Encontrá-lo está cada vez mais difícil; extraí-lo do
fundo da terra ou do mar, caro e trabalhoso. Chegou a hora de pensar seriamente
em substitutos, pois as reservas duram no máximo 70 anos.
David G. Howell,
Kenneth J. Bird e Donald L. Gautier
No final da década de 50, quando os geólogos apresentaram a
revolucionária teoria das placas tectônicas, já havia sido encontrada a metade
de todo o petróleo existente na Terra que o homem poderá utilizar. Foi fácil
descobri-lo. Hoje em dia, no entanto, a sua exploração concentra-se em
depósitos localizados em pontos menos evidentes, e encontrá-los requer um
esforço cada vez maior. A nova teoria, que apresenta a camada externa da Terra
com uma espessura entre 50 e 150 quilômetros, dividida em placas que se
movimentam vagarosa, mas incessantemente, acabou se tornando um providencial
facilitador desse trabalho. A compreensão das condições geológicas torna mais
fácil descobrir onde o petróleo se encontra; e, mais importante, ajuda também a
saber onde ele não se encontra. Dessa forma, os geólogos especializados nessas
pesquisas podem fazer estimativas mais confiáveis do total das reservas com as
quais o homem poderá contar, no futuro. O resultado não é o anúncio de uma
catástrofe iminente, mas um claro aviso de que chegou a hora de começar o
planejamento de um mundo sem petróleo — na melhor das hipóteses, as reservas
resistem até meados do próximo século.
Não foi à toa que o petróleo se tornou motivo de guerras e revoluções,
fonte de riquezas e de degradação ambiental. Desbancando o carvão, ele logo se
tornou o principal combustível que mantém em movimento a sociedade industrial
moderna, com suas fábricas, cidades feericamente iluminadas, e cada vez maiores
frotas de navios, aviões e automóveis correndo de um lado para outro. Descrito
sumariamente, ele é uma substância, quase sempre em estado líquido, constituída
de cadeias de átomos de carbono e hidrogênio. Forma-se na natureza por meio da
separação de moléculas orgânicas comuns, citadas na maioria dos rótulos de
alimentos que compramos no supermercado: ácidos graxos, carboidratos, açúcares,
proteínas. Qualquer forma de vida pode fornecer estes ingredientes para a sua
formação, mas o fitoplâncton — planta unicelular aquática — é de longe a fonte
mais abundante.
Para que o petróleo se forme, é necessário que o fitoplâncton fique
enterrado sob espessas camadas de rocha, com muito calor. As moléculas de
ácidos graxos e de substâncias semelhantes são robustas, e podem permanecer
inalteradas na rocha por milhões de anos. O calor do planeta, contudo, consegue
acelerar seus átomos e romper suas ligações químicas, permitindo a
transformação. A temperatura da camada externa da crosta terrestre aumenta
cerca de 1 grau a cada 30 metros de profundidade. A cerca de 3 000 metros ela
já é suficientemente alta para dar início à transformação das substâncias
químicas orgânicas originárias do fitoplâncton. Não muito mais abaixo, contudo,
a temperatura atinge níveis tão altos que as próprias moléculas do petróleo
começam a se separar.
Para encontrar as reservas, entretanto, não basta procurar em locais onde
sedimentos ricos em matéria orgânica jazem a cerca de 3 000 metros de
profundidade. Em sua fase inicial de formação, o petróleo constitui-se de
gotículas dispersas cuja exploração é inviável. Ele só será aproveitável quando
essas gotículas se juntarem em enormes volumes. À medida que a pressão aumenta,
o óleo é “espremido” para fora da formação rochosa. Como naquelas profundidades
não existem grande buracos ou túneis através dos quais possam se movimentar, as
gotículas escoam por uma rede de poros e fissuras microscópicas. Quanto maiores
as aberturas, mais facilmente o petróleo viaja, mas o ritmo do movimento é
sempre arrastadamente vagaroso, e pode ser medido em poucos centímetros ao ano.
