Fazendas do sul da Bahia adotam novas técnicas de cultivo e sustentabilidade para associar matéria-prima a produto de alta qualidade
Texto: Sérgio Adeodato
Texto: Sérgio Adeodato
O Doutor não era doutor, o Capitão não era capitão. Como a maior parte dos coronéis não era coronéis. Poucos, em realidade, eram os fazendeiros que nos começos da República e da lavoura haviam adquirido patentes de coronel da Guarda Nacional... A cultura do cacau dominava todo o sul do Estado da Bahia, não havia lavoura mais lucrativa, as fortunas cresciam, crescia Ilhéus, a capital do cacau ...
Gabriela Cravo e Canela, Jorge Amado
Os livros escolares ensinam que a cultura cacaueira marcou a história econômica e social do sul da Bahia. Mas foram os romances de Jorge Amado (1912-2001), traduzidos para diversos idiomas e adaptados para minisséries e novelas na TV, que tornaram os cenários e personagens dessa região na década de 1920 conhecidos no resto do país e no mundo. “A luta do cacau tornou-me um romancista”, dizia o escritor, inspirado nos enredos de poder, paixão e riqueza proporcionados por esses frutos polpudos e suas amêndoas, com as quais a indústria fabrica um dos alimentos mais apreciados do mundo: o chocolate.
Ao longo de quase três séculos, o cacau conviveu com a Mata Atlântica, sofreu pragas devastadoras, amargou um longo período de decadência e hoje volta aos poucos a se expandir com práticas agrícolas modernas e preocupações socioambientais. Os novos tempos da fruta nada têm a ver com o modelo adotado pelos antigos coronéis. Mesmo porque aqueles eram métodos truculentos de um passado que não tem volta. Nesse início do século 21, o cacau baiano deixou de ser uma commodity para se tornar uma matéria-prima de qualidade, cultivada de modo a não afetar a floresta. O sonho agora dos produtores é associar essa matéria-prima a um chocolate refinado e genuinamente nacional. Tão saboroso quanto os legítimos chocolates suíços, aqueles que derretem vagarosamente na boca, e tão apreciado como os bons vinhos e os cafés de qualidade.
Para entender melhor como está ocorrendo essa retomada do cultivo do cacau, percorremos a BR-101 a partir da cidade de Ilhéus, no litoral baiano, seguindo a rota das antigas fazendas. Árvore tropical delicada, sensível a mudanças bruscas de temperatura, pragas e fungos, o cacaueiro sofreu no passado vários baques. O primeiro foi em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York. De maior produtor mundial, o Brasil passou a enfrentar a concorrência de outros países, como a Costa do Marfim.
O golpe mais terrível, no entanto, ocorreu há cerca de 20 anos. Foi em 1989 que apareceram os primeiros casos de vassoura-de-bruxa, praga resistente a qualquer tipo de defensivo. Originária do fungo Moniliophtera perniciosa (antes chamado de Crinipellis perniciosa), a vassoura-de-bruxa tem esse nome porque deixa os ramos do cacaueiro secos como uma vassoura velha. A doença foi descoberta em 1895, no Suriname, e já tinha demonstrado o seu poder devastador ao atingir, em 1920, as lavouras de cacau do Equador. Quando chegou ao sul da Bahia, provavelmente vinda da região amazônica, a praga encontrou todas as condições ambientais para se expandir e foi o fim para os produtores baianos. Só para se ter uma idéia dos estragos, a produção, que foi de 390 mil toneladas em 1988, caiu para 123 mil toneladas em 2000. Se não bastasse a praga, uma longa estiagem ameaçou a produção.
Sinais da crise
“Naquela época, produzíamos três vezes mais cacau do que hoje”, lembra Ronaldo de Jesus Silva, atualmente funcionário de uma pousada e restaurante à beira da BR-101, no município de Maraú. A pousada é um sinal da crise do cacau. Com vista para um maciço de cacauais por entre a mata nativa, ela está situada na antiga casa-grande em que morava o então coronel e sua família. “Com a crise, tivemos de nos adaptar e hoje estamos lutando para salvar o que restou”, afirma Ronaldo. Ele lembra que ninguém foi poupado. Apenas seis anos depois da descoberta dos primeiros focos, em Uruçuca e Camacã, 100% das fazendas de cacau sofriam com a praga. Pequenos e grandes produtores sentiram na carne o impacto devastador da vassoura-de-bruxa. O preço dos imóveis rurais despencou. Muitas fazendas foram simplesmente abandonadas. Sem cacau para vender, o produtor se endividou.
