O litoral é o nosso cartão de
visita, o nosso principal atrativo turístico. Mas tem sido usado como uma
latrina.
por Tatiana Bonumá
Praias
de areia branca e fofa, dunas, falésias, baías cercadas pela Mata Atlântica,
recifes de corais, águas transparentes e uma fabulosa variedade de peixes,
crustáceos e animais exóticos como o peixe-boi. Tudo isso espalhado ao longo de
7,4 mil quilômetros. Para um país gigantesco como o Brasil, e com a maior parte
do seu território em zona tropical, ter à disposição tantos quilômetros de
praias bonitas e de águas mornas deveria ser encarado como uma bênção. Afinal,
o turismo é uma das atividades que mais
cresce no mundo e boa parte das pessoas que viajam saem de países frios, como
Estados Unidos, Canadá e os da Europa, à procura de um lugarzinho ao sol. Temos
tudo para ser um gigante do turismo de praia. No entanto, nosso desempenho no setor
é nanico. O Brasil recebe, por ano, entre três a quatro milhões de
turistas estrangeiros, enquanto apenas a cidade de Paris recebe 62 milhões. E a
principal queixa dos turistas que visitam nossas cidades litorâneas é a
sujeira, superando inclusive a violência.
Os
especialistas estimam que pelo menos 30% dos ecossistemas costeiros tenham
graves danos ambientais – principalmente no trecho entre os Estados de Espírito
Santo e Rio Grande do Sul, onde a urbanização e a industrialização foram mais
intensas. O litoral brasileiro abriga 393 cidades onde vivem 37 milhões de
pessoas. Além disso, fica no litoral a maior parte das indústrias brasileiras.
Mais de 80% dos portos foram instalalados ilegalmente em áreas de manguezais.
Indústrias químicas ocuparam regiões de restingas e dunas foram varridas para
dar espaço a loteamentos. Muitos desses setores escolheram instalar-se no
litoral para poder jogar no mar seus dejetos tóxicos sem precisar gastar com
tratamento. Ou seja: nosso mar foi encarado como uma latrina pública.
“Por
causa das agressões, algumas partes do litoral brasileiro são mais pobres em
biodiversidade que muitos desertos”, afirma Luiz Roberto Tommasi, diretor
presidente da Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas (Fundespa). O quadro
é grave, mas não irreversível. Muitos desses problemas têm solução se
forem combatidos agora – e já há muita gente empenhada nisso. O principal
instrumento de mudança é o programa de Gerenciamento Costeiro, ligado ao
Ministério do Meio Ambiente, que pretende
discutir com todos os interessados na costa brasileira as melhores maneiras de
ocupá-la, de gerar riqueza e desenvolvimento sem precisar destruí-la.
Saneamento
já
A
principal causa da poluição do mar é falta de saneamento básico. Dados da Associação
Brasileira de Entidades do Meio Ambiente (Abema), apontam que 80% dos
esgotos do país não recebem nenhum tipo de tratamento – e isso vale para o
litoral. Só a cidade de Fortaleza, um dos principais destinos turísticos do
Nordeste, lança ao mar, diariamente, 1 milhão de toneladas de esgoto. A culpa
é dos governos e das administrações públicas, que, quase sempre, preferem
investir em grandes obras, que aparecem e dão votos, do que em tubulações e
estações de tratamento, que ficam escondidas. Esse descaso dos governos com o
esgoto doméstico deu margem para que muitas indústrias se sentissem livres para
fazer o mesmo com seus dejetos.
É preciso
mudar urgentemente de postura. A ampliação da rede coletora e de tratamento de
esgotos, tanto domésticos quanto industriais, é a primeira medida para
diminuir a poluição do mar. Outra iniciativa seria diminuir o valor das taxas
de coleta de esgoto cobradas das indústrias. A taxa é cobrada pelo volume
de esgoto produzido. Como uma indústria produz muito mais esgoto que uma
residência, o mais lógico seria ela ter um desconto na taxa por metro cúbico.
Isso estimularia os empresários a instalar redes coletoras e de tratamento –
obedecendo às leis existentes – em vez de jogar clandestinamente nos córregos,
que deságuam no mar. Uma fiscalização mais rígida ajudaria muito.
