Sinal de alerta
Falta arroz na mesa dos asiáticos e aumenta o preço dos alimentos em quase todo o planeta. Entre as causas estão o crescimento do consumo e problemas de ordem ambiental. Entenda a extensão da crise e o seu impacto no cotidiano
Texto: Marina Wentzel e Martha San Juan França
Falta arroz na mesa dos asiáticos e aumenta o preço dos alimentos em quase todo o planeta. Entre as causas estão o crescimento do consumo e problemas de ordem ambiental. Entenda a extensão da crise e o seu impacto no cotidiano
Texto: Marina Wentzel e Martha San Juan França
Nas ruas sujas e estreitas do bazar de Pahar Ganj, na capital indiana de Nova Délhi, um emaranhado caótico de fios elétricos encobre fachadas decadentes com letreiros em hindi oferecendo uma grande diversidade de produtos. Bolsas, ervas, lenços, chinelos, pneus, eletrônicos, remédios, bijuterias, saris – aqui se encontra de tudo. Inclusive o produto mais fundamental à sobrevivência diária dos indianos: o arroz. O país, que tem uma população de mais de 1 bilhão de habitantes, consome cerca de 94 milhões de toneladas do produto por ano. Isso significa que, juntamente com a China, a Índia é responsável pela metade do consumo mundial de arroz.
A mercearia de Ajay Goyal é a loja mais movimentada do bairro e, como não poderia deixar de ser, o grão é o campeão de vendas. Isso se nota pela chegada ininterrupta de novos carregamentos, trazidos por carroceiros de rosto marcado pelo trabalho pesado. Goyal me conta que a mercearia prosperou nos últimos anos, pois a economia indiana vai bem. Mas, há alguns meses, sofreu um baque. “Eu já vendi mais”, comenta esse empresário que herdou do pai, Shi Devener, o estabelecimento que foi aberto pelo avô, Banarsi Das, há mais de 50 anos.
Segundo Goyal, ultimamente, a clientela mais pobre está consumindo menos arroz porque não consegue pagar pelos preços mais altos. Em 2007, ele cobrava 28 rúpias (R$ 1,04) por 1 quilo do grão entregue na casa do cliente. Em abril deste ano, a mesma quantidade já não pode ser comprada por menos de 32 rúpias (R$ 1,19). Isso faz diferença para os freqüentadores da mercearia, representantes de uma população de bilhões de asiáticos atingidos por uma crise de proporção planetária, de origem complexa e de conseqüências trágicas: a alta mundial dos preços de alimentos.
Nas ruas sujas e estreitas do bazar de Pahar Ganj, na capital indiana de Nova Délhi, um emaranhado caótico de fios elétricos encobre fachadas decadentes com letreiros em hindi oferecendo uma grande diversidade de produtos. Bolsas, ervas, lenços, chinelos, pneus, eletrônicos, remédios, bijuterias, saris – aqui se encontra de tudo. Inclusive o produto mais fundamental à sobrevivência diária dos indianos: o arroz. O país, que tem uma população de mais de 1 bilhão de habitantes, consome cerca de 94 milhões de toneladas do produto por ano. Isso significa que, juntamente com a China, a Índia é responsável pela metade do consumo mundial de arroz.
A mercearia de Ajay Goyal é a loja mais movimentada do bairro e, como não poderia deixar de ser, o grão é o campeão de vendas. Isso se nota pela chegada ininterrupta de novos carregamentos, trazidos por carroceiros de rosto marcado pelo trabalho pesado. Goyal me conta que a mercearia prosperou nos últimos anos, pois a economia indiana vai bem. Mas, há alguns meses, sofreu um baque. “Eu já vendi mais”, comenta esse empresário que herdou do pai, Shi Devener, o estabelecimento que foi aberto pelo avô, Banarsi Das, há mais de 50 anos.
Segundo Goyal, ultimamente, a clientela mais pobre está consumindo menos arroz porque não consegue pagar pelos preços mais altos. Em 2007, ele cobrava 28 rúpias (R$ 1,04) por 1 quilo do grão entregue na casa do cliente. Em abril deste ano, a mesma quantidade já não pode ser comprada por menos de 32 rúpias (R$ 1,19). Isso faz diferença para os freqüentadores da mercearia, representantes de uma população de bilhões de asiáticos atingidos por uma crise de proporção planetária, de origem complexa e de conseqüências trágicas: a alta mundial dos preços de alimentos.
