O frio verão no Brasil e o inverno forte na Europa significam
que o aquecimento global é lenda? O Ártico demonstra que não
que o aquecimento global é lenda? O Ártico demonstra que não

No Brasil, a temperatura caiu por causa de aglomerados de nuvens que se formam da Amazônia ao Sudeste, bloqueando o calor vindo do Oceano Atlântico. "Esse fenômeno inibe o aquecimento da superfície, fazendo a temperatura cair", diz Alves. O país ainda recebe influência do La Niña, o resfriamento sazonal exagerado das águas do Oceano Pacífico na altura do Equador. Esse fenômeno tem características bastante conhecidas. O sul brasileiro passa a receber ventos secos vindos do Pacífico – daí a estiagem que a região enfrenta. O mesmo fenômeno leva mais frio para a América do Norte e a Europa. Em 2008, o La Niña fez a temperatura média do planeta cair para sua menor marca nos últimos sete anos. Mesmo assim, o ano passado foi quente – não apenas na economia. Com La Niña e tudo, 2008 ainda ficou entre os doze anos mais quentes desde que a medição global de temperatura começou a ser feita, em 1880.
O aquecimento global continua mandando sinais inequívocos para os cientistas. O mais dramático deles é o encolhimento das calotas polares. O Ártico é o indicador mais significativo da mudança climática porque nenhuma outra região do mundo é tão sensível ao efeito estufa. A calota polar norte recebe dos países do Hemisfério Norte ventos impregnados de dióxido de carbono, o principal gás encapsulador de calor da atmosfera. A poluição também deixa a neve menos branca, aumentando a absorção da luz que chega à superfície. Em consequência disso, a temperatura aumenta e o que já foi chamado de "gelo eterno" derrete. Nos últimos dois verões do Hemisfério Norte, a calota atingiu os menores índices de que se tem notícia. Em setembro de 2008, chegou ao tamanho mínimo de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, 33% menor que em 1979, quando começou o monitoramento da região com sensores e fotos de satélite. Pela primeira vez, o Ártico deixou de ligar a América do Norte e a Ásia. O derretimento tornou possível circum-navegar a calota. "Comparando as primeiras imagens com as da semana passada, percebe-se que o Ártico não só derrete mais no verão como está congelando menos durante os meses de inverno", disse a VEJA William Chapman, geógrafo do Cryosphere Today, o serviço da Universidade de Illinois que registra diariamente a área congelada do planeta. O frio dos últimos dias, portanto, não pode ser entendido como evidência de atenuação do temido aquecimento global.
Revista Veja - janeiro de 2009
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