O crescimento econômico fez nascer
uma consumidora exigente e capaz
de expandir um mercado até então tímido
Thereza Venturoli
Consultora de beleza, Patricia é responsável por 60% do dinheiro do lar. Ancorada no sucesso dela, a família trocou o fogão, comprou um computador com acesso à internet e estacionou na garagem um carro zero-quilômetro, comprado em 2008, em 24 prestações. "Prazo bem curtinho mesmo, que é para a gente não se meter em dívidas que não acabam mais", diz Patricia. O próximo passo é trocar o televisor e terminar de pagar as prestações da casa própria em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. "Lá teremos uma suíte para o casal", afirma Patricia. A filha, Jenifer, estuda em escola pública. A razão é, de novo, cuidado com os gastos: "A escola municipal é boa. Então deixamos para pagar uma escola particular quando ela avançar mais nos estudos". De planejamento em planejamento, Patricia tem certeza de que vai conseguir mais: cursar uma faculdade de economia, viajar nas férias e, um dia, quem sabe, fazer uma cirurgia plástica no abdômen.
Patricia, sorridente e despachada, vivíssima, poderia ser traduzida em números. Ela é uma legítima representante da nova mulher da nova classe média brasileira. Entre 2003 e 2008, cerca de 27 milhões de brasileiros das classes D e E subiram de patamar social e hoje compõem os 91 milhões de cidadãos da classe C. São filhos do crescimento econômico, da expansão de empregos e do fim da inflação, fenômenos recentíssimos no Brasil. As mulheres, indutoras de consumo, têm papel fundamental nesta sociedade que se expande. Segundo o instituto Data Popular, elas são 36 milhões, que, até o fim deste ano, terão movimentado 158 bilhões de reais, o equivalente a 30% da renda de todas as brasileiras. "Aberta às novidades tecnológicas, atenta à importância da educação e consciente de seu poder aquisitivo, essa mulher, que tem pela primeira vez algum dinheiro para gastar com itens não essenciais, preocupa-se em crescer profissionalmente, aumentar a renda e, assim, poder comprar mais, com cautela", diz Fábio Mariano, sociólogo especializado em comportamento do consumidor, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. "Com isso, está desenvolvendo um imenso mercado de consumo que segue regras próprias." As mulheres da classe C, ainda segundo o Data Popular, são também as que mais levam dinheiro para casa: contribuem, em média, com 41 reais a cada 100 reais da renda familiar. Na classe A, a participação feminina é de 25 reais a cada 100. Isso significa que nas funções que exigem menos preparo as mulheres ganham mais do que os homens – ao contrário do que ocorre nas camadas mais altas da pirâmide. Coerentemente, 30% das famílias de classe média são chefiadas por mulheres. Na classe A essa proporção é de 22%.
Com todo esse poder na bolsa, as emergentes representam mais de 50% dos clientes das farmácias, dos supermercados e das lojas de roupas. Para cada dez homens de classe média que fazem compras nos shoppings, há doze mulheres. Elas avançam, também, em tradicionais nichos de consumo masculino, como seguradoras e bancos: 62% das mulheres têm cartão de crédito, contra 59% dos homens da mesma classe social. Há quem aposte que, em dez anos, elas serão maioria absoluta entre os clientes nos estandes de vendas de apartamentos e nas concessionárias de automóveis. Alguma dúvida? O futuro parece uma longa estrada quando se acompanha com atenção uma outra estatística: dos 7,5 milhões de mulheres da classe C com idade entre 16 e 24 anos, 73% já ingressaram no mercado de trabalho. Outros 25% estão na faculdade ou de posse do canudo. Os filhos são importantes, mas a razão da existência vai além da prole: 36% das jovens ouvidas pela pesquisa citam como maior sonho a realização profissional. As cifras parecem refletir Patricia.
A leitura como complemento das conquistas MÁXIMA, da Editora Abril, uma publicação para A Editora Abril, que publica VEJA, lança em 27 de maio uma nova revista, a MÁXIMA, destinada às mulheres da classe C. Terá 180 páginas e será vendida a 4,50 reais. O que a faz diferente de outras publicações femininas? O modo de tratar os temas, adequado a um grupo social que até muito recentemente não consumia e agora descobre os prazeres da vida moderna. "O público-alvo da revista é novo, composto de mulheres que deixaram as classes D e E em busca de sucesso", afirma Demetrius Paparounis, diretor do núcleo Semanais da Editora Abril. "São mulheres que, de alguma maneira, fazem estreias na vida." As futuras leitoras de MÁXIMA, ontem mesmo, visitavam a família, em outros estados, de ônibus – agora vão de avião, compram bilhete à vista ou parcelado. Costumavam hospedar-se com os pais, e agora adquirem pacotes de turismo. Antes, sem dinheiro, limitavam-se a deixar a casa limpa, mas sem muita organização. Hoje, arrumam tudo e ainda prezam as sutilezas da decoração. Já não põem panelas direto na mesa, preferem usar travessas. Um exemplo, simples, da edição número 1: a reportagem que ensina como arrumar armários, porque esta nova mulher tem mais objetos, sapatos, roupas. A permear esse perfil comportamental e de consumo, há uma característica que ajuda a entender o interesse dessas novas mulheres pela leitura: elas têm curso superior, quase sempre feito em faculdade particular. São filhas da explosão desse tipo de escola, fenômeno deflagrado há dez anos e que chegou a seu apogeu. "Ter instrução e conhecimento muda tudo na vida de uma pessoa", afirma Paparounis. "A MÁXIMA é um complemento à nova vida que elas |
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