quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que o aquecimento global pode causar no Brasil?

Marina Motomura

Além de sentir mais calor, em um futuro não tão distante o povo brasileiro deve enfrentar secas em algumas partes, chuvas torrenciais em outras, furacões, e todas as espécies, inclusive o ser humano, devem sofrer baixas consideráveis. No início de fevereiro, um grupo de cientistas do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU) divulgou um relatório que mostra que o planeta está cada vez mais quente – e a chapa vai continuar esquentando. O aquecimento da Terra, contudo, não será homogêneo: a temperatura subirá mais nos continentes do que nas áreas oceânicas e mais no hemisfério norte do que aqui no sul. Isso significa que o Brasil até pode ser menos afetado do que os Estados Unidos e os países europeus, mas, se as previsões do IPCC se concretizarem, não teremos refresco. "O aquecimento por aqui deve ser de 4 a 5,5 ºC na região tropical. O Nordeste, o Centro-Oeste e a Amazônia serão as regiões mais afetadas", diz o meteorologista José Marengo, coordenador de estudos de mudanças climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O IPCC deve divulgar novos relatórios mais detalhados em breve, com previsões sobre o impacto do aumento da temperatura em cada região do globo, mas estudos do Inpe já dão uma idéia de como ficará nosso país em menos de cem anos. É melhor ir ligando o ar-condicionado.

Operação abafa
Dentro de cem anos, as Regiões Norte e Centro-Oeste serão as maiores vítimas do calor
FLORESTA AMEAÇADA

No Brasil, a onda de calor será mais intensa nas Regiões Centro-Oeste e Norte. E, junto com o calor, aumentam os riscos de incêndios e queimadas. A maior vítima disso, claro, é a floresta Amazônica, onde a mata fechada deve dar lugar a uma vegetação menos densa, como o cerrado

ENTRESSAFRA

O aquecimento global vai bagunçar as temperaturas, acabando com as diferenças entre as quatro estações, e tornando os veranicos – períodos secos em estações tipicamente chuvosas – mais freqüentes. Com isso, safras inteiras podem ser perdidas por causa do calor e de chuva em excesso na hora errada

FURACÃO 2100

É "muito possível", segundo o IPCC, que tormentas, tufões e furacões sejam mais constantes e intensos – o aquecimento aumenta os choques entre massas de ar de diferentes temperaturas, provocando fenômenos desse tipo. O furacão Catarina, que passou por Santa Catarina em março de 2004, parece ter sido apenas o primeiro resultado desse processo

PLANTÃO MÉDICO

O ar, quente e seco, ficará mais difícil de respirar. Ao menos 300 mil pessoas morrerão a cada ano devido a doenças respiratórias. Brasília, já famosa pelo clima seco, ficará inabitável em algumas épocas. E não é só isso: como verão e inverno terão temperaturas parecidas, insetos transmissores de doenças como malária e dengue terão mais tempo para se reproduzir

NÃO VAI DAR PRAIA

O IPCC prevê que o nível dos oceanos suba de 18 a 59 centímetros até 2100. Cidades litorâneas do mundo todo terão que construir barreiras para conter a água e ilhas correm o risco de desaparecer. A ilha de Marajó, no Pará, não deve sumir nesse primeiro período, mas seu território sofrerá uma perda considerável: o Inpe prevê que 2 metros de elevação do nível do mar roubaria 28% do território da ilha

VIDAS SECAS

Com temperaturas mais altas, as regiões secas devem ficar ainda mais secas. O semi-árido nordestino pode deixar o semi para trás e ganhar o aspecto de um deserto. Resultado: menos plantas, menos animais e mais gente fugindo para as cidades maiores, que verão a pobreza crescer na sua periferia

TEREMOS TORÓ

Foi-se o tempo que São Paulo era a terra da garoa. Daqui para a frente, a metrópole tende a sofrer com chuvas fortes – e, claro, enchentes constantes. Nas cidades do Sul e do Sudeste, deve chover 20% mais do que chove hoje e, pior, as chuvas devem ser mais duradouras, já que mais água deve se acumular nas nuvens

MORTE À MATA

Os humanos podem fugir para lugares mais frios se a temperatura aumentar demais, mas animais e principalmente plantas não têm a mesma sorte. Por isso, estima-se que a mata Atlântica, que ainda abriga uma cadeia alimentar bastante complexa, pode perder até 40% da sua biodiversidade atual

Revista Mundo Estranho

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