A floresta – que até então resistia – foi cortada para a venda de madeira e formação de pastagens. Milhares de trabalhadores perderam o emprego e o êxodo rural fez surgir favelas em cidades litorâneas, como Porto Seguro. Até hoje a história de como a praga invadiu os cultivos baianos é polêmica. Alguns dizem que o fungo chegou com os caminhões de madeira da Amazônia; outros, como divulgado no noticiário da época, suspeitam de sabotagem por razões políticas.
Seja como for, as técnicas de enxerto e clonagem para produzir espécies de árvore resistentes à doença produziram a princípio resultados parciais, uma vez que, aos problemas resultantes da vassoura-de-bruxa, acrescentaram-se outros. Na década de 1990, os produtores ainda não haviam percebido a dependência da commodity dos preços fixados pelos fabricantes internacionais de chocolate e a concorrência dos países africanos e da Indonésia. Os antigos fazendeiros – e também seus filhos, na sucessão familiar – não tinham o hábito de cuidar dos plantios com critérios técnicos. Foi necessário mudar mentalidades e evitar a morte de um sistema econômico que sustentava gerações. Aprenderam a plantar variedades de espécies geneticamente mais produtivas e resistentes às pragas e a adotar métodos eficientes para manejar as árvores que sombreiam o cacau.
A volta por cima
“Vista sob o aspecto positivo, a vassoura-de-bruxa ajudou a mudar a realidade, transformando coronéis em empreendedores”, assegura Paulo Sérgio Santos, diretor da fazenda Vale do Juliana, no município de Igrapiúna, 160 quilômetros ao norte de Ilhéus. Hoje, as espécies foram substituídas pelo processo da clonagem, no qual a haste de um cacaueiro é enxertada na planta mais antiga. À proporção que a enxertia cicatriza e produz novos ramos, os galhos velhos vão sendo podados até se obter um clone sadio e totalmente revigorado. Mas as mudanças no setor ocorrem em outros aspectos mais sutis do que o enxerto da planta. Na Vale do Juliana, ligada ao Grupo Odebrecht, o cacau é a base de um modelo de desenvolvimento sustentável que começa a se tornar presente na região.
Por ser plantada à sombra da floresta, a árvore foi responsável pela preservação de grandes corredores de Mata Atlântica no sul da Bahia. Esse sistema é conhecido como cacau cabruca, termo regional originário do verbo “brocar”, que significa roçar a mata, cortar arbustos para plantar cacau. Cerca de 70% dos atuais 560 mil hectares de cacauais do sul da Bahia se enquadram nesse modelo. A parte restante cresce sob plantios homogêneos de árvores trazidas de outras regiões, como a eritrina, de origem australiana.
A cabruca é importante para conservar a água e o solo, ajuda a unir pedaços de mata para formar corredores de biodiversidade e cria condições para a sobrevivência da fauna e da flora. Essas áreas abrigam mais de 200 espécies arbóreas, incluindo 80% do pau-brasil nativo que sobrou no litoral brasileiro. Mudas dessa espécie estão sendo plantadas na região para enriquecer a mata que protege o cacau e fornecer madeira para a principal atividade que usa o pau-brasil, a fabricação de violinos.
Na Vale do Juliana, a Mata Atlântica cobre 70% da área, protegendo os cacaueiros e também as seringueiras, exploradas para a extração de látex. Em paralelo, crescem os plantios de pupunha, o palmito nativo da Amazônia que chega às florestas litorâneas para trazer alternativas à economia e evitar a excessiva dependência do cacau. O cultivo é feito em parceria com unidades familiares, de acordo com a regulamentação do Estatuto da Terra. Os parceiros dispõem de áreas, de tamanhos variáveis, para o plantio de suas culturas, recebendo por metade da sua produção.
Além de ter direito à escola, assistência social e outros benefícios, cada família de empregados da fazenda mora em habitação padronizada, projetada para aproveitar a melhor insolação e ventilação e com áreas que propiciam o cultivo de hortas para a subsistência da família. “Caminhamos com as próprias pernas”, diz Egnaldo de Jesus, que trocou o trabalho nos seringais pela colheita do cacau, que lhe garante R$ 1 mil mensais.
