Pragas resistentes são sério problema para a agricultura no Brasil | ||||||
O uso indiscriminado de inseticidas e acaricidas pode levar as pragas a desenvolverem resistência aos produtos químicos | ||||||
por Mário Sato | ||||||
No caso de ácaro-rajado (Tetranychus urticae), que é praga séria de culturas de morango, crisântemo, rosa, pêssego, algodão e mamão, observou-se resistência de aproximadamente 3 mil vezes para o acaricida fenpiroximato; de 350 vezes, para abamectina; e de 570 vezes, para clorfenapir, após algumas aplicações do acaricida. Para fenpiroximato, a concentração necessária para se matar os ácaros resistentes a esse acaricida foi 200 vezes maior que a concentração recomendada para o controle do ácaro-rajado em morangueiro no Brasil. Nesse caso, um aumento na concentração do produto, mesmo que da ordem de dezenas vezes, não seria suficiente para aumentar a eficiência do produto no campo, caso a população de ácaros se torne resistente. Algumas populações desse ácaro-praga mostram-se resistentes a quase todos os produtos disponíveis no mercado, o que dificulta seu controle. Para algumas culturas, como a de morango, há poucos acaricidas registrados, e os agricultores não conseguem controlar o ácaro-praga nos meses finais da cultura, sendo forçados a elimina-la antecipadamente, implicando em consideráveis prejuízos econômicos. Uma consequência da evolução da resistência é o aumento do número de aplicações, devido à redução da eficiência dos produtos químicos. Esse uso intensificado de agrotóxicos favorece ainda mais a evolução da resistência. Além disso, provoca outros problemas como o desequilíbrio biológico, devido à eliminação de inimigos naturais; contaminação ambiental; risco de intoxicação dos agricultores; maior contaminação de alimentos e aumento do custo de produção. Uma das principais estratégias de manejo da resistência de pragas a produtos químicos está relacionada à redução na frequência de aplicação de inseticidas e/ou acaricidas. A realização do monitoramento populacional de pragas pode ser uma ferramenta valiosa para o manejo da resistência. A utilização de produtos somente quando as densidades populacionais da praga estão acima do nível de dano econômico pode reduzir consideravelmente o número de aplicações contra as pragas, reduzindo assim a pressão de seleção com os agroquímicos. Outra estratégia fundamental é a preservação de inimigos naturais nas áreas agrícolas. Os inimigos naturais podem manter a população da praga em baixas densidades por longos períodos no campo, não havendo necessidade de intervenções químicas durante esse período. Os inimigos naturais podem se alimentar tanto de insetos (ou ácaros) suscetíveis como dos resistentes, diminuindo assim o número de organismos resistentes no campo. Em um estudo com ácaro-rajado em morangueiro, no Estado de São Paulo, o Instituto Biológico (IB-APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, promoveu a liberação de ácaros predadores da espécie Neoseiulus californicus propiciando um bom controle da praga. Isso permitiu que a população do ácaro-rajado se mantivesse em níveis baixos na cultura, não havendo a necessidade de aplicações de acaricidas após o estabelecimento dos predadores no campo. Dessa forma, foi possível evitar pelo menos dez aplicações de acaricidas, o que levou a uma diferença significativa na frequência de resistência a abamectina (e outros produtos), que foi significativamente menor na área de liberação dos predadores, na fase final da safra agrícola. Quando o controle biológico é pouco viável, por falta de inimigos naturais eficientes, e são necessárias várias aplicações de inseticidas para o controle de uma praga, deve-se evitar aplicações repetidas de um mesmo produto ou com mesmo princípio ativo. Aplicações repetidas de um mesmo inseticida favorecem rápida evolução de resistência. Nesse caso, a alternância de produtos químicos pode ser uma boa alternativa para retardar a evolução da resistência. Para minimizar o problema é necessário um esforço em conjunto, entre produtores rurais, instituições de pesquisa e extensão rural, para a criação e implantação de estratégias efetivas para o manejo da resistência a defensivos agrícolas. * Mário Sato é pesquisador do Instituto Biológico (IB-APTA) Scientific American Brasil |
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Notícias Geografia Hoje
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