Como ele é mais leve do que a rocha e a água que ali existem, consegue
elevar-se airosamente à superfície, ou movimentar-se lateralmente em direção
aos pontos de menor pressão, até ficar preso sob uma camada de rocha
impenetrável. Se a camada abaixo dessa “tampa” for extremamente porosa, pode
funcionar como uma esponja e encharcar-se de petróleo. Somente quando chega a
uma estrutura geológica desse tipo ele se torna um recurso útil para os
interesses humanos. Rochas subterrâneas em muitas configurações diferentes
podem armazenar petróleo; mas quase tudo que se conseguiu explorar, até hoje,
estava em formações curvas ou em forma de cúpula, chamadas anticlíneos, no
jargão geológico.
Gerações de geólogos dedicados à pesquisa de reservas petrolíferas
utilizaram mapeamentos geológicos de superfície e sondagens sísmicas para
procurar esses anticlíneos. E aí o conhecimento da teoria das placas tectônicas
foi providencial: elas explicam como esses anticlíneos estão distribuídos. As
placas terrestres movimentam-se na mesma rapidez em que crescem as unhas dos
nossos dedos, mas seus efeitos são suficientemente poderosos para provocar
grandes terremotos e dar origem a vulcões e cordilheiras. As cúpulas e
anticlíneos costumam ocorrer nos pontos em que as forças tectônicas espremem a
crosta terrestre, em regiões onde tenha acontecido uma colisão de continentes
ou onde a crosta oceânica esteja se movimentando em direção ao continente, ou
ainda onde os continentes estejam se esticando em direções contrárias. Quando
as camadas horizontais de rocha são puxadas ao longo de uma falha diagonal,
algumas delas podem perder o apoio e desabar, tomando a forma de um arco.
A maioria dos depósitos está associada às áreas para onde convergem as
placas. As enormes reservas do Oriente Médio encontram-se perto da zona de
colisão entre as placas árabe e eurasiana. O petróleo ao norte da Cordilheira
Brooks, no Alasca, e a leste dos Montes Urais, na Rússia, resulta da
convergência de placas da crosta terrestre. Conhecer a teoria das placas
tectônicas permite prever que podemos descobrir novos depósitos nos
contrafortes da Cordilheira dos Andes na América do Sul, do lado continental, e
nas bacias interiores da China.
A maior parte do petróleo restante se encontra nas áreas em que as placas
se fenderam e se afastaram umas das outras. Os campos petrolíferos ao longo das
costas brasileira e nigeriana do Oceano Atlântico, entre a Bretanha e a Noruega
no Mar do Norte, ou ao largo da costa da Líbia no Mediterrâneo, são todos
resultado de fendas continentais. Anticlíneos e outros ambientes favoráveis à
formação de petróleo também podem se formar em regiões em que as placas
deslizam umas por cima das outras, como ocorre na Falha de San Andreas, na
Califórnia, mas essas ocorrências são raras.
A última descoberta de grandes depósitos de petróleo com certeza ainda
não se realizou. Mas também é certo que o consumimos muito mais depressa do que
ele consegue se formar e se acumular. Nosso suprimento se formou em unidades de
tempo geológico — milênios, eras, éons — mas está sendo consumido em unidades
de tempo humano — séculos, décadas, anos. Desde que as economias ocidentais
começaram a depender sobretudo dele para a produção de energia e transporte, a
humanidade passou a indagar quanto petróleo ainda existe. O futuro da
civilização depende da resposta.
Mesmo com o auxílio da teoria das placas tectônicas, é impossível fazer
esse cálculo com precisão. Há três componentes no suprimento mundial que
precisam ser considerados. O primeiro é a produção — o petróleo que foi e está
sendo extraído. O segundo são as reservas — o petróleo que está disponível e
pode ser eficientemente extraído. O terceiro são as reservas ainda por
descobrir, geralmente chamadas “recursos potenciais”. A estimativa das reservas
mundiais conhecidas mal atinge a marca de 1 trilhão de barris. Até 1990, foram
produzidos e consumidos 650 bilhões de barris; sabemos da existência de outros
950 bilhões em campos já descobertos, porém não explorados; supõe-se que outros
500 bilhões estejam à espera de serem descobertos.
