quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

República Democrática do Congo: o holocausto negro

Os dez anos de conflitos na RP do Congo matou até agora cerca de cinco milhões de pessoas. Por detrás do maior genocídio desde a Segunda Guerra Mundial estão as potências imperialistas que com a ajuda da ONU beneficiam as empresas multinacionais e os traficantes de minerais preciosos
13 de novembro de 2008


Milhares de pessoas continuam fugindo das regiões conflituosas no Leste da República Democrática do Congo (RDC), onde se enfrentam tropas governamentais, apoiadas pelas milícias hutus de Ruanda, e o Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), liderado pelo general tutsi congolês Laurent Nkunda. Na pequena aldeia de Kiwanja foram encontradas onze fossas comuns com dezenas de corpos. Não se sabe o número exato dos mortos vítimas deste conflito, mas estima-se que há muitas covas coletivas espalhadas na região. Dos cerca de seis milhões de habitantes da província de Kivu Norte, calcula-se que mais de 1,2 milhão abandonaram suas casas. Os combates paralisaram praticamente toda a ajuda humanitária e a entrega de alimentos, remédios e outros itens de primeira necessidade.

Quem financia os rebeldes de Nkunda e as tropas congolenses?

Os enfrentamentos entre tutsis e hutus causaram o massacre de civis tanto por parte dos rebeldes de Nkunda como do exército congolês e tem sua origem o genocídio de Ruanda em 1994.

O conflito na República Democrática do Congo soma-se a muitos outros conflitos recorrentes no continente africano. A imprensa capitalista, orientada pelos monopólios internacionais que exploram as matérias-primas da África, atribui estas guerras a fatores puramente regionais e resultado natural das mazelas da África e do seu povo "não civilizado", "bárbaro", escondendo os verdadeiros criminosos que estão lucrando com a morte e a miséria de milhões de pessoas. Não se fala que as armas e a munição são fornecidas pela Europa e EUA ou que as milícias que se enfrentam são financiadas pelas empresas imperialistas que exploram ouro, diamante, petróleo e outras riquezas naturais.

Por que, no entanto, só agora esta guerra se tornou tão conhecida? Por que uma guerra que já dura dez anos e que já matou mais de cinco milhões de pessoas - o maior genocídio desde a Segunda Guerra Mundial - chamou só agora tanta atenção da imprensa capitalista?

O deslocamento de cerca de 250 mil pessoas da cidade de Goma, fronteiriça com a Ruanda, começou em agosto, quando um acordo de paz firmado entre o governo e as tropas de Nkunda foi suspenso, impulsionando uma nova onda de conflito.

No final de outubro, as tropas de Nkunda declararam cessar-fogo, após quatro dias de conflitos.

O CNDP acusa o Exército da RD do Congo de ter colaborado com as Forças Democráticas para a Libertação da Ruanda (FDLR), que inclui milícias da etnia hutu e ex-soldados ruandenses que participaram do genocídio contra os tutsis em Ruanda em 1994. Laurent Nkunda conta com o apoio do governo tutsi ruandês e dos EUA.

Durante os últimos 15 dias de combate, a população civil da rica província de Kivu é a mais afetada. Em Kivu se concentra uma enorme quantidade de ouro e diamantes e as maiores reservas do mundo de coltan, mineral que se utiliza para a fabricação de celulares, videogames, fibra ótica e tecnologia espacial.

Todo este precioso minério é pilhado pelo imperialismo com a fundamental ajuda das tropas da ONU, envolvidos em contrabando de armas, ouro e marfim. A Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUC) negociam com a Frente Nacional Integracionista (FNI) e com as Forças Democráticas de Libertação da Ruanda (FDLR), na qual trocam armas por ouro, marfim e segurança. A missão da ONU no Congo é a maior do mundo, com cerca de 17 mil soldados instalados no pais desde fevereiro de 2000. A verdadeira missão da ONU é servir aos interesses imperialistas e legitimar ocupações militares em todo o mundo.

Um dos motivos que levaram o conflito à imprensa mundial é o fato de que a França e a Bélgica querem reconquistar sua influência na região, perdida desde a queda do ditador Mobutu Sese Seko, orquestrada pelos EUA em 1997. Por isso tentam agora enviar uma nova força militar para substituir a fracassada missão da ONU e poder saquear os minerais. Washington e as empresas norte-americanas operam, por sua vez, a partir de uma base em Ruanda, fornecendo armas para as tropas de Nkunda. Não é por acaso que o Exército regular do presidente congolês Joseph Kabila está capitulando para os guerrilheiros de Nkunda. As tropas do governo têm o apoio militar da China, também interessada em lucrar com a exploração da economia congolense.

A China é o principal país que disputa com o imperialismo a exploração do petróleo e dos minérios na África. Até agora estava à margem do Congo, que esteve sob influência da França e da Bélgica até 1997, até os EUA assumirem o controle. Ao mesmo tempo, EUA e França precisam firmar acordos para não deixar que a China penetre nas minas congolenses.

Para dar fim ao conflito, Laurent Nkunda disse que só abandonará a luta armada quando o presidente Joseph Kabila se comprometer a revisar todos os compromissos firmados com a China, o que mostra que Nkunda é um instrumento do imperialismo.

Um dado fundamental da situação, no entanto, é que a luta entre os imperialismos pelo controle da região, tem conduzido a uma instabilidade crescente e que as forças políticas cada vez mais escapam ao controle e conduzem a situação a novas crises.

