Poetas e cantadores falam carinhosamente do Rio São Francisco, referindo-se a ele como quem fala de um grande amigo. Pescadores encontram ali a possibilidade de diminuir a fome, um mal que flagela grande parte da população do país. Empresários do setor elétrico tiram do mesmo rio a energia necessária para transformar em eletricidade e lucro, os investimentos feitos. Políticos históricos usam o grande manancial como referência de obras que possam melhorar a condição do habitante nordestino, mas pouco ou nada fazem, exceto garimpar votos em épocas eleitorais. É o velho Chico, servindo a interesses diversos por sua aparente inesgotável fonte de benefícios que dele o homem pode extrair.
É histórico o projeto de transposição do Rio São Francisco. Remonta aos tempos do Império, quando D. Pedro II se dispôs a vender as jóias da coroa para executar a obra, mandando realizar os primeiros estudos em 1852. Desde lá, muito se escreveu a respeito, demais se esperou de atitudes efetivas e nada de concreto se realizou. Os trabalhos a serem executados para desviar parte de suas águas, possibilitando a irrigação de regiões secas do Nordeste, são de tal monta que podem assustar num primeiro momento. No entanto, mexer com a natureza das águas não é coisa recente e há exemplos de sucessos, gigantescos, nos dois sentidos: pelo tamanho da obra e pelos benefícios alcançados.
O canal do Panamá é um deles. Levou 11 anos para ficar pronto – foi construído entre 1903 e 1914 - e se falou nessa obra pela primeira vez em 1534, quando Carlos V, Rei da Espanha, quis transpor seus navios do Atlântico para o Pacífico e vice-versa. São três eclusas (Gatún, Pedro Miguel e Miraflores) que transportam as embarcações por uma extensão de 80 km, elevando ou descendo 95 metros, com um tempo médio de travessia da ordem de 9 horas. A obra custou US$ 387 milhões e ocupou 75 mil trabalhadores.
Transpor o São Francisco não é obra menor. Serão criados em torno de 185 mil novos empregos, irrigados 150 mil hectares de terra árida e reduzidas 14 mil internações hospitalares por ano. Um projeto dessa envergadura não se limita a trazer benefícios aos nordestinos. São Paulo e Rio de Janeiro terão problemas sociais minimizados, ou resolvidos, com a fixação do homem nos seus municípios de origem, acabando com parte do êxodo rural e da migração interna que levam pobres de um estado para se transformarem nos miseráveis de outro. Não é possível esperar quase 400 anos como ocorreu com o Canal de Panamá. No caso brasileiro, lá se vão 150 anos, período mais do que suficiente para concluir que uma nação precisa tomar decisões e executar ações que modifiquem sua condição de país subdesenvolvido para aspirar, pelo menos, a de país em crescimento efetivo.
AQUA.ENG.BR
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