segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fórum de Quioto inventa água virtual*



José Sacchetta
A água virtual é uma realidade. Pelo menos em Quioto, no Japão. Nos debates que acontecem no 3° Fórum Mundial da Água, um número cada vez maior de governos, agências internacionais e ONGs utiliza o novo conceito.

Quioto, Japão - A água virtual é uma realidade. Pelo menos em Quioto, no Japão. Nos debates que acontecem no 3o Fórum Mundial da Água, um número cada vez maior de governos, agências internacionais e ONGs utiliza o conceito de água virtual - a quantidade utilizada na produção de alimentos e bens - para debater a economia dos recursos hídricos, o planejamento agrícola e industrial.

"Quando você consome um quilo de arroz, de certo modo também está usando os mil litros de água que foram necessários para cultivar aquela quantia do cereal. Quando come um quilo de carne, gasta os 13 mil litros de água que foram necessários para produzi-la. Esta é a água escondida, ou virtual", explicou Daniel Zimmer, diretor do Conselho Mundial da Água, durante uma mesa-redonda sobre comércio e geopolítica.

Na prática, a noção de virtualidade já fundamenta estudos e diretrizes políticas. Por causa da grande quantidade de água utilizada na produção do arroz, por exemplo, ganha força a idéia de substituir seu cultivo e consumo por trigo ou soja. A proposta é rejeitada por grupos ambientalistas, já que só o trigo geneticamente modificado seria comercialmente viável em países tropicais, onde a rizicultura está concentrada.

Outro argumento contra a simples substituição de cultivos é o grande contraste entre continentes, em relação ao uso agrícola da água. Europa e Estados Unidos consomem diariamente quatro mil litros per capita de água virtual. Na Ásia, onde grande parte do arroz do mundo é produzido, o gasto diário per capita é de 1.400 litros. Globalmente, a agricultura e a pecuária são responsáveis por 70% do consumo de água no mundo.

O conceito de água virtual pode se tornar importante para calcular o verdadeiro gasto de água dos países, já que a simples adoção de políticas públicas avançadas, em relação à exploração de recursos hídricos pode não ser suficiente. Um grande importador virtual poderá indiretamente provocar desastres em países pobres, exportadores de alimentos, onde a gestão ambiental dos recursos naturais seja deficiente.

As estimativas sobre o comércio de água virtual divulgadas ontem, pela primeira vez, em Quioto, apontam para trocas internacionais de água, em forma de alimentos, correspondentes a 20% do consumo hídrico do planeta. O cálculo foi apresentado pelo engenheiro Arjen Hoekstra, do Instituto de Infraestrutura Hidráulica e Engenharia Ambiental (IHE), de Amsterdã (Holanda).

O Brasil é considerado um dos principais exportadores de água virtual, juntamente com Estados Unidos, Canadá, Argentina, Índia, Tailândia e Vietnã. Entre os grandes importadores estão China, Japão, Coréia do Sul, Alemanha, Itália e Espanha.
José Sacchetta é jornalista.

* Matéria publicada na agência de notícias Carta Maior, em 19 de março de 2003.

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