Manter reservas legais de floresta, recuperar nascentes, destinar corretamente o lixo e zelar pela segurança dos trabalhadores passou a ser rotina na fazenda. Como resultado dessas boas práticas, o cacau ganhou um novo status: pela primeira vez no país recebeu o selo socioambiental Rainforest Alliance. Reconhecido como um dos mais importantes do mundo, o certificado garante a origem do produto agrícola, com a certeza de que foi cultivado mediante cuidados para não agredir o meio ambiente e as comunidades.
O selo é concedido após auditorias que verificam a aplicação das normas no campo, trabalho que no Brasil é conduzido pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Ao seguir regras, a produção agrícola melhorou; o cacau ganhou valor e conquistou compradores estrangeiros que exigem padrões socioambientais. A idéia se multiplica na região. “O cacau pode resgatar a hegemonia do sul da Bahia”, diz Jair Macedo, diretor do Grupo Cantagalo, proprietário de fazendas próximas a Itabuna que se preparam para ganhar o selo Rainforest. Os pés de cacau, segundo ele, produzem hoje cinco vezes mais que duas décadas atrás. A estratégia é investir na qualidade. “Nos tempos dos coronéis, os lucros eram aplicados para comprar mais terras e aumentar o status e poder e não para cuidar das fazendas”, compara Macedo.
A qualidade do produto
Hoje, a situação dos fazendeiros é diferente. E o produto também. “Quando comemos um chocolate, podemos saber de qual região e estado brasileiro, de qual fazenda e até de qual árvore veio o cacau nele utilizado”, afirma Eimar Sampaio, diretor da fazenda M.Libânio, no município baiano de Guandu, também interessado em ter o selo socioambiental. A propriedade tem 800 mil plantas cadastradas em seu banco de dados. “Agora, temos esperança de que as coisas vão melhorar”, diz Sampaio, informando que os produtores estão aperfeiçoando a planta para o fruto adquirir teor de gordura e sabor adequados à fabricação de chocolates finos, mais requintados que os comuns. “Além da qualidade, são os critérios ambientais que tornam viável o ressurgimento do cacau, inclusive sob o aspecto econômico”, avalia Patrícia Moles, diretora da Delfi Cacau Brasil, multinacional de Cingapura dona de uma fábrica em Itabuna que beneficia e vende o cacau brasileiro para o resto do mundo.
Na região de Ilhéus e Itabuna, o chamado Baixo Sul da Bahia, as fazendas cacaueiras ocupam o interior e o entorno da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi. O lugar teve a Mata Atlântica reduzida pela metade e agora pretende ser modelo de uso sustentável. Piscicultura, extração de piaçava e palmito, geração de energia por micro-hidrelétricas e pequenos cultivos se somam para mudar a realidade nessa que é uma das regiões mais pobres da Bahia. Com verba da Fundação Odebrecht e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a APA tem uma estrutura invejável: uma estrada-parque de 45 quilômetros cruza todo o mosaico de preservação e interliga comunidades rurais evitando ao máximo os impactos. A sede da unidade de conservação, inaugurada em 2008 no alto de uma montanha com vista para os cacauais, tem centro de visitantes, auditório, restaurante e 13 confortáveis casas que servem de alojamento.
“Queremos envolver as comunidades na retomada do cacau em equilíbrio com o meio ambiente”, explica Humberto Miguez, coordenador da APA. A medida se justifica porque grande parte do que restou de Mata Atlântica se localiza na região cacaueira. Recentes estudos comprovam que cerca de 19 milhões de árvores foram preservadas neste pedaço do território baiano em função do convívio entre cacau e floresta nativa. “Não podemos estragar esse patrimônio genético com a exploração inadequada do cacau”, frisa o engenheiro florestal Dan Érico Lobão, do Ceplac (Centro de Pesquisas do Cacau), no qual foram desenvolvidas as variedades de cacau resistentes a pragas.