Preocupação maior na Ásia
O preço do arroz nos armazéns indianos sofre reajuste: de 28 para 32 rúpias. o aumento pesa no bolso dos mais pobres
A agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que existam hoje no mundo 862 milhões de pessoas que passam fome e outras 100 milhões correm o risco de engrossar essa triste estatística se nada for feito para aliviar a alta dos preços. Nos últimos meses, mais de 30 países testemunharam protestos violentos motivados pela insatisfação dos que não têm o que comer (veja mapa à pág. 34). O medo do desabastecimento assusta até o país mais rico do mundo, os Estados Unidos e, apesar do problema ainda não ter chegado à mesa dos americanos, muita gente está comprando para fazer estoque.
Mas o problema é maior entre os asiáticos e o produto mais afetado é o arroz – alimento indispensável no prato dos 3,3 bilhões de habitantes do continente (metade da população do planeta), responsável, segundo a FAO, por 30% da energia da dieta da população. Em casos extremos, como ocorre nas Filipinas, a comida mais popular do país está sendo racionada. Os mais pobres vivem com uma cota diária subsidiada de 2 quilos por família, distribuídos pelo governo, pois já não é possível comprar o produto a preços populares nas mercearias locais.
É o que acontece, por exemplo, no vilarejo de Bawing, na ilha de Mindanao, sudeste do país. Ali, o governo distribui diariamente 100 senhas para comprar arroz subsidiado e as famílias passam a noite ao relento, aguardando na fila para comprar o produto. “Cem senhas não são suficientes para as 3 mil pessoas da região”, comenta a missionária alemã Marga Wulfgram, que coordena um projeto de ajuda aos necessitados. “A maior parte da comunidade está sobrevivendo com apenas duas refeições por dia.”
Até na rica Hong Kong o racionamento de arroz se faz necessário, uma vez que a metrópole chinesa não tem produção agrícola relevante e depende das importações. “O arroz está mais caro em todos os lugares, tanto faz se eu for à feira, ao mercadinho ou ao supermercado”, diz a dona de casa Xie Jing, que mora no subúrbio de Dong Tou Chuan. Ela conta que metade dos 4.500 dólares de Hong Kong (equivalentes a US$ 576), que o marido ganha fazendo bicos como eletricista, é destinado à compra de comida.
No Brasil, o arroz com feijão de cada dia também preocupa. Embora não haja falta desses produtos, a cotação – pelo menos do arroz – no mercado internacional puxou os preços para cima. Os gastos com carne e com a cesta básica de alimentos também subiram, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). E a inflação apresenta tendência de alta impulsionada pelo preço dos alimentos.
As causas do problema
Mercearias tradicionais de Nova Délhi, como a de Ajav Goyal, vendem todo tipo de coisa: o arroz, trazido pelos carroceiros, é o campeão de vendas
O fantasma da escassez assombra o planeta por vários motivos, muitos deles de ordem financeira, como, por exemplo, o enfraquecimento do dólar, a moeda usada para a cotação das commodities agrícolas em quase todos os principais mercados do mundo. Mas uma boa parte do problema se deve ao impacto da produção dos alimentos para o meio ambiente e a crise provocada pelo aumento do consumo mundial, especialmente em países gigantes, como Índia e China. Esses “novos ricos” fomentam a demanda, pois querem comer mais e melhor. E o modelo de alimentação segue o padrão americano de consumo – com destaque para o trigo, o arroz, o milho e a carne – distribuídos nos supermercados.
Um bom exemplo é o consumo de carne na China. Há 20 anos, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano. Hoje consome 50. Maior consumo de carne quer dizer maior consumo de grãos. Para produzir 1 quilo de carne bovina, são necessários 8 quilos de grãos. Para cada quilo de carne de porco, são necessários outros 3 quilos. O problema é acrescido pelo aumento geral da população, que faz com que o consumo avance em ritmo mais rápido do que a capacidade de produção do país.
O desenvolvimento econômico chinês também provoca o deslocamento das populações do campo para as grandes cidades. O que significa menos mão-de-obra disponível para a agricultura, no caso o plantio de arroz. Estima-se que, nas últimas três décadas, mais de 150 milhões de trabalhadores abandonaram vilarejos e foram em busca de emprego nas metrópoles, uma parcela superior a 10% da população. Sem contar os problemas relacionados à poluição, que afeta, por exemplo, os grandes rios e provoca erosão e desertificação em áreas antes férteis.
O impacto é ainda mais intenso porque a cultura do arroz, diferentemente da cultura do milho e do trigo, ocorre em pequenas propriedades familiares e não em grandes fazendas. Isso quer dizer que muitos arrozais simplesmente deixaram de existir quando as famílias migraram em busca de melhores oportunidades no meio urbano. O grão branco também perdeu espaço no norte do Laos, onde os arrozais foram substituídos por seringais, cuja borracha é exportada para a fabricação de peças automotivas na China.
