segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Corrida tecnológica contra a escassez


Corrida tecnológica contra a escassez
Marlucio Luna

Os esforços em busca de soluções para minimizar o problema da escassez de água encontram um forte aliado na tecnologia. Inúmeros cientistas trabalham atualmente no desenvolvimento de equipamentos, sistemas e métodos que potencializem os recursos hídricos disponíveis ou reduzam o atual estágio de degradação das reservas de água doce no planeta. A questão assumiu tamanha importância que o Fórum Mundial das Águas, realizado em Kioto em março de 2003, dedicou especial atenção aos avanços na área. Uma das alternativas que mais chamaram a atenção dos participantes foi o aproveitamento da captação da água da chuva.

Países como Alemanha (onde 10% das residências e várias indústrias utilizam a captação de águas pluviais), Japão, China e Estados Unidos investem cada vez mais na utilização da água da chuva como forma de reduzir a exploração dos mananciais e o impacto de enchentes em áreas urbanas, onde geralmente o solo é impermeabilizado. Em alguns estados alemães, os governos locais chegam a subsidiar a implantação dos sistemas nas residências, arcando com 50% dos custos. Nessas áreas, o consumo de água encanada caiu de 30% a 50%.

A China, país que atualmente enfrenta escassez de água em várias regiões, aposta na construção de grandes tanques para armazenamento de águas pluviais. A iniciativa já beneficia cerca de 15 milhões de pessoas. A técnica era utilizada pelos chineses há vários séculos, mas fora abandonada em favor das redes de abastecimento de água captada em rios e açudes. Com o esgotamento de várias fontes, técnicos aprimoraram o sistema e voltaram a adotá-lo.

Os estoques formados pela captação de águas pluviais têm como destino atividades em que não se exigem condições de potabilidade. Na Europa e no Japão servem para climatização de ambientes, uso em banheiros e lavagem de quintais e veículos. Na China, a agricultura é o setor beneficiado.

A atividade agrícola é a que mais consome água doce. Como a agricultura de irrigação crescerá de 15% a 20% nos próximos 30 anos, a ONU alerta para as conseqüências da exploração dos recursos hídricos. Enquanto um adulto precisa, por dia, de 4 litros de água para beber, a produção diária de alimento para esta pessoa consome de 2 mil a 5 mil litros. Tais números expõem uma realidade preocupante. De toda a água doce consumida diariamente no mundo, a agricultura fica com 70%, a indústria aproveita 20% e menos de 10% vão para a população (higiene e consumo direto).

A ONU destaca a necessidade urgente de mudanças nas técnicas de irrigação, o que evitaria o desperdício. Segundo estudos realizados em países de clima semi-árido, a simples troca de método pode gerar uma economia para cada agricultor de 200 mil litros de água por hectare/ano. Esse volume daria para matar a sede de 150 pessoas no período.

A escolha da tecnologia adequada de irrigação aumenta a produtividade e minimiza os impactos ambientais (degradação de solos, aqüíferos ou processos de salinização). A ONU destaca que em um cenário de aumento constante na demanda mundial por comida, governos e organismos internacionais devem dedicar especial atenção à questão.

Já no Brasil, as pesquisas apresentam bons resultados. Algumas delas apostam em técnicas de tratamento do esgoto doméstico e dos efluentes industriais. A Universidade de São Paulo (USP) criou um centro de referência para desenvolvimento e difusão de novas tecnologias na área. Depois de tratados, esgoto e rejeitos industriais podem ser utilizados em várias etapas do processo produtivo e até mesmo reinjetados no solo para recarga de aqüíferos. Os pesquisadores ressaltam que a principal dificuldade enfrentada no Brasil é a falsa cultura da abundância de recursos hídricos. Empresas e população ainda têm a noção equivocada de que água é um bem inesgotável.

Outra linha de pesquisa é o desenvolvimento de equipamentos. Técnicos brasileiros criaram o Sistema de Monitoramento de Água em Tempo Real (Smater), nome pomposo da sonda que controla a qualidade da água represada para abastecimento público e em hidrelétricas - em todo o mundo, o volume chega a 7.500 quilômetros cúbicos de água, sendo cerca de 1 mil só no Brasil. O Smater é mergulhado no reservatório e fornece informações como pH, temperatura, nutrientes, oxigênio dissolvido, turbidez e clorofila. Os dados permitem a redução dos custos com o tratamento de água.



Marlucio Luna é editor do projeto Século XX1.

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