O pesquisador teme os impactos de uma nova febre da cacauicultura, impulsionada pela expectativa gerada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que reservou R$ 2,2 bilhões para o cultivo de 150 mil hectares de cacau na Bahia. Segundo ele, o programa propõe a renegociação das dívidas dos produtores e inclui o plantio de extensa monocultura de seringueiras para fornecer sombra aos cacaueiros. Mas não contempla a recuperação da mata nativa, porque há restrições legais para o seu aproveitamento econômico. “É preciso reformar as áreas de cabruca abandonadas, cerca de 200 mil hectares, que correm o risco de virar pasto”, propõe Durval Libânio, diretor do Instituto Cabruca. A entidade promove projetos em assentamentos rurais para tornar esse tradicional modelo economicamente viável e preservá-lo para as futuras gerações.
Prazer na medida certa
Para a maioria das pessoas, a palavra chocolate está associada à sensação de prazer. Faz sentido. O chocolate age sobre alguns receptores específicos de serotonina no cérebro que causam a sensação de recompensa e combatem a depressão e a ansiedade. Atribui-se os desejos de chocolate nas mulheres a mudanças hormonais, como as que ocorrem na puberdade ou no período pré-menstrual. Em pequenas doses, o alimento melhora o fluxo arterial e beneficia a saúde vascular, ou seja, reduz o risco de um ataque cardíaco. Os estudos indicam que quanto mais cacau no chocolate (o amargo é considerado o mais puro), maior o teor de compostos chamados flavonóides, que possuem propriedades antioxidantes e favorecem o coração.
As pesquisas também comprovam que o chocolate é um alimento nutritivo, composto por proteínas, gorduras, cálcio, magnésio e quase todas as vitaminas do complexo B. Mas existem muitos doces feitos de chocolate com uma quantidade mínima de amêndoa de cacau e exagerada de leite, gordura hidrogenada e manteiga de cacau. Esse tipo de doce em excesso provoca aumento de peso e não faz bem à saúde.
A receita do bom chocolate
Se não dá para ser o maior produtor mundial, tem de ser o melhor. É nisso que investem os fazendeiros de cacau do sul da Bahia, interessados no mercado de chocolates finos, seguindo o exemplo dos produtores de café certificado. Significa a garantia ao consumidor de rígidas normas de preservação do meio ambiente e de respeito e valorização do trabalhador rural – além de um sabor mais requintado. E o segredo, segundo a engenheira de alimentos Priscilla Efraim, pesquisadora do Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolates do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos) de São Paulo, “não está na planta, mas na maneira como a semente é tratada nas fazendas durante os processos de fermentação e secagem”.
A condução nessa fase garante a produção de substâncias precursoras do sabor, essenciais para um produto de qualidade. E para que essa etapa seja bem-sucedida, é preciso paciência. As sementes são retiradas ainda com polpa do fruto e depositadas em caixas de madeira onde devem permanecer fermentando entre três e sete dias. A secagem deve ser feita naturalmente, com o calor do sol, e requer mais sete a dez dias de exposição. Para acelerar esse processo, muitos fazendeiros utilizam secadores artificiais a lenha durante dois dias para o fornecimento em grande escala. “Funciona, mas compromete a qualidade”, explica Priscilla. O passo seguinte é a extração do líquor e da manteiga de cacau das sementes, agora chamadas de amêndoas. Essa matéria-prima, acrescida de açúcar e leite, está na base de todos os tipos de chocolates, variando a concentração. No chocolate branco, a receita é manteiga de cacau, açúcar e leite; no chocolate ao leite é líquor de cacau, açúcar e leite; no meio amargo, utiliza-se líquor e manteiga de cacau, açúcar e pouco leite; e no amargo, líquor e manteiga de cacau e açúcar.
O cacau brasileiro é comercializado na forma de amêndoas e derivados, como líquor e manteiga. Nos últimos anos, por causa da queda de produção baiana e da necessidade de abastecimento da indústria, o país passou de exportador a importador de cacau. No mercado doméstico, os derivados do cacau destinam-se às indústrias do Sul e do Sudeste. Com o desenvolvimento de pequenas empresas de chocolatiers, os órgãos de pesquisa e ensino do sul da Bahia investem em programas de beneficiamento e os fazendeiros já sonham com um produto “sabor Bahia” ou “sabor Gabriela”, lembrando Jorge Amado.
“O cacau dos tempos modernos é um novo campo para a adoção de critérios socioambientais, com ganhos para os produtores dentro de um mercado internacional mais exigente”, diz Lineu Siqueira, do Imaflora. A instituição promove o uso sustentável dos recursos naturais e é responsável pela certificação Rainforest no Brasil, realizando o diagnóstico sobre as condições das fazendas e inspecionando periodicamente a aplicação das normas.
