domingo, 24 de outubro de 2010

Por que o desmatamento está caindo no Brasil?

A Amazônia e a Mata Atlântica são casos de sucesso no combate ao desflorestamento

Jones Rossi
folha verde

(stock.xchng)

Na última segunda-feira, o ministério do Meio Ambiente anunciou que o desmatamento medido na Amazônia entre agosto de 2009 e junho de 2010 foi 49% inferior ao registrado no período anterior (2008-2009). Outro número confirma a desaceleração da motosserra: em junho deste ano, 244 km² de vegetação foram colocados no chão, ante 578 km² apurados no mesmo mês do ano passado. Trata-se de uma redução de 58%. O desmatamento está em queda contínua desde 2004 (com exceção do ano de 2008): em todo esse período, a redução chega a 75%.

Quem também notou essa desaceleração foi a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Em março, o órgão publicou relatório com uma má e uma boa notícia: o Brasil ainda é o primeiro colocado no ranking dos países que mais desmatam no mundo, mas, por outro lado, entre 2000 e 2010, desmatou em média 2,6 milhões de hectares de florestas por ano - menos do que os 2,9 milhões anuais do período 1990-2000. Ou seja, a situação está melhorando. Mas, afinal, o que estamos fazendo para exibir números tão promissores?

Para Claudio Maretti, superintendente de conservação para os Programas Regionais do WWF-Brasil (Fundo Mundial para a Natureza, organização de conservação do ambiente), o principal motivo foi a criação de unidades de conservação (UCs) na Amazônia: parques nacionais e reservas particulares, indígenas e extrativistas. “Quase 50% da Amazônia brasileira está incluída em unidades de conservação e reservas indígenas”, afirma Maretti. Desde 2000, quando a lei que criou as unidades de conservação foi instituída, as áreas protegidas passaram de 24 milhões para 32 milhões de hectares. “A meta é chegar a 60 milhões.”

Mauro Pires, diretor de políticas de combate ao desmatamento do ministério do Meio Ambiente, também coloca entre as razões dos bons números a criação dos sistemas de monitoramento via satélite, que ajudam na fiscalização feita pelo Ibama. “Antes o monitoramento era feito às cegas”, conta. “Com o Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), implementado em 2004, o Ibama recebe imagens a cada 15 dias.” Com os dados em mãos, os agentes se deslocam com a Polícia Federal e com a Guarda Nacional para as áreas que estão sendo desmatadas ilegalmente e aplicam as multas previstas na lei.

O sistema agora será implementado em outros biomas brasileiros, começando pelo cerrado, em setembro. Deverá ser expandido ainda para a caatinga e para o Pantanal.

Mata Atlântica — Entre 1985 e 2009, o desmatamento na Mata Atlântica caiu mais de 80%: passou de 107.296 hectares de desflorestamento, em 1985, para 20.802, em 2009. Originalmente, a cobertura florestal abrangia praticamente todo o litoral brasileiro, se estendendo ainda ao Ceará. No interior do território, atingia Goiás e Mato Grosso do Sul, além de áreas no Paraguai e na Argentina (o Parque do Iguaçu é formado por Mata Atlântica).

A queda coincide com a criação de entidades e leis que passaram a proteger a Mata Atlântica. Uma das normas criou as Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs). “São áreas particulares que se tornam locais de proteção em caráter perpétuo, por vontade do proprietário, como se fossem um parque”, explica Marcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. Já existem mais de 600 na Mata Atlântica, mais do que em qualquer outra região do Brasil.

O próximo passo, segundo Marcia, é a restauração da mata. Desde 2000, foram plantadas 20 milhões de mudas de árvores pelo programa Florestas do Futuro e Clickarvore. Elas ocupam 12.000 hectares, principalmente nas margens de rios, que ajudam a preservar os 7,91% que restam da cobertura original da Mata Atlântica.

País verde — Na prática, nenhum país do mundo conserva tantas florestas como o Brasil. Segundo Mauro Pires, 75% das áreas de proteção criadas no mundo estão no Brasil. Mesmo o Pantanal, que tem apenas 3% de sua área sob proteção, mantém 80% de seu bioma em boas condições. Medidas como fim dos empréstimos feitos por bancos estatais a proprietários de áreas onde há desmatamento ilegal também cortaram a fonte que abastecia os responsáveis por 40% do desmatamento na Amazônia, aponta Claudio Maretti, do WWF.

A fiscalização também se tornou mais intensa. Os 43 municípios que mais desmatam na Amazônia são vigiados de perto pelo Ibama. "Estamos aprendendo a lidar com esse problema, que não é só ambiental, mas social também", afirma Pires.

Revista Veja

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