Aquecimento global
Alguns dos principais produtores mundiais de alimentos, como o Brasil e a Austrália, passaram recentemente por fortes secas que atingiram a produção. Problemas climáticos também afetaram o cultivo do arroz em diversos países da Ásia. Em Bangladesh, por exemplo, uma forte seca deixou a população carente de 1,5 milhão de toneladas do grão. Da mesma forma, em maio, em Mianmar, o ciclone Nargis inundou os arrozais com água do mar, fazendo o preço do produto duplicar. A ONU teme que o país perca a época do plantio da próxima safra, pois as margens do delta do rio Irrawaddy, onde é maior a produção, ainda estão contaminadas com sal.
Muitos especialistas associam essas ocorrências ao aquecimento global – o aumento da temperatura da Terra motivado pelo excesso de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis, mas também das queimadas e desmatamentos e pelas emissões de metano provocadas pelo sistema digestivo dos animais. A grande seca ocorrida na Amazônia, em 2005, pode ter sido provocada pelo aquecimento anormal das águas do oceano Atlântico. Mais calor na superfície do oceano significou um aumento de vapor d’água na atmosfera e alteração no regime de ventos que chegam até a floresta. A previsão dos pesquisadores do clima, associados ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), é de que o aquecimento global pode afetar o regime de chuvas do semi-árido brasileiro e agravar o problema da seca e da desertificação.
Cerca de 40% da população mundial depende das águas dos rios que são alimentados pelo degelo da cordilheira do Himalaia para a sua sobrevivência. E as geleiras do Himalaia estão derretendo rapidamente. Segundo as previsões, antes de 2050 boa parte desse gelo terá sumido, causando prejuízos drásticos à agricultura do Sudeste Asiático e de dois países gigantes – a Índia e a China. As conseqüências se desdobram para além da fome local e da escassez de água que se seguirá. A pressão maior sobre o mercado de grãos provoca o aumento da importação de alimentos e uma escalada de preços. Os analistas, aliás, acreditam que isso já está acontecendo.
Mas o aquecimento global não é o único fator que afeta as regiões agriculturáveis do planeta. Em vários lugares, a terra, exaurida pelo mau uso, pela devastação, responde com eventos extremos. Foi assim na Austrália, que sofreu secas em série; ou no Canadá, que perdeu parte da safra de trigo em 2007, ou mesmo na China, que enfrenta chuva ácida e desertificação.
Para mitigar os efeitos dessas catástrofes sobre o clima, os países produtores impedem a exportação de seu principal cultivo, agravando o cenário nos países importadores. Os casos mais recentes foram vistos com o trigo argentino e o arroz indiano e vietnamita, reservado apenas para o consumo próprio. A interrupção nas exportações estabiliza o preço no mercado doméstico, mas tem como efeito colateral a pressão no mercado internacional e prejudica países pobres como Bangladesh, que este ano terá de importar pelo menos 1,5 milhão de toneladas de arroz para compensar as perdas com as secas da safra passada.
Biocombustíveis
A desestabilização da produção de alimentos também está relacionada aos níveis recordes do preço do petróleo, que causam impacto em toda a cadeia de produção e distribuição. Quase todas as fazendas usam óleo diesel para movimentar as máquinas e os fertilizantes, cujos componentes advêm do petróleo, aumentaram mais de 160% somente nos primeiros dois meses deste ano. Além disso, o combustível mais caro eleva o preço do transporte para os centros consumidores, aumentando o preço final dos alimentos.
Diversas entidades internacionais, como a ONU e o Fundo Monetário Mundial (FMI) reclamam do desvio de parte da área agrícola para a produção de biocombustíveis. Isso, de fato, ocorre nos Estados Unidos, onde o etanol de milho compete diretamente com a alimentação e os subsídios do governo, destinados a incentivar o uso do produto, provocaram o aumento do preço do alimento. Mas, para o governo brasileiro, é necessário fazer uma distinção entre o etanol feito de milho (o americano) do etanol feito de cana (o brasileiro).
De fato, hoje o Brasil produz cerca de 16 bilhões de litros de álcool por ano, em quase 3 milhões de hectares, o suficiente para atender a 40% da frota de veículos nacionais. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), há possibilidade de dobrar essa produção utilizando os cerca de 90 milhões de hectares disponíveis para a expansão da agricultura, sem que seja necessário pressionar áreas sensíveis como a Amazônia e o Pantanal Mato-Grossense. Além disso, a cana-de-açúcar é a fonte de biocombustível que apresenta melhor relação custo/benefício no mercado (muito mais do que o etanol de milho) e a tecnologia para destilar o etanol e misturá-lo à gasolina é comparativamente barata e fácil de se obter.
