos como a pessoa que comeu demais e cujo médico diz: “deixe de comer besteira.”
No caso do nosso Planeta, isso significa estar de dieta carbônica. Significa fechar definitivamente as minas de carvão e instalar painéis solares e turbinas eólicas. Significa construir muito menos carros e muito mais trens. Se não conseguirmos fazê-lo, não será apenas o Ártico que continuará a se derreter.
Os níveis médios das águas do mar poderiam começar a subir mais rápido do que o previsto, ameaçando nações com território ao nível do mar e zonas de agricultura. Monções começarão a mudar de lugar e a acabar. Glaciares subtropicais continuarão a derreter rapidamente. Os ciclos de chuva e seca agora devastando partes das Américas, África, Ásia, Europa e Austrália se tornarão até mais freqüentes.
Dengue e malária continuarão a sua difusão implacável. As tempestades provocarão estragos crescentes. E a civilização será fortemente pressionada – especialmente, no início, os milhares de milhões de pessoas que vivem mais perto da margem, economicamente. E se conseguirmos? Teremos a possibilidade de um futuro humano próspero, onde todos tenham acesso ao poder do sol e do vento que percorrem o nosso Planeta a cada dia.
Até agora as pessoas não têm se revoltado e exigido o fim do aquecimento global. Até aqui o resto do mundo não tem exigido que o Ocidente acabe com os seus hábitos esbanjadores, e que use uma parte do dinheiro que acumulou queimando combustível barato para ajudar o resto do mundo a desenvolver-se sem queimar o seu próprio carvão barato. Até aqui não tem sido a questão central para a política do Planeta, embora seja claramente a questão central para o seu próprio destino.
Precisamos fazer uma mudança. Nos próximos 15 meses, antes de os líderes mundiais reunirem em Copenhague, Dinamarca, para elaborar um novo tratado sobre as emissões de carbono, precisamos divulgar este número por todos os cantos do mundo.
Lançamos um novo website: 350.org. Funciona em dez línguas. E tem um único objetivo: ajudar o mundo a pegar nesse número abstrato e fazê-lo real.
Até aqui, pessoas têm organizado passeios de bicicleta com 350 ciclistas, tocado sinos de igreja 350 vezes, planejado passeatas de 350 milhas. Artistas e músicos têm tomado o número, tornando-o legal (ou engraçado). Atletas famosos têm se unido à Equipe 350. Mas precisamos de muito, muito mais.
Ninguém tem realmente organizado o mundo inteiro, ou espalhado uma mensagem (talvez com a exceção da Coca-Cola). Precisamos que pessoas de todos os credos do mundo, de cada continente e país, de todas as profissões, vão a 350.org e participem neste esforço. Se pensar, foi para isso que a Internet foi concebida: para pegar numa mensagem simples e comunicá-la a todos na Terra. 350 traduz-se para qualquer língua – é um número que faz sentido.
E também é um número que pode fazer história. Se pudermos garantir que todo o mundo esteja falando sobre 350, os decisores políticos que se vão encontrar em Copenhague em Dezembro de 2009 saberão que meta precisam alcançar para reclamarem sucesso. Mas isso não nos dá muito tempo para espalhar a palavra, se pretendermos alcançar o mundo inteiro.
Revista ECO 21 - setembro 2008
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