Hoje, as penalidades impostas pela lei às indústrias que não tratam o próprio
esgoto são altas, mas isso não as intimida em função do reduzido número de
fiscais que executam o controle.
A
reciclagem do esgoto também deve ser incentivada. O governo do Ceará, por
exemplo, estuda um programa capaz de resolver o problema da poluição do mar e
ainda garantir o abastecimento de água em Fortaleza nos períodos de seca. A
idéia é criar canais de captação tanto dos esgotos quanto da chuva. Depois
de tratada, ela vai poder ser reutilizada para fins não-potáveis. Outro bom
exemplo de respeito ao mar acontece em Vitória, no Espírito Santo. As unidades
de tratamento de esgoto do município substituíram o cloro por luz ultravioleta
que, quando concentrada, é capaz de fulminar bactérias. “O cloro é um
elemento muito usado para desinfetar o esgoto, mas quando chega ao mar em
grandes quantidades prejudica a vida marinha”, explica o engenheiro
especialista em saneamento básico Antonio Lívio Abraços
Jorge.
Os
portos e os navios de carga que circulam pelo nosso litoral também precisam
mudar de atitude. O programa de Gerenciamento Costeiro prevê uma série de
medidas para evitar que as zonas portuárias sejam sempre retratos da degradação
do ambiente marinho. Além dos corriqueiros derramamentos de óleo dos
petroleiros, muitos navios lançam ao mar seus dejetos cloacais sem qualquer
tratamento. Outro problema grave é a promiscuidade oceânica provocada pela
“água de lastro” dos navios transatlânticos. Essa é a água com a qual os
navios enchem seus compartimentos quando estão sem carga comercial. Retirada do
mar, ela dá estabilidade à embarcação. O problema é que um navio que
circula o mundo transporta, com a “água de lastro”, peixes e plantas exóticos
ao nosso litoral, que acabam provocando graves desequilíbrios ecológicos.
A
sociedade também pode fazer muito. Os condomínios do litoral, por exemplo,
precisam ser convertidos à causa ecológica. Por muito tempo eles foram grandes
inimigos de nossas praias porque invadiam regiões de mata nativa, destruíam
morros e passavam a lançar esgoto in natura diretamente na praia. Hoje, muitos desses loteamentos
implantaram pequenas estações de tratamento comunitárias para o esgoto que
produzem. Além disso, empresas instaladas à beira-mar, que, no passado, fizeram
essa opção para poder se livrar dos dejetos sem precisar dar satisfação a
ninguém, hoje não só passaram a tratar o próprio esgoto, como recolhem também o
produzido nos bairros pobres ao redor para tratá-los. O certo é que
ninguém mais quer ser o vilão quando uma praia fica imprópria para o banho.
Especialmente quando o sujeito tem uma casa lá. Porque aí, além de vilão, posa
de burro.
Turismo planejado
O turismo pode fazer parte do problema ou da
solução para as praias brasileiras – tudo depende de como é praticado.
Infelizmente, ele tem sido um problema a mais. Exemplos de modelos errados de
exploração do turismo não faltam:
destinos famosos como Camboriú, em Santa Catarina, Guarujá, em São Paulo, Porto
Seguro, na Bahia, e Copacabana, bairro do Rio de Janeiro. Nesses lugares houve
um crescimento desordenado do turismo sem que houvesse infra-estrutura
correspondente. Quem visita esses lugares na alta temporada sabe o suplício que
é comprar um simples pão na padaria. A água potável falta nas torneiras e
a água do mar se transforma num caldo grosso e escuro provocado pela enorme
quantidade de dejetos produzidos por milhares de turistas.
Enquanto
o tratamento do esgoto e a fiscalização melhoram a situação nas
regiões já urbanizadas, é importante não deixar o processo de degradação
acontecer nas áreas conservadas. Nesses lugares, o ecoturismo tem sido apontado
como a melhor opção. “Precisamos identificar as regiões com potencial turístico
e prepará-las para um turismo ecológico”,
afirma Guilherme Wendel de Magalhães, coordenador do Projeto Pólos de
Ecoturismo, da Embratur. Engana-se quem acha que o ecoturismo é coisa de
sonhadores porque exige muitos investimentos e não dá retorno. A Costa Rica, um
país 167 vezes menor que o nosso, fez a opção pelo ecoturismo há dez anos e
hoje recebe mais turistas que o Brasil – eles chegam para aproveitar praias
limpas em meio a florestas conservadas.
