sábado, 20 de novembro de 2010

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Pesticidas são associados ao câncer de pele
Novas pesquisas sugerem que o uso repetitivo e de longo prazo de pesticidas pode causar melanomas
por Gordon Shetler
ISTOCKPHOTO/ILFEDE
Exposição contínua a certos pesticidas dobraria o risco de câncer de pele
De acordo com novo estudo científico, trabalhadores que aplicam certos pesticidas em lavouras estão duas vezes mais propensos de contrair um melanoma, forma de câncer de pele fatal.

Os resultados somam a evidência de que sugere que o uso freqüente de defensivos agrícolas pode aumentar o risco de melanoma. As taxas da doença triplicaram nos Estados Unidos nos últimos 30 anos, sendo a exposição ao sol a principal causa identificada.

Pesquisadores identificaram seis pesticidas que, com a exposição freqüente, duplica o risco de câncer de pele entre os fazendeiros e outros trabalhadores que aplicam essas químicas nas plantações.

Quatro das químicas – maneb, mancozeb, metil paration e carbaryl – são utilizadas nos Estados Unidos em diversas plantações, incluindo nozes, vegetais e frutas. Já o benomyl e o paration-etil foram voluntariamente cancelados pelos seus fabricantes em 2008.

“A maior parte da literatura sobre melanoma foca nos fatores individuais e exposição ao sol. Nossa pesquisa mostra uma associação entre diversos pesticidas e o melanoma, fornecendo evidências para a hipótese de que os pesticidas podem ser outra importante fonte de risco de melanoma”, conforme o relatório de epidemiologistas da University of Iowa, do National Institute of Environmental Health Sciences (Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental) e do National Cancer Institute (Instituto Nacional do Câncer).

As descobertas também podem ter implicações para os consumidores que utilizam pesticidas em suas casas ou jardins. Carbaryl, um dos pesticidas relacionados ao câncer de pele, é o ingrediente ativo no inseticida Sevin, que é amplamente utilizado por consumidores para eliminar pestes em jardins e gramados.

O estudo, publicado no mês passado pelo periódico Environmental Health Perspectives, examinou as taxas de câncer em 56.285 aplicadores nos estados de Iowa e Carolina do Norte como parte de um Estudo de Saúde Agrícola do governo federal, um grande estudo de longo prazo com aplicadores de pesticidas e seus cônjuges.

Os aplicadores de pesticidas foram questionados sobre a freqüência com que eram expostos a 50 tipos de pesticidas. Os pesquisadores então compararam suas taxas de câncer, descobrindo que aqueles que eram expostos a algumas dessas químicas tinham alto risco de melanoma cutâneo em comparação a seus colegas que lidavam com outros componentes químicos.

Um dos principais pontos fracos do estudo é que não haver dados sobre a dosagem utilizada por esses trabalhadores. Em vez disso, os pesquisadores fizeram uma aproximação da quantidade de pesticida a que cada pessoa foi exposta somando os dias de exposição e adicionando informações fornecidas pelos próprios aplicadores sobre como empregaram os componentes químicos e quais equipamentos de proteção utilizaram.

Os pesquisadores descobriram que mesmo que o melanoma não fosse frequente entre os trabalhadores estudados, a frequência era maior entre aqueles que eram mais expostos a vários dos pesticidas.

Das 56.285 pessoas que participaram do estudo, 271, ou menos da metade de 1%, desenvolveram um melanoma. Os riscos da doença aumentaram 2,5 vezes em aplicadores expostos a mais de 63 dias ao maneb/mancozeb durante a vida. Os aplicadores que foram expostos ao carbaryl por mais de 56 dias estavam 1,7 vez mais propensos e aqueles em contato com o metil ou paration-etil por mais de 56 dias aumentaram seus riscos de melanoma em 2,4 vezes.

“Os resultados podem ser relevantes para o restante da população”, disse Dale Sandler, chefe de epidemiologia no National Institute of Environmental Health Sciences e segunda pesquisadora do estudo.

