O acúmulo provocado pelo homem de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera parece ter contido um mergulho, preparado por muitos milênios, na direção de temperaturas mais frias no verão no Ártico, informam os autores de um novo estudo.
Cientistas familiarizados com o trabalho, que será publicado na sexta-feira na revista "Science", disseram que ele fornece novas evidências de que a atividade humana não está apenas aquecendo o planeta, particularmente o Ártico, mas poderia até mesmo afastar um ingresso supostamente inevitável em uma nova era glacial ao longo das próximas poucas dezenas de milênios.
Iceberg fictício flui pelo rio Sena, em Paris (França), durante um protesto da ONG Greenpeace contra o aquecimento global. Estudo diz que o fenômeno está retardando a volta da era glacial
A reversão da tendência de lento resfriamento do Ártico, registrada em amostras de camadas de sedimentos no leito dos lagos, de gelo glacial e dos anéis dos troncos de árvore do Alasca até a Sibéria, foi rápida e pronunciada, escreve a equipe.
Estudos anteriores também mostraram que o Ártico, mais do que o planeta como um todo, viu um aquecimento incomum nas últimas décadas. Mas a nova análise fornece detalhes década a década que remontam 2 mil anos - cinco vezes mais longe do que o trabalho anterior em escala tão detalhada.
Vários cientistas climáticos disseram que o novo estudo é mais significativo ao mostrar quão fortemente o clima do Ártico parece estar respondendo ao efeito estufa, que está tendo uma mistura mais complexa e sutil de efeitos por todo o mundo.
Darrell S. Kaufman, o principal autor e um especialista em clima da Universidade do Norte do Arizona, disse que a maior surpresa foi a força da mudança de resfriamento para aquecimento, que teve início em 1900 e se intensificou após 1950.
"A tendência de lento resfriamento é trivial em comparação ao aquecimento que está ocorrendo e que ainda ocorrerá", disse Kaufman.
Vários cientistas que não estiveram envolvidos no estudo concordaram que o ritmo da reversão de temperatura ultrapassa em muito a variação natural nas temperaturas árticas, apoiando a ideia de que o aquecimento é causado pelos seres humanos e é potencialmente disruptivo.
Segundo o estudo, após um lento resfriamento de menos de meio grau Fahrenheit por milênio, provocado por uma mudança cíclica na orientação do Pólo Norte e do Sol, a região aqueceu 2,2 graus apenas desde 1900, com a década de 1998 a 2008 sendo a mais quente em 2 mil anos.
Em teoria, as temperaturas de verão na região ártica deveriam continuar esfriando por pelo menos mais 4 mil anos, dada a crescente distância entre o Sol e o Pólo Norte durante o verão no Hemisfério Norte, diz o estudo.
Mas Jonathan T. Overpeck, um autor do estudo e especialista em clima da Universidade do Arizona, disse que o aumento da concentração de gases duradouros do efeito estufa garantiu um aquecimento em um ritmo que poderia estressar os ecossistemas e causar um rápido derretimento da grande camada de gelo da Groenlândia.
"A rápida velocidade do recente aquecimento é a parte assustadora", disse Overpeck. "Isso significa que grandes impactos sobre os ecossistemas árticos e sobre o nível global dos mares podem não estar distantes, a menos que atuemos rapidamente para conter o aquecimento global."
No longo prazo, a capacidade de aquecer artificialmente o clima, particularmente o Ártico, poderia ser vista como uma dádiva, à medida que a mudança da orientação do planeta em relação ao Sol entra em uma fase que poderia iniciar a próxima era glacial.
Como resultado dessas mudanças periódicas, 17 eras glaciais já ocorreram em 2 milhões de anos. A última era glacial terminou há 11 mil anos e a próxima, segundo a recente pesquisa, poderia ocorrer daqui 20 mil ou 30 mil anos descontando qualquer influência humana. A última era glacial enterrou grande parte do Hemisfério Norte sob mais de um quilômetro e meio de gelo.
Com a clara e crescente capacidade dos seres humanos de alterar o clima, disse Overpeck, "nós poderíamos pular totalmente a próxima oportunidade".
Tradução: George El Khouri Andolfato
The New York Times
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