Um bom
exemplo de como o turismo ecológico pode
salvar nossas praias e gerar riquezas está na ilha de Porto Belo, em Santa
Catarina. A ilha estava prestes a se tornar uma vítima do turismo de massa. Depois de cinco anos da
implantação de um programa da desenvolvimento sustentável baseado no
ecoturismo, teve sua biodiversidade aumentada, suas trilhas preservadas e uma
melhora na qualidade de vida dos moradores. Para repetir essa experiência em
outras partes do litoral, o governo federal criou o Projeto Orla, com a
coordenação das prefeituras e com um comitê formado também por moradores para
fiscalizar o andamento do projeto. A idéia é boa porque transfere parte da
responsabilidade de preservar as praias também para as populações locais – e
ninguém cuida melhor da natureza do que quem vive nela e a conhece bem.
Ordem
na casa
O
litoral brasileiro precisa ser pensado no todo. O mar, afinal, não é um
quintal com cerca. O esgoto lançado por uma cidade pode poluir a praia de outra. Um vazamento de óleo pode
fazer estragos por dezenas de quilômetros. Por isso, todos que estiverem usando
os recursos do litoral precisam falar a mesma língua. “Nosso maior desafio
é harmonizar os vários setores que se estabeleceram ao longo do nosso
litoral e criar uma política que contemple as esferas municipal, estadual e
federal”, afirma Oneida Freitas, coordenadora do Programa de Gerenciamento
Costeiro, que pretende apontar o que pode ou não pode ser feito com as nossas
praias.
Ou
seja: nosso litoral vai ser zoneado. Haverá áreas destinadas ao turismo, outras à atividade portuária, outras à
conservação por meio de parques e reservas. Tem tanta coisa e tanta gente
envolvida que o zoneamento precisa ser feito por uma equipe multidisciplinar
que leve em consideração todos os aspectos envolvidos. Quando as zonas forem
delimitadas, entrarão em ação os chamados Colegiados Costeiros, que reúnem
vários segmentos da sociedade local (ONGs, universidades, sociedade civil,
associação de pescadores, veranistas e poderes públicos) para discutir os
problemas e tomar decisões com força de lei. Perfeito demais para dar certo?
Não. No Ceará, a ONG Aquassis funciona assim, gerenciando a costa cearense com
recursos federais. E tem conseguido ótimos resultados.
Atrás
do prejuízo
Nas
regiões onde o estrago está feito, cabe ao programa de gerenciamento costeiro
levantar o tamanho do prejuízo ambiental e propor soluções. E os problemas são
muitos. Nessas áreas, é fundamental contar com a ajuda da sociedade. Hoje,
o Brasil tem uma lei ambiental de primeiro mundo, mas não consegue colocá-la em
prática porque faltam recursos para contratar fiscais, desapropriar áreas de
interesse ecológico e desenvolver projetos de preservação. Daí a importância
das entidades ambientalistas e do patrocínio de empresas privadas. O Projeto
Tamar, patrocinado pela Petrobrás, é um bom exemplo de como a sociedade
pode contribuir. Coordenado por uma ONG, já salvou mais de 2 milhões de
tartarugas marinhas. No passado, os ovos desses animais eram caçados pelos
moradores do sul da Bahia como alimento, o que estava ameaçando a espécie. O
Tamar contratou os próprios caçadores de ovos como monitores para proteger os
ninhos.
Há
outros projetos similares em andamento, provando que já existem muitos
brasileiros dispostos a mudar a história das praias e dos mares do país.
Isto
Está Dando Certo
O
mar retribui a gentileza
As
praias de Santos, no litoral de São Paulo, já foram a imagem da degradação.
Hoje exibem ótimos índices de balneabilidade e atraem milhares de turistas
No
início da década de 80, a orla da cidade de Santos, no litoral paulista, era a
imagem da degradação: água imprópria para o banho praticamente o ano todo;
esgoto correndo para o mar a céu aberto; e bandos de urubus caminhando nas
areias, em vez de banhistas. O resultado é que a cidade, que já fora um
importante destino de balneário principalmente para os vizinhos paulistanos,
deixou de receber turistas e entrou em decadência. O comércio deixou de vender,
os prédios da orla foram abandonados e perderam valor, os empregos diminuíram e
a arrecadação do município também.
