Maurício Hashizume
O coordenador da Conferência Nacional de Organizações Dalit (National Conference of Dalit Organisations), Ashok Bharti, que representa cerca de 200 movimentos organizados de dalit espalhados por toda a Índia conta como é ser um “intocável”, explica quais as principais reivindicações e lutas desse segmento da população e diz que com a agenda neoliberal a situação só piorou.
O que é ser um dalit na Índia? Ashok Bharti – A nossa situação, hoje, mesmo depois de alguns avanços, é bem pior que a discriminação dos negros que lutaram sob o comando de Martin Luther King.
Para um estrangeiro, não é simples identificar um dalit. Existe alguma forma de distinguir um “intocável” de um indiano das outras castas? Uma das identificações visuais de um dalit, que em Mumbai se concentram em conglomerados humanos parecidos com favelas chamados de “villages”, são os colares e as pulseiras negras feitas de pequenas miçangas. E se um dalit ou uma dalit estiver vestindo uma roupa considerada de qualidade “superior”, ou uma jóia mais valiosa que o ornamento negro nos pescoços, pode ter seus pertences confiscados por qualquer um.
Quais dados concretos podem evidenciar melhor essa constatação de que a política com base no neoliberalismo atinge preponderantemente os “intocáveis”? Fizemos um estudo e notamos que os empregos para dalit dentro do setor público foram reduzidos em 10% nos cinco primeiros anos de política neoliberal na Índia. Percebemos também que o número de empregados públicos não-dalit de todo o país caiu 3% de 1992 a 1997. No mesmo período, esse mesmo índice para os “intocáveis” foi de 5,8%. E segundo números oficiais, os gastos governamentais com bem-estar social para a população não-dalit vêm aumentando muito mais do que o mesmo gasto voltado para os dalit. Somos os primeiros a ter a dignidade perdida. O ônus da adoção de políticas neoliberais recai preponderantemente sobre nós.
O senhor citou aspectos relacionados à educação em uma de suas respostas. Como o senhor avalia essa relação entre o ensino e os dalit? Existem basicamente três problemas centrais a serem superados na questão da educação. Primeiro, qualquer referência à cultura e à história dos dalit está fora de todos os currículos escolares, desde os cursos básicos até a educação superior. Não há também cursos de pós-graduação sobre nós, os dalit. Ou seja, quem formula as políticas públicas da educação na Índia ignora cabalmente a existência dos dalit. Segundo, não existe uma atmosfera propícia para a educação das crianças dalit. Elas são obrigadas a estudar a subjugação. Por exemplo: a vida e o papel cívico de praticar genocídios contra a população dalit. Para completar, os cursos de formação de professores não prevêem o tratamento especial de crianças “intocáveis”. Sabemos de histórias como a de uma garota que foi punida com agressões no rosto e perdeu a visão por “conduta inadequada” para uma dalit em uma escola comum da Índia. O que nós defendemos é que se o problema for ignorado, não haverá modos de resolvê-lo.
ImprimirEnviar por e-mailMaurício Hashizume, da Agência Carta Maior
Revista Forum
O coordenador da Conferência Nacional de Organizações Dalit (National Conference of Dalit Organisations), Ashok Bharti, que representa cerca de 200 movimentos organizados de dalit espalhados por toda a Índia conta como é ser um “intocável”, explica quais as principais reivindicações e lutas desse segmento da população e diz que com a agenda neoliberal a situação só piorou.
O que é ser um dalit na Índia? Ashok Bharti – A nossa situação, hoje, mesmo depois de alguns avanços, é bem pior que a discriminação dos negros que lutaram sob o comando de Martin Luther King.
Para um estrangeiro, não é simples identificar um dalit. Existe alguma forma de distinguir um “intocável” de um indiano das outras castas? Uma das identificações visuais de um dalit, que em Mumbai se concentram em conglomerados humanos parecidos com favelas chamados de “villages”, são os colares e as pulseiras negras feitas de pequenas miçangas. E se um dalit ou uma dalit estiver vestindo uma roupa considerada de qualidade “superior”, ou uma jóia mais valiosa que o ornamento negro nos pescoços, pode ter seus pertences confiscados por qualquer um.
Quais dados concretos podem evidenciar melhor essa constatação de que a política com base no neoliberalismo atinge preponderantemente os “intocáveis”? Fizemos um estudo e notamos que os empregos para dalit dentro do setor público foram reduzidos em 10% nos cinco primeiros anos de política neoliberal na Índia. Percebemos também que o número de empregados públicos não-dalit de todo o país caiu 3% de 1992 a 1997. No mesmo período, esse mesmo índice para os “intocáveis” foi de 5,8%. E segundo números oficiais, os gastos governamentais com bem-estar social para a população não-dalit vêm aumentando muito mais do que o mesmo gasto voltado para os dalit. Somos os primeiros a ter a dignidade perdida. O ônus da adoção de políticas neoliberais recai preponderantemente sobre nós.
O senhor citou aspectos relacionados à educação em uma de suas respostas. Como o senhor avalia essa relação entre o ensino e os dalit? Existem basicamente três problemas centrais a serem superados na questão da educação. Primeiro, qualquer referência à cultura e à história dos dalit está fora de todos os currículos escolares, desde os cursos básicos até a educação superior. Não há também cursos de pós-graduação sobre nós, os dalit. Ou seja, quem formula as políticas públicas da educação na Índia ignora cabalmente a existência dos dalit. Segundo, não existe uma atmosfera propícia para a educação das crianças dalit. Elas são obrigadas a estudar a subjugação. Por exemplo: a vida e o papel cívico de praticar genocídios contra a população dalit. Para completar, os cursos de formação de professores não prevêem o tratamento especial de crianças “intocáveis”. Sabemos de histórias como a de uma garota que foi punida com agressões no rosto e perdeu a visão por “conduta inadequada” para uma dalit em uma escola comum da Índia. O que nós defendemos é que se o problema for ignorado, não haverá modos de resolvê-lo.
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