Enquanto os minerais africanos estiverem bem cotados no mercado mundial, a República Democrática do Congo e todo o continente africano serão usados pelo imperialismo como campo de batalha. Alegando se tratar de uma guerra tribal, justifica-se, portanto, o envio de uma força militar internacional para levar a cabo uma ocupação imperialista clandestina disfarçada de missão humanitária

Breve histórico da República Democrática do Congo

A República Democrática do Congo (RDC), ou Congo-Kinshasa - para distinguir-se do vizinho Congo-Brazzavile - é uma ex-colônia belga que esteve sob a tutela pessoal do rei Leopoldo II. Este "ganhou" o território durante a Conferência de Berlim em 1885, época em que o colonialismo europeu dividiu ao seu bel prazer todo o continente africano.

Em 1908, o chamado Estado Livre do Congo deixou de ser uma propriedade da coroa e passou para a administração da Bélgica, que muda o nome da colônia para Congo Belga.

Após décadas de exploração e pilhagem de suas vastas reservas minerais, os movimentos nacionalistas e revolucionários pela independência começaram a eclodir a partir da década de 50, sob o comando de Patrice Lumumba, que muito mais tarde seria assassinado com a ajuda da CIA. A independência veio em 30 de junho de 1960, com o país passando a se chamar República do Congo e em 1964, República Democrática do Congo.

Lumumba assumiu o cargo de primeiro-ministro e Joseph Kasavubu a presidência, mas semanas depois um levante contra o seu governo, liderado por Moise Tshombe, depõs Lumumba, que foi seqüestrado e assassinado, em janeiro de 1961.

Tropas da ONU foram então enviadas em 1963 para supostamente garantir a estabilidade de um país chave para a continuidade da exploração imperialista. A independência política foi concedida para conter uma verdadeira revolução em todo o continente negro, mas a dependência econômica, no entanto, continua até os dias de hoje.

Com a intervenção militar da ONU, que contou inclusive com a presença de tropas brasileiras, Tshombe fugiu e deixou o poder, mas um ano depois, com a ajuda da Bélgica e dos EUA, retornou à presidência. Caiu novamente em 1964, após um golpe militar liderado por Mobutu Joseph Désiré.

Sob sua direção, a RD do Congo se transformou numa espécie de potência capitalista africana. O nome do país é novamente mudado, desta vez para Zaire e a capital, a então Leopoldville, muda para Kinshasa. Mobutu muda até mesmo seu próprio nome, passando a se chamar Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga (o todo-poderoso guerreiro que, por sua resistência e inabalável vontade de vencer, vai de conquista em conquista deixando fogo à sua passagem).

Na década de 80, líderes tribais tentam firmar uma ampla oposição, mas vários dirigentes políticos são presos e exilados. Pressões do imperialismo, diante da tendência ao colapso do regime do seu aliado (como ocorre neste momento com Robert Mugabe) forçam o governo a adotar um regime pluripartidário, elegendo em outubro de 1991 o premiê oposicionista Etienne Tshisekedi, mas este se recusa a jurar obediência a Mobutu e é substituído do cargo. É, no entanto, reconduzido ao posto após uma crise política levar à insurreição das tropas em 1993, que reivindicavam o pagamento de seus soldos. Mais de mil pessoas são mortas durante essa rebelião.

Os EUA e a União Européia se aliam a Tshisekedi, que pede um governo de união nacional para contornar a crise. Eleições diretas são programadas para 1995, mas não acontecem.

Em 1994 eclode o genocídio em Ruanda. Dezenas de milhares de hutus e tutsis fogem para o Zaire, desestabilizando o país com o despertar de uma disputa étnica histórica, impulsionada pelo imperialismo francês e norte-americano.

Os tutsis iniciam uma rebelião liderada por Laurent-Désiré Kabila, que tem o apoio da Uganda e do novo regime tutsi em Ruanda. Estas disputadas internas, sempre fomentadas pelos interesses do imperialismo, materializavam-se na luta entre a guerrilha Aliança das Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire (AFDL) e o Exército.


Em 1997 a guerra civil havia tomado todo o país, com Mobutu muito doente, mas ainda no poder. A guerrilha conquista as regiões mais importantes do país, incluindo Mbuji-Mayi, a "capital dos diamantes". E em maio de 1997 os rebeldes ocupam a capital Kinshasa sem nenhuma resistência militar.

Kabila assume o poder, muda o nome do país novamente para República Democrática do Congo e Mobutu refugia-se em Togo.

Sob a direção de Kabila, os partidos e manifestações públicas são proibidos e a aliança com Uganda e Ruanda é rompida. Em 1998, um novo levante toma conta do país, desta vez por forças tutsis, que se concentram no Norte, na região de Kivu. Ruanda e Uganda apóiam o movimento insurrecional.

Com mais uma guerra civil, a capital está para cair e Kabila pede ajuda à Angola, Zimbábue e Namíbia, que enviam tanques e aviões contra os rebeldes. O levante é sufocado em apenas duas semanas, mas Kabila é obrigado a se comprometer e realizar eleições diretas em 1999.

Todos estes conflitos foram e continuam atendendo aos interesses de forças muito mais poderosas.

Em 2001, Kabila é assassinado pelo seu guarda-costas. Joseph Kabila, seu filho, assume o poder, inicia acordos com a guerrilha e promete eleições, que acontecem em 6 de dezembro de 2006, com ele mesmo sendo reeleito. Estas foram as primeiras eleições em 40 anos de história de conflitos e guerras. Nas regiões mais isoladas e ricas em ouro, as disputas continuam.
/www.pco.org.br

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