sábado, 16 de abril de 2011

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Ausência de rotação cultural impede a conservação
Mesmo com o plantio direto, agricultores tem deixado de lado uma das principais ferramentas que acarreta em redução na produtividade, solos menos férteis e ocorrência de erosão
Rosa Liberman
(Redação Passo Fundo / DM)
Jornalista - Editora do AgroDiário
Embora tenha sido registrada evolução no sistema de conservação do solo, com o plantio direto em relação ao preparo convencional, a situação ainda é considerada crítica por especialistas, que apontam a ausência de algumas práticas como responsável pela baixa fertilidade da terra, assim como, causador da erosão.

O pesquisador em Manejo e Conservação do Solo e da Água da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin, explica que na década de 70 o plantio foi introduzido e o preparo dos solos foi praticamente abandonado, mantendo a palha na superfície. Nas décadas seguintes foi acrescentada a essa tecnologia, a rotação de culturas, que foi bem explorada. Mas a partir dos anos 2000 percebe-se que houve uma espécie de um desleixo, segundo Denardin, em relação ao que realmente é o sistema plantio direto, porque a rotação de culturas foi praticamente abandonada. “Hoje temos na região do Planalto, praticamente a cultura da soja no verão e o pousio no inverno. Cerca de 75% da área na região permanece com azevém e aveia guaxo no inverno e a oleaginosa no verão. E esse sistema de manejo de culturas não da ao solo a qualidade que deveria ter quando manejado de forma conservacionista. Esta é uma situação grave que tem levado inclusive, a perdas severas por erosão mesmo sob o plantio direto”, diz.

Denardin explica que essas perdas ocorrem por aqueles agricultores que colocam os fertilizantes na superfície do solo em que as enxurradas arrastam os produtos para as partes mais baixas, nos banhados. Assim, mesmo em períodos curtos de estiagem, seja cinco ou seis dias, já são registradas perdas na produtividade, porque o solo está degradado em função da falta de uma rotação de culturas. O plantio direto tem como fundamento inicial a adição de material orgânico ao solo. A adição de material orgânico ao solo, em um sistema agrícola extensivo, como é a lavoura de soja e milho, só acontece com as plantas e, a rotação e culturas é a chave para se conseguir essa adição de material orgânico ao solo. Não havendo rotação, todas as outras práticas conservacionistas vão falhar, segundo o pesquisador.

“Sabemos que o problema da rotação de culturas é uma questão econômica. Mas o milho por exemplo, está sendo mais econômico do que a soja, porém, está sendo deixado de lado. Ele seria a grande cultura em termos de comando da fertilidade do solo pela adição de palha. Entretanto, o que vemos hoje é uma sequência de soja e pousio”, comenta.

Além de auxiliar na fertilidade do solo, a rotação cultural também serve para o controle eficaz de plantas daninhas. Denardin afirma que a buva, por exemplo, não é resistente ao glifosato, mas ela está se tornando imbatível, porque não se faz rotação de culturas. “Se tivesse um cereal bem cultivado no inverno, a buva não teria a incidência que tem hoje, na safra de verão. Além disso, a aplicação para seu controle precisa ser feito na sua fase jovem, que assim, pode ser plenamente controlada”, acrescenta.

(Solos degradados pela ausência da rotação de culturas / )


Falhas
Falhando a rotação de cultura, ocorrem ineficácias no controle de plantas daninhas, na fertilidade do solo, há erosão, degradação física do solo, perdas na produtividade por estiagem e perdas de fertilizantes.

Recomendações
Denadin comenta que para auxiliar na fertilidade do solo e impedir maiores prejuízos, a adoção da rotação cultura, com milho no verão. No inverno, qualquer cereal, com exceção da aveia comum que não produz massa vegetativa e nem azevém guaxo. Entre as opções que podem ser usadas estão aveia preta variedade, aveia branca, centeio, cevada, trigo em pelo menos um terço da área, triticale. Mas existem outras opções que, segundo o pesquisador, permitiriam até três safras por ano. “Uma programação de calendário de milho, iniciando o plantio em setembro, sendo colhido em janeiro, depois cultivando sorgo ou milho novamente em janeiro para colher em maio e ai, entrando com aveia no inverno para voltar ao cultivo da soja.

A aveia, se não tiver mercado poderia servir como adubo verde que tem uma valorização maior do que se comprar fertilizantes. Daria segurança em termos de redução de perdas, melhoria da estrutura do solo, maior retenção de água, diminuindo os riscos das estiagens. O que não pode é colher a soja e abandonar a lavoura ou até mesmo colocar o gado de leite para o pastejo da palha da soja agora, porque vamos chegar em outubro e novembro com o solo já degradado sem alguns nutrientes”, destaca.

Dia Nacional da Conservação do Solo
(Pesquisador José Eloir Denardin / FOTOS DIVULGAÇÃO PAULO KURTZ)

A Lei n° 7.876, de 13 de novembro de 1989, institui o Dia Nacional da Conservação do Solo a ser comemorado, em todo o País, no dia 15 de abril de cada ano. Essa data foi a escolhida, inclusive em vários países, por marcar, e celebrar, o nascimento de Hugh Hammond Bennett, cognominado o Pai da Conservação do Solo nos Estados Unidos da América. Assim, o dia 15 de abril é dedicado à reflexão alusiva à qualidade com que o solo está sendo utilizado e ocupado pelo homem.

A busca pela conservação do solo quando iniciou no começo do século passado tinha conotação conservacionsista, que seria a gestão da utilização dos elementos da biosfera, de modo a produzir benefícios à população. “Mais tarde essa questão de conservacionismo evoluiu para uma questão de conservação do solo que se manteve até hoje, mas sempre procurando dar uma nova conotação para um mesmo problema. Hoje falamos em sustentabilidade, que nada mais é que a própria conservação do solo. Todas estas conotações indicam a luta contínua pela produção de alimentos sem a degradação, preservando o futuro e por isso, comemoramos nesta sexta-feira, 15, o Dia Nacional da Conservação do Solo”, conclui. 15/4/2011
http://www.diariodamanha.com

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