Sandler disse que algumas das químicas são utilizadas pela população em geral. Uma das grandes diferenças é que os trabalhadores usam equipamento de proteção, que é um fator que reduz relativamente o risco em relação a usuários residenciais.

“Os aplicadores recebem informações continuamente para aprender sobre como lidar com segurança com essas químicas, mas nós provavelmente iremos a uma loja e não leremos a bula”, disse Sandler.

A pesquisadora diz ainda que os riscos também vão além dos trabalhadores ou consumidores que utilizam pesticidas. Geralmente as químicas estão no meio ambiente próximo às fazendas e podem contaminar os lençóis freáticos.

A empresa que comercializa o Sevin para o mercado americano, Garden Tech, não se pronunciou sobre o novo estudo, enquanto que a Bayer Crop Scientes, fabricante do produto, não pode ser encontrada para comentários.

Michael Thun, vice-presidente de epidemiologia e pesquisa de vigilância no American Cancer Society (Sociedade Americana do Câncer), disse que o estudo é “mais abastecido do que a maioria para fornecer dados”, pois incluem um grande número de pessoas.

Porém, ele ainda tem dúvidas sobre a ligação entre certos pesticidas e o câncer de pele.

Thun disse que mesmo com tanta quantidade de informações, “é difícil interpretar esses resultados sob o aspecto de certos pesticidas”. Muitos dos ingredientes ativos são utilizados em combinação, o que torna mais difícil identificar quais são aqueles que apresentam mais risco.

Os resultados também podem ter sido distorcidos pela exposição dos trabalhadores ao sol, o que é o principal fator de risco para o melanoma.

“Uma vez que os fazendeiros passam boa parte de seus dias ao sol, não podemos excluir a possibilidade de que os resultados específicos desses pesticidas são causados pela exposição ao sol”, disseram os autores em seus relatórios.

Trabalhadores ruivos têm o risco de câncer de pele aumentado em quase quatro vezes, de acordo com estudo. Pessoas com a pele mais branca são mais propensos a ficar queimadas de sol, o que pode resultar em um melanoma. A obesidade também foi vinculada com o aumento do risco, por razões desconhecidas.

Ao estimar as doses, os pesquisadores levaram em consideração as respostas dos trabalhadores na pesquisa sobre equipamentos de segurança.

Todos os pesticidas no estudo contêm rótulos com instruções de manuseio e alguns só podem ser aplicados e misturados por aplicadores licenciados, que recebem treinamento contínuo sobre manuseio e mistura de químicas. O mínimo de equipamento de segurança recomendado é: calças e blusas de mangas compridas, botas e luvas, porém um equipamento de proteção mais específico pode ser necessário dependendo do produto.

“O tipo de equipamento de segurança necessário está escrito em cada rótulo”, disse Kristine Schaefer, especialista em treinamento de aplicadores de produtos químicos da Iowa State University Extension. “As pessoas precisam seguir as instruções do rótulo ou se responsabilizar. É isso que pregamos.”

Porém, Schaefer diz que nenhum dos trabalhadores segue as regras. “Falamos sobre esse assunto em nosso treinamento repetidamente para tentar passar a mensagem”.

Uma pesquisa anterior na Europa e Estados Unidos também vinculou a exposição a longo prazo a pesticidas ao aumento no risco de melanomas. Na Europa, os pesquisadores descobriram que as pessoas que utilizam pesticidas dentro de casa mais de quatro vezes ao ano tinham uma taxa de melanoma duas vezes maior do que aquelas que utilizavam menos.

Os pesticidas incluídos no estudo foram aprovados para uso pela EPA - Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental), e de acordo com Dale Kemery, assessor de impressa da EPA, todos foram passaram por nova análise em 2008. Benomyl e paration-etil foram voluntariamente cancelados como parte do processo. A análise de pesticidas acontece a cada 15 anos pelo menos.
Scientific American Brasil

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