Para
reerguer a economia da cidade, os governos municipal e estadual uniram forças
com o objetivo de recuperar suas praias. E começaram por onde deviam:
estendendo e melhorando a rede de saneamento básico. Em parceria com a Companhia
de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo (Sabesp), ampliaram a rede de coleta, criaram unidades de
tratamento de esgoto e emissários submarinos que despejam a água tratada longe
da costa.
Também
foram instaladas comportas nos canais, para evitar que a água de enxurrada
fosse lançada no mar sem tratamento. Em 1992, 95% das casas e estabelecimentos
estavam conectados à rede de esgoto – um recorde absoluto no país. O segundo
passo foi educar as pessoas para que não jogassem lixo na areia, com campanhas na mídia e
distribuição de sacos de coleta aos banhistas.
O resto
ficou com a natural capacidade de regeneração da natureza. Em pouco tempo, as
praias passaram a mostrar índices favoráveis de balneabilidade em 80% do ano.
Para se ter uma idéia, em lugares turísticos famosos onde as praias não
receberam o mesmo cuidado, como Copacabana, no Rio de Janeiro, e Porto Seguro,
na Bahia, a balneabilidade hoje é bem menor.
Com as
praias limpas, o turismo voltou a ser
uma atividade econômica importante. Só na última temporada, Santos faturou 8
milhões de reais com os turistas hospedados na cidade. Os ganhos sociais
indiretos são ainda mais importantes: mais empregos, melhoria na qualidade de
vida dos moradores e aumento na renda média das famílias.
Como
uma boa ação puxa outra, não foi difícil para a prefeitura de Santos conseguir,
logo em seguida, dinheiro para revitalizar as áreas próximas da orla, onde
havia velhos armazéns da época do café, do início do século. O governo estadual
injetou outros 10 milhões de reais para restaurar o centro histórico, recuperar
praças, melhorar a coleta delixo, intensificar o
policiamento e atrair novos empreendimentos. Hoje, Santos orgulha-se de ter
entrado para o Guinness, o livro dos recordes, por ter o maior jardim de praia do planeta.
A nova
cara da cidade atraiu empreendimentos privados: Santos ganhou mais um shopping
e quatro grandes redes de hotéis já anunciaram que vão se instalar no
município. Afinal, estando a apenas 70 quilômetros de São Paulo e oferecendo
praias limpas, boa infra-estrutura, museus e prédios históricos, a cidade de
Santos tem tudo para se tornar um excelente destino também para convenções e turismo de negócios.
Ações
por um litoral limpo e conservado
Com 7,4
mil quilômetros de linha contínua, o litoral brasileiro é difícil de ser
gerenciado e fiscalizado. Pesquisas acadêmicas e projetos de ambientalistas,
com patrocínio da iniciativa privada, têm ajudado o governo a criar um plano de
gerenciamento costeiro
As praias
são do povo
Em
1988, pela primeira vez uma lei definia o conceito de praia como um bem de uso comum do povo,
restringindo construções permanentes e atividade mineradora, por exemplo. Assim
nascia o Plano de Gerenciamento Costeiro. Passados 13 anos da sua criação, a
maior parte dos problemas ambientais do litoral continua sem solução.
1.
Peixe-boi
Restam
apenas 400 indivíduos desse mamífero marinho. O projeto, patrocinado pela Petrobrás,
quer evitar sua extinção
2.
Tartaruga marinha
O
Projeto Tamar preserva as tartarugas marinhas com a colaboração dos pescadores
e o patrocínio da Petrobrás
3.
Recifes costeiros
Atua
principalmente no Nordeste, protegendo as formações de recifes da sua
destruição por barcos, poluição e pesca predatória
4.
Baleia jubarte
Protege
e pesquisa as baleias que se reproduzem no arquipélago de Abrolhos
5.
Caranguejos
Cooperação
entre Ibama, Universidade Federal do Paraná e Petrobrás para repovoar os
manguezais com caranguejos
6.
Peixes de plataforma
Estuda
espécies de peixes que vivem na região das plataformas marinhas de petróleo
7.
Marambaia
Instala
estruturas artificiais no mar para atrair peixes e outros animais marinhos,
implementando a pesca artesanal na região
8.
