Elas não são médicas. Não são enfermeiras. São mulheres analfabetas das castas intocáveis da Índia. Mas agora, treinadas para atuar como agentes de saúde, salvam vidas – inclusive a delas mesmas.
Com os dedos retorcidos pela lepra da adolescência, Sakubai Gite examina uma menina de 2 anos que ela ajudou a nascer e de quem cuida até hoje.Foto de Lynn Johnson
Todos os atendimentos são em domicílio para Sureka Sadafule, que examina uma grávida à porta de casa em Matkuli. Sureka, uma das 120 agentes de saúde do Projeto de Saúde Geral Rural da Índia (PSGR), conquistou a confiança das mulheres pobres em parte porque elas sabem que a vida dela também é uma luta.
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Fundado em 1970, o PSGR (também conhecido como Jamkhed, nome da cidade onde está sediado) fornece cuidados preventivos aos pobres desprovidos de assistência. O projeto já atendeu 300 vilarejos e 500 mil pessoas no estado de Maharashtra, entre elas um recém-nascido, enfaixado e suspenso para ser pesado pela agente de saúde comunitária Leelabai Amte.
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A equipe cirúrgica no único hospital do projeto Jamkhed não dispõe de equipamentos modernos. Mesmo assim, o hospital atende os mais diversos casos, de operação de quadril a ruptura de intestino. Ter um hospital como parte do programa dá mais credibilidade às agentes de saúde comunitárias.
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Em seu banho matinal diário na frente de casa, Sakubai Gite, de 32 anos, sabe o que é passar a vida a limpo. Quando ela contraiu lepra, o marido expulsou-a
Nascida em 1961, ela foi a terceira de 11 filhos. Para ajudar a família, trabalhou na roça. Aos 10 anos casaram-na com um homem que a espancava. Aos 16, pensou em suicídio, mas foi salva por agentes de saúde do vilarejo, que lhe deram emprego e esperança. Hoje, Babai Sathe é a sarpanch, ou líder, de Jawalke. Sua sala está enfeitada com um retrato de Bhimrao Ramji Ambedkar, um intocável reverenciado por sua luta contra a discriminação. A vida dele “é como um sonho”, diz Babai.
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Sakubai Gite conduz vacas para pastar no vilarejo de Pangulghavan, acompanhada pelas rotações do motor de uma motocicleta. Agentes de saúde como Gite não recebem salário do Jamkhed, mas recebem treinamento e financiamento de pequenas empresas para ajudá-las a ter independência financeira.
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Quando Surekha Sadafule se senta para tomar a pressão sanguínea da grávida elas estão produzindo um sistema simples que, gradualmente, está se globalizando. Desde 1992, mais de 2 mil estagiários de mais de cem países estudaram no Instituto de Treinamento e Pesquisa em Saúde e Desenvolvimento com Base na Comunidade de Jamkhed. “A medicina não é uma disciplina apenas técnica, é uma disciplina social”, diz o Dr. Raj Arole, co-fundador do instituto. “A tecnologia está tirando a nossa atenção dos cuidados básicos de saúde”.
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Com afago, uma cantiga e algumas dicas sobre amamentação, a agente Surekha Sadafule alegra o dia de Intaj Pathan e seu bebê, Arbaaz, e também de si mesma. “O conhecimento nos dá prestígio e respeito”, diz ela. “Somos valorizadas pela comunidade.”
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No vilarejo de Matkuli, Surekha Sadafule mede a pressão sanguínea de um senhor de idade que sofre de hipertensão. Problemas crônicos como o dele exigem monitoração regular dos pacientes, mas pouca intervenção de médicos com amplo treinamento. Cerca de Roughly 80% das doenças mortais das áreas rurais podem ser tratadas por meio da educação do povo local, diz Ravi Arole, director de operações do Jamkhed. “Podem ser necessários bons clínicos e médicos para conseguir a confiança das pessoas, mas uma vez que o conhecimento é compartilhado, as próprias pessoas tomam a saúde em suas mãos.”
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Depois de uma sacolejante viagem até o hospital na cidade de Jamkhed, Rani Kale, de 24 anos, esforça-se para dar à luz. Ao seu lado, a agente Sarubai Salve tenta aliviar a dor. No passado, muitas mulheres morriam no parto, e a mortalidade infantil era alta. Essas tragédias eram vistas como vontade dos deuses. “Havia superstição”, diz Sarubai, e preconceito contra intocáveis como ela. “A discriminação era duríssima para mim, e muito difícil de combater”, conta. Mas Sarubai batalhou. “Dei amor e afeto às pessoas. Lentamente o preconceito de casta se dissipa.”
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Depois de uma sacolejante viagem até o hospital na cidade de Jamkhed, Rani Kale, de 24 anos, esforça-se para dar à luz. Ao seu lado, a agente Sarubai Salve tenta aliviar a dor. No passado, muitas mulheres morriam no parto, e a mortalidade infantil era alta. Essas tragédias eram vistas como vontade dos deuses. “Havia superstição”, diz Sarubai, e preconceito contra intocáveis como ela. “A discriminação era duríssima para mim, e muito difícil de combater”, conta. Mas Sarubai batalhou. “Dei amor e afeto às pessoas. Lentamente o preconceito de casta se dissipa.”
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National Geographic
Edição 105
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