A Índia e o programa espacial brasileiro
Nilder Costa
21/nov/08 (Alerta em Rede) – É com uma ponta de inveja que saudamos o feito aeroespacial da Índia ao fazer pousar com sucesso uma sonda lunar em sua primeira missão não-tripulada ao satélite. Dia 14 passado, a sonda lunar se desligou do veiculo lunar Chandrayaan-1 a aproximadamente 100 quilômetros da superfície da lua e pousou no pólo sul às 13h01 (horário de Brasília), disseram autoridades em Bangalore. [1]
A Chandrayaan-1, uma espaçonave construída pela ISRO (agência espacial indiana), também é vista como um impulso para as ambições do país na área de negócios espaciais. Em abril, a Índia colocou em órbita 10 satélites utilizando apenas um foguete, e a ISRO diz que planeja mais lançamentos antes de uma missão tripulada para o espaço. O passo seguinte é seguir para Marte, após quatro anos.
Enquanto isso, no Brasil, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, teve a sua expansão inviabilizada porque a Justiça acatou o reconhecimento de território quilombola exatamente na área do centro, cuja localização é uma das melhores do mundo para lançar foguetes devido à proximidade do equador (o que economiza combustível). Desde 2003, o Ministério Público tentava na Justiça a regularização da área quilombola.
Segundo Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e atual presidente da ACS (Alcântara Cyclone Space), o plano de expansão do CLA incluía três sítios de lançamento, campi universitários e laboratórios, que não mais poderão ser feitos por estarem em território quilombola. "A médio prazo, a alternativa é sair de Alcântara", disse Amaral, para quem a AEB (Agência Espacial Brasileira) "tem a obrigação de recorrer" da decisão do Incra. [2]
Observe-se que a Índia tem um território duas vezes e meia menor que o do Brasil e uma população de 1 bilhão de habitantes (cinco vezes maior que a nossa), dos quais 7% pertencem a mais de 300 tribos catalogadas. Se comparada ao Brasil, dá o que pensar que a Índia, apesar dessa desvantagem territorial e alta densidade demográfica (275 hab/km2), além de abrigar os seus cerca de 70 milhões de ‘povos tribais’, conseguiu construir sua base de lançamento de foguetes, essencial para o sucesso do seu ambicioso programa aeroespacial, ao passo que nós temos que abrir mão da melhor área que dispomos para essa finalidade afim de atender discutíveis direitos de um punhado de ‘remanescentes de escravos’. Como ficam, então, os direitos do 'resto' da sociedade em assunto tão estratégico para seus futuros 'remanescentes'?
Notas:
[1]Sonda indiana pousa na Lua e envia primeiras imagens , Estadão Online , 15/11/2008
[2]Área quilombola "inviabiliza" programa espacial, diz Amaral, Folha de São Paulo, 06/11/2008
http://www.alerta.inf.br/index.php?news=1424
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