Água de lastro
Pretende
evitar a introdução de espécies exóticas que viajam nas “águas de lastro” que
estabilizam os navios
9.
Projeto costão
Atua na
baía de Angra dos Reis para incentivar a pesca artesanal, o turismo e a educação ambiental
10.
Baleia franca
Fiscaliza
para evitar a caça a essa espécie de baleia e promove o turismo ecológico na regiãoEntrevista
"Somos
apenas passageiros neste planeta azul"
Poucos
brasileiros conhecem tão bem nosso litoral quanto Marcus Polette. Atualmente pesquisador do curso de
Oceanografia do Laboratório de Planejamento da Paisagem Costeira da
Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, Marcus é geógrafo e oceanógrafo, com
doutoramento em Ecologia e Recursos Naturais. Para ele, a melhoria da qualidade
ambiental de nossas praias passa por uma política pública que os
administradores já deveriam conhecer há muitos anos: o gerenciamento costeiro,
uma versão litorânea do que os ambientalistas de terra seca chamam de
desenvolvimento sustentado.
Os
noticiários estão sempre falando de manchas de óleo, mortandade de peixes,
poluição, algas tóxicas. A situação das nossas praias é tão ruim assim?
Há
muitas praias em situação ruim. A intensa urbanização da costa nas últimas
décadas fez estragos enormes, que se refletem na qualidade da água e da
paisagem. Mas tão ou mais sérios são os problemas, pouco explorados pela
imprensa, como a redução da biodiversidade, a queda na produtividade de nossos
estuários e a perda de valores e tradições das comunidades mais antigas da
costa.
Por
que chegamos a esse ponto?
Porque
entre as décadas de 60 e 80 faltou uma política pública séria para a ocupação e
o desenvolvimento da costa. O amadorismo, a ingenuidade e o oportunismo sempre
provocam danos ambientais sérios. Para piorar, a especulação imobiliária foi
responsável pela perda de importantes valores culturais e ecológicos nas nossas
praias devido à falta total de planejamento.
Dá
para reverter essa situação ao ponto que, um dia, nossos filhos possam tomar um
banho de mar como nossos avôs tomaram?
Em
alguns lugares é possível, mas isso exige vontade política, investimentos
e técnicos capacitados para chegar às decisões acertadas. Não temos mais tempo
para fazer “experiências” nem podemos nos dar ao luxo de cometer novos enganos
em se tratando de recursos naturais renováveis e não-renováveis tão importantes
quanto os que estão em jogo.
E os
governos estão fazendo sua parte?
Algo
tem sido realizado, mas ainda é muito pouco. Basta ver que, a cada verão,
é maior o número de praias com índices de balneabilidade fora dos padrões
de qualidade. Por incrível que possa parecer, poucos municípios costeiros
priorizam a implantação de redes de saneamento. Isso é um absurdo porque a
falta de saneamento prejudica as praias, o turismo, o desenvolvimento econômico e a saúde
pública. Muitos sequer têm secretarias de Meio Ambiente. Na verdade, há realidades muito
distintas no litoral, o que torna a questão mais complexa. Há desde metrópoles
como o Rio de Janeiro até pequenos municípios com menos de 5 000
habitantes e costumes rurais. Cada lugar tem problemas diferentes e exige
medidas adequadas à sua realidade. Existem algumas boas iniciativas, tomadas
pelo governo federal, por algumas prefeituras, universidades e organizações
não-governamentais, que deveriam servir de padrão ou mesmo serem copiadas para
garantirmos que o nosso litoral seja um ambiente saudável e bem conservado.
Então,
os brasileiros em geral precisam mudar a maneira como se relacionam com a praia e o mar?
Sim,
temos que olhar a praia sobretudo com
respeito. Ela é um espaço naturalmente democrático, onde você encontra
todos os tipos de pessoas. É um espaço para o lazer, para a convivência e
para apreciar a beleza da paisagem. O mar é muito antigo, enquanto nós
estamos neste planeta azul por apenas algumas dezenas de anos. Nós somos um elo
entre o passado e o futuro e é nosso dever transmitir esse importante
ambiente para as próximas gerações, garantindo a elas a mesma qualidade que nós
desfrutamos.
Revista Superinteressante
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