O Brasil, com sua imensa área agriculturável, passa relativamente incólume pela crise de alimentos. Mas não deixa de ser afetado pelo que ocorre no restante do planeta. A proposta do governo é de aproveitar o momento para reintroduzir o tema da segurança alimentar na agenda política dos países, eliminando os subsídios protecionistas dos países ricos e revalorizando os mercados de produtos tradicionais. Está na hora também de repensar o consumo, baseado sempre nos mesmos produtos, e o desnível entre ricos e pobres no planeta. Para reduzir o problema da falta de alimentos no mundo e satisfazer a demanda crescente, a produção global precisa dobrar até 2050. Mas esse aumento deve ocorrer principalmente nos países em desenvolvimento, que precisam ter mais acesso a insumos, recursos hídricos e terras cultiváveis.
Crise mundial se manifesta em vários pontos do planeta
1 - México
O preço do milho no mercado mundial aumentou desde que o governo americano começou a subsidiar o cultivo do produto para a fabricação de etanol. A cidade do México assistiu a uma série de protestos por causa do aumento do valor da tortilla, a panqueca de farinha de milho que é a base do cardápio mexicano.
2 - Haiti
A alta mundial do preço dos alimentos afeta, sobretudo, os mais pobres. Em Porto Príncipe, capital do Haiti, o país mais pobre do continente, cinco pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em protestos pela elevação do preço do pacote de arroz.
3 - Argentina
A presidência vive uma quebra-de-braço com os produtores de carne e grãos. Na tentativa de diminuir a alta de preços desses produtos no mercado interno, o governo aumentou os impostos sobre as exportações. Os produtores reagiram com um locaute sem precedentes, provocando o desabastecimento.
4 - Brasil
O país tem estoque de alimentos, mesmo assim, para garantir, o governo investe na próxima safra aumentando o financiamento. Mas a inflação preocupa.
5 - Bolívia
Ocorreram fortes chuvas no começo de 2008, que causaram a morte de milhares de pessoas e prejudicaram a produção de alimentos. O governo proibiu a exportação de trigo, milho, arroz, carne e óleos vegetais, o que provocou protestos e greves dos produtores.
6 - Peru
A alta no preço dos fertilizantes provocada pela crise do petróleo deu origem a protestos. Os produtores bloquearam o acesso a Machu Picchu e fecharam estradas em fevereiro.
7 - Ucrânia
Com o aumento da inflação no país, o preço dos alimentos subiu 40,7% no acumulado de 2007, puxando o índice geral para 26,2%. Para tentar resolver o problema, o país decidiu cortar os impostos sobre a importação de produtos alimentícios, além de desestimular as exportações.
8 - China
A expansão do consumo com a melhoria das condições de vida e aumento da população levou ao aumento do preço dos alimentos e, conseqüentemente, da inflação. O governo impôs limites à exportação de produtos como trigo, soja e milho.
9 - Coréia do Norte
O regime fechado impede que se saiba o que acontece, mas a produção é bem menor do que o necessário ao consumo da população. Há pouco, a ajuda recebida da Coréia do Sul foi reduzida e o governo teve de pedir alimentos à China.
10 - Indonésia
O aumento dos preços da soja, do milho e do arroz provocou uma série de manifestações no país. Para conter a inflação, o governo anunciou a redução nas taxas de importação e a progressiva taxa de exportação.
11 - Egito
Pelo menos quatro pessoas morreram em conflitos gerados pela falta de pão. O aumento do preço levou mais gente às filas das padarias, nas quais o produto é subsidiado, provocando a escassez.
12 - Camarões
Os choques com a polícia provocados pela alta do preço dos alimentos provocaram a morte de 24 pessoas. O governo cortou impostos e aumentou o salário mínimo para impedir novos protestos.
13 - Burkina Fasso
Sindicalistas decretaram greve geral em 2008 e pediram cortes nos impostos por causa dos problemas com o aumento do preço dos alimentos. Cerca de 300 pessoas foram presas em protestos.
14 - Mauritânia
Um dos países mais pobres da África enfrentou protestos que começaram no ano passado contra o aumento do preço dos grãos e dos combustíveis. O governo cortou os impostos sobre os cereais.
15 - Costa do Marfim
Cerca de 49% da população vive abaixo da linha de pobreza e sofre com a falta de alimentos. Uma série de protestos contra o aumento dos preços, principalmente do arroz, causou uma morte.
16 - Moçambique
A onda de protestos pelo aumento no preço dos alimentos provocou a morte de pelo menos seis pessoas e ferimentos em outras 100. Estima-se que 302 mil moçambicanos convivam com a insegurança alimentar.
17 - Austrália
Segundo maior exportador de trigo do mundo, o país sofreu com a seca e os incêndios na maior parte do seu território. Os problemas diminuíram este ano, quando o clima voltou a favorecer o plantio.
Revista Horizonte Geográfico
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