terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Groenlândia e as mudanças climáticas


Idéias - José Arbex Jr.
A Groenlândia é um dos melhores locais para se observar os efeitos da mudança climática. Como a maior ilha do mundo tem apenas 55 mil habitantes e nenhuma indústria, as condições da sua enorme cobertura de gelo - bem como a sua temperatura, precipitação e ventos - são influenciadas pelas correntes atmosféricas e oceânicas globais que ali convergem. O que quer que ocorra na China ou no Brasil, de alguma forma, é sentido nesta imensa ilha gelada. E como os groenlandeses vivem próximos à natureza, eles são barômetros vivos da mudança climática.

Friedmann afirma que em sua viagem aprendeu um novo idioma na Goenlândia: a "língua do clima".

Segundo ele, é fácil aprendê-la. Ela só tem três frases. A primeira é: "Há apenas alguns anos". Há apenas alguns anos era possível viajar no inverno, em um trenó puxado por cães, da Groenlândia à Ilha de Disko, passando sobre uma banquisa de gelo de 64 quilômetros de extensão. Mas, nos últimos anos, as temperaturas mais elevadas do inverno na Groenlândia derreteram essa ponte de gelo. Agora a Ilha de Disko está isolada. Aposentem o trenó.

Entre 1979 e 2007 houve um aumento de 30% do derretimento da camada de gelo da Groenlândia, e, em 2007, estima-se que este derretimento foi 10% mais intenso do que em qualquer ano anterior. Atualmente a Groenlândia está perdendo cerca de 200 quilômetros cúbicos de gelo por ano - com o derretimento e queda no mar do gelo situado nas bordas das geleiras -, o que excede em muito o volume de todo o gelo existente nos Alpes. Tudo está acontecendo bem antes do que se esperava.

A segunda frase é: "Nunca vi isto antes...". Em dezembro e janeiro choveu em Ilulissat. Este lugar fica bem ao norte do Círculo Polar Ártico! Não devia chover aqui no inverno, mas é isso o que vem acontecendo atualmente.

A terceira frase é: "Bem, geralmente... mas agora não sei mais". Os padrões climáticos tradicionais que as pessoas idosas da Groenlândia conheceram durante toda a vida mudaram tão rapidamente em certos locais. A longa experiência acumulada por elas já não é tão importante como antes. O rio que sempre correu naquele local agora está seco. A geleira que sempre cobriu aquela montanha desapareceu. A rena que sempre esteve lá quando a temporada de caça começava, em 1º de agosto, não apareceu.

Não é de se surpreender que agora todos aqui falem a língua do clima. Ao que tudo indica, as novas gerações serão “alfabetizadas” nesse novo idioma.
texto da Revista Pangea Mundo

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