segunda-feira, 7 de março de 2011

Emissões de gases-estufa - Tamanho não é documento

Estudo canadense avalia emissões de gases-estufa de mais de cem cidades e mostra que nem sempre as maiores e mais urbanizadas são as grandes vilãs. As cidades brasileiras analisadas produzem em média dez vezes menos carbono do que as mais poluentes do mundo.

Por: Sofia Moutinho

Tamanho não é documento

Roterdã, na Holanda, é a cidade analisada pelo estudo que mais emite gases-estufa por ano: 29,8 toneladas por habitante. (foto: Wikimedia Commons – CC BY NC SA 2.0)

As cidades são responsáveis por 80% das emissões mundiais de gases-estufa. Mas nem todas emitem o mesmo e, por vezes, áreas menos urbanizadas lançam ainda mais carbono na atmosfera. É o que mostra um estudo do Banco Mundial realizado por pesquisadores da Universidade de Toronto (Canadá). A equipe analisou a taxa de emissão de gases-estufa por habitante em 110 cidades de 30 países.

Cidades que têm economia baseada em serviços, por exemplo, não emitem tanto quanto áreas predominantemente industriais

A pesquisa, publicada na página do periódicoEnviroment and Urbanization na internet, utilizou dados de diversos estudos anteriores sobre o tema e demonstra que a infraestrutura e a organização econômica das cidades estão diretamente relacionadas com seus níveis de emissão. Cidades que têm economia baseada em serviços, por exemplo, não emitem tanto quanto áreas predominantemente industriais.

Enquanto em Roterdã, cidade portuária da Holanda, a emissão de carbono por habitante chega a 29,8 toneladas por ano – maior taxa registrada no estudo –, cidades maiores e mais habitadas, como Nova Iorque, nos Estados Unidos, e Londres, na Inglaterra, não chegam à metade desse valor.

“Muitas das metrópoles do mundo acusadas de grandes responsáveis pelas emissões, na verdade, emitem pouco”, afirma o principal autor do estudo, Daniel Hoornweg, especialista em cidades do Banco Mundial. “Há muitas variáveis que precisam ser consideradas, como as fontes de energia e o transporte usado, antes de se apontar o dedo para um culpado.”

Ao se comparar cidades com grande diferença econômica, em geral as mais pobres emitem menos gases-estufa. Os moradores de Daca, em Bangladesh, por exemplo, lançam apenas 0,36 tonelada de carbono por ano na atmosfera, muito menos do que as metrópoles de países desenvolvidos.

Uma cidade rica e com alto padrão de consumo, como Barcelona, pode emitir pouco

No entanto, o estilo de vida dos moradores dessas cidades pode mudar esse quadro. Uma cidade rica e com alto padrão de consumo, como Barcelona, na Espanha, pode emitir pouco. Apesar de ser desenvolvida, a cidade produz anualmente apenas 4,2 toneladas de carbono por habitante devido à eficiência do seu transporte público.

O contrário também acontece. A Cidade do Cabo, na África, emite anualmente 11,6 toneladas de carbono por habitante. Esse índice é maior do que o de Nova Iorque, nos Estados Unidos, que emite anualmente 10,5 toneladas por habitante.

Dentro das cidades, também há variações nas emissões. Em Toronto, no Canadá, cada morador do centro da cidade produz menos carbono do que quem vive nos subúrbios, regiões majoritariamente residenciais. “Essa diferença se deve ao fato de que os moradores do subúrbio, que têm mais dinheiro, usam mais seus carros”, explica o pesquisador.

Cidades brasileiras

Do Brasil, foram incluídas no estudo as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Porto Alegre. Os resultados mostram que, dentre as metrópoles analisadas, o Rio de Janeiro é a que mais emite gases-estufa: 2,1 toneladas por habitante por ano. Porto Alegre ocupa o segundo lugar, com uma taxa de 1,48 tonelada, seguida de São Paulo, com 1,4 tonelada, e Goiânia, com 0,99 tonelada.

Rio de Janeiro
Das quatro cidades brasileiras incluídas no estudo, o Rio de Janeiro é a que mais emite carbono, na frente de Porto Alegre, São Paulo e Goiânia. (foto: Bruno Leivas/ Sxc.hu)

As taxas de emissão brasileiras são em média dez vezes menores do que as das cidades mais poluentes do mundo e apresentam índices abaixo dos verificados em cidades pobres da Ásia e da África, como Cidade do Cabo. “Isso se deve a alguns fatores elementares, como o uso de energia hidrelétrica e etanol e, principalmente, a forma compacta dos municípios, que têm grande dependência do transporte público”, explica Hoornweg.

A pesquisadora do Instituto de Pós Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) Suzana Kahn Ribeiro, integrante do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, não se assusta com o fato de o Rio de Janeiro ter maior índice de emissões. A cidade tem muito lixo não tratado, que emite gases-estufa, e também é ponto de exploração de petróleo.

O maior desafio está nas cidades mais pobres, que devem saber conciliar seu crescimento com menores taxas de emissão

Mas Kahn ressalta que o estudo é frágil por não adotar uma única metodologia para a contagem das emissões, o que pode interferir nos resultados. “Se você considerar que as emissões provenientes da energia gerada fora das cidades são de responsabilidade da cidade, já que é ela que a consome, os números serão outros.”

Por outro lado, Hoorweg defende que, mesmo que os resultados de cada cidade tenham sido obtidos com diferentes metodologias, o estudo é um passo inicial para um relatório mais consistente sobre as cidades, capaz de orientar a elaboração de políticas de mitigação adequadas a cada local. Para ele, o maior desafio está nas cidades mais pobres, que devem saber conciliar seu crescimento com menores taxas de emissão.


Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

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