sábado, 12 de outubro de 2019

4º maior produtor de lixo plástico do mundo, Brasil é o que menos recicla


Relatório da WWF aponta que o Brasil reaproveita pouco mais de 1% do plástico.


Poluição de plástico nos oceanos prejudica os animais das regiões mais profundas (Foto: MichaelisScientists/Wikimedia Commons)


Rios, lagos, oceano, tartarugas, crustáceos, garrafas d’água, purpurina, canudinhos. Plástico, plástico, plástico. Das calçadas às notícias de jornais, ele está em toda parte. O Carnaval mal acabou, o glitter ainda vai demorar semanas para deixar os cantos mais escondidos do corpo, e dá uma enorme preguiça pensar no destino do planeta, mas precisamos falar sobre o esse crescente problema.

Por mais que gritem sobre a quantidade absurda de plástico produzida (e descartada) pelo homem, muito pouco é feito para mudar essa situação. E, no quesito “fazer nada”, o Brasil, quarto maior produtor de plástico do planeta, só recebe nota dez dos jurados. Dos grandes produtores de plástico, somos disparados os que menos reciclam, conforme demonstrou o relatório da WWF “Solucionar a Poluição Plástica – Transparência e Responsabilização”.


Produzimos mais de 11 milhões de toneladas de lixo plástico todo ano, mas apenas 1,2% é reciclado. Para efeito de comparação, a Indonésia, quinto maior consumidor de plástico, recicla 3,66%. Também é bem abaixo da média global de reciclagem, que é de cerca de 9%.

Segundo dados do Banco Mundial, mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico brasileiro são descartadas de forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto. Outros 7,7 milhões de toneladas vão para aterros sanitários. E mais de 1 milhão de toneladas sequer são recolhidas pelos sistemas de coleta.

Só não ficamos tão feios na fita porque os EUA e a China existem. É verdade que ambos apresentam bons números na reciclagem, dando um novo destino para 34% e 21% do plástico, respectivamente. Mas os dois consomem muito mais plástico que todo mundo.

Nos EUA são mais de 70 milhões de toneladas descartados todos os anos. Mesmo com os 24 milhões de toneladas descartados, eles são responsáveis por despejar no ambiente mais de quatro vezes o que o Brasil. Veja na tabela abaixo.


(Foto: WWF)


“O plástico não é inerentemente nocivo. É uma invenção criada pelo homem que gerou benefícios significativos para a sociedade”, diz o relatório. “Infelizmente, a maneira com a qual indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o converteu em uma conveniência descartável de uso único transformou esta inovação em um desastre ambiental mundial.

Um problema que não para de aumentar. Aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados após 2000. Apesar da maior parte do plástico ser novo, 75% de todo o plástico já produzido não servem para nada além de poluir o meio ambiente.

Quase metade de todo o plástico é utilizado para criar produtos descartáveis com vida útil menor que três anos. A maioria desses descartáveis é consumida em países de renda alta ou média-alta. A indústria da embalagem é a maior transformadora de plástico virgem em produtos, e responsável por converter quase 40% do todo o plástico produzido em 2015.

Apesar da maior parte desse total ficar em terra, principalmente aterros sanitários, é quando chega no oceano que esse plástico causa mais estrago. São dez milhões de plásticos descartados no mar todos os anos. É como se a humanidade atirasse 23 mil aviões do tipo Boeing 747, um dos maiores que existem, no oceano anualmente.

Se nada mudar, até 2030, a poluição por plásticos nos mares deve chegar a 300 milhões de toneladas – o que corresponde a 26.000 garrafas de 500ml de água a cada km² de oceano. “É hora de mudar a maneira como enxergamos o problema: há um vazamento enorme de plástico que polui a natureza e ameaça a vida”, afirma Mauricio Voivodic, Diretor Executivo do WWF-Brasil. “O próximo passo para que haja soluções concretas é trabalharmos juntos por meio de marcos legais que convoquem à ação os responsáveis pelo lixo gerado. Só assim haverá mudanças urgentes na cadeia de produção de tudo o que consumimos.”

Afinal, não é só a saúde do planeta que sofre, A poluição por plástico gera mais de US$ 8 bilhões de prejuízo à economia global. Enquanto o lixo plástico nos oceanos prejudica barcos e navios utilizados na pesca e no comércio marítimo, o plástico nas águas vem reduzindo o número de turistas em áreas mais expostas, como Havaí, Ilhas Maldivas e Coréia do Sul.

O assunto será tema na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-4), que será realizada em Nairóbi, no Quênia, de 11 a 15 de março. Na ocasião será votado um acordo global sobre o plástico. No relatório, a WWF lista uma série de medidas que ajudariam a enfrentar o problema:


- Cada produtor ser responsável pela sua produção de plástico – O valor de mercado do plástico virgem não é real pois não quantifica os prejuízos causados ao meio ambiente e também não considera os investimentos em reuso ou reciclagem. É necessário haver mecanismos para garantir que o preço do plástico virgem reflita seu impacto negativo na natureza e para a sociedade, o que incentiva o emprego de materiais alternativos e reutilizados.

- Zero vazamento de plástico nos oceanos – O custo da reciclagem é afetado pela falta de coleta e por fatores como lixo não confiável, ou seja, misturado ou contaminado. As taxas de coleta serão maiores se a responsabilidade pelo descarte correto for colocada em empresas produtoras dos produtos de plástico e não apenas no consumidor final, uma vez que serão encorajadas a buscar materiais mais limpos desde seu design até o descarte.

- Reúso e reciclagem serem base para o uso de plástico – A reciclagem é mais rentável quando o produto pode ser reaproveitado no mercado secundário. Ou seja, o sucesso desse processo depende de que valor esse plástico é negociado e seu volume (que permita atender demandas industriais). Preço, em grande parte, depende de qualidade do material, e essa qualidade pode ser garantida quando há poucas impurezas no plástico, e quando ele é uniforme – em geral, oriundo de uma mesma fonte. Um sistema de separação que envolva as empresas produtoras do plástico ajuda a viabilizar esta uniformidade e volume, ampliando a chance de reúso.


- Substituir o uso de plástico virgem por materiais reciclados. Produtos de plástico oriundo de uma única fonte e com poucos aditivos reduzem os custos de gerenciamento desses rejeitos e melhoram a qualidade do plástico para uso secundário. Por isso o design e o material de um produto são essenciais para diminuir esse impacto, e cabe às empresas a responsabilidade por soluções.
Revista Galileu

Um comentário:

CÉU disse...

Olá, amigo e colega!

Um post muito, muito interessante, completo e bem atual.

Temos todos que fazer alguma coisa pelo meu ambiente e o lixo plástico é um caso sério. Portugal, meu país, está levando o assunto muito a "peito", e acho até que algumas pessoas estão levando esse assunto ao extremo. Evidente que é necessário, e muito, e muitas pessoas já só usam sacos de pano para irem às compras, por exemplo. No tempo de meus avós isso era regra, digamos assim, e agora tudo está acontecendo natural e voluntariamente, devido às chamadas de atenção, que levam à consciencialização das pessoas .

Em algumas cidades portuguesas, as crianças e os jovens passam os fins de semana nas ruas recolhendo lixo, devidamente orientados por adultos, pais, amigos mais velhos e professores. Então, façamos todos a nossa parte.

Abraços e boa semana.

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