Assim, o total do que já foi consumido, do que sabemos existir e da
melhor estimativa para o que ainda está por ser encontrado mal atinge a casa
dos 2 trilhões de barris de produto aproveitável. Esses números não são tão
grandes quanto parecem. Os campos que estamos descobrindo são cada vez menores
e o trabalho de perfuração necessário para sua exploração fica cada vez mais
árduo e caro. Desde a década de 60, os Estados Unidos consomem mais petróleo do
que produzem; esse déficit cresceu nos últimos trinta anos, a despeito de
níveis de perfuração jamais atingidos. No final da década de 80, o país já
importava mais do que produzia.
À taxa atual de consumo mundial de 20 bilhões de barris por ano, teríamos
setenta anos de petróleo abundante. É provável que o consumo aumente à medida
que os países em desenvolvimento atinjam padrões de vida mais altos. É difícil
prever o que acontecerá, em termos sociais, políticos e econômicos, quando nos
aproximarmos da última gota do produto — mas não é difícil imaginar, para quem
conhece o passado de turbulências, guerras e conflitos que sempre envolveu sua
posse e sua exploração. Precisamos aproveitar as reservas existentes para um
prudente e meticuloso planejamento do futuro — um futuro sem petróleo.
Mil e uma utilidades
Petróleo existe na Terra nos estados sólido, líquido e gasoso — mas só o
líquido tem merecido o direito ao uso do nome e o reconhecimento como grande
benfeitor da humanidade (embora o gás já esteja ameaçando tomar-lhe a
dianteira). Era conhecido e usado pelos povos mais antigos, sobretudo na forma
de betume, que servia para muitas coisas, entre as quais construir estradas e
calafetar embarcações. Ganhou importância no mundo moderno quando substituiu o
óleo de baleia na iluminação pública das cidades eu-ropéias. Até então,
aproveitava-se o petróleo que aflorava espontaneamente à flor da terra; o
primeiro poço perfurado para extraí-lo foi obra do americano Edwin L. Drake, em
Titusville, Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1859. Logo ele estava sendo
extraído em toda parte — e a invenção do automóvel elevou-o à condição de mais
importante fonte de energia da sociedade moderna.
Mas o petróleo serve para muito mais coisas do que simplesmente produzir
gasolina. Refinado, ele se transforma também em querosene, óleo diesel, óleo
lubrificante, solventes, tintas, asfalto, plásticos, borracha sintética,
fibras, produtos de limpeza, gelatinas, remédios, explosivos e fertilizantes.
Ao longo da História, produziu também incontáveis guerras, invasões, disputas
territoriais, golpes de Estado, revoluções, cismas políticos. O Oriente Médio,
os Estados Unidos e os territórios da antiga União So-viética são os maiores
produtores — e os dois últimos igualmente os maiores consumidores.
Parentes próximos, mas inaproveitáveis
Além do petróleo convencional, disponível em campos que podem ser
explorados pela simples perfuração de poços, há outros tipos que dependem de
estudos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico para serem utilizados. Por
exemplo, o petróleo extrapesado do cinturão do Orinoco, na Venezuela, as areias
de alcatrão de Athabasca, no oeste do Canadá, e os reservatórios de petróleo
gelado e viscoso do Declive Norte do Alasca. O óleo da argila xistosa também é
um recurso potencial, embora ainda não possa ser considerado verdadeiro
petróleo — é uma rocha sedimentária rica em substâncias orgânicas que ainda não
“ficou no forno” o tempo suficiente para chegar ao ponto. Podemos aquecê-la num
forno de verdade e acelerar o processo, mas custaria quase três vezes mais do que
a exploração de poços comuns. Uma coisa é certa: esses recursos não
convencionais poderão se tornar importantes, no futuro, mas continuam cercados
por incertezas econômicas e científicas. O mais certo é acreditar que eles
jamais chegarão a ser aproveitados em larga escala.
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