terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O papel das águas na Amazônia

Riqueza hídrica exerce função fundamental para o ecossistema da floresta

Entre seus muitos nomes, a floresta amazônica é conhecida em inglês como rain forest (floresta pluvial): a bacia amazônica recebe por ano 15 trilhões de m3 de chuva, responsável pelo grande volume de água de seus inúmeros rios. Um segundo de fluxo do rio Amazonas poderia abastecer por um dia uma cidade de 2 mil habitantes. Essa riqueza hídrica exerce papel fundamental para a floresta. "As águas são a base do ecossistema amazônico", afirma Sérgio Bringeo, químico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O igarapé Tarumã-Mirim é um afluente do rio Negro


Há na Bacia Amazônica três tipos de águas cujas características variam de acordo com o ambiente que elas percorrem. A idade geológica da foz de cada rio é fundamental para que suas águas se encaixem em uma das colorações encontradas na floresta: as originárias de formações mais recentes são ’brancas’; as que vêm de formações mais antigas podem ser ’pretas’ ou claras (verde-azuladas).

As águas brancas, como as do rio Solimões - um dos principais afluentes do Amazonas -, têm origem andina. Elas são básicas ou neutras, abundantes em nutrientes e carregam sedimentos ricos em sais minerais (como cálcio, magnésio ou potássio). Os solos banhados por elas (as várzeas) são ricos, e elas concentram grande biodiversidade. A fertilidade dessas águas favorece o desenvolvimento de larvas.

As águas pretas, caso do rio Negro, apresentam baixa carga de sedimentos. "Há uma grande concentração de carbono e ácidos orgânicos", explica o geoquímico Patrick Seyler, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês). Segundo Bringeo, essas águas têm a grande vantagem de serem pouco propensas ao desenvolvimento de larvas e insetos hematófagos. "Elas são ácidas." Já nos rios de águas claras, como o Tapajós, não há substâncias predominantes, e as águas são em geral menos ácidas que as negras.

Imagem do satélite CBERS mostra encontro das águas escuras do rio
Negro (ao norte) com as brancas do Solimões, para formar o Amazonas

O rio Amazonas - o mais importante da região - é composto por todos esses tipos de água. "As águas brancas predominam (por terem mais materiais em suspensão), seguidas das pretas e claras", diz Seyler. "Sem o Amazonas, a floresta simplesmente não existiria."

Os rios da Amazônia são classificados em três tipos: igarapés, riozinhos (50 a 60 metros de largura) e grandes rios. "Os igarapés são usados como caminhos de canoa", explica Aziz Ab’Sáber, geógrafo da Universidade de São Paulo (USP). "O riozinho é muito percorrido pelos que querem explorar a beira do rio." Esses rios obedecem a ciclos de inundação responsáveis por algumas de suas características e por muito das riquezas do solo. De maio a julho é a época de cheia, e de novembro a janeiro, a de seca. Esses ciclos, no entanto, não são completamente estáveis. Algumas regiões permanecem inundadas (exceto em anos de seca intensa), outras são inundadas anualmente e, as de terra firme, apenas quando a cheia é excessiva.


Cristina Souto e
Renata Ramalho
Ciência Hoje/RJ

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