O certificado garante para empresas e consumidores que o produto agrícola foi cultivado dentro de princípios socioambientais. A medida traz vantagens para as fazendas, que passam a produzir mais e melhor, conseguem bons preços e conquistam novos mercados.
Apogeu e decadência
Fundada em 1534, na foz do rio Cachoeira, a cidade de Ilhéus se voltou inicialmente para a cana-de-açúcar, abandonada depois que as plantações foram atacadas pelos índios aimorés. No século 19, durante o ciclo do cacau, a cidade se tornou um dos maiores centros de poder e riqueza do país. Na época, o governo brasileiro doava terras para quem desejasse plantar cacau. A região recebeu grande número de imigrantes em busca de um eldorado. A população cresceu e, com o dinheiro do cacau, a cidade ganhou belos edifícios, como o Palácio do Paranaguá, onde hoje funciona a prefeitura. A antiga casa da família Berbert é uma réplica do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Em 1924, os produtores começaram a construir o porto de Ilhéus com recursos próprios para exportar o cacau, antes embarcado em Salvador. Negociantes estrangeiros passaram a freqüentar a cidade, aumentando o intercâmbio cultural com a Europa. Companhias de teatro chegavam para divertir os coronéis e suas famílias. Mas a chegada da vassoura-de-bruxa, a praga que assolou os plantios de cacau, reduziu drasticamente a produção e mudou essa realidade.
O turismo passou a ser a principal atividade econômica, tendo como atrativos as belas praias e os marcos que retratam os bons tempos do cacau.
Pouco se preservou daquela época. O Museu do Cacau, retrato da decadência, está abandonado e fechado há oito anos. Como atração, restou a Casa de Jorge Amado, onde o romancista escreveu a primeira obra, O País do Carnaval, em 1931. O lugar guarda a memória de cenários e personagens que simbolizam o antigo ciclo econômico. Perto do casarão se localiza o tradicional bar Vesúvio, ponto de encontro dos coronéis, que também freqüentavam o mais famoso cabaré da cidade – o Bataclan, hoje restaurado e transformado em restaurante e centro de cultura e lazer.
Uma história antiga
O cacau foi originalmente usado para preparar uma bebida que, provavelmente, já era conhecida dos olmecas desde 400 a.C., sendo mais tarde absorvida pelas culturas maia (abaixo) e asteca (ao lado). Diz a lenda que o fruto foi uma dádiva do deus Quetzalcoatl para proporcionar bem-estar a seus adoradores. Em 1528, quando Hernán Cortez voltou à Espanha, depois de derrotar o império de Montezuma no México, fez questão de levar consigo uma grande quantidade de sementes de cacau e a receita para preparar a bebida à moda asteca.
Os espanhóis ficaram fascinados pelo elixir, que teve o seu gosto amargo disfarçado com mel e açúcar. Em 1642, a princesa Maria Teresa, então noiva de Luis 14 da França, levou a receita para o seu novo lar.
Já então, a xícara de chocolate, feita dos grãos secos e fermentados, começou a se espalhar pela Europa e o botânico sueco Lineu nomeou a planta Theobroma cacao, ou “alimento dos deuses”. A transição da bebida para o tablete começou com a tentativa de tornar o produto mais leve, já que originalmente era rico em gordura e de difícil digestão. Mas foi só em1876 que, na Suíça, o industrial Daniel Peter teve a idéia de fabricar a barra adicionando leite em pó criado por Henri Nestlé. Com o tempo, o chocolate em barras, bombons e lingotes se popularizou, fazendo a fortuna e a fama de fabricantes não só na Suíça, como na Bélgica, Alemanha e em outros países.
À medida que o chocolate foi se disseminando pelo mundo, o cacau foi ganhando importância e o cultivo aumentando. Em meados do século 18, já ocupava o sul da Bahia e, na segunda metade do século 19, foi levado para a África. Com todos os contratempos, o Brasil continua sendo o quinto produtor mundial, depois da Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Cerca de 90% da produção é exportada. Além do sul da Bahia, Pará e Rondônia também produzem a fruta, sendo que, no Pará, ela é cultivada pelos descendentes dos imigrantes japoneses.
