segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um mundo mais rico e com mais desempregados



Marlucio Luna
O desemprego se transformou em uma das maiores preocupações em todo o mundo. Tanto países desenvolvidos quanto os do Terceiro Mundo enfrentam um desafio que parece a cada dia mais difícil: ter uma economia capaz de gerar vagas suficientes no mercado de trabalho para absorver um volume de mão-de-obra crescente. Nas nações em desenvolvimento, uma característica em especial torna a tarefa ainda mais árdua. O crescimento da população. Todos os anos, um número grande de jovens busca o primeiro emprego. Mercado saturado, falta de experiência, formação profissional incipiente (ou, pelo menos, abaixo do que os empregadores exigem) são alguns dos obstáculos enfrentados. Na Europa, na região dos Tigres Asiáticos e nos Estados Unidos, o problema surge em proporção menor, mas ainda assim preocupa. A realidade é clara: não há emprego para todos. Mas detratores e defensores do modelo econômico dominante estabelecido com a globalização divergem quanto às causas do desemprego.

Os defensores do modelo chamado de neoliberal alegam que as exigências de um mercado internacional marcado pela competitividade impõem mudanças radicais no cotidiano das relações entre trabalhadores e empregadores. Daí a flexibilização das legislações trabalhistas, a redução dos custos (principalmente os impostos e taxas de cunho social, como aqueles relativos à previdência social) com a manutenção das vagas nas empresas, além dos processos de reestruturação das empresas e de seus habituais cortes de pessoal. Junte-se a isso o avanço tecnológico em todos os setores econômicos. Máquinas cada vez mais modernas, sofisticação dos sistemas de transmissão de informação e técnicas inovadoras no sistema produtivo acelerariam a realização de tarefas, reduzindo o número de funcionários necessários. Mais produtos e serviços em menor tempo e com menos empregados, potencializando lucros. Para os que defendem o atual modelo de globalização, o desemprego é "estrutural", inerente à nova realidade. Novas tecnologias também exigem trabalhadores com mais anos de estudo, alegam.

Para aqueles que criticam o neoliberalismo, eis aí uma das principais falhas do modelo atual. Lembram que em todas as revoluções tecnológicas ocorreram mudanças na alocação de mão-de-obra. Quando o trabalho no campo foi mecanizado, a indústria absorveu os trabalhadores disponíveis. No momento em que a informatização chegou à indústria, parte dos desempregados foi absorvida pelo setor de serviços. Assim, atribuir a responsabilidade pela falta de vagas no mercado de trabalho à tecnologia seria, para os críticos deste modelo, um equívoco. Eles argumentam que não há "desemprego estrutural", mas sim "conjuntural" - fruto de determinada orientação política e econômica, que privilegia os ganhos financeiros em detrimento da produção de bens e serviços.

Segundo tais críticos, o que se vê hoje é o desemprego, que se relaciona de forma direta com a concentração mundial de renda. Os países do Primeiro Mundo obtêm lucros, inimagináveis há algumas décadas, com modelos econômicos que dificultam que as nações em desenvolvimento fabriquem produtos de alto valor no mercado internacional. Como Europa, Tigres Asiáticos e Estados Unidos concentram o domínio da tecnologia de ponta, vendem seus produtos ao Terceiro Mundo e compram mercadorias de baixo valor. A circulação de riqueza se dá em apenas uma direção. Os poucos recursos disponíveis nas nações em desenvolvimento são transferidos e ajudam a manter empregos nos países ricos, enfraquecendo os setores empregadores nas demais regiões do mundo.
Marlucio Luna é editor do projeto Século XXI.

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