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Conheça o alimento dos deuses
Desde sua origem o chocolate vem acompanhado de ótima reputação. Seus primeiros apreciadores, os astecas, desde 1.500 a.C. já o chamavam de “alimentos dos deuses”. E não era para menos, com um sabor irresistível e com a sensação de bem-estar que provocava em seus consumidores, o xocolatl (como era chamado pelos antigos astecas), foi aos poucos conquistando o mundo.
As sementes de cacau eram tão valorizadas que serviam como meio de troca de mercadorias, eram vistas como moedas. Para alguns povos a semente era um símbolo da vida e era comum a degustação da bebida de chocolate em cerimônias religiosas. Mas não foi de uma hora para outra que o chocolate chegou até nós deste jeitinho que saboreamos hoje em dia.
Por volta de 1502, Cristóvão Colombo em uma de suas viagens ao Novo Mundo, decidiu dar de presente ao seu rei algumas sementes de cacau. Embora tenham chegado à Europa, as sementes ainda não despertaram a atenção que mereciam. Só em 1519 os espanhóis decidiram cultivar as sementes no México. Primeiramente elas eram usadas para moedas de troca, mas logo depois começaram a degustar o chocolate líquido. Diante do irresistível sabor, a iguaria foi se espalhando pela França, Inglaterra, Alemanha e Itália, que agregavam elementos como o leite, vinho, cerveja, açúcar e outras especiarias ao chocolate.
Foi em 1755 que o cacau finalmente chegou aos EUA, e logo começou uma fabricação em série. Com a tecnologia de uma máquina a vapor, os grãos de chocolate eram esmagados e a produção começou a crescer. Entretanto, o marco da história do chocolate, que o transformou na delícia que temos hoje, nós devemos aos holandeses. Trinta anos depois da chegada do cacau nos EUA a Holanda desenvolveu uma técnica revolucionária nesta história. Com uma prensa hidráulica a extração do cacau permitia separar a manteiga da massa do fruto. A massa era transformada em pó, para a dissolução na água facilitando a produção da bebida, e com a manteiga surgiram as primeiras barras de chocolate, tão deliciosas que o mundo inteiro viria a conhecer.
Receitas com chocolate:
Cobertura de chocolate duplo
60g chocolate semi amargo
60g chocolate com leite
½ xícara de chá creme de leite sem soro
1 colher de chá manteiga derretida
1 gema
2 xícaras de chá açúcar de confeiteiro
½ colher de chá baunilha
Derreta os chocolates em banho-maria. Misture com os demais ingredientes até ficar bem homogêneo. Use quando necessário.
Torta suíça de chocolate
¾ xícaras de chá farinha para bolos
½ colheres de chá fermento em pó
¼ colher de chá bicarbonato de sódio
½ colher de chá sal
4 ovos
¾ xícaras de chá açúcar
80g chocolate semi-doce ralado
1 colher chá essência de baunilha
¼ xícaras de chá água gelada
Peneire junto com a farinha, fermeto e o bicarbonato, duas vezes. Bata os ovos e acrescente devagar o açúcar, batendo até estar três vezes mais em volume. Junte delicadamente a farinha.
Derreta o chocolate numa panela com a baunilha e a água, misture suavemente a massa. Despeje numa forma de 23 cm, untada e polvilhada. Asse por 18-20 minutos em forno pré-aquecido a 180°.
Deixe esfriar por 10 minutos e transfira para uma grelha, desenforme o bolo, deixe esfriar completamente. Recheie e cubra com cobertura de chocolate ao leite.
Cobertura de chocolate ao leite
120g chocolate ao leite
½ xícaras de chá manteiga sem sal
3 xícaras de chá açúcar de confeiteiro
1/3 xícaras de chá leite
2 claras em temperatura ambiente
½ colher de chá essência de baunilha
Derreta o chocolate e a manteiga em banho-maria sob fogo baixo. Retire do fogo, bata com os ingredientes restantes. Coloque numa tigela com gelo e continue batendo até estar bem cremoso.
Revista Horizonte Geografico
2 comentários:
Huuummm....!! Nem precisa dizer que eu adorei esse artigo.., né...?!Rs Aliás, publiquei sobre o mesmo assunto, por sinal...rs
Eu não sei de você, mas eu amo chocolate...
Bjs,
Ana Lúcia.
Espero que não se importe, por eu convidar uns amigos seus para serem meus amigos também...
Bjs,
Ana Lúcia.
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